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Das Incapacidades

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DAS INCAPACIDADES
Sumário: 8.1 – Capacidade de direito e capacidade de exercício. 8.2 –
Os capazes e os incapazes. 8.3 – Os absolutamente incapazes. 8.3.1 – Os
menores de dezesseis anos. 8.3.2 – Os que, por enfermidade ou
deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática
dos atos da vida civil. 8.3.3 – Os que, mesmo por causa transitória, não
puderem exprimir sua vontade. 8.4 – Os relativamente incapazes. 8.4.1 –
Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. 8.4.2 – Os ébrios
habituais. 8.4.3 – Os viciados em tóxicos. 8.4.4 – Os excepcionais sem
desenvolvimento mental completo. 8.4.5 – Os pródigos. 8.5 – Proteção
que o direito concede aos incapazes. 8.6 – Cessação da incapacidade.
8.6.1– Maioridade. 8.6.2 – Emancipação. 8.7 – Casos de emancipação.
8.7.1 –Por concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro. 8.7.2 –
Por sentença do juiz. 8.7.3 – Pelo casamento. 8.7.4 – Pelo exercício de
emprego público efetivo. 8.7.5 – Pela colação de grau em curso superior.
8.7.6 – Emancipação obtida pelo estabelecimento civil e comercial, ou
pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o
menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

8.1 CAPACIDADE DE DIREITO E CAPACIDADE


DE EXERCÍCIO
Enquanto feto, inexiste a pessoa. Nascendo com vida, torna-
se titular de direito, não importa se com menos de nove meses, nem o

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Parte Geral
grau de seu desenvolvimento psíquico, nem se é homem, mulher,
doente ou sadio. É a chamada capacidade jurídica ou de direito,
“aquela condição legal que o capacita à faculdade dos direitos e
obrigações existentes em potencialidade”56.
Existem pessoas que não podem, por si mesmas, exercer
quaisquer atos da vida civil senão por intermédio de seu
representante legal, existindo outras que podem praticar tais atos da
vida civil, pessoalmente, mas têm que estar acompanhadas de seu
representante legal. O enfermo mental, por exemplo, embora tenha
capacidade jurídica, não tem a faculdade de praticar pessoalmente os
negócios jurídicos. Falta-lhe a capacidade de exercício. “O
relativamente incapaz deve ser pessoalmente citado, com a
assistência dos responsáveis. O chamamento efetuado sem esta
cautela – decidiu o tribunal - gera nulidade por cerceamento de
defesa” (in RT 652/96).
Capacidade de exercício ou de fato é a aptidão que tem o
homem de agir por si mesmo, desacompanhado, em todos os atos da
vida civil. A pessoa adquire essa espécie de capacidade no momento
em que deixa de ser incapaz.
Portanto, todo ser humano é portador da capacidade jurídica.
Mas nem todas as pessoas têm a capacidade de exercício. É
considerada incapaz a pessoa que, naturalmente portadora da
capacidade de direito, não tem a plena capacidade de exercício.
Essa situação pode ser reproduzida por um círculo maior que
corresponde à existência das pessoas portadoras de capacidade
jurídica, os sujeitos de direitos, pessoas naturais, que constituem a
população da nação, e de dois círculos menores, um de pessoas
portadoras da capacidade de exercício, que são os capazes, e outro,
dos incapazes, que não possuem capacidade de exercício ou que
podem possuí-la, desde que assistidos do seu representante legal. O
círculo referente aos incapazes se subdivide em dois menores, um
correspondente aos absolutamente incapazes e o outro, aos
relativamente incapazes.

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Jefferson Daibert, Introdução ao Direito Civil, Forense, Rio, 1971 (Lei de
Introdução e Parte Geral), p. 113.

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Das Incapacidades

Concluindo, todos os seres humanos têm capacidade jurídica,


mas só os capazes têm capacidade de exercício.
Reprisando o que foi dito acima, tem-se que a sociedade
brasileira encontra-se composta de capazes e incapazes. Aqueles que
podem exercer por si mesmos os atos da vida civil, são chamados de
capazes; os que não podem exercer por si mesmos são os
absolutamente incapazes, e os que só podem com a assistência de
seus representantes legais, são os relativamente incapazes.

8.2 OS CAPAZES E OS INCAPAZES


“A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a
pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil” (CC,
art. 5º). Ou seja, os homens, ao completarem dezoito anos, não sendo
doentes mentais, adquirem capacidade plena, podendo, pessoalmente,
praticar todos os atos da vida civil. São os capazes. Podem, então,
pessoalmente, vender e comprar bens, fazer doações, outorgar
procuração a um advogado etc.
Há aqueles que não podem exercer pessoalmente os direitos,
ou aqueles que só podem fazê-lo com a assistência de seus
responsáveis. Resulta, pois, que há duas formas de incapacidade ou
se apresentam em duas categorias: os absolutamente e os
relativamente incapazes.

8.3 OS ABSOLUTAMENTE INCAPAZES


“Em se tratando de menores impúberes, são
absolutamente incapazes para a outorga de procuratura,
tanto por instrumento particular, como por instrumento

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Parte Geral
público, eis que inibidos de emitir consentimento como
requisito integrativo à validade do respectivo ato jurídico.
Logo, - concluiu o tribunal – não pode exigir que os mesmos
outorguem procuração para advogado. A postulação é feita
por quem os representa legalmente, no caso a mãe, que
outorgou mandato válido para advogado procurar em juízo”
(in RT 709/168).

O legislador entende que os absolutamente incapazes não têm


discernimento necessário ao exercício pessoal dos próprios direitos e
obrigações. Por isso, são afastados de qualquer atividade civil, não
podendo praticar os atos da vida jurídica, pessoalmente. Contudo,
como essas pessoas têm direitos, por serem portadoras da capacidade
jurídica, alguém lhes supre as deficiências, praticando por ela os atos
materiais ou formais da vida civil. Esse alguém é o representante
legal (os pais, o tutor ou curador) que age em nome do incapaz. “É
nulo – diz o art. 166, I, do CC – o negócio jurídico quando: I –
celebrado por pessoa absolutamente incapaz”.
“São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os
atos da vida civil - diz o art. 3º do CC:
I – os menores de dezesseis anos;
II – os que, por enfermidade ou deficiência mental, não
tiverem o necessário discernimento para a prática
desses atos;
III – os que, mesmo por causa transitória, não puderem
exprimir sua vontade”.
Vale, a respeito, ter presente as palavras do próprio artigo da
lei: são absolutamente incapazes de exercer pessoalmente, ou seja,
não podem comparecer ao ato e praticá-lo.

