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Stay i Levsov MANUAL DE ARQUEOLOGIA PRE-HISTORICA Prefacio do Professor Vitor Oliveira Jorge Manat. be Anqueotocia Pré-Historica ‘A Parte Il dedica-se aos problemas de atribuigdo cronol6gica. O pri- meico capitulo descreve os aspectos da cronologia relativa, enguanto que 0 segundo trata a geocronologia. O terceiro dedica-se aos métodos de dataca0 absoluta, enquanto que o timo trata de um conjunto diverso de outros rmétodos de datacio, Deve aqui referenciar-se 0 facto de esta parte no ser ‘exaustiva jé que ndo trata todos os métados de datagio absoluta. Esta solu- ‘glo ¢ arbitrdria, mas tem como base o facto de algumas das metodologias ‘io serem uilizadas na bacia mediterrinica, onde se encontra contextualizada 2 arqueologia portuguesa. A Parte IV est dividida em trés capitulos. Aqui so tratados os varios aspectos de reconstrucio paleoecol6gica. Cada capitulo & dedicado, respec: tivamente, & formagéo da paisagem e do relevo, ao estudo da fauna e, por likimo, & cobertura vegetal A andlise dos artefactos arqueoligicos provenientes de sitios anqueol6- gicos pré-histiricos consta da parte V, com dois capitulos que tratam, pri ‘meiro, o problema das matérias-primas, no que diz respeito & sua aquisi¢a0 © provenigncia, e a anilise de artefactos (iticos, cerdmica e outros como, por exemplo, a indistria dssea) Finalmente, a iltima parte, com um s6 capitulo, é uma conclusio que versa 0 desenvolvimento da Arqueologia no século xxt 16 PARTE I Breve Historia da Arqueologia ‘Tradicionalment vimento em varias fases, que, dependendo do autor, pode chegar as seis (ée., Trigger, 1989). O trabalho de base historiografico mais importante & sem davida, 0 de Glyn Daniel, publicado pela primeira vez em 1950 com 0 titulo.A Hundred Years of Archaeology, incidindo sobre a hist6ria da arqueo Togia até cerca de 1940, Cerca de 25 anos depois (Daniel, 1976) & public nova edigio desta obra, a terceira, mas com um novo titulo, A Hundred and Fifty Years of Archaeology, desta feita com a inclusio dos desenvolvimen tos ciemtficos ¢ tedricos até meados da década de setenta. Este trabalho ‘depois reorganizado em 1981 em A Short History of Archaeology (Daniel, 1981). Sensivelmente na mesma altura, Gordon Willey ¢ Jeremy Sabloff publicam 4 History of American Archaeology (Willey e Sabloff, 1980), que, como € evidente, estuda principalmente o desenvolvimento da histéria da arqueologia americana, fizendo referéncias importantes & evolugdo da dis iplina do outro lado do Atlintivo, Mais recentemente, Trigger (1989), na sua obra intitulada A History of Archaeological Thought, di-nos uma perspectiva muito completa da hist6- ria da arqueotogia, tragando a evolugio do pensamento arquealégico sob ‘uma perspectiva teGrica pés-processualista bastante marcada, ‘© que parece claro em qualquer das obras acima referidas & que os autores véem desenvolvimento da histéria da arqueologia e a evolugio do seu pensamento como tendo um fio condutor diacrénico, mas com varios Tocais onde os vérios eventos tém lugar. Veja-se, por exemplo, a preocupa- {lo de Trigger em salientaro desenrolar da aco em dreas especificas como Unido Sovictica (Trigger, 1989:207-243) ou a Oceania (Trigger, 1989:138-145), mantendo, no entanto, uma linha condutora, em 6 fases Antiquarismo (cap. 2): Desenvolvimento da Acqueologia Cientifica (cap. 3 a histéria da arqueologia é vista como um desenvol- 9 Mant oF AnquoLoats Pré-HisroRs .e4); Arqueologia Hist6rico-Cultural (cap. 6); Funeionalismo da Arqueo logia Ocidental (cap. 7); Nova Arqueologia e © Neo-Evolucionismo (cap. 8); Explicagio da diversidade (cap. 9). Estas seis fases correspondem, em Tinhas gerais, as cinco fases da perspectiva apresentada por Renfrew e Bahn (1991) no sett manual de arqueologia, uma ver que estes autores no divi dem aquilo que foi designado por Willey e Sabloff (1980) como 0 perfodo dda Classificagio Histérica (Classificarory-historical period) e que inclui as fases 3¢ 4 