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IMERSÃO REFLEXIVA

2º AÇÃO DO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO


CONTINUADA PARA GESTÕES DO INSS
Setembro/2008

Servidora: Margarete Aparecida de Souza


2ª Ação do Programa de Educação Continuada para os Gestores do INSS
Imersão Reflexiva

Prezado (a) Gestor (a),

A Imersão Reflexiva tem como objetivo levar o participante a analisar aspectos


sócio-culturais, econômicos e políticos do contexto de sua atuação profissional e relacioná-
los ao papel social do INSS, de modo a reforçar o exercício de uma prática ética e cidadã.

Antes de iniciar esta visita, é fundamental que você reflita sobre o seu papel como
Gestor da Previdência, Instituição que exerce importante função social na vida dos
brasileiros. Você já se perguntou qual é o papel da Previdência no desenvolvimento
sustentável do País?

A leitura dos textos “Algumas categorias para análise de conjuntura” de Herbert


de Souza, “Paulo Freire em Tempos de Exclusão” de Miguel G. Arroyo e “Previdência
em Questão - 01 a 15 de agosto de 2008”, contidos neste caderno, dará um suporte
conceitual às suas reflexões e ao trabalho a ser realizado. Além disso, a abertura para
conhecer novas pessoas, contextos e cenários, estabelecer diálogos e promover uma
comunicação em prol do seu desenvolvimento pessoal e interpessoal é fundamental para
essa vivência.

O comprometimento com uma atuação profissional cidadã pressupõe a integração


de conhecimentos das características sociais locais aos serviços prestados pelo INSS.
Portanto, a busca de informações sobre o contexto em que você atua é sempre relevante
para o exercício de suas funções. Contamos com o seu compromisso.

A carga horária será de 8 horas e você deverá seguir o roteiro anexo.

Siga as orientações e vivencie uma ótima descoberta!


Orientações para a visita ao Projeto Social

Princípios básicos

 Respeito à diversidade cultural, aos valores, crenças, visões, normas e costumes nas
relações com pessoas e diante de situações diversificadas;
 Atenção às diferentes percepções dos atores sociais;
 Valorização dos aspectos históricos e socioculturais inerentes ao contexto;
 Disposição para criar e aprender a partir de situações inusitadas;
 Desenvolvimento de formas diversificadas de comunicação na relação com pessoas
e grupos;
 Comprometimento com uma atuação cidadã e de responsabilidade socioambiental.

Orientações

Você deverá realizar uma visita a um projeto social situado no meio urbano ou rural. Para a
escolha da instituição a ser visitada, você contará com o apoio dos profissionais das
equipes de educação (T&Ds) das Gerências Regionais e Executivas.

Depois de escolher a instituição, entre em contato com as equipes de educação (T&Ds)


GER ou GEX para confirmar o agendamento de sua visita.

Antes de encaminhar-se à instituição, pesquise, nos sites: www.rededlis.org.br - rede de


informações sobre desenvolvimento local e www.portalmunicipal.org.br - informações
gerais sobre os municípios brasileiros, aspectos do contexto regional, tais como:
 Dados históricos, culturais, educacionais, econômicos e políticos;
 População;
 Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município.

Durante a visita, colha a assinatura do gestor do Projeto no seu relatório de visita,


acrescente observações sobre os aspectos acima, registrando os itens indicados no
formulário. (Anexo I)

Esclarecemos que não haverá pagamento de diária para participar desta ação.

Bom trabalho!
Equipe de Educadores do INSS.
Anexo I

Relatório da Imersão Reflexiva

2ª Ação do Programa de Educação Continuada para os Gestores do INSS

Contexto Local

1. Dados históricos, culturais, educacionais, econômicos e políticos:


Guaratinguetá, palava de origem Tupi que significa “muitas garças brancas”. Localizada
no Vale do Paraíba, Estado de São Paulo, teve origem em um antigo povoado chamado
Santo Antonio de Guaratinguetá, fundado por Jacques Felix e filhos por volta de 1.628. A
data de sua fundação, no entanto, é considerada 13/06/1630 , data em que foi inaugurada
a Capela dedicada ao Padroeiro Santo Antonio, erguida em palha e parede de mão . Cidade
natal de Frei Antonio de Sant'Anna Galvão, beatificado em 25/10/98 e canonizado
Primeiro Santo Brasileiro em 11/05/2007 pelo Papa Bento XVI, o que ensejou no impulso
ao crescimento do turismo religioso, e consequente reflexo positivo na economia local, que
além do fomento comercial é voltada a Agropecuária , Agricultura e Indústria.
Guaratinguetá conta para o seu desenvolvimento educacional, com a presença da
Escola de Especialistas de Aeronáutica , Campus da Unesp – Faculdade de Engenharia de
Guaratinguetá, Senac e mais recentemente a FATEC – Faculdade de Tecnologia.
Na área cultural, destacamos o carnaval que a cada ano se renova e é considerado
o melhor da região, que conta com seis escolas e nove blocos que mobilizam as
comunidades durante todo o ano .

