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3 CONVERSA FILOSOFICA 3. Evolucdo da humanidade Considerando 0 que estudamos até aqui - das concepcdes de Comte, Hegel e Marx - © os acon- tecimentos no mundo atual, vocé entende que a humanidade tem progredido? Por qué? Retina-se cam colegas para debater esse tema. FRIEDRICH NIETZSCHE 4, Luta de classes Marx afirmou que a (uta de classes é 0 motor da histéria. Considerando que vivemos em um pais com imensa desigualdade econémica entre os grupos sociais, vacé entende que existe uma luta de classes no Brasil? Por qué? Que classes esta- riam em conflito? Haveria entre nés uma classe revolucionaria? Reflita e discuta com colegas. Uma filosofia “a golpes de martelo” Nietzsche realizou uma critica radical eimpiedosa da tradicso filosfica e dos valores fundamentais da civilizagao ccidental,construindo um ensamenta ciferente @ ‘original, “uma flosofia a golpes de martelo", como fle mesmo a detiniv. Junto com Marx e Freud, (oi classificade como lum dos trés mestres da suspeita pelo fildsofo rancés Paul Ricoeur, Pela influancia que teve sobre os pensadores das flosofias da existéncia, ¢ considerado um pré-existencialista por varios historiadores da flosota Concluindo este capitulo, veremos outro pensa~ dor que, nas iltimas décadas do século XIX, ques- tionou profundamente os rumos do pensamento filosético vigente, bem como do mundo ocidental. Trata-se de Friedrich Nietzsche. Nietzsche [1844-1900] nasceu em Rocken, uma localidade da Alemanha atual. Filho de um culto pastor protestante, estudou grego, latim, filologia € teologia. Mente brithante, aos 24 anos tornou-se professor titular de filologia na Universidade da Basileia, em uma época em que o hegelianismo ainda mantinha a hegemonia no mundo alemao. Ainda jovern, comecou a sentir os sintomas de uma doenca que 0 levaria progressivamente a deterio- ragao fisica, a episédios de perda da consciéncia € a crises de loucura no final da vida. WeEscrita aforismatica Diferentemente da maioria dos filésofos, Nietzsche escreveu a maior parte de suas obras sob a forma de aforismos. Aforismo é uma ma- xima, isto é, uma sentenca curta que exprime um conceito, um conselho ou um ensinamento. Qs aforismos do filésofo tratam de diversos temas, como religiao, moral, artes, ciéncias ete, Seu conjunto revela uma critica profunda e impie- dosaa civilizacao ocidental. Critica & massificacao, a visdo de mundo burguesa, ao conservadorismo cristo [que ele chamava “moral de rebanho") ete. Dessa critica surgiu também a questao do valor da existéncia humana B Influéncia de Schopenhauer Nietzsche sentiu-se profundamente atraido pelas reflexdes filosdficas a partir da leitura de (0 mundo como vontade representacao, do pensa- dor também alemao Arthur Schopenhauer (1788- -1860), ¢ este se tornaria uma das influéncias mais importantes em sua filosofia ‘Schopenhauer foi um continuador da reflexao kantiana e um critico veemente dos desdobra- mentos metafisicos que ela teve. Seus ataques dirigiram-se especialmente a Hegel, a quem defi- niv como “charlatdo” e “académico mercenério”, por ter construido uma filosofia que, em sua opi- nigo, servia aos interesses do Estado prussiano. Recorde que, ao englobar as situacées histéricas como desdobramentos do espirito objetivo {0 que acabamos de ver), Hegel acabava legitimando to- das as formas de governo e instituigdes, mesmo as mais nefastas. Para Schopenhauer, a historia nao é racionalidade e progresso, mas sim um acaso cego © enganoso. Este filésofo também defendeu que tudo o que ‘© mundo inclui ou pode incluir é inevitavelmente dependente do sujeito e nao existe senao para 0 sujeito, mundo é, portanto, representacao, E a representacdo do mundo seria, para Schopen- hauer, como uma “ilusao”. Alcancar a esséncia das coisas seria possivel