de Trigger. Numa perspectiva geral, portanto, parece claro que todos os autores cconcordam com o facto de que a evolugzo da histéria da arqueotogia pass primeiro por uma fase de descoberta da existEncia dos materia arqueol6: ‘zicos ¢ consequente fascinio e coleccionismo dos mesmnos. A esta fase se {tue-e uma otra, com incios em meados do século xx, em que se comega «da arqucologis como disiplina cientiic, e quando sur gem os primeiros deenvolvimentos metodoldgicos,principalmente 30 n- vel elasifcacro © cronoldgico. © tereiro momento, jé no inicio do séeulo xx, preocupa se essencial iments, sind na senda da radio posiivsta, com o desenvolvimento da cronologia ea desrigiohistrica dos materaisarqueolégicose dos povos representados por esses atefactos A quart fase da histria da arqueolgia foi ave. mais important. nesta ase que se do desenvolvimentos mctodolgicos c teéricos importa tes que constufram as infraestraturas do pensamento arqueolsgico moder no, Econhecida pelo aparecimento da Nova Arqueologi, denominada por tma fse processuaista ov expicaiva, Nesta fase, € com base nos trabalhos de muitos arqueslogos, pdendodistinguir-se de entre esses Lewis Binford (1962, 1964, 1965, 1967, 1968, 1968b, 1987 2002), David Clarke (1968) Kent Flannery (1968, 1972, 1982), Richard Gould (1978. 1980), Paul Martin (1970¢ 1971) Paty-Jo Watson (1973; Watson etal, 1971 ¢ 1984), dio-se transformagbes importantes na concepeio do peasamentoarqueok6zico que éstruturam essenciolmente a eritiea arqucoldgica baseada em novas metodologias © novasteorias. Esta nova concep de pensamentoarqueo- Jbgico permita, como objective principal da sua praxis, explicar processo de formagio arqueolégico, para asim poder compreender opassado, numa perspeciva essencialment dinimicn do mest. ‘A aitima fase, conhecida como pés-processual ou contextual, parece desenvolverse, pelo menos parcialmente, em simultineo com a fase processuaisa, mas negando desta titima alguns dos seus aspectos mais importantes. O pés-procesualismo, actalmente ainda em pleno desenvol- wimento (et. Trigger, 1989:369; Renfrew e Baho, 1991:431) ¢ sem uma es cola nica, aparece marcado por uma diversdade de perspectivas, das quis se deve destacar o trabalho de Ian Hodder (1979, 1982 e 1985), Mark Leone 2» _Breve HisToain pa AKOuEDLOGIN 1986) e Michael Shanks e Chris Tiley (19874 e 1987). Esta nova pers pectiva baseia-se na ideia de que a escola processual, assente muma pers pectiva funcional da arqueologia ter limites na sua capacidac interpretativa pelo que nio consegue tormular leis gerais, que acabam por ser demasiada Thente Limitativas, Deste modo, o grupo pés-processual parece frisar a im- portincia de componentes como o simbolismo ou i ideologia na tentativa tle explicagao do tecido social, politico ou religioso, aproximando-se mais dda perspeetiva de construgao da narrativa historiea do que da explicagao ‘antropolégica (Renfrew e Bahn, 1991:426; Trigget, 1989:348-351). ‘Ao contratio da perspectiva tradicional da organizacao da historiogratia arqueol6gica, a presente divisio da historia da arqueologia faz-se numa pe pectiva diferente e apenas em dois capitulos. Primeiro, porque o objective esta disciplina € apenas a Arqueologia Pré-Historica e, segundo, porque ime parece que a Arqueologia nfo teve apenas uma linha evolutiva, mas sim cduas linhas hist6ricas diferentes. Estas tocaram-se em detetminados pontos por razéies metodotégicas, uma vez que 05 novos métodos da arqueologi do século Xx Sio utilizados por “ambas as arqueologias”, Parece, pois, ter havido uma hist6ria para a arqueologia das grandes civilizagies, ¢ uma ou. ua, objecto destes dois capitulos, para a arqueologia pré-historica, ‘Também ao contro do que ¢ tradicional, divide-se whistoria da arqueo- logia apenas em duas fases. Esta divisio simples tem razGes importantes. Primeito, porque tal eomo diz o titulo da Parte I (Breve Historia da Arqueo- logia), ndo ¢ objecto desta disciplina 0 estuclo exaustivo da historia da ar