Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
DE REVISÃO
Freqüência
cardíaca
la modulación de la FC en función de un programa de ejer- Simpático
cicios.
Apesar de o exercício físico regular constituir um im- Fig. 1 – Controle autonômico da freqüência cardíaca no repouso e no
portante fator para reduzir os índices de morbimortalidade exercício. Participação parassimpática diminui com o aumento da in-
cardiovascular e por todas as causas1,2, parece haver tam- tensidade do exercício, enquanto o contrário ocorre com a simpática.
bém benefícios adicionais e independentes da prática re-
gular do exercício físico e da melhora da condição aeróbi- pelo qual a FC aumenta nos quatro primeiros segundos do
ca3-6, valorizando sobremaneira sua prática cada vez mais exercício físico já foi extensivamente estudado, inclusive
freqüente. Um posicionamento institucional recente da sob efeito de bloqueio farmacológico20-22, sendo quase ex-
American Heart Association recomenda que os indivíduos clusivamente mediado pela inibição vagal sem participa-
realizem exercícios físicos na maioria dos dias da semana, ção simpática expressiva20, em parte decorrente dos dife-
se possível todos os dias, com intensidade variando entre rentes tempos de latência dos dois ramos a esse estresse
moderada e vigorosa, de acordo com sua aptidão física, fisiológico.
por um período de tempo igual ou superior a 30 minutos7. A variabilidade da FC foi originalmente estudada por Hon
Muito embora exercícios moderados já contribuam para e Lee23 em recém-nascidos e vem sendo alvo de inúmeras
o aprimoramento da saúde, há evidências consistentes e pesquisas nos últimos anos. Em uma busca com as pala-
recentes de que exercícios de alta intensidade ou vigoro- vras-chave heart rate variability no MedLine, mais de seis
sos produzem efeitos positivos ainda mais importantes so- mil referências aparecem, sendo cerca de 32% só entre os
bre o perfil lipídico8, com reduções de até duas vezes nas anos de 1999 a 2002, demonstrando como este tema vem
taxas de mortalidade em período superior a uma década9- ganhando destaque recentemente junto ao meio acadêmi-
12. co/científico. As variações ou a variabilidade da FC podem
Os efeitos agudos e crônicos do exercício físico sobre o ser mensuradas nos domínios do tempo e da freqüência,
funcionamento do corpo humano têm sido alvo de inúme- com protocolos específicos para cada domínio24-30, inclu-
ras pesquisas nas últimas décadas13-18, sendo identificados sive com especificidade suficiente para a avaliação isolada
como respostas ao exercício como, por exemplo, a acele- do tônus vagal cardíaco (ramo parassimpático) na transi-
ração da FC no transiente inicial do exercício, e adaptações ção entre o repouso e o exercício dinâmico20.
ao treinamento, como FC mais baixa para uma mesma in- Uma redução do tônus vagal cardíaco e conseqüente-
tensidade de esforço submáximo, respectivamente. mente da variabilidade da FC, independentemente do pro-
Pela facilidade de mensuração, o comportamento da tocolo de mensuração, está relacionada a disfunção auto-
freqüência cardíaca (FC) tem sido bastante estudado du- nômica, a doenças crônico-degenerativas e a risco de
rante diferentes tipos e condições associadas ao exercício. mortalidade aumentado31-37 e representa, dessa forma, um
A FC é controlada primariamente pela atividade direta do importante indicador do estado de saúde38,39. A diminuição
sistema nervoso autônomo (SNA), através de seus ramos isolada da variabilidade da FC expressa aumento de três a
simpático e parassimpático sobre a auto-ritmicidade do nó- cinco vezes do risco relativo de mortalidade por evento
dulo sinusal, com predominância da atividade vagal (pa- cardíaco33,40; quando associado a depressão significativa da
rassimpática) em repouso, que é progressivamente inibida sensibilidade do barorreflexo (< 3ms/mmHg), este risco
com o exercício19, e simpática quando do posterior incre- relativo sobe para até sete vezes33. Por outro lado, indiví-
mento da intensidade do esforço (figura 1). Diferentes duos com insuficiência cardíaca congestiva que apresen-
mecanismos operam para ajustar a FC nos distintos mo- tam aumentos de variabilidade da FC, embora pequenos,
mentos de um exercício físico. Por exemplo, o mecanismo em alguns índices, como por exemplo, o desvio padrão de
Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, Nº 2 – Mar/Abr, 2003 105
intervalos RR normais (domínio do tempo), podem estar dução atrioventricular47. Alguns estudos sugerem que ape-
diminuindo o risco de mortalidade em até 20%32. Por essa nas a prática regular de exercícios físicos parece não ser
razão e também pela sua predominância no repouso, a ati- suficiente para a diminuição efetiva do risco de mortalida-
vidade vagal cardíaca tem sido alvo de vários experimen- de, sendo necessário que o programa de treinamento seja
tos, especialmente quando relacionados à prática do exer- capaz de promover adaptações tanto na condição aeróbi-
cício físico. ca3,45,46 ou na função autonômica do indivíduo48.