apenas por meio do in- ‘sight intuitivo, uma espécie de iluminacéo, Nesse processo, a arte teria grande relevancia, pois pela atividade estética 0 sujeito se desprenderia de sua individualidade para fundir-se no objeto, ‘em uma entrega pura e plena. Para Schopenhauer, a esséncia do mundo se- ria a vontade (ow a vontade de viver]. Entendida como um principio presente em todas as coisas da natureza, a vontade seria uma pulséo ou im- pulso cego, carente de fundamentos ou motivos. No ser humano, essa vontade torna-se desejo consciente, 0 qual, nao sendo satisfeito, provoca sofrimento. No entanto, 0 desejo satisfeito gera v Vontade de poténcia A visio pessimista que Schopenhauer tinha da vida acabou decepcionando Nietzsche, pois este entendia a felicidade verdadeira como um sentimento pleno. Isso 0 levou a romper com 0 pensamento schopenhaueriano e passar a ser um de seus criticos mais contundentes (como o seria de muitos outros). Apesar disso, algumas de suas concepcées guardariam certas seme- (hancas com as de Schopenhauer. Um exemplo disso é 0 conceito de vontade de potén com 0 qual Nietzsche passa a explicar 0 mundo e a vida. Em sua obra Assim falou Zaratustra, a von- tade de poténcia é identificada com: [..] vontade orgnica;elaé propria néo unicamente do hhomem, mas de todser vivo: mas ainda’ exercese nos rgios,tecidos ecélulas, ns numerasos sere vivos mi croscépicos que consttuer o organismo. Atuando em cada elemento, encontraempecilhos nos que orodeiam, ‘mastentasubmeteros que elas opSem ecolocélasa tédio, na medida em que alcancamos e temos 0 que j4 nao desejamos. Assim, a vida oscilaria do sofrimento ao tédio como um péndulo. E essa vontade insacidvel - como forga que im- pulsiona todo individuo a afirmar sua existéncia som pensar nos demais ~ seria a origem das lutas entre os seres humanos e, portanto, a origem de todas as dores e sofrimentos aos quais as pessoas estdo condenadas. Assim, para Schopenhauer, a felicidade nao passaria da cessacao momenténea, um momento negativo dessas privacées. Cena da guerra franco-prussiana (1870-1871), [Colec3o particular, Nietzsche nasceu e cresceu em uma ‘lemanha ainda no unificada, mas fem uma época em que intelectuais ¢ aristas propagavam ideais nacionalistas te uniao étnicae cultura dos povos Ggermanicos. 0 processo de unificagaa ulminou em 1871, apés uma guerra vitoriosa contra a Franca, 0 filgsofo inna, entao, 26 anes. De forma répida ce autoritaria, o pals industrilizau-se, 2 ceducacao voltou-se para a formacao de ‘mao de obra especializada e a cultura e (05 valores do pove alemso comesaram 3 ser transtormades, segundo a ligica bburguesa, Nietzsche reagiv a isso seu servigo. Manifestandose ao depararresist@ncias, de sencadefa uma luta que ndo tem pausa ou fim possiveis (Maxros, Nietzsche~a transvaloracao dos valores p62) Termo ambiguo, dadas as caracteristicas assis- tematicas da escritura nietzschiana, a vontade de poténcia deu margem a distintas interpretacoes. Muitos reduziram a vontade de poténcia a uma tese biolégica que tentava justificar 0 espirito de compe- ticao dos seres humanos e seu apetite por poder, tendo inclusive sido utilizada pelo nazismo na defesa de suas pretenses dominadoras Hoje em dia, porém, predomine a interpre ao de que a vontade de poténcia refere-se nao apenas a um conjunto de pulsées competitivas, sem outra finalidade que nao seja a prépria vida, mas também a um impulso de afirmacao da vida na direcao de uma transcendéncia criadora, que conduziria a uma plenitude existencial capitulo 16 Pensamente do sécule XK Ed B Apolineo e dionisiaco Em sua obra, Nietzsche também criticoua tra- dicdo da filosofia ocidental a partir de Sécrates, a quem acusa de ter negado a intuicao criadora da filosofia anterior, pré-socratica Nessa analise, o filésofo alemao estabelece a distingao