2. População: 107.895 (censo demográfico IBGE 2007)


___________________________________________________________________

3. Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município: 0,818


(segundo Atlas de Desenvolvimento Humano IPNUD-2000)
Identificação da entidade visitada

Nome do Projeto: FAZENDA DA ESPERANÇA

Objetivos: Recuperação de Dependentes Químicos, alcoólatras e outros grupos


em situação de vulnerabilidade social .

Características e funcionamento: Entidade Filantrópica composta por leigos


consagrados, religiosos, casados e solteiros que abraçaram a causa social . A
Família Esperança já se espalhou pelo mundo com mais de 50 unidades em
mais de 10 países.

Identificação dos atores sociais e outras instituições parceiras:

Dependentes químicos, alcoólatras do sexo masculino e seus familiares


Funcionários e Voluntários
Empresas parceiras no fornecimento de matéria prima para produção de água
sanitária e madeira plástica.
Emissoras de Televisão Rede Vida e Canção Nova

Roteiro de Observação

 Que aspectos de liderança você observou na comunidade?


Conhecimento, Confiança , Organização, Participação e Resultados.
 Quais os valores praticados na comunidade que o levaram a refletir sobre seus
valores pessoais?
A espiritualidade, a convivência e o trabalho. Esses valores são o tripé da
Fazenda da Esperança e , sem dúvida, a chave de seu sucesso.

 Quem exerce o poder na comunidade e de que forma esse poder é exercido?


 O Líder e fundador da entidade, Frei Hans Stapel conta hoje com o

auxílio de muitos diretores e voluntários espalhados pelas diversas


unidades, e exerce essa liderança com facilidade face o respeito e
dignidade que conquistou com o resultado positivo de suas obras. Ele
com muita fé, amor cristão e sabedoria envolve a todos na luta , deixa
claro os objetivos e as decisões são sempre tomadas em conjunto com os
responsáveis por cada unidade. Exerce uma gestão compartilhada e
valoriza seus colaboradores .
___________________________________________________________________
 Como a comunidade se organiza para garantir sua sustentabilidade?
O jovem em recuperação assume a sua vida em diversas atividades e com ela
mantêm-se dentro da Fazenda Esperança. Nesta unidade é realizada a
fabricação de água sanitária e madeira plástica. A venda desses produtos,
somadas as doações da comunidade e dos Voluntários da Esperança, garatem
o sustento da unidade , além de resgatar no jovem em recuperação , a
dignidade e a valorização do trabalho.
 Como os indivíduos contribuem para o desenvolvimento da comunidade?
Através do trabalho voluntariado, da divulgação dos produtos alí fabricados
para que ganhem espaço no mercado, da participação de empresas no
fornecimento de matéria prima (resíduos plásticos) que impulsionam a
produção da madeira plástica , cuja produção tem crescido a cada dia com
inúmeros pedidos em andamento, o que propicia menos lixo na natureza e
redução no desmatamento; Por fim, a Fé, a Esperança e Confiança no Líder.
 De que forma a percepção dessa comunidade pode contribuir para sua auto-
avaliação como ser humano?
Sem dúvida de uma forma muito positiva. A criatividade do Líder e
idealizador Frei Hans é surpreendente e divina . Nos leva a refletir sobre as
alternativas que podemos aliar ao conhecimento em busca de resultados
positivos em nosso contexto na Previdência Social.
 Qual a importância do INSS para essa comunidade?
Orientações acerca dos direitos e concessão de benefícios aos jovens em
recuperação, que na maioria das vezes fazem juz ao auxílio-doença ou
benefício assistencial.
 Que mudanças são possíveis de serem promovidas na comunidade com o seu
envolvimento e o do INSS?
A entidade manifestou dificuldade em deslocar os jovens para a primeira
avaliação médico pericial na fase incial do tratamento , ao que lhe
apresentamos a solução de programarmos esses casos para realização de
perícia domicilar. A entidade se mostrou muito satisfeita com o atendimento
que tem recebido da agência do INSS local. Também aproveitamos a visita
para apresentarmos nosso site aos funcionários, pois muitos ainda não o
haviam visitado e ainda, nos colocamos a disposição para futuros encontros ou
palestras .
Declaração de visita