Hoje, à luz da ciência, não se pode negar que o treina- Permanece, contudo, ainda incerto se o aumento da con-
mento aeróbico tende a proporcionar melhoras no consu- dição aeróbica advinda do treinamento acarreta aumento
mo máximo de oxigênio15,41,42, provocadas, pelo menos em do tônus vagal cardíaco e, conseqüentemente, da variabili-
parte, por um aumento do débito cardíaco, principalmente dade da FC em repouso. Sendo assim, o objetivo desta revi-
à custa de um aumento do volume sistólico. Já a FC máxi- são é discutir os efeitos do treinamento aeróbico sobre o
ma não tende a se alterar, enquanto valores algo menores sistema nervoso autônomo no controle da FC no repouso e
podem ser vistos em repouso e, principalmente, durante nos transientes inicial e final do exercício, ou seja, o po-
um exercício submáximo43, provavelmente relacionados a tencial do treinamento aeróbico em induzir modificações
mecanismos como aumento do retorno venoso e da contra- fisiológicas do tônus vagal cardíaco.
tilidade miocárdica44. Além disso, o consumo máximo de Esta revisão baseou-se primariamente em estudos origi-
O2, tanto absoluto como relativo ao gênero e idade, repre- nais em humanos de condições clínicas e físicas (níveis de
senta um destacado fator de promoção da longevidade, ou atividade física) variadas, num escopo que contemplou de
seja, quanto mais alta a condição aeróbica do indivíduo, cardiopatas graves, inclusive transplantados, até atletas de
menor o risco de mortalidade3,45,46 (tabela 1). Essas adapta- alto rendimento, passando por indivíduos saudáveis, po-
ções no comportamento da FC advindas do treinamento fí- rém sedentários.
sico, especialmente o aeróbico, podem ser ainda decorren-
tes de modificações no balanço simpático-vagal ou mesmo EFEITOS SOBRE A FC DE REPOUSO
de adaptações intrínsecas como melhora no sistema de con- Uma FC de repouso baixa tende a representar um bom
quadro de saúde, enquanto valores mais altos aparentemente
estão relacionados a risco aumentado de mortalidade49. Um
TABELA 1 equívoco freqüente no meio desportivo é utilizar a FC de
Risco relativo de mortalidade de repouso como indicativa do grau de condicionamento ae-
acordo com a condição aeróbica
róbico, já que a associação entre FC em repouso baixa e
Condição RR
potência aeróbia máxima é apenas modesta e pode tam-
aeróbica* (IC 95%) bém ser conseqüência de maior atividade vagal em repou-
so50, reduzindo a taxa de despolarização diastólica e, assim,
Laukkanen et al., 2001 > 10,6 1,0 (ref) prolongando a duração do ciclo cardíaco, primariamente à
(indivíduos assintomáticos) 9,3-10,6 0,71-3,01 custa de diástole proporcionalmente mais longa13. No en-
7,9-9,2 1,44-5,39
< 7,9 2,02-7,32
tanto, será que o treinamento pode induzir maior atividade
vagal em repouso e, conseqüentemente, ser também res-
Kavanagh et al., 2002 < 4,2 1,0 (ref) ponsável por FC de repouso mais baixa?
(indivíduos com doença 4,2-6,3 0,54-0,71
cardiovascular) > 6,3 0,33-0,47
Estudos sugerem que indivíduos bem treinados ou bem
condicionados fisicamente (aerobicamente) possuem FC de
Myers et al., 2002 1,0-5,9 3,0-6,8 repouso mais baixa, sugerindo maior atividade parassim-
(indivíduos assintomáticos) 6,0-7,9 1,5-3,8
pática51-55, ou menor atividade simpática56, como a expli-
8,0-9,9 1,1-2,8
10,0-12,9 0,7-2,2 cação fisiológica para esse fato. Contudo, à exceção do
> 13,0 1,0 (ref) último, a característica transversal desses estudos não nos
permite afirmar que o treinamento tenha sido responsável
Myers et al., 2002 1,0-4,9 3,3-5,2
(indivíduos com doença 5,0-6,4 2,4-3,7 por essa adaptação sobre o SNA. Nesses trabalhos não fo-
cardiovascular) 6,5-8,2 1,7-2,8 ram levados em consideração o nível de condicionamento
8,3-10,6 1,4-2,2 aeróbico e a função autonômica dos atletas antes de inicia-
> 10,7 1,0 (ref) rem o treinamento e, sabendo-se que há uma influência
* Condição aeróbica medida em METs.