entre dois principios: 0 apotineo e 0 dio- nisiaco, a partir dos deuses gregos Apolo (deus da razao, da clareza, da ordeml e Dionisio (deus da aventura, da musica, da fantasia, da desordem), respectivamente. Para Nietzsche, esses dois principios ou di- menses complementares da realidade ~ 0 apoti- neo € 0 dionisiaco - foram separados na Grécia socratica, que, optando pelo culto 8 razao, secoua seiva criadora da filosofia, contida na dimensao dionisiaca. Para o filésofo, o mundo seria 0 reino das misturas, das turbuléncias, das complexida- des, razao pela qual se opés as cisies separado- ras entre alto e baixo, superior e inferior, ideal e real, sensivel e inteligivel, como ocorreu a partir do periodo classico do pensamento grego antigo. vB Genealogia da moral Posterior mente, Nietzsche desenvolveu uma critica intensa dos valores morais, propondo uma nova abordagem: a genealogia da moral, isto é, 0 estudo da formacao histérica dos valores morais. Sua conclusao foi de que o bem ¢ o mal nao cons- tituem nocdes absolutas, no entendimento de que as concepcdes morais sao elaboradas pelos seres, humanos a partir dos interesses humanos. Ou seja, ‘580 produtos histérico-culturais. Apesar de sua origem humana, essas concep- des sao impostas pelas religides - 0 judaismo eo cristianismo - como se fossem produtos da "von- tade de Deus” e, portanto, valores absolutos. esses valores carregaram as pessoas com as no Ges e os sentimentos de dever, culpa, divida e pecado, 0 resultado foi a configuracao de indivi- duos mediocres, timidos, insossos, nao criativos, depauperados e submissos. Por isso, Nietzsche denunciou a existéncia de uma "moral de rebanho" na civilizacao cristae burguesa, pois essa moral estaria baseada na submissao irrefletida e acomodada de grande parte das pessoas aos valores dominantes. (O que étacitamente aceito por nés;o que recebemos epraticamos sem atritos intemos e extetnos, sem tet sido por nés conquistado, mas recebido de fora para dentro, é como algo que nos foi dado; sao dados que Incorporamos a rotina, reverenciamos passivamente ese tornam peias [amarras que prendem os pés] ao desenvolvimento pessoal e coletivo. Ora, para que certos principios, como a justia e a bondade, pos sam atuar e enriquecer, é preciso que surjam como algo que obtivemos ativamente a parti da superagao dos dados. [..] Para essa conquista das mais lidimas [auténticas] viralidades do ser 6 que Nietzsche ensina a combater a complacéncia, a mornidao das posiges adquiridas, que o comodismo intitula me- ral, ou outra coisa bem soante. (Canobo, O portador, posfacio a Nietzsche, Obras incompletas, p. 411.) Portanto, para o filésofo, se cada pessoa com- preender que os valores presentes em sua vida so construgdes humanas, estard no dever de re- fletir sobre suas concepcées morais e questionar ovalor de seus valores, enfrentando o desafio de viver por sua prépria conta e risco. VNiilismo Segundo a anilise de Nietzsche, no momento em que o cristianismo deixou de ser a “tinica ver dade” para se tornar uma das interpretacées possiveis do mundo (0 que se deu a partir dalda- de Modernal, toda a civilizacao ocidental e seus valores absolutos também foram postos em xe- que. Nesse contexto, ocorreu uma escalada do niilismo, que “deve ser entendido como um sen- timento opressivo e difuso, préprio as fases agu- das de ocaso de uma cultura, O niilismo seria a expressao afetiva e intelectual da decadéncia (Giacow Ja, Nietzsche, p. 64-65) De acordo com Nietzsche, o niilismo moderno assenta-se, em grande parte, na ideia da morte de Deus. Em sua obra A Gaia ciéncia, 0 filésofo de- creta: “Deus esta morto”. Mas esclarece que quem © matou fomos nés mesmos, ou seja, trata-se de um acontecimento histérico-cultural, no qual destruimos os fundamentos transcendentais {assentados na ideia de