Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
TEXTO 3.
O Medievo:
Wolkmer:
A crise da estrutura político-administrativa romana entre os séculos III e IV engendrou um sistema de
poder descentralizado, com a soberania pulverizada em múltiplas esferas de governo. Era a fragilidade do
Estado frente às instituições personalizadas, a hierarquia de privilégios, os laços de fidelidade e a
atualidade conflitiva de poderes espiritual e temporal.
Maluf:
Embora não haja termo inicial certo, é geralmente admitido que a idade média começa no século V da era
cristã a partir da quedado império romano no ocidente (ano de 476) e termina no século XV, com o
descobrimento da América (ano de 1942). Depois do século XV, começa a renascença, com as grandes
descobertas.
Wolkmer:
Cultura medieval é engendrada no pensamento grego, na tradição jurídica romana e na matriz teleológica
judaica. Sociedade estratificada: elite clerical (alto e baixo clero), guerreiros (nobreza feudal, cavaleiros) e
trabalhadores (camponeses livres, servos, escravos e outros).
Idéias políticas medievais estão impregnadas e reproduzirão concepções marcadamente religiosas, sendo
que a origem e os fundamentos do Poder respondem a uma ordem e hierarquia de representação divina.
Assim, o pensamento político greco-romano antigo por seu imaginário naturalístico, cívico e cósmico
distingue-se da transcendência, espiritualidade e ortodoxia do pensamento político medieval.
Por certo, o cristianismo foi muito mais uma elaboração que objetiva a salvação humana que
propriamente uma filosofia política, O
A Patrística
Patrística é o corpo doutrinário que se constituiu com a colaboração dos primeiros pais da
igreja, veiculado em toda a literatura cristã produzida entre os séculos II e VIII, exceto o Novo
Testamento.
Histórico. O conteúdo do Evangelho, no qual se apoiava a fé cristã nos primórdios do
cristianismo, era um saber de salvação, revelado, não sustentado por uma filosofia. Na luta contra o
paganismo greco-romano e contra as heresias surgidas entre os próprios cristãos, no entanto, os
pais da igreja se viram compelidos a recorrer ao instrumento de seus adversários, ou seja, o
pensamento racional, nos moldes da filosofia grega clássica, e por meio dele procuraram dar
consistência lógica à doutrina cristã.
O cristianismo romano atribuía importância maior à fé; mas entre os pais da igreja oriental,
cujo centro era a Grécia, o papel desempenhado pela razão filosófica era muito mais amplo e
profundo. Os primeiros escritos patrísticos falavam de martírios, como A paixão de Perpétua e
Felicidade, escrito em Cartago por volta de 202, durante o período em que sua autora, a nobre
Perpétua, aguardava execução por se recusar a renegar a fé cristã. Nos séculos II e III surgiram
muitos relatos apócrifos que romantizavam a vida de Cristo e os feitos dos apóstolos.
Wolkmer: Se a Patrística foi o momento cultural mais significativo da primeira fase da Idade
Media Ocidental, a Escolástica representa o ápice da produção intelectual, filosófica e teológica da
Europa cristã nos séculos XII e XIII. Como corrente filosófica, seu principal objetivo era demonstrar,
por um raciocínio lógico formal, a autenticidade dos dogmas cristãos. A filosofia devia desempenhar
um papel auxiliar na realização deste objetivo, por isso a tese de que a filosofia está a serviço da
telolgia foi o princípio básico da escolástica.
Universidade Federal de Goiás
Graduação em Direito – 2008/2
Partindo de premissas aristotélicas, Santo Tomás constrói uma doutrina teológica do poder e do
Estado. Primeiramente, compreende que a natureza humana tem fins terrenos e necessita de uma
autoridade social. Se o poder tem uma origem divina, é captado e se realiza por meio da própria
natureza humana, capaz de seu exercício e sua aplicação. Certamente, tanto o poder temporal
quanto o poder espiritual foram instituídos por Deus. Deus é o criador da natureza humana e, como
o Estado e e a Sociedade também são coisas naturalmente necessárias, Deus é também o autor e a
fonte do poder do Estado.