genética importante na determinação da variabilidade da
RR: Risco relativo de mortalidade cardiovascular. FC57, poder-se-ia especular que aqueles indivíduos teriam
Ref.: Valor de referência.
melhor adaptação cardiovascular ao treinamento em fun-
106 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, Nº 2 – Mar/Abr, 2003
ção de apresentar previamente melhor tônus vagal cardía- tensão mecânica do átrio e, por conseguinte, do nódulo si-
co58. Uusitalo et al.59 e Bonaduce et al.60, após estudos com nusal em função de maior retorno venoso, além do aumen-
características longitudinais, identificaram redução da FC to da temperatura corporal e da acidez sanguínea73.
de repouso, apesar de não serem observadas alterações ex- Enquanto Tulppo et al.74 e Goldsmith et al.75 atribuem a
pressivas nos indicadores autonômicos. A bradicardia indu- diminuição da variabilidade da FC com a idade à perda de
zida pelo exercício pode ainda ser conseqüência de adap- condicionamento físico inerente ao envelhecimento e que
tação intrínseca no nódulo sinusal61. esta situação poderia ser revertida com a manutenção ou
A FC de repouso mais baixa pode ocorrer ainda em fun- melhora da condição física aeróbica, os resultados de Mi-
ção de outros fatores decorrentes de um programa de trei- gliaro et al.76 e Byrne et al.77 sugerem que a idade isolada-
namento60, como o aumento do retorno venoso e do volu- mente seria o principal fator de diminuição da modulação
me sistólico. Com a melhora da função do retorno venoso, autonômica, independentemente da condição aeróbica.
ocorre um conseqüente aumento do volume sistólico e a O aumento do consumo máximo de O2 através do trei-
lei de Frank-Starling sugere que, quando há aumento no namento aeróbico pode ainda atenuar o declínio da sensi-
volume de sangue em suas cavidades, o coração aumenta bilidade do barorreflexo cardiovagal também relacionado
também sua contratilidade62. Para manter o débito cardía- ao avanço da idade78,79. Um programa de exercícios de in-
co em repouso constante, há diminuição da FC em resposta tensidade leve seria suficiente para apresentar algum grau
a volume sistólico aumentado, sendo estas adaptações pre- de melhora na função autonômica de indivíduos adultos
vistas em indivíduos com melhor condicionamento aeró- saudáveis80 ou com insuficiência cardíaca crônica81, mes-
bico62, independentemente da função autonômica. No en- mo sem supervisão direta do treinamento82; as alterações
tanto, será que os efeitos do treinamento sobre as variáveis promovidas pelo treinamento sobre a atividade vagal se-
cardiorrespiratórias não produzem também modificações riam centrais, possivelmente atuando diretamente no baror-
no SNA? reflexo, enquanto que a atividade simpática relacionar-se-ia
primariamente com alterações periféricas (vasoconstri-
EFEITOS SOBRE A FC NO EXERCÍCIO ção)82. Essas alterações podem ser notadas já nas primei-
ras semanas de treinamento em indivíduos com doença ar-
Como discutido anteriormente, o comportamento da FC terial coronariana83 e em pós-infartados84,85. Muito embora
ao longo do exercício é mediado pelo SNA. A variabilidade Seals et al.86 tenham sugerido que essas melhoras devem
da FC representa a oscilação temporal entre consecutivas ser mais evidenciadas em pessoas com função cardíaca
contrações do miocárdio (sístoles)23. anormal, acreditando que o treinamento aeróbico teria
Estudos com bloqueio farmacológico seletivo22 foram menor impacto sobre a variabilidade da FC de indivíduos
realizados e demonstraram a participação exclusiva do ner- saudáveis, Melanson e Freedson87, Stein et al.88, Al-Ani et
vo vago na resposta da FC no transiente inicial do exercí- al.89 e Gallo Jr et al.90 obtiveram resultados expressivos com
cio20,21, a predominância da atividade vagal durante o o treinamento sobre os marcadores autonômicos em indi-
repouso sendo gradualmente inibida no exercício submá- víduos saudáveis e Levy et al.91 ainda sugerem que estes
ximo63 tanto ativo como passivo64-66, até o nível máximo de ganhos seriam independentes do fator idade. Apesar de as
esforço, no qual a atividade parassimpática aparentemente metodologias aplicadas terem sido bastante distintas e o
é totalmente inibida67, produzindo menor ou ausência de tempo efetivo do treinamento ter variado de seis semanas a
variabilidade da FC. 12 meses, os resultados foram consonantes, demonstran-
Nos primeiros segundos do exercício, a FC aumenta por do, de forma geral, um aumento da atividade vagal em de-
inibição da atividade vagal, que não só aumenta a contrati- corrência do programa de exercícios ou mesmo diminui-
lidade dos átrios, mas também eleva a velocidade de con- ção da atividade simpática em repouso, contribuindo para
dução da onda de despolarização dos ventrículos a partir as melhoras hemodinâmicas56,92.