8.3.1 Os menores de dezesseis anos


O legislador entende que as pessoas com menos de 16 anos
de idade não possuem desenvolvimento mental suficiente para atuar
por si próprias no mundo do direito civil e comercial. Elas têm

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Das Incapacidades
direitos, porém, não podem exercê-los pessoalmente, devendo ser
representadas pelo pai, mãe ou tutor. Por exemplo, se o menor tiver
que outorgar procuração ad judicia a um advogado, poderá fazê-lo
através do seu representante legal, que assina a procuração em nome
de seu representado, consoante mostra a ementa do acórdão
destacado no início deste item. O Tribunal já decidiu que, “tratando-
se de menor absolutamente incapaz, ocorre a representação e o
representante pratica por si o ato que é de interesse do representado,
podendo, pois, outorgar procuração “ad judicia” por instrumento
particular” (in RT 551/72).

8.3.2 Os que, por enfermidade ou deficiência mental,


não tiverem o necessário discernimento para a
prática dos atos da vida civil
A lei despreza a vontade dos portadores de enfermidade ou de
retardo mental, proibindo-os de comparecer, pessoalmente, para
praticar os atos da vida civil. Se, por acaso, um deficiente mental
comparece praticando o ato, este é nulo. A propósito, lembramos
novamente o princípio do art. 166, I, do CC: “É nulo o negócio
jurídico quando: I – celebrado por pessoa absolutamente incapaz”.
Há doente mental que possui intervalos de lucidez. Há aquele
cuja enfermidade é facilmente perceptível aos olhos dos leigos.
Como saber da ausência de discernimento para os atos da vida civil?
Como, então, reconhecê-los na vida prática?
Depende do processo de interdição, regulado pelos arts. 1.177
e ss do CPC, com fundamento no art. 1.767 do CC, pois os atos
praticados pelos alienados mentais, antes da decretação judicial de
interdição, data vênia, são válidos. “Sem que previamente tenha sido
interditado – decidiu o tribunal - ninguém pode ser considerado
incapaz” (in RT 447/63). “Não se pode exigir de terceiros o
entendimento e a desconfiança de possível incapacidade do
contratante. A interdição só produz efeitos após seu acolhimento por
sentença e à lei importa mais proteger terceiro de boa-fé do que
interesse de incapaz.

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Parte Geral
Os negócios praticados por amental não interditado são
válidos, sendo que sua anulação só pode ser pleiteada em ação
própria” (in RT 618/188).
É, pois, importante saber, juridicamente, quando uma pessoa
é ou não um amental. Se, por exemplo, alguém compra uma casa de
um doente mental interditado, o ato praticado pessoalmente por este
é nulo. Mesmo que já passados 9 anos da venda, no momento em que
alguém levar ao conhecimento do juiz a nulidade existente, este a
declarará e, concomitantemente, também a inexistência das demais
alienações para que o imóvel retorne à posse do interditado, isto
porque, “na hipótese de ser o agente absolutamente incapaz, - decidiu
o tribunal – sendo conseqüentemente o ato nulo, a prescrição é a
normal de 20 (atualmente é de 10) anos” (in RT 684/71).
O processo de interdição regulado pelos arts. 1.177 e ss do
CPC inicia-se com um requerimento dirigido ao juiz, feito pelo pai,
mãe, tutor, cônjuge, por algum parente próximo ou pelo Ministério
Público (CPC art. 1.177).
“É perfeitamente admissível o pedido de interdição de menor,
contando com 16 anos de idade – decidiu o tribunal – portador de
síndrome de Down, pois a curatela de incapazes é admitida em
qualquer idade, devendo nortear o seu cabimento um critério de
utilidade” (in RT 738/267). Portanto, o tutor como representante
legal do menor pode requerer a ação de interdição visando à
declaração judicial da incapacidade, pois o menor entre 16 e 18 anos,
por ser relativamente incapaz, pode praticar negócios jurídicos
pessoalmente, embora assistido pelo seu representante legal. Sendo
interditado, ficará proibido de praticar, pessoalmente, os atos da vida
civil.
Interessante que, qualquer ação judicial apresentada ao juiz,
passará antes pelo Cartório do Distribuidor do Fórum. Assim, se
alguém desejar saber se existe alguma ação de interdição, basta pedir
uma certidão ao distribuidor forense que este acusará ou não a sua
existência.
Em seguida, o interditando será citado para ser interrogado
pelo magistrado, que o examinará, interrogando-o minuciosamente

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Das Incapacidades
acerca de sua vida, negócios, bens e do mais que lhe parecer
necessário para ajuizar do seu estado mental, reduzidas a auto as
perguntas e respostas (CPC, art. 1.181). Portanto, a citação não é
para o interditando se defender. A propósito, escreve José Olympio
de Castro Filho: “No sistema do Código, essa primeira audiência se
destina unicamente ao interrogatório do interditando pelo Juiz.
Por isso mesmo, descabem a presença ou intervenção do
requerente da medida ou de estranhos. Alguns Juízes vão além,
fazem o interrogatório em segredo de justiça, sem que ninguém na
sala de audiência esteja constrangendo ou perturbando o então
suposto incapaz, providência que, em princípio, me parece louvável,
tanto mais que cria condições muito mais favoráveis para a
impressão que o Juiz precisa colher no ato”57. Haverá, aí, uma
inspeção judicial de relevância, sem intermediário, na pessoa do
interditando, para avaliar do seu estado mental, como elemento de
convicção. É tão importante esse contato que o tribunal já chegou a
decidir que “não é de ser decretada a interdição se vier a ocorrer
contradição entre o laudo médico e a impressão pessoal do juiz que
interrogou o interditando” (in RT 537/74).
“Dentro do prazo de 5 (cinco) dias contados da audiência de
interrogatório, poderá o interditando impugnar o pedido”. A
impugnação se dá através do curador à lide (representante do
interditando), ou pelo advogado constituído pelo parente sucessível
(CPC, art. 1.182 e parágrafos). De qualquer maneira, essa
impugnação não tem caráter judicial, pois a curatela dos interditos
inclui-se entre os procedimentos de jurisdição voluntária. “Entre os
procedi- mentos de jurisdição voluntária se inclui a curatela dos
interditos. E o fato de ter havido impugnação ao pedido por parte do
interditando – decidiu o tribunal – não importa em modificação da
natureza do procedimento” (in RT 507/72).
Decorrido o prazo para impugnação do pedido, o juiz
nomeará perito para proceder ao exame do interditando (CPC, art.
1.183). “A perícia médica, em processo de interdição, é exigência
legal e o perito deve apresentar laudo completo e circunstanciado do