Analisando a natureza humana, resulta que o homem é um animal social (político) e portanto
forçado a viver em sociedade com os outros homens. A primeira forma da sociedade humana é a
família, de que depende a conservação do gênero humano; a segunda forma é o estado, de que
depende o bem comum dos indivíduos. Sendo que apenas o indivíduo tem realidade substancial e
transcendente, se compreende como o indivíduo não é um meio para o estado, mas o estado um
meio para o indivíduo. Segundo Tomás de Aquino, o estado não tem apenas função negativa
(repressiva) e material (econômica), mas também positiva (organizadora) e espiritual (moral).
Embora o estado seja completo em seu gênero, fica, porém, subordinado, em tudo quanto diz
respeito à religião e à moral, à Igreja, que tem como escopo o bem eterno das almas, ao passo que
o estado tem apenas como escopo o bem temporal dos indivíduos.
Disciplinar o direito de família não é tarefa fácil, pois a instituição família encontra-se em
contínua transformação, perpassando da família tradicional, que tinha como cabeça do casal o
marido, à família da gerência coletiva, ou seja, da igualdade entre homens e mulheres.
Mas, no que pese a repulsa causada, como se verá a seguir, pelas discriminações odiosas entre
o homem e a mulher expressadas no Código revogado, a família de 1916 seria praticamente
inconcebível hoje, e a de hoje, por certo, na mesma quadra, inconcebível em 1916. O homem
verdadeiramente é um animal do seu tempo.
(art. 377). Por sua vez, o art. 359 dispunha que o filho ilegítimo, reconhecido por um dos cônjuges,
não poderia residir no lar conjugal sem o consentimento do outro.
Contudo, como já referido diversas vezes, essa família não resistiu por muito tempo,
principalmente a questão da desigualdade entre homens e mulheres, sendo que cada dogma foi
desmoronando, até a chegada da Constituição de 1988.
Constituição Federal:
Art. 226.
§ 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como
entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.
§ 6º - O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um
ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos.
§ 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o
planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e
científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições
oficiais ou privadas.
Células tronco:
Em conclusão, o Tribunal, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ação direta de
inconstitucionalidade proposta pelo Procurador-Geral da República contra o art. 5º da Lei federal
11.105/2005 (Lei da Biossegurança), que permite, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-
tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não usados no
respectivo procedimento, e estabelece condições para essa utilização(...). Prevaleceu o voto do Min.
Carlos Britto, relator. (...) O relator reconheceu, por outro lado, que o princípio da dignidade da pessoa
Universidade Federal de Goiás
Graduação em Direito – 2008/2
Relações homoafetivas
RECURSO ESPECIAL. DIREITO PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. RELACIONAMENTO
HOMOAFETIVO. POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. MINISTÉRIO PÚBLICO. PARTE
LEGÍTIMA.
1 - A teor do disposto no art. 127 da Constituição Federal, " O Ministério Público é instituição permanente,
essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático de direito e dos interesses sociais e individuais indisponíveis." In casu, ocorre reivindicação
de pessoa, em prol de tratamento igualitário quanto a direitos fundamentais, o que induz à legitimidade
do Ministério Público, para intervir no processo, como o fez.
2 - No tocante à violação ao artigo 535 do Código de Processo Civil, uma vez admitida a intervenção
ministerial, quadra assinalar que o acórdão embargado não possui vício algum a ser sanado por meio de
embargos de declaração; os embargos interpostos, em verdade, sutilmente se aprestam a rediscutir
questões apreciadas no v. acórdão; não cabendo, todavia, redecidir, nessa trilha, quando é da índole do
recurso apenas reexprimir, no dizer peculiar de PONTES DE MIRANDA, que a jurisprudência consagra,
arredando, sistematicamente, embargos declaratórios, com feição, mesmo dissimulada, de infringentes.