do nódulo AV62, independentemente do nível de intensida- Duru et al.93 não obtiveram êxito ao investigar os efeitos
de do esforço68,69 e do nível de condicionamento aeróbico positivos do exercício físico regular na função autonômica
de indivíduos saudáveis70,71. Por outro lado, um indivíduo de indivíduos pós-infartados quando comparados com seus
que não consiga elevar sua FC significativamente nessa fase pares sedentários, pois, apesar de a FC de repouso ter apre-
inicial do exercício pode estar sinalizando deficiência da sentado valores mais baixos após o período de treinamen-
atividade vagal72. Após essa fase inicial, com o prossegui- to, os índices de variabilidade (no domínio da freqüência)
mento do exercício, a FC aumenta novamente pela exacer- não se alteraram expressivamente. Por outro lado, no gru-
bação da estimulação adrenérgica no nódulo sinusal ou pelo po controle, houve diminuição considerável desses mes-
aumento da concentração sanguínea de norepinefrina, dis- mos índices, indicando um estado avançado de desequilí-
Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, Nº 2 – Mar/Abr, 2003 107
brio autonômico em favor de um domínio simpático nos como um notável complemento quando da avaliação clíni-
indivíduos com disfunção ventricular esquerda pós-infar- ca e/ou física de um indivíduo101.
to. Esses resultados podem ser interpretados de outra for- Ao final do exercício deve haver atenção especial ao
ma: a prática regular de exercícios físicos pode ao menos comportamento da FC, pois sua redução em menos de 12
manter o balanço simpático-vagal sob predominância pa- batimentos por minuto (bpm), se a volta à calma for ati-
rassimpática em indivíduos pós-infartados, ao passo que o va97, ou 18, se passiva, na posição supina102, no primeiro
sedentarismo tende a aumentar a influência simpática mes- minuto de recuperação após um teste de exercício máxi-
mo em repouso. Outros estudos também falharam em en- mo, representa um prognóstico desfavorável em termos de
contrar adaptações diferenciadas do SNA a um programa risco relativo de mortalidade cardiovascular em indivíduos
de exercícios. Loimaala et al.94 não acharam diferenças após assintomáticos e em cardiopatas95,97,102, ou seja, tanto no
cinco meses de treinamento sobre os índices de variabili- transiente inicial como no final, quanto menor a variação
dade de sedentários aparentemente saudáveis com idades da FC, maior o risco relativo.