queologia; segundo, porque do ponto de vista da evolugdo da metodologia arqueolSgica, esta pode ser simplesmente dividida em duas fases. A primei- ra fase éa da “aquisigio” ou construgdo da dimensdo Tempo (que concedeu 6 campo necessétio ao desenvolvimento da Pré-Hist6ria); a segunda ¢ 0 desenvolvimento metodol6gico e teérico que permitin e exigiti a presenga ide novas metodologias provindas de outras ciéncias como, entre outras, a fisica, a quimica ow a geologia. De qualquer forma, a intengdo destes dois primeiros capitulos & a de contextualizar 0 desenvolvimento metodoldgico da Arqueologia Pré-Histérica tataco a0 longo dos restantes capitulos de ta disciplina A Emergéncia da Arqueologia © mundo comegou sextafeira, 28 de Outubro, do ano de 4004 antes de Cristo! Era esta a conviogio do arcebispo de Usher (1581-1656), através do seu estudo exaustivo da Biblia Sagrada, em 1654, denominado The annals of the new and Old Testament with the Synchronisinus of Heathen Story to the Destruction of Hieurusalem by the Romans. Também 0 Dr. John Lightfoot, em 1642, da Universidade de Cambridge, em A Few and New Observations ‘on the Book of Genesis, the most of them certain, the rest probable, all harmless, strange and rarely heard of, marca a data da criagio pela Trindade no dia 23, de Outubro de 4004 antes de Cristo pelas nove horas da manhé (Daniel 1981:34). Esta convieeio, de teor pessoal, rapidamente se transformou no Figura 1. Retato do arcebispo de Usher B Mantua pe Anoueotoots Pré-Hisronica dogma da Igreja erste se tornou num paradigma da cvilizacao ocidental em relagdo ao inicio do mundo e a origer do Homem, Este paradigma tornou-e, pois, oinimigo principal da Arqueotogia Pré -histérica ja que, sem tempo, ou melhor, com um tempo testito em. que se cconheciam todos os momentos da evolugdo humana desde a sua eriaglo dlivina até a0 nascimento de Cristo, tal como o narrava o Antigo Testame to, ndo podia haver um passado pré-hist6rico, Esta ideia pareeia estar ainda presente em 5802 na mente de Rasmus Nyerup (Daniel, 1963-36, in Trigger, 1989-71), 0 responsavel pela comissdo para a fundagio do Museu das Anti guidades Nacionais da Dinamarca “Tudo 0 que tem chegado até nés vindo do mundo primitive esti envelto umn denso nevoeiro, Pertence a um segmento de tempo que nio cconseguimos medi, Sabemos que é mais antigo do que o crstanismo, mas se pot um par de anos ou um par de séculos, ou mesino por mais de um milénio, € um aspecto sobre o qual a0 podemos sendo conjecturar {in Daniel, 1976.38). Assim, a questio principal no aparecimento e desenvolvimento da Ar {queologia Pré-Hist6rica parece ter sido a da dimensZo tempo, que teve que ser Figura 2. Capa da obra do Arcebispo de Usher. 4 |A EMeRGeNCIA py ARQUEDLOGIA xpandido” para, de acordo com a perspectiva evolucionist, dar lugar a Pré HHisGria humana. Este processo deu-se através do progresso cientifico now: ‘ras cigncias, principalmente na biologia, na paleontologia e na geotogia. ‘Sem divide que 0 interesse sobre o passado sempre exitiu, como aids se pode verificar com as perspectivas expostas por Hesfodo em Os Trabathos & ds Dias ou 1a propria Teogonia. Quer numa obra desse autor quer na outta podemos vera sua alengio aos aspectos da cultura material e aimportincia que ja mesma ter na periodizagio mitica que Hesfodo faz do passado humano. (0 interesse pelos artefacios do passado hist6rico foi assim objecto de ‘uma recolha ¢ de um coleccionismo que comega na Antiguidade Clissica (Daniel, 1976:16). Esse tipo de interesse, ndo 6 pelos artefactos do passa ido, mas também pela origem do desenvolvimento da humanidade e da sua ‘cultura, fez despertara curiosidade, a que Daniel chama “natural” (1976:14), sobre a “Pré-Historia”, Este fenémeno deu-se principalmente nos casos em que houve contemporaneidade e contacto directo entre grupos com estédios de complexidade tecnol6gica diferente, sendo exemplo disso o Mundo Cis sieo, em que Gregos ¢ Romanos entraram em contacto com a “barbie {que 08 circundava (Daniel, 1976:14) ou 0 caso dos EUA do século xvii e ‘rx, em que a civilizago ocidental encontrava objectos arcaicos claramente do passado local nas maos dos “primitivos indigenas ‘Quito factor importante do século xix no progresso da Atqueologia pr historica que, aliés, coincide com o da arqueologia das grandes civilizagbes, Eo desenvolvimento de sistemas de petiodizagao e 0 inicio das grandes cescavagaes (Daniel, 1976:68-69; Fagan 1994:4; Renfrew e Bahn, 1991:25: 31; Willey e Sablotf, 1980:38-95), Estes aspectos permitiram, simultanea te, um maior interesse pelo passado humano e pela arqueologia como nova disciplina, bem como a aplicaco de novos métodos que contribuiram para a consolidacdo de uma eronologia longa da historia da terra e da ori gem da humanidade. 1.1. A Antiguidade do Mundo Natural [A negagao da cronologia curta e do dogma teol6gico do arcebispo de Usher passou por vitios eventos e descobertas, dos quais 0 momento deci sivo foi o trabalho de Charles Darvin com a publicagio de Da Origem das Espécies por Meio da Selecgdo Natural, em 1859, ¢ de Descent of man and selection in relation to sex, em 1871. Como & sabido, Darwin recolheu a informagio que dava a base cientifica& sua teoria da evolugdo das especies, entte 1831 € 1836, na sua viagem no Beagle, e preparou o seu primeiro trabalho em 1844. No entanto, s6 em 1858 tornou publica a sua teoria nos Proceedings da Linnaean Society de Londres, com a subsequente publica: 25 _Mawvat. ve AgouroLocia Pré-Histonics ‘fo em livro no ano seguinte, provavelmente catapultado pela leitura do arti- 20 para publicagio nesse mesmo ano sobre 0 mesmo tema de Alfred Wallace A sua perspectiva sobre a evolucao do homem demorou mais uma di- Zia de anos para ser publicada. Esses dois interregnos deram-se, pelo menos parcialmente, de forma propositada pois a sociedade da primeira metade do século x0x nio estava ainda preparada para a exposigo a uma teoria tio radicalmente diferente daquilo que era a perspectiva criacionista accite de forma quasc uninime no mundo ocidental da época. Nove-se a coincidéncia cenire a data da publicacao das teorias de Darwin e a descoberta oficial dos primeiros vestigios de Neandertais, no Vale de Dussel, por Schaaffhausen em 1857, publicada em 1861 (in Daniel, 1976:61), ¢ 0 trabalho de Thomas Huxley cm 1863 (Trigger, 1989:113), Bsta coincidéncia sugere que Darwin aguardou que a sociedade aceitasse a diversidade féssil, para poder depois, aceitar a sua teoria de evolugio, Antes, contudo, deu-se uma série de acon- {ecimentos que permitiram 0 desenvolvimento das teoris eruciais de Darwin, So estes eventos que aqui serio discutidos, ‘Um dos primeiros acontecimentos com repercusses na arqueologia pré shistérica fo: a questao da extingio das espécies. Esta teoriaafirmou-se com ‘5 traballios de Nicholas Steno (1638-1686), Georges Buffon (1707-1788), Janes Hutton (1726-1797), Jean-Baptiste de Monet, conde de Lamarck (1744-1829), William Smith (1769-1839), Georges Cuvier (1769-1832) & Charles Lyell (1797-1875) Em 1669, Steno, um anatomista de origer dinamarquesa, apercebe-se de {que os Fosseis de varias espécies malacologicas $30 mais semelhantes a espé- cies vivas co que aos materiais minerais onde so encontrado, isto & as rochas ‘onde se formaram (Trigger, 1989:52). Steno acaba por provar que a origem esses fisseis teria sido orginica, sendo provenientes de espécies vivas do pas- sado. Steno deu ainda outro conteibuto muito importante ~ a enunciago da let da sobreposigio geolbgica, Segundo esta (a base de toda a ldgica por tris da teoria actual da formacdo geolégica), numa série estratigrétiea, 0 estat mais antigo encontra-se em baixo, enquanto o estrata mais recente esté no topo. Buffon, por seu lado, formulou a ideia de que a Terra seria mais antiga, do que entao se pensava, tendo passado por virias fases — desde um periodo, de altas temperaturas, semelhante a uma estrela, até ao momento actual, Esta ideia foi construida com base