57
Comentários ao Cód. de Processo Civil, vol. X, ed. Forense, p. 267.

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Parte Geral
estado do interditando, sob pena de anulação parcial do processo” (in
RT 675/175). Obviamente, o perito será um médico, de preferência
especialista em psiquiatria.
A propósito, escreve o ilustrado Prof. Sílvio Venosa: “A
fixação da alienação mental é árdua para a ciência médica e para o
Direito, pois varia desde pequenos distúrbios, cujo enquadramento
neste dispositivo legal pode ser questionado, até a completa loucura,
facilmente perceptível mesmo para os olhos leigos”58.
Apresentado o laudo, o juiz designará audiência de instrução
e julgamento para ouvir testemunhas e esclarecimentos do perito, se
for o caso. Obviamente, se não existirem provas orais, a sentença
será proferida antecipadamente, sem necessidade de realização de
audiência. Em seguida, o juiz sentencia, decretando ou não a
interdição.
Caso o juiz conclua pela interdição, a sua sentença “será
inscrita no Registro de Pessoas Naturais e publicada pela imprensa
local e pelo órgão oficial por três (3) vezes, com intervalo de dez
(1O) dias, constando do edital os nomes do interdito e do curador, a
causa da interdição e os limites da curatela” (CPC, art. 1.184).
Essa inscrição no Cartório de Registro Civil de Pessoas
Naturais e a publicação da sentença pela imprensa visam dar pleno
conhecimento a terceiros. Conseqüentemente, para se saber se uma
pessoa é portadora de perturbações mentais, basta verificar no
distribuidor forense, obtendo certidão, ou no Cartório onde foi
registrado seu nascimento, verificando se existe ou existiu ação de
interdição. “A sentença de interdição é oponível a todos para o
futuro, e não pode atingir aqueles que contrataram com o incapaz,
máxime na ausência da notoriedade de seu estado” (in RT 493/130).
“Os atos praticados pelo interdito anteriores à sentença declaratória
de interdição são anuláveis, desde que existente prova plena e
convincente de que a incapacidade era preexistente à sentença e de
sua contemporaneidade ao negócio impugnado” (in RT 575/260).
Portanto, o ato de venda de imóvel praticado pelo interditado, após a
distribuição da ação até a sentença, é anulável, ou seja, é válido no

58
Ob. e vol. cits., p. 165.

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Das Incapacidades
momento da prática, mas pode ser anulado pelo juiz, dentro do prazo
prescricional. O ato de venda de imóvel, praticado pelo interdito após
o registro da sentença de interdição, é nulo.
Por conseguinte, a inscrição da sentença de interdição no
registro civil traz tranqüilidade à sociedade quando da efetivação da
prática de atos jurídicos, principalmente o da compra de um imóvel.

8.3.3 Os que, mesmo por causa transitória, não


puderem exprimir sua vontade
O surdo-mudo se enquadra perfeitamente como causa
transitória da incapacidade mencionada pelo art. 3º, III. É o parecer
de Maria Helena Diniz. Eis suas palavras: “como se vê o Código
Civil não alude, expressamente, à surdo-mudez como causa de
incapacidade, mas ela poderá conforme o caso enquadrar-se no art.
3º, III, que considera absolutamente incapaz o que não puder
exprimir sua vontade”59. É preciso que a pessoa seja surda e muda
ao mesmo tempo e não tenha possibilidade de externar a sua vontade.
O reconhecimento do surdo-mudo que não consegue exprimir
a sua vontade se dá através da exibição das certidões do distribuidor
forense, ou do assento do nascimento, exatamente como acontece em
relação aos portadores de enfermidade mental; isto se houver o
processo de interdição. “Obedecerá às disposições dos artigos
antecedentes, no que for aplicável, a interdição do pródigo, a do
surdo-mudo sem educação que o habilite a enunciar precisamente
a sua vontade e a dos viciados pelo uso de substâncias
entorpecentes quando acometidos de perturbações mentais” (CPC,
art. 1.186). Analise o que dispõe o art. 1.767, II do CC: “Estão
sujeitos a curatela: II – aqueles que, por outra causa duradoura,
não puderem exprimir a sua vontade”.
Havendo interdição, o juiz poderá considerar a incapacidade
do surdo-mudo até como sendo relativa ou absoluta.
Cessando o motivo que determinou a interdição, esta será
59
Ob. e vol. cits., p. 147.

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Parte Geral
levantada por sentença do juiz, ou seja, caso o surdo-mudo passe a
exteriorizar a sua vontade devidamente, a interdição será suspensa. É
por isso que a incapacidade do surdo-mudo é transitória. Por
conseguinte, todos aqueles que, por motivo transitório, não puderem
exprimir sua vontade, são portadores da incapacidade absoluta.
O pedido de levantamento será feito no mesmo juízo que
promoveu a ação de interdição e poderá ser feito pelo próprio
interditado, pelo curador ou por quem pediu a interdição.
A petição, requerendo o levantamento, será apensada aos
autos da interdição; o juiz, então, nomeia perito para proceder novo
exame de sanidade no interditado e, após a apresentação do laudo,
designará audiência de instrução e julgamento.
Acolhido o pedido, o juiz decretará o levantamento da
interdição e mandará publicar a sentença, após o trânsito em julgado,
pela imprensa local e órgão oficial por três vezes, com intervalo de
dez dias, seguindo a averbação no Registro de Pessoas Naturais,
exatamente como acontece com a sentença de interdição, onde esta
também foi registrada.
Não se pode estender a incapacidade ao ausente declarado
como tal por sentença. Este, se aparecer, poderá exercer todos os atos
da vida civil, assumindo a direção de seus negócios. Aliás, são
previstas, ainda, duas hipóteses de morte presumida sem decretação
de ausência: 1) a morte provável de quem estava em perigo de vida;
2) o desaparecido ou prisioneiro de guerra após decorridos dois anos
do fim do conflito. Ambas requerem sejam esgotadas busca e
averiguação do estado do pretenso de cujus.
Não é demais lembrar que, no regime anterior, o ausente era
tido como absolutamente incapaz.

8.4 OS RELATIVAMENTE INCAPAZES


Determina o art. 4º do Código Civil:

“São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira


de os exercer:

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Das Incapacidades
I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II – os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por
deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;
III – os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
IV – os pródigos”.

Vejamos cada um deles, exceto os silvícolas, visto que o


Código não prevê regulamentação sobre a sua capacidade: “A
capacidade dos índios será regulada por legislação especial”
(parágrafo único do art. 4º do CC).