Identificação do servidor

Nome do servidor: MARGARETE APARECIDA DE SOUZA

Cargo: CHEFE DE AGÊNCIA

GER/GEX/APS: GEX TAUBATÉ / AGÊNCIA DE GUARATINGUETÁ

Identificação do Projeto Social:


FAZENDA DA ESPERANÇA – UNIDADE MASCULINA

Nome do projeto:
PROJETO SOCIAL FAZENDA DA ESPERANÇA
Endereço: RUA JOÃO FRANCISCO DOS SANTOS 460
BAIRRO SANTA EDWIRGES

Telefone: (12) 3128-8700

Município: GUARATINGUETÁ

Email: guara.m@fazenda.org.br

Site: www.fazenda.org.br

Data das visitas: 12/09/2008

Assinatura do responsável pelo projeto social:


Textos para leitura prévia

Algumas Categorias para a Análise de Conjuntura

Hebert José de Souza (Betinho) 1

Na construção de práticas político-pedagógicas e de uma pedagogia pela educação,


autonomia e emancipação, podemos ampliar nossa visão de mundo por meio da análise da
conjuntura.
Analisar uma conjuntura é ver os fatos e os acontecimentos por um determinado
ponto de vista. Por exemplo, numa greve o que interessa ao patrão, em geral, não interessa
ao trabalhador.
Para que um(a) educador(a) possa analisar melhor a conjuntura de uma determinada
realidade é preciso:
• informar-se
• estar atento(a) para perceber
diferenciar fatos de acontecimentos
• compreender o sentido dos acontecimentos.

Na vida diária ocorrem milhares de fatos, mas nem todos são fatos históricos, isto é,
acontecimentos. Porque acontecimentos são aqueles que têm um sentido especial para:
- um grupo;
- uma comunidade;
- uma classe social, um país ou
- o mundo.
De maneira que a fundação de uma associação de moradores é um acontecimento
para a comunidade. Um “pacote econômico” do governo que muda a moeda ou descongela
os preços é um acontecimento para a nação. A queda do muro de Berlim foi um
acontecimento para o mundo.
Sabermos identificar os principais acontecimentos, num determinado momento
histórico, é um passo fundamental para que possamos analisar uma conjuntura.
Os acontecimentos sociais, políticos, econômicos ou culturais, se dão em
determinados lugares, que podem ser chamados cenários.
O cenário apresenta características que influenciam o desenvolvimento da luta, dos
diferentes atores sociais.

Os atores sociais podem ser:


• indivíduos
• classes sociais fundamentais para a sociedade
• setores (comercial, industrial etc.)
• grupos, instituições (sindicatos, igrejas, jornais, comitês de cidadania etc.)
O ator social é aquele que defende uma idéia, um interesse, uma reivindicação, uma
proposta.
Outro elemento importante para que possamos analisar uma conjuntura é verificar o
tipo de relação de forças entre os atores de um acontecimento.
Por exemplo, numa eleição, os votos indicam a relação de forças entre partidos,
grupos e classes sociais; a relação de forças apresenta mudanças permanentes, é por isso
que a política é tão cheia de surpresas. Não é suficiente saber de que lado está cada grupo
social. É preciso analisar a força que cada um tem e a maneira como as classes sociais se
organizam e agem para defender seus interesses.
Quanto mais uma classe tiver força e organização, mais garantidos serão os
interesses dela.
Para que possamos analisar uma conjuntura não basta vermos o que acontece ao
nosso redor, precisamos relacionar os acontecimentos locais e nacionais com os interesses
internacionais e com a organização social, isto é, com a Estrutura Social.
Por exemplo: a violência no campo se relaciona à estrutura fundiária, que concentra
as terras nas mãos de poucos. De maneira que a reforma agrária, na conjuntura atual,
beneficiaria os trabalhadores sem-terra de determinadas áreas e afetaria os interesses dos
grandes proprietários e das multinacionais.
Não podemos ter uma visão parcial ou distorcida da realidade, pois esta visão não
favorece o avanço do movimento popular, social e sindical.
Analisar a conjuntura é fundamental para uma prática social transformadora.

Nota

1. A partir de adaptação feita pelo Núcleo de Alfabetização – Centro de Educação – PUC – SP. SOUZA,
Herbert José de. “Algumas categorias para a análise da conjuntura” (p. 09 – 18). In: Como se faz Análise de
Conjuntura – 13a. Edição. São Paulo: Editora Vozes, 1993.

