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Nome: Fernanda Marinho da Silva 3ºPeríodo- Vespertino

Texto: Noção de Crença e Conhecimento

Entra aqui a noção de crença proposta pela filosofia. Para a filosofia, as crenças são estados
mentais com conteúdo, ou intencionais, que estão dirigidos para fora da mente (Miguens,
2003). Segundo a ideia anterior da convicção da existência do objecto percebido (eu acredito
naquilo em que acredito), as crenças comportam também uma pretensão de verdade em
relação ao seu conteúdo.

As crenças são matéria da cognição: não se observam via directa, mas podem ser inferidas
indirectamente através da observação das acções.

Ao situar as crenças no domínio do cognitivo, novamente não se quer com isto dizer que são
do domínio do cerebral. Segundo o modelo de descrição das perturbações do
desenvolvimento de Morton e Frith (1995) o cognitivo são as teorias que preenchem o hiato
entre os outros dois níveis de análise: o biológico e o comportamental. É no cognitivo que
reside a interpretação das acções. Por outro lado, afirmar que o cognitivo não é da ordem do
biológico não é de todo pressupor que as crenças e a cognição não têm correlatos biológicos
ou físicos. Quer-se antes dizer que as crenças são produto complexo de um conjunto
alargado de processos que podem ser individualmente descritos, mas cuja totalidade
complexa não pode ser fisicamente observada, nem derivada.

Traduzir fisicamente os fenómenos psicológicos resulta numa perda deles. Como diz Morton,
“There will be neither causal adequacy nor descriptive adequacy at the biological level. With
behaviour and no cognition one cannot get a proper story. With biology alone there will be no
story at all”.

Das Crenças à Acção

As crenças constroem-se ao longo do desenvolvimento cognitivo a partir da interacção do


sujeito com o mundo. Robert Audi (2003) enumera quatro fontes básicas das crenças:
percepção, razão, memória, e auto-consciência, assim como duas outras fontes indirectas, a
indução e o testemunho.
Vejamos então que quando toco a superfície de um livro posso sentir que essa superfície é
áspera. Nesse caso a crença tem origem pela percepção do tacto. O mesmo seria dizer que o
livro é vermelho porque vejo que o é. Mas mesmo sem tocar no livro sou capaz de afirmar
que este tem um peso. Não posso especificá-lo mas é-me garantido pelo domínio dos
conceitos em questão (livro e peso) que qualquer objecto tem um peso e portanto deduzo que
o livro, por necessidade, também o terá. Neste caso estou a fundar a minha crença na razão,
que é o mesmo que dizer conceitos abstractos a priori. No caso da memória é fácil verificar
como surge a crença. Se, por exemplo, ontem deixei o livro que li pela noite dentro em cima
da mesa, hoje, recordar-me-ei e acreditarei que o livro, efectivamente, se encontra em cima
da mesa. A fragilidade desta crença dá-se com a passagem do tempo, pois as recordações
tornam-se progressivamente menos nítidas, o que em consequência origina um decréscimo
no grau de certeza. Também devido à acção de factores externos imprevistos – se alguém
mudar o livro de sítio – as crenças fundadas na memória são postas em causa – será que
deixei realmente o livro em cima da mesa? Ora este processo transporta-nos para uma
diferente fonte de crença, a introspecção. Encontro-me agora a analisar a minha própria
consciência, fazendo um exercício de reviver e questionar as memórias e crenças anteriores,
verificando se não estão já confundidas com outros factores (estive também a ver um filme
que me poderá ter confundido). Esta análise, leva-me por exemplo à crença de que de facto o
livro foi deixado em cima da mesa. O meu exercício de introspecção leva-me a assim crer,
confirmando as anteriores crenças fundadas na memória, que o livro está então em cima da
mesa.
Imaginemos que, tendo agora voltado a casa, verifico que o livro não se encontra no seu
lugar. Questiono então a pessoa que comigo habita, e descubro que por uma questão de
arrumação, e não sabendo que não tinha ainda acabado de o ler, o colocou numa prateleira
da estante. Ora por se tratar de uma pessoa em quem confio e porque compreendo os
motivos apresentados, tenho todas as razões para facilmente acreditar que o livro se encontra
na prateleira. O testemunho é então uma importante fonte de crenças, apesar de não ser uma
fonte básica. Assim, e até ter vontade de o continuar a ler, à partida não necessitarei de
verificar pois acredito no testemunho que me fizeram.
Finalmente, a partir desta acção do meu colega de apartamento, posso induzir que uma vez
arrumado o livro na estante, sempre que algum livro meu não se encontrar no local onde o
deixei, encontrar-se-á provavelmente arrumado em alguma prateleira da estante. A este
processo em que partindo de um particular se chega a um caso geral, chama-se indução. A
crença fundada na indução é formada na base de algo mais básico (percepção, memória,
consciência e razão) que é posteriormente generalizado.
As crenças projectam-se sobre o mundo e dotam de compreensibilidade e legitimidade
(porque comportam um valor de verdade) a minha e a acção dos outros. Compõe-se assim o
mundo num todo organizado e coerente (com as minhas crenças).
Assim, se as crenças se fundam a partir da acção humana, percebamos também que em
momento algum deixam de a governar. Quando toco a superfície de um livro sinto que essa
superfície é áspera, mas isto já requer que eu tenha uma ideia prévia de aspereza. Para além
disso se já toquei neste mesmo livro ou em livros onde, por exemplo, a textura da capa era
visualmente semelhante, as minhas expectativas em relação ao que vou sentir influenciam a
própria sensação.

