Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
° ano
Prof. João Paulo Martinelli
ABANDONO MATERIAL
Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18
(dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos,
não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia
judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou
ascendente, gravemente enfermo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo
vigente no País.
Parágrafo único - Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer
modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão
alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada.
1) Tipicidade objetiva:
“Ainda que tenha o réu em seu prol motivos jurídicos para separar-se de sua mulher ou que se
trate esta de pessoa jovem com possibilidade de prover à subsistência, não pode o marido deixar de
contribuir para o sustento dos filhos” (TACRIM-SP – AC – Rel. Silvio Lemmi – JUTACRIM 34/369).
“A conduta irregular da mulher não isenta o réu dos deveres assumidos pelo casamento em
relação à prole. O adultério viola o dever de fidelidade conjugal, mas não o de assistência aos filhos
menores, inerente ao pátrio poder” (TACRIM-SP – AC – Rel. França Leme – RT 380/283).
“Incorre nas sanções do art. 244 do CP o agente que, imotivadamente e mesmo após muitas
providências adotadas por Magistrado na Jurisdição Civil, deixa de pagar vários meses de pensão
alimentícia, acordada em Juízo, em favor de seu filho menor, sendo certo que ainda que venha a satisfazer
parte das obrigações em atraso, o delito não deixará de ocorrer, pois o pagamento posterior não
descaracteriza o crime já consumado” (TACRIM-SP – AC – Rel. Fábio Gouvêa – RT 448/471).
JUSTA CAUSA: O tipo penal só se configura quando não há justa causa para as
condutas descritas.
a) Desemprego:
“Agente que não contribui para o sustento da mulher e filha, por ter sofrido delicada intervenção
cirúrgica e estar desempregado – Para caracterizar-se o crime de abandono de família é indispensável
verificar se a assistência material deixou de ser prestada sem justa causa” (TACRIM-SP – AC – Rel.
Campos Maia – RT 421/263)
b) Dificuldades econômicas:
“Não há falar em abandono material na conduta da mãe solteira que, com pouca idade,
desamparada do pai de seus filhos, miserável e sem arrimo, cuida de trabalhar conforme pode e de acordo
com a possibilidade de serviço, sendo obrigada a deixar sua prole em casa. Impõe-se a solução, máxime
porque, em hipótese de tal miséria humana e material, mais necessita a acusada de compreensão e
piedade, do que de sanção penal” (TACRIM-SP – AC – Rel. Camargo Sampaio – RT 483/344).
c) Novo casamento:
“Um novo casamento não é causa justificável para não proporcionar a subsistência dos filhos do
casamento anterior. Não se pode constituir uma nova família, abandonando-se a que antes constituíra. O
mesmo se pode dizer, quando passa-se a viver amasiado com outra pessoa” (TACRIM-SP – AC – Rel.
Almeida Braga – RT 692/284).
2) Tipicidade subjetiva:
4) Observações:
“Confiados os filhos à guarda de pessoa idônea, embora não forneça a esta os recursos materiais
que prometera, não comete a mãe o crime de abandono material” (TACRIM – AC – JUTACRIM 34/179).
“No crime de abandono material, não se livra o réu da responsabilidade penal pela circunstância
de evitarem terceiros que seus filhos passem fome ou por haver a esposa passado a exercer profissão”
(TACRIM-SP – AC – JUTACRIM 69/234).
“O crime de abandono material caracteriza-se pela simples falta de proporcionamento dos meios
de subsistência, haja ou não sentença no âmbito civil, mesmo porque meios de subsistência não se
identificam com alimentos” (TACRIM-SP – AC – Rel. Pinto de Sampaio – RT 552/352).
“Diante da obrigação paterna de prover à alimentação dos filhos, não elide a caracterização do
abandono material a não proposição prévia de ação civil de subsistência” (TACRIM-SP – AC – Rel.
Mattos Faria – JUTACRIM 21/265).
Art. 245 - Entregar filho menor de 18 (dezoito) anos a pessoa em cuja companhia saiba ou deva
saber que o menor fica moral ou materialmente em perigo:
§ 1º - A pena é de 1 (um) a 4 (quatro) anos de reclusão, se o agente pratica delito para obter
lucro, ou se o menor é enviado para o exterior.
§ 2º - Incorre, também, na pena do parágrafo anterior quem, embora excluído o perigo moral
ou material, auxilia a efetivação de ato destinado ao envio de menor para o exterior, com o fito de
obter lucro.
O crime pode ser praticado apenas pelos pais, legítimos, naturais ou adotivos. O
tipo penal não abrange o tutor, o parente ou o estranho. Trata-se de crime próprio. Apenas
a conduta do § 2.° é crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa.
O sujeito passivo é o filho menor de 18 anos, legítimo, adotivo ou natural
reconhecido.
A conduta consiste em entregar filho menor de 18 anos a pessoa que possa
comprometer sua segurança moral ou material.
Por exemplo, o menor de 18 anos é entregue a pessoa que sofra de doença
contagiosa; o menor é entregue a meretriz que pode levá-lo à promiscuidade etc.
ABANDONO INTELECTUAL
Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar:
Trata-se de crime próprio, que pode ser praticado apenas pelos pais. O sujeito
passivo é a criança em idade escolar, que vai dos 7 aos 14 anos.
“Não se configura abandono intelectual se deixa o réu pobre de promover a instrução primária
de filho menor por falta de vaga no estabelecimento do ensino público local” (TACRIM-SP – AC – Rel.
Silvio Lemmi – JUTACRIM 22/376).
“Dificuldades de ordem econômica de família são, também, justa causa para isentar o acusado
de abandono intelectual de qualquer responsabilidade nesse delito. Ao juiz compete aferir quando o dolo
da infração é excluído pela justa causa” (TACRIM-SP – AC – Rel. Flávio Queiroz – RT 275/601).
ABANDONO MORAL
Art. 247 - Permitir alguém que menor de dezoito anos, sujeito a seu poder ou confiado à sua
guarda ou vigilância:
O sujeito ativo é qualquer pessoa que tenha sob sua guarda ou vigilância menor de
18 anos. O sujeito passivo é o filho, o tutelado ou o confiado à guarda ou vigilância,
menor de 18 anos.
“Incorre nas sanções do art. 247, IV, primeira parte, do Código Penal, o agente que dá permissão
a seus filhos, menores de 18 anos, para mendigação, consistente na entrega de bilhetes em que só solicita
auxílio financeiro, auferindo, assim, proveito próprio” (TACRIM-SP – AC – Rel. Rubens Elias – RT
224/410).