8.4.1 Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos


O relativamente incapaz, que é a situação dos maiores de 16 e
menores de 18 anos, deve praticar pessoalmente os atos da vida civil,
porém, assistido por seu representante legal.
Poderá acontecer que o menor, doente, ao atingir a idade de
16 anos, continue a ser portador de problema mental sério e, para
evitar o seu comparecimento pessoal na prática do ato jurídico, cabe
a sua interdição, pois a curatela de incapaz é cabível em qualquer
idade (in RT 590/83).
Normalmente, se o maior de 16 e menor de 18 anos,
considerado pela lei relativamente incapaz, praticar o negócio
jurídico sem assistência de seu representante legal, o ato é anulável.
Ato anulável é aquele praticado pelo relativamente incapaz sem a
assistência do representante legal; é aquele ato válido no momento
em que é praticado, mas que pode vir a ser anulado através de uma
ação judicial.
Somente duas pessoas poderão requerer a anulabilidade do
ato perante o juiz: o próprio incapaz quando alcançar a capacidade de
exercício, ou o seu representante legal, desde que o faça dentro do
prazo prescricional. Esse prazo varia dependendo de cada ato, mas
nunca deve ultrapassar 4 anos e, caso os interessados deixem de
requerer ao juiz a sua anulabilidade, deixando passar o prazo, ele se

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Parte Geral
torna definitivamente válido. Dá-se, aí, o que se chama de
ratificação tácita. Há, ainda, a expressa, aquela em que as partes,
dentro do prazo prescricional, assinam uma declaração sanando o ato
anulável.
Tratando-se de ato anulável, o interessado, que se tornou
capaz poderá pedir ao juiz a anulabilidade. Mas não conseguirá
anulá-lo:
a) se por ocasião em que praticou o ato, ocultou,
dolosamente, sua idade ou, perguntado a respeito da idade,
negou que era menor. O artigo 180 do CC dispõe, com muita
clareza, dizendo textualmente, o seguinte: “O menor, entre
dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma
obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou
quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-
se, declarou-se maior”. Analise a seguinte decisão: “O
menor que toma a iniciativa de obter cartão de crédito não
pode desobrigar-se do pagamento das despesas
comprovadamente efetuadas, se, por todo o tempo, tinha a
consciência de que não poderia contratar enquanto menor de
idade, pois, nos termos do art. 155 (atualmente art. 180) do
CC, a menoridade não exime do cumprimento de obrigação,
se dolosamente foi ocultada quando inquirida pela outra
parte” (in RT 764/342);
b) se a importância recebida se reverteu de fato em proveito
do menor. É o que se extrai da dicção textual do art. 181 do
CC, in verbis:
“Ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação
anulada, pagou a um incapaz, se não provar que reverteu
em proveito dele a importância paga”.

Entrementes, em alguns casos, o menor relativamente incapaz


pode agir independentemente da presença do seu representante legal.
Por exemplo, fazer testamento (CC, art. 1.860, parágrafo único),
casar-se (CC, art. 1.517), exercer empregos públicos quando não
exigida a maioridade.

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Das Incapacidades

8.4.2 Os ébrios habituais

A embriaguez reduz a capacidade de discernir do homem por


destruir os neurônios. Os alcoólatras ou dipsomaníacos (os que têm
impulso irresistível)60, desde que interditos, não poderão praticar atos
da vida civil sem assistência do seu representante legal.

8.4.3 Os viciados em tóxicos


Por toxicômano (do grego Toxikon = tóxico ou veneno, e
mania = hábito), entende-se a pessoa viciada em tóxico como a
cocaína, o ópio, a morfina, o álcool, o éter etc.
O tóxico, por ser venenoso, provoca o enfraquecimento do
organismo e, como conseqüência, produz certa deficiência ou
depressão mental que pode levar à loucura. Afetando a mente, pode
haver uma diminuição na capacidade de discernir, podendo, os
interessados em sua pessoa e bens, pedir a sua interdição.
O Dr. Marcelo Quiroga Obregon, ex-cônsul da Bolívia no
Brasil e ex-presidente da Comissão de Luta contra o Narcotráfico da
Câmara de Deputados da Bolívia, em uma entrevista que concedeu à
“Revista Literária de Direito”, fez relevantes esclarecimentos com
relação à cocaína. Destacamos alguns deles:
- “Quais os efeitos da cocaína no consumidor?
- Os efeitos do consumo de cocaína são mortais. Em primeiro
lugar, o consumidor fica excitado, extremamente extrovertido, com
facilidade para falar, compreender, e sente, ao mesmo tempo,
sensação de euforia e diminuição de cansaço físico. Passado o efeito
da droga, entretanto, o consumidor entra em estado de depressão
muito grande e perigoso, só conseguindo superá-lo consumindo mais
cocaína e logicamente sentindo efeitos ainda piores.
O consumidor de cocaína tem como característica principal a
compulsão em continuar usando a droga e obtê-la a qualquer preço.

60
Maria Helena Diniz

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Parte Geral
A tendência natural é aumentar a dose cada vez mais e, por
conseqüência, chegar à total dependência física e psíquica. É por isso
que a cocaína pode levar o indivíduo à morte. Se não for internado
em instituições especializadas em recuperação de drogados, o viciado
fatalmente acabará morrendo por overdose.
- Através de tratamento nesses sanatórios, o drogado
consegue obter a plena recuperação?
- Eu, particularmente, não acredito que, estando ele numa fase
adiantada, o tratamento possa resultar em cura, uma vez que o ácido
e os produtos que compõem a cocaína destroem irremediavelmente
as células cerebrais.
- Se depois que passa o efeito da cocaína, o viciado entra em
depressão, o que ocorre com ele nesse período depressivo?
- Esse estado de depressão é perigoso para o viciado. Ele
sente medo e desconfiança de tudo e de todos e tem fortes
alucinações, ficando numa paranóia muito grande, com atitudes
agressivas e anti-sociais que podem levá-lo a cometer uma série de
delitos e até o suicídio.
- O que é a chamada overdose de cocaína?
- A overdose é o consumo excessivo da cocaína ou sua
associação com o álcool. Seu efeito é a parada cardíaca ou então o
desespero do consumidor, levando-o ao suicídio. É por isso que
afirmo que os efeitos da cocaína são mortais. É uma estrada sem
volta.
- Afinal, o que é a cocaína e como ela é produzida?
- A cocaína é obtida por um processo que está configurado
em três fases: a primeira consiste em recolher a folha de coca no seu
estado natural e mediante um processo de “pisado” extrair o sulfato
de cocaína das folhas. Este “pisado” é misturado às folhas de coca
juntamente com benzina, ácido sulfúrico, carbonato, cal e querosene.
Uma vez extraído o sulfato passa-se para a segunda fase, que é
aquela em que o sulfato se transforma em base oxidada ou pasta-base
e para isto é utilizada a mistura de ácido sulfúrico, permanganato de
sódio e amoníaco. A terceira fase consiste na transformação da pasta-

106
Das Incapacidades
base em cloridrato de cocaína ou cristal, através do uso de acetona,
éter e ácido clorídrico.
É preciso 300 kg de folhas de coca mais os precursores acima
citados para obter mais ou menos 1 kg de cristal ou cocaína pura”61.
Perante o processo de interdição, os peritos, apreciando a
natureza da intoxicação, opinam qual foi a alteração da saúde mental
do interditando, indicando a extensão da interdição, ou seja, fixando
a graduação para a debilidade mental, como limitada, similar à
interdição dos relativamente incapazes, ou como plena, semelhante à
dos absolutamente incapazes (ver Decreto-lei n. 891, de 1.938).
Como acontece em relação à interdição dos loucos, a sentença
que decreta a interdição, embora sujeita à apelação, produz efeitos
imediatos. Transitada em julgado a sentença, a interdição será
registrada no Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais do
interditado.
Obtendo o interditado a cura, poderá requerer ao juiz o
levantamento da interdição. A sentença do levantamento da
interdição transitada em julgado, após ser publicada na imprensa
local e no órgão oficial por três vezes com intervalo de dez dias, será
averbada no Registro Civil de Pessoas Naturais.