A investigação neuropsicológica dá consistência a esta ideia de bidireccionalidade. Com


bidireccionalidade quero dizer que a transmissão de informação não se faz num só único
sentido, mas se faz simultaneamente num sentido ascendente (dos receptores sensoriais às
instâncias cognitivas) e num sentido descendente (das instâncias cognitivas aos receptores
sensoriais) sendo que o próprio momento de recepção deste mesmo estímulo é já uma fusão
entre estes dois tipos de informação. Podemos usar a imagem do cordel que atravessa todo o
nosso corpo ligando a base ao topo. Na base estão os receptores de informação sensorial e
no topo mecanismos cognitivos de controlo que têm a função de coordenar o fluxo de
informação. Estas ligações agem tanto por relações de feedforward - a informação é levada
da base para o topo, ou em sentido biológico, quando o output de um grupo de neurónios
estimula as redes de neurónios seguintes, - como de feedback - a informação parte do topo
para a base modificando as relações no sistema biológico, ou quando um output produzido
internamente modifica o input seguinte. Por exemplo, do ponto de vista somatossensorial,
nem todos os estímulos causam necessariamente excitação no cortéx. Os mecanismos de
controlo podem modificar a transmissão de excitação da pele no seu caminho até ao cortéx
cerebral, por um processo de inibição descendente, que interage com os neurónios aos
diversos níveis na escala sensorial.

Neste sentido, as crenças cumprem também a função de seleçcão dos estímulos sensoriais a
processar, o que por sua vez resulta na modelação das acções humanas.

No mundo social as crenças têm a função de nos permitir compreender e inferir a acção dos
outros. Na literatura psicológica a noção de crenças está associada à capacidade de atribuir
estados mentais a si próprio e aos outros ou ter uma teoria da mente a que se chama no
inglês mentalising (Leslie, 1987). É esta capacidade de aceder à mente dos outros que nos
permite entender e situarmo-nos no mundo social. Estamos pois face a um campo de
subjectividades que coincidem e desembocam num campo de intersubjectividade comum,
que é da ordem da cognição social.
Numa perspectiva desenvolvimental, as crianças adquirem inicialmente representações da
realidade, e num plano posterior não só são capazes de representar a realidade como
também construí-la porque desenvolvem a capacidade de inferir aquilo que as outras pessoas
pensam e querem comunicar. Como diz Frith, as representações trazem o mundo à mente
(2003).

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