3 - A pensão por morte é : "o benefício previdenciário devido ao conjunto dos dependentes do segurado
falecido - a chamada família previdenciária - no exercício de sua atividade ou não (neste caso, desde que
mantida a qualidade de segurado), ou, ainda, quando ele já se encontrava em percepção de
aposentadoria. O benefício é uma prestação previdenciária continuada, de caráter substitutivo, destinado
a suprir, ou pelo menos, a minimizar a falta daqueles que proviam as necessidades econômicas dos
dependentes. " (Rocha, Daniel Machado da, Comentários à lei de benefícios da previdência social/Daniel
Universidade Federal de Goiás
Graduação em Direito – 2008/2
Machado da Rocha, José Paulo Baltazar Júnior. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora: Esmafe,
2004. p.251).
4 - Em que pesem as alegações do recorrente quanto à violação do art. 226, §3º, da Constituição Federal,
convém mencionar que a ofensa a artigo da Constituição Federal não pode ser analisada por este
Sodalício, na medida em que tal mister é atribuição exclusiva do Pretório Excelso. Somente por amor ao
debate, porém, de tal preceito não depende, obrigatoriamente, o desate da lide, eis que não diz respeito
ao âmbito previdenciário, inserindo-se no capítulo ‘Da Família’. Face a essa visualização, a aplicação do
direito à espécie se fará à luz de diversos preceitos constitucionais, não apenas do art. 226, §3º da
Constituição Federal, levando a que, em seguida, se possa aplicar o direito ao caso em análise.
5 - Diante do § 3º do art. 16 da Lei n. 8.213/91, verifica-se que o que o legislador pretendeu foi, em
verdade, ali gizar o conceito de entidade familiar, a partir do modelo da união estável, com vista ao
direito previdenciário, sem exclusão, porém, da relação homoafetiva.
6- Por ser a pensão por morte um benefício previdenciário, que visa suprir as necessidades básicas dos
dependentes do segurado, no sentido de lhes assegurar a subsistência, há que interpretar os respectivos
preceitos partindo da própria Carta Política de 1988 que, assim estabeleceu, em comando específico: "
Art. 201- Os planos de previdência social, mediante contribuição, atenderão, nos termos da lei, a: [...] V -
pensão por morte de segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, obedecido
o disposto no § 2 º. " 7 - Não houve, pois, de parte do constituinte, exclusão dos relacionamentos
homoafetivos, com vista à produção de efeitos no campo do direito previdenciário, configurando-se mera
lacuna, que deverá ser preenchida a partir de outras fontes do direito.
8 - Outrossim, o próprio INSS, tratando da matéria, regulou, através da Instrução Normativa n. 25 de
07/06/2000, os procedimentos com vista à concessão de benefício ao companheiro ou companheira
homossexual, para atender a determinação judicial expedida pela juíza Simone Barbasin Fortes, da
Terceira Vara Previdenciária de Porto Alegre, ao deferir medida liminar na Ação Civil Pública nº
2000.71.00.009347-0, com eficácia erga omnes. Mais do que razoável, pois, estender-se tal orientação,
para alcançar situações idênticas, merecedoras do mesmo tratamento
9 - Recurso Especial não provido.
(REsp 395.904/RS, Rel. HÉLIO QUAGLIA BARBOSA, 6a T, julgado em 13.12.2005, DJ 06.02.2006 p. 365)
patrimônio, a renda e os serviços relacionados com as finalidades essenciais das entidades mencionadas
nesse preceito, e que a regra do seu § 4º serviria de vetor interpretativo dos textos das alíneas b e c do
seu inciso VI. Assim, tendo em conta tratar-se, na espécie, de mesmo imóvel, parcela do patrimônio da
recorrente, entendeu-se que o cemitério seria alcançado pela garantia contemplada no art. 150, a qual
seria desdobrada do disposto nos artigos 5º, VI e 19, I, todos da CF. Aduziu-se, ao final, que a imunidade
dos tributos, de que gozam os templos de qualquer culto, é projetada a partir da proteção aos locais de
culto e a suas liturgias e da salvaguarda contra qualquer embaraço ao seu funcionamento. Daí, da
interpretação da totalidade que o texto da Constituição é, sobretudo dos referidos artigos, concluiu-se
que, no caso, o IPTU não incidiria.”
(RE 578.562, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 21-5-08, Informativo 507)