num modelo experimental com uma com> posigdo semelhante ada Terra, tendo Buffon medido depois a velocidade de arrefecimento desse modelo. Tal experiéncia indicou-Ihe que o planeta teria cerca de 75 000 anos, e que tudo se formaria segundo um sistema de trans- formagSes natura, perspectiva esta muito proxima da de Lavoisier, cuja maxima é “nada se perde tudo se transforma” (Greene, 1959:139 e 141) ‘Simultaneamente, Buffon estudou também a questo da adaptacio a0 meio, afirmando que 0 homem seria, com certeza, uma espécie recente, 26 Figura 3. Retato de Georges Button, Lamarck acreditava que existia uma ordem natural das coisas que co- mandava o universo, de forma inalterivel e independente da matéria, e que ppor isso podia ser objecto de observacdo. De facto, Lamarck definiu 4 natu: reza como um conjunto de leis e forgas que governam © movimento da matéria (Greene, 1959:155). Nesta perspectiva, no seu estudo de flora e fauna, Lamarck rapidamente chegou 2 conclusdo de que haveria uma liga glo genética entre as varias espécies e que teria havido extingio de virias espécies no passado, possibilitando o conceito de evolucao biolégica (Trigger, 1989.93) James Hutton foi, indubitavelmente, uma pega importante deste censitio de evolugio de conhecimentos. Seguindo a ideia da sobreposigao de Steno, Hutton acabou por demonstrar na sua Theory of the earth (1788) que 0 enémeno que dava lugar ao processo de estratficacdo das camadas geol6- gicas existentes era 0 mesmo nos contextos fluviais, lacustres e marinhos do presente. A sua conclusio foi, portanto, a de que os processos de deposi {Glo e de estratificagdo eram os mesmos no passado no presente (Daniel, 1981:51). Esta ideia, contudo, s6 foi aceite mais tarde com Lyell quando este definiu o “Principio do Uniformitarismo” William “Strata” Smith (a tradugdo para portugués daria Guilherme ‘amadas” Smith) seguiu os passos de Steno, concordando com a lei geo- |6gica da sobreposigao, alicersando-a com a ideia de que seria possfvel ati 2 Manta - Pre-Histonica buir idades relativas a essas camadas através dos fosseis que cada una delas contém. De Facto, Smith acabou por defini 0 conceito de “fossil director” & cnunciar 0 prineipio da sucessao da fauna e da flora. Este principio esti- pula que os fésseis mais antigos se encontram localizados numa série estratigratiea mais abaixo do que os fsseis mais recentes, ‘Também Georges Cuvier aereditava no principio da sucessio da fauna ‘mas, a0 contrario de Smith e Hutton, via a evolugdo da crosta ten como o resultado de uma série de acontecimentos catastréficos. De fac to, 0 dltimo desses eventos teria sido registado no Génesis através da descrigao do episédio da Arca de Noé e do Diliivio. Desta forma, Cuvier © 0s seus seguidores acreditavam numa teoria Catastrética ou Diluviana da formagao da Terra, enquanto que a contracorrente, formada por Lamarck, Hutton, Smith, e mais tarde por Lyell, era conhecida como “fluvialista” (Daniel, 1976:37), acreditando no principio do tuniformitarismo e que todos os processos de formagiio geolégica seriam naturais: “nenhuma acco deve ser admitida a nio ser que se conhega 0 seu principio” (in Daniel, 1976:37). Apesar de enearar a transformacso do meio ambiente, e especificamente o aparecimento de novas espécies, o um processo cada vez mais complexo de cria (Trigger, 1989:89), Cuvier foi uma pega fundamental na questio do re conhiecimento da extingto das espécies (Cireene, 1959173). Quanto aos fosseis humanos, Cuvier nunca admitiu a possibilidade da sua grande antiguidade (Daniel, 1976:36), seguindo as ideias dos restantes diluviunistas, que acreditavam numa sucesso de dilivios, anteriores a0 Dilivio de Nog e uo tempo biblico, pelo que no poderiam conter restos hhumanos (Grayson, 1983:69). Charles Lyel fol, no século tx, 0 elemento que acabou por dar o golpe ‘de miseriedrdia na perspectiva diluvionista dos seguidores de Usher e Cuvier. De facto, Lyell pegou na ideia de uniformitarismo de Hutton e, de fortna