Paulo Freire em Tempos de Exclusão


Miguel G. Arroyo1

Que lugar ocupará a figura e o pensamento de Paulo Freire nos livros que estão
aparecendo para reconstruir a história dos quinhentos anos de educação no
Brasil? Seu pensamento e sua obra encontrarão a atenção merecida, ao menos
como um capítulo da história da educação popular latino-americana? A
pedagogia de Paulo Freire e sua figura histórica têm tudo a ver com a educação
popular, com a alfabetização de adultos, com a sua politização e
conscientização. Porém, na história da educação escolar, na história do
pensamento e da teoria pedagógica, ele é descartável, é um estranho. Essa
imagem e esse reparto de lugares são muito cômodos. A quem interessa essa
dicotomia? Como desconstruí-la? Ou melhor, ela resistirá à realidade que
estamos vivendo? Paulo Freire, seu pensamento e sobretudo sua prática
pertencem ao passado? São encostáveis no desvão da sem-memória educativa?
Sensibilidade e atualidade em Paulo Freire
Nós estamos em tempos de atualidade do pensamento e da figura de FREIRE,
porque a realidade social e cultural que alimentou seu pensar e sua prática está tão viva
quanto nas décadas em que ele e tantos outros educadores e pensadores foram tentando
responder teórica e pedagogicamente às interrogações que essa realidade lhes propunha.
Eis a matriz de seu pensamento: olhar para a realidade com sensibilidade pedagógica e
entender a dramaticidade das interrogações de seu tempo.

Este nos parece o núcleo fundante de seu pensamento e de sua prática pedagógica:
situar todo ato educativo (também o escolar), toda teoria pedagógica, em sintonia com os
desafios postos pela dramaticidade de cada hora, em sintonia com o problema da
humanização, com o ser humano como problema – os homens “se fazem problema a eles
mesmos”. A pedagogia como humanização aproxima FREIRE de uma das matrizes
pedagógicas mais perenes.
A dramaticidade da hora atual repõe o olhar pedagógico de FREIRE com legítima
atualidade. Sua pedagogia se articula numa sensibilidade amorosa para com os processos
humanizadores-desumanizadores da exclusão e da opressão. Ele não vê a história como um
processo linear de humanização, não se confunde com qualquer humanismo pedagógico-
romântico. O pensamento de FREIRE e sua figura de educador impressionam a todos nós
por vincular estreitamente humanização-desumanização e educação.

“Constatar esta preocupação implica, indiscutivelmente, reconhecer a


desumanização, não apenas como viabilidade ontológica, mas como realidade
histórica. É, também, e talvez sobretudo a partir desta dolorosa constatação que os
homens se perguntam sobre a viabilidade de sua humanização. Ambas, na raiz de
sua inconclusão, os inscrevem num permanente movimento de busca. Humanização e
desumanização, dentro da história, num contexto real, concreto, objetivo, são
possibilidades dos homens [mulheres] como seres inconclusos e conscientes de sua
inclusão” (FREIRE, 1987: 29)2.

Aqui podemos encontrar a resposta mais radical à pergunta inicial: a pedagogia


freireana tem atualidade? Sim, porque estamos em tempos de brutal desumanização dos
setores populares, pois com um mínimo de sensibilidade podemos ter essa dolorosa
constatação que a desumanização a cada dia é mais cruel, que a opressão e exclusão se
alastram em tempos de globalização. Será essa dramaticidade que nos interroga como
educadores? Aí FREIRE será uma referência obrigatória.
Concepção de educação em Paulo Freire
Podemos dizer que educação é repor os vínculos entre educação e humanização,
mas, também, entre educação e desumanização. Não é a procura desses vínculos que
costura o pensamento e a prática de FREIRE? Não tem sido reencontrar esses vínculos
perdidos pelo tecnicismo e pela mercantilização da educação, sobretudo escolar, a grande
contribuição do seu pensamento? Basta olhar para os brutais processos de desumanização
de milhões de seres humanos que invadem as vilas miseráveis, as favelas, as ruas, para não
termos dúvida de que estamos, como educadores, diante da mesma realidade histórica
persistente que justificou a Pedagogia do oprimido.