8.4.4 Os excepcionais, sem desenvolvimento mental


completo
São considerados, igualmente, relativamente incapazes os
fracos de mente, ou seja, aqueles que apresentam sinais de
desenvolvimento mental incompleto, desde que interditos.

8.4.5 Os pródigos
Encontra-se entre os relativamente incapazes, o pródigo e,
para que ele seja juridicamente reconhecido como incapaz é preciso

61
Revista Literária de Direito, número 2, Ed. Jurídica Brasileira, 1.994, ps. 26 e 27

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Parte Geral
que seja interditado, pois, como vimos, “sem que previamente tenha
sido interditado ninguém pode ser considerado incapaz” (in RT
447/63).
Pródigo é o indivíduo que gasta desordenadamente seus bens,
ameaçando a estabilidade de seu patrimônio. Como muito bem
lembra Sílvio de Salvo Venosa, “a prodigalidade não deixa de ser
uma espécie de desvio mental, geralmente ligado à pratica de jogo ou
a outros vícios”.62
A partir da interdição, o pródigo precisará de assistência de
seu representante legal, o curador nomeado pelo juiz, para emprestar,
transigir, quitar, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado e
para praticar atos que não sejam de mera administração (CC, art.
1.782). Entretanto, o pródigo pode casar ou exercer a sua profissão,
sem a assistência de seu curador.
A prodigalidade é decretada no interesse do resguardo do seu
patrimônio. Por isso, qualquer parente, os sucessíveis, naturalmente,
ou o Ministério Público pode pleitear a curadoria por prodigalidade.

8.5 PROTEÇÃO QUE O DIREITO CONCEDE AOS


INCAPAZES
O incapaz é um protegido da lei. Para tanto, a própria lei
coloca alguém para dirigir e defender a sua pessoa e os seus bens.
Esse alguém são os seus pais, quando ele for menor e, quando for
maior, será o curador. Se o menor for órfão ou seus pais não se
acharem no exercício do poder familiar, o tutor será a pessoa que o
protegerá.
Há, pois, dois institutos protetivos do incapaz: o da
representação e o da assistência. Através desses institutos têm-se o
suprimento das incapacidades e, assim, os negócios jurídicos
funcionam regularmente, a tal ponto que, caso o absolutamente
incapaz venha a exercer pessoalmente os direitos que adquiriu no
instante em que nasceu e não por intermédio do seu representante

62
Direito Civil, vol. 1, Atlas, São Paulo, 1.984, p. 134

108
Das Incapacidades
legal, qualquer ato então praticado por ele, é nulo (CC, art. 166, I).
Caso o relativamente incapaz venha a exercer os direitos, por si,
porém, sem assistência do seu representante legal, o ato será anulável
(CC, art. 119). Portanto, essas pessoas são representadas, se se
tratar de absolutamente incapazes, ou são assistidas, se se tratar de
relativamente incapazes.
Antes do Código Civil de 1.916, havia o instituto da
restituição in integrum, meio pelo qual o menor, quando lesado em
seus interesses, pedia a devolução do que pagara, mesmo que o ato
lesivo tivesse sido cercado das formalidades legais. Era um direito
assegurado ao menor de poder anular quaisquer atos, mesmo válidos,
que lhe tivessem causado lesão durante a menoridade. Mas esse
privilégio o Código aboliu (CC, art. 8.º) e hoje, se o ato foi praticado
com todas as formalidades legais, com a efetiva participação do
representante legal do incapaz, desde que não se encontre maculado
com qualquer dos vícios que anulam os atos (erro, dolo etc.), é
plenamente válido e eficaz.
Além dessa proteção, há outras de natureza também especial,
como, por exemplo, “contra os absolutamente incapazes não corre a
prescrição” (CC, art. 198, I), ou “O mútuo feito a pessoa menor, sem
prévia autorização daquele sob cuja guarda estiver, não pode ser
reavido nem do mutuário, nem de seus fiadores” (CC, art. 588).

8.6 CESSAÇÃO DA INCAPACIDADE


Cessa a incapacidade:
1. pela maioridade;
2. pela emancipação.

8.6.1 Maioridade
A maioridade para o exercício da vida civil começa quando
uma pessoa completa 18 anos. A partir de então, passa a ser maior e
capaz, podendo praticar todos os atos da vida civil sem qualquer
assistência. É nesse momento que o indivíduo alcança,
automaticamente, a capacidade e a maioridade.

109
Parte Geral

8.6.2 Emancipação
“A emancipação concedida pelo pai ao filho menor é
liberalidade exclusivamente benéfica deste. Tem a finalidade
de liberá-lo da assistência facilitando-lhe a prática dos
negócios jurídicos. Desavém ao pai utilizá-la para descartar-
se da responsabilidade pelos atos do filho menor “na idade
em que os riscos se maximizam - da puberdade até a
maioridade com os 18 anos”, porque torna mascarada a
libertação do poder familiar” (in RT 639/172).

Normalmente, uma pessoa adquire a capacidade de exercício


quando alcança 18 anos de idade. Por exceção, ao atingir 16 ou 17
anos, pode conseguir a antecipação da capacidade plena. O artigo 5.º
do Código Civil é preciso: “A menoridade cessa aos dezoito anos
completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os
atos da vida civil.
Parágrafo único. “Cessará, para os menores, a
incapacidade:
I – pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do
outro, mediante instrumento público, independentemente de
homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o
menor tiver dezesseis anos completos”. Esse meio, de se conseguir a
capacidade civil antes da idade de 18 anos, chama-se emancipação.
O emancipado é menor, mas é portador da capacidade de exercício.
Emancipação, na conceituação de Clóvis Beviláqua, “é a
aquisição da capacidade civil antes da idade legal”.63

8.7 CASOS DE EMANCIPAÇÃO


Acontece a emancipação:
I – pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do
outro, mediante instrumento público, independen-
63
Teoria Geral do Direito Civil, p. 125

110
Das Incapacidades
temente de homologação judicial, ou por sentença do
juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis
completos;
II – pelo casamento;
III – pelo exercício de emprego público efetivo;
IV – pela colação de grau em curso superior;
V– pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela
existência de relação de emprego, desde que, em função
deles, o menor com dezesseis anos completos tenha
economia própria”.