me ros flexivel, apresentoti-a aa mundo nos sens ts volumes de Principles of Geology (1830-33), seguido de Elements of Geology (1938). A sua obra mais importante, Os principios de Geologia, teve onze edigSes, sofrendo alte- rages manifestamente importantes a0 longo dos tempos devido a evolugdo versio das perspetvascientiias solve autenticidade dos wtensios era pera laeaa.Talvez porque foi nesse periodo que se comecam a fazer as primeras eseavagSes de gruta paleliticns e, por conseguinte, € tami nesta ltrs que os primeios féseishumanos comeyam a ser encontaos Contd, até meados do século xc continuow a exist ainda grande resis: Lenco, mesmo perante proves empiicas clara, da associago ene wens los em peda asada, fésseis humanos fauna de animaisextinton Tigger 1989:92), As escavagdes dos depdsitos plitocénicos dio-se pincpalmente nas has Brtiicas,Fanga e Alemania. preciso recordar que nessa época ja se efectuavam as grandes escavagUes ds civilzagdes mediterinicaye do Préximo Oriente, bem como nas Américas (jase 0 caso de Thomas Figura 5. Biface encontrado por John Frere em 1797 e publicada em 1800 na revista Archaelogia ao Jefferson que, em 1784, no estado de Virginia, levou a cabo escavagies anqueologicas em sitios pré-histéricos, utiizando tcnicas que levaram Mortimer Wheeler & designé-las como as primeiras escavagies cientificas na historia da arqueologia ~ Daniel, 1981:41) pois neste contexto que varios curiosos comegam a fazer escavagbes em geutas e noutros depésitos plistocénicos, De entre estes hi que destacar ‘os trabalhos de Philippe-Charles Schmerling (1791-1841) perto de Lidge, nna Bélgica; John MacEnery (1796-1841), em Kent's cavern e William Buckland (1784-1856), em Paviland, ambos em Inglaterra; Paul Tournal (1805-1872) na zona de Narbonne, Jules Christol (1802-1861) em Montpellier, ¢ Boucher de Perthes (1757-1844) no Noree de Franga (Daniel 1981: 48-49; Trigger 1989:89; Groenen 1994:39-47). Todos eles pensavam, ue © seu trabalho € as suas descobertas eram a prova da associagio entre animais extintos ¢ homens, quer através de fOsseis humanos, quer através dos respectivos artefactos e, logo, da antiguidade da humanidade, Contudo, fs seus métodos de escavagio, ainda simples, no eram suficientemente bons para eliminar quaisquer diividas que pudesse haver sobre intrusdes imais recentes desses restos hummanos, pelo que munca foram levados a sério pelo mundo cientifico da época. Por outro lado, o proprio contexto intelec tual, fortemente mareado pela perspectiva diluvionista do infeio do mundo, fazia com que eles proprios tivessem diividas sobre a antiguidade das suas descobertas. Um desses exemplos € 0 caso de Boucher de Perthes, que, apesar de argumentar claramente pela antiguidade dos artefactos encontra dos nas cascalheiras do Somme, acreditava na sua coevidade com as varios dildvios da perspectiva catastrofista (Trigger, 1989:91). Boucher de Perthes acreditava na associaglo entre ulensitios Iticos, ddesignados por ele como diluvianos, ¢ a fauna extinta, mas decidiu que es- ses objectos teriam pertencido a uma raga humana que havia sido completa: ‘mente aniquilada por uma cheia anterior 20 Dilivio; entretanto, Deus teria criado uma raga nova, a de Adso e Eva, De facto, segundo Dani! (81:53) a perspectiva de Boucher de Perthes teré mudado, como se pode ver através do tulo da sua obra maior, Antiquités Celtiques et Antédilaviennes (1847), em que os machados diluvianos passaram a ser antediluvianos e, portanto, anteriores ao tempo biblico. (© golpe de misericdrdia ter sido dado pelo trabalho de William Pengelly (2812-1894) em Brixham Cave, no ano de 1858. Pengelly foi ineumbido pela Torquay Natural History Society de recomecar o trabalho em Kent's Cavern. O resultado das escavagées de ambos 0s sitios confirmou o que o trabalho de MacEnery jé tinha mostrado - a clara e inequivoca associagio entre os artefactos de peda lascada e os ossos de animais jf extintos, ‘Aquando da descoberta de Brixham Cave em 1858, a