variando entre 35 e 55 anos, mesmo durante o período da Apesar de essa fase do exercício estar sendo investigada
noite, quando a atividade simpática é bastante diminuída e intensamente nos últimos anos, os resultados ainda diver-
existe menor interferência de outras variáveis, havendo gem quanto ao tempo necessário para a total restauração
melhora apenas na FC de repouso, provavelmente devido a aos níveis de repouso do SNA pós-exercício. O tempo des-
adaptações intrínsecas. pendido para o retorno da FC aos níveis de repouso depen-
Por outro lado, em outro aspecto interessante, Boutcher de da interação entre as funções autonômicas, do nível de
e Stein58 verificaram que indivíduos com melhor tônus va- condicionamento físico103,104 e também da intensidade do
gal cardíaco respondem melhor a um treinamento aeróbi- exercício68,105. A recuperação pode levar de uma hora após
co, tendo maiores ganhos no consumo máximo de oxigê- exercício leve ou moderado105, quatro horas após exercício
nio e reduzindo mais a FC de repouso. Corroborando os aeróbio de longa duração106, a até 24 horas após um exercí-
últimos estudos, Uusitalo et al.59 e Bonaduce et al.60, após cio intenso ou máximo107. Os mecanismos responsáveis por
investigar os efeitos do treinamento de alta performance essas discrepâncias quanto ao tempo necessário para a to-
aeróbica sobre a modulação autonômica de atletas jovens, tal recuperação da FC pós-esforço não estão totalmente
não encontraram diferenças tanto para homens como para esclarecidos, considerando-se no momento as seguintes
mulheres, respectivamente. É possível que certas modifi- explicações como as mais plausíveis: atividade vagal di-
cações na atividade do SNA em função do treinamento só minuída105,108-110, atividade simpática exacerbada107,111 ou,
sejam observáveis sob a forma de resposta a um estímulo, até mesmo, aumento da atividade de ambos os ramos do
como mudança de postura e durante o exercício, mas não SNA, retomando o equilíbrio com leve predominância va-
durante o repouso85,90, como na maioria dos protocolos. Não gal25. Cinco minutos após uma sessão de exercício mode-
se pode afirmar que a falha em encontrar diferenças na fun- rado ou intenso a concentração de norepinefrina no sangue
ção autonômica decorrentes do treinamento tenha sido de- continua em valores acima dos de repouso110, o que sugere
vida à mensuração em repouso sem levar em consideração elevada atividade simpática nesta fase. Todavia, deve-se
a possibilidade de haver um efeito-teto das atividades do levar em conta que há um tempo de latência de aproxima-
SNA, o que poderia justificar a simples manutenção das damente 2,5 minutos para que a concentração de norepine-
magnitudes das influências simpática e parassimpática so- frina no plasma chegue a seu valor máximo112, o que faz
bre a variabilidade da FC após o período de treinamento supor que o tempo de cinco minutos de recuperação utili-
em atletas ou pessoas muito bem condicionadas aerobica- zado neste estudo possa ter sido demasiado curto. Ao que
mente. parece, com o envelhecimento, o tempo de remoção da
norepinefrina da circulação passa a ser mais lento, man-
EFEITOS SOBRE A RECUPERAÇÃO tendo o ritmo cardíaco acelerado durante um período mais
DA FC PÓS-EXERCÍCIO prolongado após o exercício. A diminuição da concentra-
ção de norepinefrina no pós-exercício é acompanhada de
Outro aspecto importante e que tem merecido destaque redução da FC, porém, há indícios de que logo no início da
na literatura nos últimos anos é a recuperação da FC pós- recuperação a modulação vagal é prioritariamente respon-
esforço, tanto máximo95-97 como submáximo98-100. O com- sável pela queda da FC69,110.
portamento da FC no transiente final do exercício é mais Indivíduos com corações transplantados têm recupera-
um indicador da integridade do nervo vago. A queda da FC ção da FC significativamente mais lenta no primeiro minu-
ao final do exercício não substitui outras formas de men- to pós-esforço quando comparados com indivíduos apa-
suração da atividade autonômica cardíaca, mas funciona rentemente saudáveis113, ratificando a hipótese de Perini et
108 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, Nº 2 – Mar/Abr, 2003
al.110. O treinamento físico pode aumentar o delta entre a lógicas, como aumento do retorno venoso e do volume sis-
FC no final do exercício e nos instantes iniciais da recupe- tólico e melhora da contratilidade miocárdica, ou periféri-
ração, sendo que oito semanas de treinamento seriam sufi- cas, como melhora da extração de oxigênio (diferença ar-
cientes para aumentar essa diferença nos primeiros 30 teriovenosa de oxigênio) ou melhora da utilização do O2
segundos pós-exercício114, não havendo diferenças nos re- para gerar mais trabalho (eficiência mecânica), resultando
sultados entre gêneros ou faixa etária115, mas esta adapta- em diminuição da FC para aqueles níveis (submáximos) de
ção, no entanto, se perde com apenas poucas semanas de exigência.