8.7.1 Por concessão dos pais, ou de um deles na falta do


outro
Trata-se da emancipação voluntária que ocorre pela
concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro. Nesse caso, o
menor tem que ter, pelo menos, 16 anos completos e estar sob o
poder familiar. Ambos os pais podem conceder a emancipação. Na
falta de um deles, o outro, mediante instrumento público. Não há a
necessidade da homologação judicial. Sendo um ato unilateral dos
pais ou de um deles na falta do outro, dependerá a concessão
unicamente da vontade daqueles ou deste. Mas “a emancipação
concedida pelo pai ao filho menor é liberalidade exclusivamente
benéfica deste. Tem a finalidade de liberá-lo da assistência,
facilitando-lhe a prática dos atos jurídicos. Desavém ao pai utilizá-la
para descartar-se da responsabilidade pelos atos do filho menor na
idade em que os riscos se maximizam - da puberdade até a
maioridade com os 18 anos, porque torna mascarada a libertação do
poder familiar”.
Nestas circunstâncias, a delegação total da capacidade
outorgada pelos pais ao filho menor não compreende exoneração da
responsabilidade, que não se substitui, nem se sucede, para delir64 a
solidariedade nascida do ato ilícito.

64
Delir = apagar, desfazer.

111
Parte Geral
“Não é nulo, mas ineficaz, - decidiu o tribunal - o ato da
emancipação em face de terceiros e do menor, prejudicial pela
totalidade da carga na obrigação de indenizar, por isso cognoscível o
defeito e pronunciável de ofício no próprio processo” (in RT
639/172).
Concluindo: A emancipação, pelos pais, é ato unilateral e
voluntário, exclusivamente em benefício do filho. Embora seja ato
irrevogável, não podem os pais emancipar o filho para isentá-los de
responsabilidade, principalmente por ato ilícito do filho menor de
idade (CC, art. 932, I).
Nessa circunstância, tal delegação não compreende a
exoneração da responsabilidade, continuando, os pais, responsáveis
por qualquer ato ilícito do filho menor. Veja o que escreve sobre o
assunto Aguiar Dias: Assim, em nada influi que o menor de mais de
16 anos, esteja, para efeito de ato ilícito, equiparado ao maior ou, até,
que esteja emancipado, por ato do pai, desde que a emancipação se
revele como ato impensado, em face do ato ilícito do menor,
acarretando a responsabilidade, pelo menos em face dos princípios
comuns do art. 186. “A responsabilidade do pai pelos atos do filho se
aplica a todos os atos ilícitos que pratique, em qualquer situação,
porque a vigilância que lhe incumbe é universal e contínua, não
podendo, pois, pretender que com relação a determinados atos
submetidos a essa vigilância não se configure a sua
responsabilidade”65.
Depois de realizada a escritura pública, esta será registrada no
Cartório do l.º Ofício da Comarca onde reside o pai do emancipando,
em livro próprio (Lei dos Registros Públicos, art. 89). “A inscrição
no registro público da emancipação por outorga do pai ou da mãe
(Código Civil, art. 12, n. 2 – atualmente, parágrafo único do art 5º do
CC) não depende de homologação judicial” (art. 1.º da LRP).

8.7.2 Por sentença do juiz


A concessão de emancipação pelos pais, ou de um deles na
falta do outro, não necessita da intervenção do juiz. Somente a

65
Da Responsabilidade Civil, v. II/567 e 568, Forense, Rio, 4ª. ed.

112
Das Incapacidades
emancipação do menor sob tutela é que deve ser objeto do
procedimento de jurisdição voluntária (CPC, art. 1.112, I).
O menor tutelado ou sem tutor, mas órfão de pai e mãe, ou se
estes forem incapazes, desde que seja maior de 16 anos e deseje
emancipar-se, peticionará diretamente ao juiz de direito do foro de
sua residência.
O pedido é feito por ele mesmo para não ficar na dependência
do tutor. Na hipótese de o menor não ter tutor, ele requererá, na
própria petição, ao juiz que lhe nomeie tutor ad hoc para o fim de
atender o que determina o parágrafo único, I, do art. 5º do CC,
segunda parte: ...ouvido o tutor.
O juiz designará dia e hora para inquirir testemunhas que irão
falar sobre o pedido, funcionando obrigatoriamente o Promotor
Público. Ouvirá necessariamente o tutor e o próprio menor. Se se
convencer da procedência do pedido, por sentença, concederá a
emancipação, que será registrada de acordo com o art. 8966 da Lei
dos Registros Públicos. Trata-se da emancipação judicial. Poderá, ao
contrário, denegar o pedido se se convencer de que o menor não
possui, ainda, maturidade para reger sua pessoa e seus bens.

8.7.3 Pelo casamento


O casamento, automaticamente, emancipa os cônjuges. Se
antes do casamento os nubentes eram incapazes, com o casamento
eles passam a ser capazes e de maneira irreversível. Vale dizer, caso
os cônjuges venham a separar-se judicialmente ou venham a
divorciar-se, não ocorrerá a revogação da emancipação.
A lei fixa a idade nupcial: 16 anos tanto para a mulher como
para o homem. Contudo, quando tenha havido união sexual e a
mulher menor de 16 anos engravida, cabe o pedido ao juiz de

66
Art. 89 – “No cartório do 1º Ofício ou da 1ª subdivisão judiciária de cada
comarca serão registrados, em livro especial, as sentenças de emancipação, bem
como os atos dos pais que a concederem, em relação aos menores nela
domiciliados”.

113
Parte Geral
suprimento de idade e, estando os interessados de acordo, o juiz
autorizará o casamento. Essa situação tem respaldo na própria lei, art.
1.520 do CC, in verbis: “Excepcionalmente, será permitido o
casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil (art. 1.517),
para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou em
caso de gravidez”. Também há jurisprudência: Nos casos em que
tenha havido união sexual de menores antes da idade que a lei fixa
para o casamento, ou de pessoa maior com pessoa menor, “o
suprimento de idade deve ser concedido porque o juiz, assim,
atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem
comum” ( in RT 574/72).
O que se conclui é que ocorre a emancipação de menor de 16
anos pelo casamento, e que, mesmo havendo a dissolução da
sociedade conjugal, o emancipado não retorna à situação de
incapacidade civil.

8.7.4 Pelo exercício de emprego público efetivo


Todo menor que passa a exercer emprego público efetivo
obtém a emancipação. Não vale para a emancipação a simples
nomeação ou o exercício interino no emprego. É preciso que o
serventuário exerça cargo ou função pública pela aprovação em
concurso público, e nomeado em caráter efetivo.
Observam os Professores Paulo S. Gagliano e Rodolfo
Pampona Filho o seguinte: “cumpre reconhecer que, a partir da
vigência do Novo Código Civil, essa hipótese restou esvaziada,
perdendo importância prática. Tal conclusão se dá pela circunstância
de que dificilmente a lei admitirá o provimento efetivo em cargo ou
emprego público antes de dezoito anos, até mesmo porque esta é a
idade mínima admitida para a capacidade plena trabalhista”67.