Enquanto vivemos em “tempos de cólera”, de opressão e exclusão, de miséria,


desemprego e subemprego, enquanto houver um mínimo de sensibilidade humana,
FREIRE, com sua figura, continuará incomodando a teoria e a prática educativa formal e
informal. É a realidade cruel que nos rodeia que continuará nos incomodando como
educadores, como o incomodou sempre.
Assim situada a atualidade da prática e da teoria educativa das pedagogias
freireanas na violenta atualidade de desumanização, podemos nos perguntar: Como se
manifesta no nosso contexto atual a tensão entre humanização-desumanização e educação?

Paulo Freire: educação popular e movimentos sociais


Já na década de 1960, as tensões que levaram a pedagogia latino-americana a ser
repensada pelos educadores vinham dos trabalhadores urbanos e sobretudo dos
camponeses. A educação popular, uma história tão rica do pensamento educativo latino-
americano, alimentou-se do contato com os subalternos, especialmente com os da terra.

As análises de FREIRE sobre a opressão, sobre a consciência oprimida, têm como


referência, como ele diz, “os camponeses que conhecemos em nossa experiência
educativa... esses homens, mulheres, meninos desesperançados, mortos em vida, sobras de
gente...”. A percepção dessa desumanização levou-o a se perguntar sobre outra realidade do
campo, das lutas de libertação, de suas redes de socialização, da reinvenção da vida, dos
valores, da cultura popular: a realidade de sua humanização.
Mais de trinta anos depois, essa realidade continua ainda mais dramática, com
milhões de homens, mulheres e crianças sem terra, sem teto, sem trabalho... Sombras de
gente, mas lutando por sua libertação, por seus direitos.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) está aí inquietando,


interrogando a sociedade, seus valores, suas estruturas e relações sociais. Está aí como um
movimento social, cultural, educativo. Os educadores e as educadoras do MST assumem a
figura de FREIRE como símbolo em todos os seus encontros. É uma identidade e uma
continuidade entre a ação educativa do MST, como movimento, e a ação pedagógica de
suas escolas e de seus educadores(as); uma história educativa que vem de longe. É a
identidade e a continuidade de uma sensibilidade, de uma teoria e de uma prática que
tornam FREIRE contemporâneo. Movimentos como o MST, e outros movimentos sociais
nas cidades e nos campos, nos dizem que sua figura está viva.

Sua teoria não pode mais ser arquivada ou encostada longe do repensar da escola e
da história de nossa educação em espaços informais de educação de adultos e de jovens
oprimidos... A cruel realidade de desumanização da infância e adolescência que pede nossa
mão de educadores e educadoras nas escolas públicas, confronta-nos com as mesmas
questões que são estruturantes de seu pensamento e de sua prática. Nunca ele foi tão atual
para o representar-se da escola pública.
É a dramaticidade da hora presente, da desumanização até mesmo da infância, que
traz à escola, à pedagogia escolar, aos educadores dessa infância e adolescência a
imperiosa obrigação ética e profissional de assumir o humanismo pedagógico tão marcante
em FREIRE: que toda prática educativa, até mesmo a escolar, tenha como norte e intuição
primeira a recuperação da humanidade roubada aos educadores, à infância e também à
adolescência.
O pensamento de Paulo Freire é tão atual quanto nos anos 1960 e 1970, pois
excluídos, oprimidos e crianças ainda temos e teremos. Mas é atual, sobretudo, porque essa
dolorosa constatação nos leva a nos perguntar a nós mesmos sobre a procura de
humanização na própria negação e nas lutas atuais por liberdade, justiça, igualdade,
diversidade, por recuperar a humanidade roubada e vincular a escola com todo gesto à
procura dos direitos.
A consciência dos direitos humanos, da luta dos oprimidos e excluídos, em prol da
liberdade, justiça, igualdade, diversidade, terra, moradia, segurança, emprego, dignidade,
avanço. Os movimentos sociais não passaram, surpreendem e chocam nossas sociedades.
As organizações em defesa dos direitos humanos estão presentes, atuantes e ofensivas. O
ser humano continua se fazendo problema de si mesmo, apesar dos tempos de globalização
ou por sua causa.
Esse núcleo fundante do pensamento e da prática de FREIRE tem atualidade para
todo pensar e agir como práticas político-pedagógicas.
Notas
1.Trechos selecionados por Antônio Vladimir Félix da Silva. Extraídos de: ARROYO, Miguel G., Paulo
Freire em tempos de exclusão (163 - 170) In: A Pedagogia da Libertação em Paulo
Freire / Ana Maria Araújo Freire (org.) São Paulo: Editora UNESP, 2001.
2.Freire, Paulo, 1987: Pedagogia do Oprimido. Rio de janeiro: Paz e Terra.

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