Royal Society ea Geological Society uniram-se, formando uma comissto de investigagdo para 35 ‘as escavagies da gruta, que inclufa, entre outros, Pengelly como o respon svel pelos trabalhos, Hugh Falconer (1808-1865) responsivel pelo estudo dda fauna, Joseph Prestwich (1812-1896) ¢ Charles Lyell, Esta comissio aca- bow por tornar piblicos os achados e confirma, sem margem para dividas, ‘a associagio da fauna extinta com a indsstra de pedra lascada e, definitiva- mente, atestara antiguidade do homem (Daniel, 1976:59 e 1981:53: Trigger, 1989:93). Em 1858, Falconer visitou o Vale do Somme, e considerou que as ideias| de Boucher de Perthes tinham fundamento. No ano seguinte, Falconer retornou ao Vale do Somme, trazendo consigo Prestwich e o arqueélogo John Evans (1834-1908) (Daniel 1976:60; Trigger 1989:93-94; Groenen 1994:65-66), No mesmo ano, Prestwich apresentou uma comunicagao Royal Society em Londres, com o titulo “Sobre a ocorréncia de artefactos em silex associados a restos de espécies de animais ja extintas em camadas dde um perfodo geol6gico recente de Amiens ¢ Abeville ¢ de Inglaterra em Hoxne” (Daniel, 1981:53: Van Riper, 1993:106-1 11). Esta comunicagdo de 1859, juntamente com uma outta de Evans a Society of Antiquarians e 0 livro de Charles Lyell de 1863, The geological evidences of the antiquity of ‘ma, eliminaram pata sempre a dkivida da antiguidade da humanidade © da sua associagio com indiistrias de pedra lascada e a espécies animais j4 ex tintas ~ a Pré-Histéria podia assim existir, ainda que essa designagio tivesse sido ja utilizada desde 1833 por Tournal (Daniel, 1981:48) 13. A questio das periodizacdes ¢ a arqueologia pré-histé: final do século xix. 56 a partir de meados do século xtx, ue se comesa a generalizar 0 termo Pee Histria,apesardeexistir desde 1833, Fst dao pode ser obser ‘a et garores vomo Daniel Wilson gus, em 1863, na sua Fegunda edigio Ue The Archaeology an Prehistoric Annals of Scotian (a priwcitaedigao daa de 185) sfirma “a aplicagao do termo pré-histrico ja sad, se no tne engano. pla primeira ver nest trabalho in Danie, 197686) Sem divida que o conceito de Pré-istéra é importante, mas talvez sinda mais importante €0 da idea de que Pré-Histria se poderia dvi tm viras faces, As periodizagdes, que de inicio teiam sido definidas por ta simples questio de organizagio dos materitis arqueologicos, come {am depois a ser reorganizadas e sviidas pra que se possacompreen- Gera evolusio ea dversidade cultural do homem pré-histreo. ‘A periodizagio & uma das primeira ferramentas da arqueologia pré= -histriea, servi como método de organizagioe dataco relativa do seu objecto de estudo e que continua a se usado na arqueotogia moderna 36 _A Een CIA DA ARQUEOLOGIA _ culo xvii que diversos estudiasos tentaram a construgio de storia (Daniel, 1981:55-58). Nao obstante, ibdivisao da pré-histé lo xix, sendo conhecida como o Desde os psionic rf 3 Pe 2 fs Ties Kades,continuando, de cert forma, ase esquelto sansa da Pr-Histria ainda hoje Tsar Ge, Rasmus Nyetup, 0 bibliotecério 4a Universidade de opeaga, pubic um Iv em qe expressa 0 seu dsconentamento coer ge de monuments antigen. Tamm nesse documento, Nyerop vest editcag de um muscu de aniguidades naconas, No ano se ort gover dinars Fora «Real Comsso Dinrarguesa pa aa a dau eColeog das Antiuidades, Note qu o cotexto politico a ymumarca da altura era em tudo propici «ext desenvolvimento. Na oe Mri do confit anglo-francés durante a expansio do Império rer ponico,»tnglatenaatca Copenhags cm 1801 ede noxo em 1807.0 arelismo dinamargues encontavase, portato, acrbado, pelo que 0 ioep inetese eles seus monuinentos ea defesa dos mesmos fail ste rerum com que Comissio se formasse comegass a trabalha Welendo materiais pr toda Dinamara Nyerip, gue for nomad secretirio da comiso e que durante anos reclfers pane quntade de materia arqueoigicos, contont-se com tPeyblema da soa orpanizagioeclasifagao.Asvm, cm 1816, a Commis: serconvada Christian Jugensen Thomsen (178-1863) para or eecgtese prepara. exposgio do Museu das Anigidades Navionis da Thomsen ex um estudio da numismic elisa romana etmbém sinaratquesa O hibit do qumismiica via do século ante, intrese da ndalguis (Tiger, 1989-74) Este hobby inca a organiza dss moc Sas por onde eronlogia, no 56 pea sua inscrigGo, mas tambm por c= tcio exfaicos quando as moedas no contnham asec, trabalho que ‘Thomsen coneia com cetera. logo de inicio, Thomsen decid organiza deforma cronldgica 0 nae a expo, seguindo uma dvisio em tes fases: as Ldades da Petra, do Bronze edo Feo, Est sistema basead nas Ts fades ter talvez seguido ts Welt de dros istoradores dnamargueses, como P. Shum (1776), Skul Thorlacan (1802) ou LS. Vedel Simonsen (1813-16), segundo os qusis teri eniigo um ade da Pedra, uma Kade do Cobre uma Idade do Fen, Ao contro desses histradores, Thomsen preocupouse em da thurbas clentfieaap seu tao ed exposigto, que acaon po se leva { pllico em 119 (Daniel, 1981-58), Desa Forma, Thorsen no eTimitow a vidir or objects de acordo com o sitema criado por si. Com o inicio. dos rablos, Thomsen verificou dfeedade da aiuigdo dos artefacts ” Manvat pe ARQUEOLOGIA Pré-Hist6Rica es 403 varios momentos cronol6gicos, uma vez que esta dificuldade residia no facto de um objecto em pedra poder facilmente pertencer a qualquer um dos tu8s periodos delineados. Para obviar este problema, Thomsen comecou por usar grupos de artefactos que tinham a mesma provenigncia e que, portanto, formavam um unidade arqueotgica. Comparando estes grupos de artefac~ tos seria possivel organizé-los de forma coerente, isto & seriando-os ¢ agra pando aqueles que apareciam juntos, de modo a formar conjuntos de carac- teristicas dos diferentes periodos. Para isso, Thomsen construiu uma tipologia, que depois subdividiu de acordo com as matérias-primas de que eram feitos os artefactos, bem como os padres de decoragio de alguns abjectos. Deste modo, e com base nos grupos de artefactos com a mesma proveniéncia, Thomsen péde verticar quais 0s tipos que aparecium juntos corganizar a sua cronologia de artefactos essencialmente com base em crité ros estilfsticos (Trigger, 1989-75-78), ( Sistema das Tiés [dades complificou-se com uma posterior subdivisio em Idade da Pedra Antiga, Made da Pedra Recente (fase durante a comegou a utilizar 0 metal e se iniciou a inumagio dos mortos em estruturas rmegaliticas onde também se encontrava cerfimica), a Idade do Bronze ¢ a Idade do Ferro com duas fases (Trigger, 1989:76), Este esquema foi publica do apenas em 1836 na obra Ledetraad ril Nordisk Oldkyndighed (Manual da Antiguidade escandinava), traduzido para alemo no ano seguinte e para in gles somente em 1848, Daniel (1976:78-79) firma que foi depois elaborado pelo seguidor de Thomsen, Jens Jacob Worsaae (1821-1885), um sisterna mais complexo que inclufa sete fases, no qual existiam duas fases, respectivarente para as Idades da Pedra e do Bronze, ¢ ers para a kdade do Ferro, Este tipo de ordenacao eronol6gica e onganizativa dos materiais arque: olégicos rapidamente se espalhou pela Europa. Na Suiga, 0 sistema foi uti lizado principalmente depois de Worsaae desenvolver esse sistema ¢ tam bbém da publicago do seu trabalho exemplar de estudo da estratigrafia e formagia dos enncheiros dinamarqueses onde provou a splicabilidade do sistema introduzido por Thomsen e desenvolvido por si prdprio. O trabalho ra Suiga prosseguit: com Ferdinand Keller (1800-1881), de Zurique, que localizou perto de duas centenas de sitios lacustres pré-historicos em redor dos lagos de Zurique, Genebra, Neuchatel e Pfaffikon (Daniel, 1981: 60 61), seriando-os cronologicamente Na Escécia, Daniel Wilson utilizou o sistema tripartido para organizara colecedo de artefactos da Society of Antiquaries of Scotland, mostrando ‘que 0s estilos encontrados na Escdcia eram diferentes daqueles que Thomsen Uinha caracterizado na Dinamarca. Wilson chegou a solicitar que as colec-

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