8.7.5 Pela colação de grau em curso de ensino superior


A emancipação pela colação de grau em curso superior
dificilmente ocorrerá na época atual, porque normalmente uma
pessoa conclui o curso superior com mais de 18 anos.

67
Ob. e vol. cits., p. 115.

114
Das Incapacidades

8.7.6 Emancipação obtida pelo estabelecimento civil ou


comercial, ou pela existência de relação de
emprego, desde que, em função deles, o menor
com dezesseis anos completos tenha economia
própria

Um menor, com 16 anos de idade, que se estabelece com


economia própria, pode comercializar mesmo sem autorização dos
pais?
Ao se estabelecer com economia própria, automaticamente se
emancipa. Portanto, adquire capacidade plena para todos os atos da
vida civil e comercial. “Menor que se estabelece em razão de
sucessão causa mortis, - decidiu o tribunal - não pratica comércio
com economia própria. Dessa forma, não pode se emancipar, por
ausência de requisitos, e inexistência de elementos contemplados em
lei” (in RT 723/323).
Igualmente se emancipa automaticamente pela existência de
relação de emprego, desde que o menor passe a ter economia própria.
Discorrendo sobre a situação em apreço, Sílvio Venosa
preleciona: “A simples relação de emprego ou estabelecimento
próprio, portanto, não será suficiente para o status, pois estaria a
permitir fraudes. Discutível e apurável será no caso concreto a
existência de economia própria, isto é, recursos próprios de
sobrevivência e manutenção”68.
Qual é a prova da emancipação, caso o menor deixe de
exercer sua atividade, ou emprego, visto que a emancipação é
irreversível? Qual é o documento, in casu, para o emancipado provar
a obtenção da emancipação?
É diferente dos casos anteriores cuja certidão do exercício de
cargo público efetivo, de casamento, da sentença do juiz ou de
nascimento é prova bastante da emancipação. O único caminho que
tem o menor é fazer prova perante o juiz de que se estabeleceu ou

68
Ob. E vol. cits., p. 190.

115
Parte Geral
tem emprego com economia própria.
Produzida a prova e entendendo o juiz que a emancipação se
justifica, esta é prevista por sentença. Esta é a prova que tem o
emancipado, através de uma certidão da sentença.
Não se há perder de vista que não foi o juiz quem emancipou
o menor. Segundo a dicção do art. 5º, V, do CC, a emancipação se
deu pelo fato de ter o menor se estabelecido ou de de ter adquirido
relação de emprego com economia própria.

JURISPRUDÊNCIA

1. “Em se tratando de menores impúberes, são absolutamente


incapazes para a outorga de procuração, tanto por instrumento
particular, como por instrumento público, eis que inibidos de emitir
consentimento como requisito integrativo à validade do respectivo ato
jurídico. Logo, não se pode exigir que os mesmos outorguem
procuração para advogado. A postulação é feita por quem os
representa legalmente, no caso a mãe, que outorgou mandato válido
para advogado procurar em juízo” - RT 709/168.
2. A incapacidade do alienante alegada em defesa de ação
reivindicatória não pode ser reconhecida para o fim de improcedência
da ação se a interdição foi decretada após a realização do negócio. É
necessária prova, a ser produzida em ação própria, de que a
insanidade mental já existia ao tempo da alienação” - RT 638/93.
3. “Trocando o menor direito que buscava em juízo por imóvel
livre, desembaraçado e de valor equivalente, conforme atestado por
empresa idônea, representado o incapaz pela mãe e concordando o
Ministério Público com o negócio jurídico após comprovação de que o
acordo era efetivamente vantajoso, não há como reformar a sentença
homologatória a pretexto de necessidade de avaliação do bem por
perito de confiança do juízo. Em face do acertamento a que chegaram
as partes e tendo em vista não comprovados erro, dolo, fraude ou,
mesmo, qualquer outro vício, simples discordância desfundamentada é
pouco para desfazer processo que seguiu tramitação regular, sendo
necessária prova do prejuízo” - RT 643/77.

116
Das Incapacidades
4. “Na citação por hora certa, a entrega da contrafé69 pode ser
feita a menor relativamente incapaz, sem qualquer irregularidade para
o ato. Este só será inválido se o oficial de justiça entregar a referida
contrafé à pessoa absolutamente incapaz ou interdita” - RT 673/119.
5. “Os menores entre 16 e 21 (atualmente 18) anos praticam
diretamente os atos jurídicos em que são partes. Todavia, porque
relativamente incapazes, o consentimento é completado com a
assinatura de representante legal, sob pena de anulabilidade dos atos.
Esta não se caracteriza quando o relativamente incapaz
espontaneamente se declara maior no ato de se obrigar (CC, art. 155):
“malitia suplit aetatem”. Logo, é válido o ato jurídico impugnado” -
RT 661/145.
6. “Não se pode admitir que menor exerça, por si, posse com
animus domini. Assim, se não invocada a accessio temporis pela posse
materna exercida anteriormente, tem-se como não fluído o período de
aquisição do usucapião, impondo-se a carência da ação” - RT 622/78.
7. “A capacidade é presumida. Assim, a validade de ato
praticado por incapaz ainda não interditado fica na dependência da
ignorância em que se encontrava o outro contratante quanto ao estado
mental do alienado, por ser o ato anulável, e não nulo” - RT 622/202.
No mesmo sentido: RT 723/440.
8. “O interdito, não sendo pessoa capaz, não pode dispor de
órgãos e partes do próprio corpo vivo, ainda que para fins
humanitários e terapêuticos. A decisão de doar tais órgãos é
personalíssima, não havendo ensejo para a interferência de tutores ou
curadores ou para a atuação judicial” - RT 618/66.
9. “Não se pode exigir de terceiros o entendimento e a
desconfiança de possível incapacidade do contratante. A interdição só
produz efeitos, após seu acolhimento por sentença e à lei importa mais
proteger terceiro de boa-fé do que o interesse de incapaz.
10. Os negócios praticados por amental não interditado são
válidos, sendo que sua anulação só pode ser pleiteada em ação própria”
- RT 618/188.
11. “Se a autora não está interditada, nem demonstrado resta
que esteja acometida de distúrbios mentais, não há como pronunciar-se
sua incapacidade para propor a ação, tendo em vista sua idade
avançada” - RT 602/170.