destreinamento79,114. Em crianças, a recuperação parece ser Aparentemente, os indivíduos melhor condicionados ae-
mais rápida do que em adultos jovens por causa de sua robicamente possuem atividade autonômica mais eficiente
maior modulação central colinérgica116, o que denota grande do que os sedentários, havendo também indícios de que os
diferença também para idosos, os quais necessitam de tem- indivíduos com melhor tônus vagal cardíaco respondem
po maior para a diminuição da concentração de norepine- melhor a um treinamento aeróbio, levando-nos a questio-
frina no sangue no pós-exercício117. Aparentemente, o tem- nar: será que atletas bem condicionados aerobicamente têm
po necessário para a total restauração das atividades do tônus vagal cardíaco mais alto em conseqüência do treina-
SNA está inversamente relacionado ao nível de consumo mento ou será que aqueles indivíduos com tônus vagal car-
máximo de O255,106, apesar de Arai et al.63 não terem encon- díaco geneticamente mais alto têm potencial mais alto para
trado evidências em seus resultados que indicassem dife- se tornar atletas de ponta se devidamente treinados?
renças entre várias situações, tais como: gênero63,118, posi- Certamente, a grande variedade de métodos de mensu-
ção na fase de recuperação (sentado ou em posição supina) ração da variabilidade da FC, assim como as peculiarida-
e nível de atividade física entre indivíduos saudáveis63. des e características das amostras e dos delineamentos uti-
Quando da comparação de indivíduos saudáveis com gru- lizados em cada experimento, tenham contribuído para as
pos de indivíduos com insuficiência cardíaca ou transplan- divergências entre os resultados e suas interpretações quanto
tados, os primeiros precisaram de menor tempo para a re- aos efeitos do exercício e do treinamento sobre o SNA pa-
cuperação da FC pós-exercício máximo; não obstante, a rassimpático e o controle da FC.
variabilidade da FC medida no domínio da freqüência no Apesar da necessidade de outros estudos sobre os efei-
pico do exercício não revelou diferenças entre nenhum dos tos agudos imediatos e tardios, e efeitos crônicos do exer-
grupos, provavelmente indicando inibição completa da ati- cício físico sobre o sistema nervoso autônomo, especial-
vidade vagal nesta fase67. Os grupos de indivíduos com mente do componente parassimpático, identificando as
insuficiência cardíaca ou submetidos a transplante cardía- possíveis modificações sobre o tônus vagal cardíaco, algu-
co reduziram sua FC em menos de 10 batimentos por mi- mas conclusões podem ser alcançadas.
nuto na fase inicial da recuperação, resultados compatí-
veis com provável disfunção autonômica e relacionados Dr. Claudio Gil S. Araújo declarou contribuir e receber
com elevado risco relativo de mortalidade95-97. apoio de empresas que atuam no mercado relacionado ao
CONCLUSÕES tema deste artigo.
Conforme discutido nesta revisão, a variabilidade da FC
vem sendo alvo de inúmeras pesquisas nos últimos anos,
principalmente em sua relação com o risco aumentado de REFERÊNCIAS
mortalidade cardiovascular, notório nos resultados de vá- 1. Blair SN, Kohl 3rd HW, Barlow CE, Paffenbarger RS, Gibbons LW, Mac-
rios desses estudos. A atividade do nervo vago (ramo pa- era CA. Changes in physical fitness and all-cause mortality. A prospec-
tive study of healthy and unhealthy men. JAMA 1995;273:1093-8.
rassimpático) é considerada como um fator de proteção
2. Centers for Disease Control. Coronary heart disease attributable to sed-
cardiovascular; logo, a disfunção do SNA e, notadamente, entary life-style – selected states, 1988. JAMA 1990;264:1390-2.
a redução do tônus vagal cardíaco traduzem-se, portanto, 3. Myers J, Prakash M, Froelicher V, Do D, Partington S, Atwood JE. Ex-
em aumento substancial do risco de mortalidade cardio- ercise capacity and mortality among men referred for exercise testing. N
vascular. Não está bem esclarecido ainda se o exercício Engl J Med 2002;346:793-801.
físico regular pode melhorar sobremaneira a função do SNA, 4. Willians PT. Physical fitness and activity as separate heart disease risk
factors: a meta-analysis. Med Sci Sports Exerc 2001;5:754-61.
apesar de algumas evidências mostrarem que sim. Talvez
5. Erikssen G, Liestol K, Bjornholt J, Thaulow E, Sandvik L, Erikssen J.
algumas das modificações que ocorrem no controle da FC
Changes in physical fitness and changes in mortality. Lancet 1998;352:
em repouso e nos níveis submáximos do exercício sejam 759-62.
conseqüência de adaptações intrínsecas do próprio nódulo 6. McGinnis JM, Foege WH. Actual causes of death in the United States.
sinusal ou ainda decorrentes de outras modificações fisio- JAMA 1993;270:2207-12.