Deus) dos valores mais caros de nossas vidas. [..] Por essa dtica, nilismo seria o sentimento colet- vo de que nossos sistemas tradicionais de valoracao, tanto no plano do conhecimento quanto no éticorel- gioso, ou sociopolitico, ficaram sem consisténciae 4 nao podem mais atuar como instancias doadoras de sentido e fundamento para o conhecimento ea ago, (Giacoia Je, Nietzsche, p. 65.) Para combater o niilismo, Nietzsche defendeu valores afirmativos da vida, capazes de expandir as energias latentes em nds, “Ouse conquistar a si mesmo” talvez seja a grande indicacao nietzschiana aqueles que buscam viver de forma afirmativa, sem conformismo, resignacao ou submissao. ‘ren Kierkegaard {1840} ~ Christian Kierkegaard. No contexto da critica & filosotia ‘de Hegel e da crise da razio, destacou-se também o filésofa dinamarques Séren Klerkegaard (1813-1855), considerado um dos precursores do existencialismo [que estudaremos no préximo capitulo). Procurando abordar em suas reflexes, as condigdes especifcas da existéneia humana, destacou os problemas Ga relacio do ser humano com a mundo, consigo mesmo e corn Deus, Sua relacio com o mundo estaria dominada pela angiistia de viver em um mundo de acontecimentos possiveis, sem garantia de que nossas expectativas sejam realizadas. Sua relacao consigo mesmo estaria marcada pela inquietagao ¢ pelo desespero, jé que nunca esta plenamente satisfeito com o que realizou, ou pelo limite de suas possibilidades. A unica via de superacio desses problemas seria sua relagao com Deus, mas ela estd marcada pelo paradoxo de ter de compreender pela fé 0 aue & incompreensivel pela razie, ANALISE E ENTENDIMENTO 12, Sobre si mesmo, Nietzsche afirmou: “Nao sou um homem, sou uma dinamite”. Identifique e explique as “bombas” lancadas pelo fildsofo nos seguintes dominios: al tradicao filoséfica; b) moral; €] religiao. NVaRS amos 5. Felicidade ou infelicidade? Schopenhauer diz que a histéria é a histéria de lutas, em que “a infelicidade é a norma”. Vocé concorda com essa visdo? Nietzsche criticou-a duramente. Mas observamos no cotidiano que muitas pessoas sentem ¢ interpretam a vida como Schopenhauer. Como vocé sente a vida? Como, na sua opiniao, as ‘outras pessoas vivem suas vidas, com foco na felicidade ou na infelicidade? Reflita sobre essas questées e depois exponha suas conclusées aos colegas. 6. Amorte de Deus “Deus esta morto! Deus permanece morto! f quem 0 matou fomos nés! Como haveremos de nos consolar, nds 0s algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu ‘exangue aos golpes das nossas laminas. Quem nos limpara desse sangue? Qual a Agua que nos lavara?” (Nerascu, A Gaia ciéncia,se¢ao 125). Retina-se com colegas ¢ reflita sobre a questao colocada por Nietzsche, relacionando-a com a seguinte questao: a laicizacao da sociedade foi mais benéfica ou prejudicial para as pessoas? PROPOSTAS FINAIS era eet (UENP-PR] Nietzsche foi um dos mais importantes criticos da modernidade. Na obra A vontade de poder, © filésofo afirma textualmente que: "Nao é verdade que o homem procure o prazer e fuja da dor. Sao de tomar ‘em conta os preconceitos contra 05 quais invisto, 0 prazer e a dor sao consequéncias, fenémenos concomi= tantes. 0 que o homem quer, 0 que a menor particula de um organismo vivo quer, é 0 aumento de poder: & em consequancia do esforgo em consegui-lo que o prazer e a dor se efetivam: € por causa dessa mesma vontade que a resisténcia a ela é procurada, o que indica a busca de alguma coisa que manifeste oposicao. ‘Ador, sendo entrave a vontade de poder do homem, é, portanto, um acontecimento normal -a componente normal de qualquer fendmeno organico. E o homem nao procura evité-la, pois tem necessidade dela, ja que qualquer vitéria implica uma resist&ncia vencida”

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