69
Contrafé = cópia autenticada de citação ou intimação judicial que se entrega à
pessoa citada ou intimada.

117
Parte Geral
12. “É de se admitir que o menor relativamente incapaz conceda
mandato judicial, independentemente da presença do assistente legal,
sob pena de impedi-lo definitivamente de obter a tutela jurisdicional,
quando o representante se recusa a conceder-lhe permissão para
determinados atos da vida civil, como ocorre nos casos de necessidade
de suprimento de autorização para contrair matrimônio” - RT
670/149.
13. “Completa 21 (atualmente 18) anos o cidadão à meia-noite do
dia do aniversário, isto é, após o transcurso integral do dia em que
alcançou a maioridade” - RT 652/338.
14. “A emancipação concedida pelo pai ao filho menor é
liberalidade exclusivamente benéfica deste. Tem a finalidade de liberá-
lo da assistência, facilitando-lhe a prática dos atos jurídicos. Desavém
ao pai utilizá-la para descartar-se da responsabilidade pelos atos do
filho menor “na idade em que os riscos se maximizam - da puberdade
até a maioridade com os 21 anos”, porque torna mascarada a
libertação do pátrio poder.
Nestas circunstâncias, a delegação total da capacidade
outorgada pelo pai ao filho menor não compreende exoneração da
responsabilidade, que não se substitui, nem se sucede, para delir70 a
solidariedade nascida do ato ilícito.
Não é nulo, mas ineficaz, o ato da emancipação em face de
terceiros e do menor, prejudicial pela totalidade da carga na obrigação
de indenizar, por isso cognoscível o defeito e pronunciável de ofício no
próprio processo” - RT 639/192.
15. “A idade, avançada, por si só, não é motivo para determinar
a interdição do idoso, máxime quando o próprio perito salienta que as
alterações quer na esfera física, quer na esfera psíquica estão ainda
contidas na faixa da normalidade, própria ao grupo etário a que
pertence a interditanda” - 714/120.
16. “O menor que toma a iniciativa de obter cartão de crédito
não pode desobrigar-se do pagamento das despesas comprovadamente
efetuadas, se, por todo o tempo, tinha a consciência de que não poderia
contratar enquanto menor de idade, pois, nos termos do art. 155 do
CC, a menoridade não exime do cumprimento de obrigação, se
dolosamente foi ocultada quando inquirida pela outra parte” – RT
764/342.

70
Delir = desfazer, apagar.

118
Das Incapacidades
17. No procedimento de curatela, a sentença de interdição deve
ser publicada em órgão oficial ou na imprensa local, nos termos do art.
1.184 do CPC, para que se dê ao ato de decretação de incapacidade a
maior publicidade possível, como forma de proteger os interesses de
terceiros” – RT 754/340.
18. “O dever do genitor em prestar alimentos a sua prole cessa
quando os filhos atingem a maioridade, salvo quando estes forem
portadores de deficiência física ou mental ou, ainda, freqüentarem
curso universitário” – RT 752/273.
19. “É perfeitamente admissível o pedido de interdição de
menor, contando com 16 anos de idade, portadora da síndrome de
Down, pois a curatela de incapazes é admitida em qualquer idade,
devendo nortear o seu cabimento um critério de utilidade” – RT
738/267. no mesmo sentido: RT 720/111.
20. “Em ação de indenização decorrente de acidente de trânsito,
com veículo dirigido por menor de 17 anos (relativamente incapaz),
cedido por um colega, que estava em sua companhia, a
responsabilidade solidária somente pode ocorrer entre o pai e filho, se
estivesse este dirigindo veículo do próprio genitor, porém, esta
solidariedade não prevalece entre o pai do menor e um terceiro. Dessa
forma, dilui-se totalmente a responsabilidade do genitor” – RT
735/291.
21. “Admite-se que a parte maior e capaz transacione direito que
lhe foi reconhecido por sentença transita em julgado, mesmo na fase de
execução; todavia, os efeitos da transação celebrada não podem
repercutir na esfera jurídica de menores impúberes, sem a prévia
autorização judicial, porquanto extravasam os atos de mera
administração reconhecida aos pais para reger os interesses dos filhos”
– RT 726/404.
22. “Menor que se estabelece em razão de sucessão causa mortis,
não pratica comércio com economia própria. Dessa forma, não pode se
emancipar, por ausência de requisitos, e inexistência de elementos
contemplados em lei” – RT 723/323.
23. “Agente que comete o crime uma hora antes de completar 18
anos: “É a lei civil quem determina a idade das pessoas.
Impossível caber interpretação diversa na legislação penal e
processual, uma vez não ter cabimento que alguém tenha 18 anos pela
lei civil e ainda não os tenha pela lei penal ou militar ou eleitoral. Logo,
considera-se penalmente responsável o agente que pratica a infração
no preciso dia em que comemora seu 18.º aniversário” – RT 729/564.

119
Parte Geral
24. “A nulidade de ato jurídico com base nos arts. 5.º, II, 145, I, e
82 do CC-16 depende de prova segura da incapacidade do agente ao
tempo da celebração do ato. A interdição posterior é um fato a ser
confrontado com a boa-fé do terceiro adquirente. Circunstâncias que
justificam prestigiar a venda e compra” – RT 771/219.
25. “A citação de interdito, declarado absolutamente incapaz de
exercer pessoalmente os atos da vida civil, só pode ser feita na pessoa
de seu curador, de acordo com o disposto nos arts. 8.º e 218, § 3.º, do
CPC e art. 84 do CC-16, com a necessária intervenção do Ministério
Público no processamento da causa, sob pena de nulidade do ato e do
feito, nos termos dos arts. 246 e 247, também do CPC” – RT 769/249.
26. “Na morte em decorrência de ato ilícito, a legitimidade para
interpor ação indenizatória é de todos aqueles que ostentem a condição
de credor de alimentos do de cujus, ou seja, das pessoas que viviam, de
modo absoluto ou relativo, sob a dependência econômica do morto.
Assim, por faltar personalidade ao nascituro, pois esta somente se
inicia do nascimento com vida, este não tem capacidade de ser parte e
de se fazer representar em juízo, razão pela qual inadmite-se a
pretensão de seu reconhecimento como parte legitima ativa para
interpor ação indenizatória em razão da morte de seu suposto pai” –
RT 793/280.+
27. “Tendo em vista que o princípio da liberdade das formas
rege os contratos de locação, a menoridade do locatário não pode dar
causa a sua nulidade, se comprovada a concreta assistência do seu
genitor, mesmo não tendo aposto sua assinatura à avenca,pois a
concordância não prescinde forma especial, muito menos forma
escrita. Acresça-se que a locação teve fins exclusivamente comerciais, e
nos termos do inc. V, § 1º, do art. 9º, do CC-16, menores de 21 anos se
emancipam ao se estabelecer civil ou comercialmente, com economia
própria” – RT 788/308.
28. “A incapacidade absoluta do agente obsta o começo do prazo
prescricional, na hipótese, para interpor ação indenizatória, conforme
determina o art. 169, I, do CC-16, pouco importando a nomeação de
curador que o represente em processo de interdição” – RT 778/170.
29. “A nulidade de ato jurídico com base nos arts. 5º, II, 145, I, e
82 do CC-16 depende de prova segura da incapacidade do agente ao
tempo da celebração do ato. A interdição posterior é um fato a ser
confrontado com a boa-fé do terceiro adquirente. Circunstâncias que
justificam prestigiar a venda e compra” – RT 771/219.

120

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