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RESUMO
Este artigo tem como objetivo analisar o conceito de Ciência desenvolvido ao longo da história humana,
principalmente observando a necessidade de consideração da imprevisibilidade e da incerteza como
elementos necessários das soluções científicas. Durante o combate contra o vírus COVID-19, muitos
atos de imposição de „verdades‟ ocorreram, criados pelas chamadas autoridades políticas e científicas,
com a escusa de que a obrigação de vacinas e a imposição de uso de máscaras, mesmo em ambientes
abertos, dentre outras medidas draconianas, seriam justificáveis por um patamar alto de “evidências”,
mas essas mesmas autoridades simultaneamente bloquearam experiências de tratamento com o uso de
drogas “fora da bula”, extremamente efetivas contra a doença, principalmente quando ministradas no
início dos sintomas. Essas práticas atentam contra a medicina baseada em evidências, contra os direitos
humanos e contra as liberdades fundamentais.
ABSTRACT
This article is about the concept of Science, developed during the history of the mankind, principally
observing the necessity of understanding the unpredictability and the incertitude, as necessary elements
of the scientific solutions. During the war against COVID-19, happened many acts of imposition of
„trues‟ that were created by the called scientific and political authorities, under the excuse that the
obligation of vaccines and the imposition of use of masks, even in open places, and other draconian
measures, would be justified by a high level of evidences, but these same “authorities” simultaneously
blocked experiences of treatment with drugs “off label”, highly effectives against the disease, mainly
when given in the beginning of the symptoms. These practices are against the medicine based on
evidences, human rights and fundamental freedoms.
Apresentação.
O artigo retrata o vivido pelo Brasil e pelo Mundo, em face das incertezas geradas
pelo “novo Coronavírus”, diante de imposição político-jurídica de medidas de proteção e de
impedimentos de utilização e aquisição pública de fármacos para “tratamento inicial”, sob a
alegação da “ausência de evidências científicas”.
1
“Assim se constitui a doutrina que podemos chamar de empirismo lógico e que, tomando da
experiência dados e não uma simples via de acesso ao real, e da lógica uma linguagem e não uma lei de
inteligibilidade, preocupa-se apenas em estabelecer uma correspondência entre esses dados e essa linguagem
evitando o problema, que lhe parece mal colocado, o da concordância entre o pensamento e a realidade,
resistindo aos ídolos do racionalismo e se apresentando com um desenho tão nítido, uma simplicidade tão
elementar e tão segura, que se entende facilmente o sucesso que obteve nos países da Europa central e na jovem
América”. LAVELLE, Louis. Ciência Estética e Metafísica, p. 201.
2
“O que caracteriza a doutrina [do empirismo lógico], portanto, é supor, por um lado, que o real é o
dado em si, sem que tenhamos de nos perguntar nem como ele pode ser afirmado nem qual é a sua relação com o
espírito que o afirma (pois esse seria o tipo mesmo de pseudoproblema), por outro lado, é sustentar que esse real
pode ser descrito por um conjunto de símbolos que devem estar em correspondência com o dado que
simbolizam. De direito, o mundo simbólico ultrapassa o mundo real”. Idem, p. 202.
meios de comunicação. Passando a adquirir teor de validade “absoluta” na descrição da
realidade, na “previsão de possibilidades futuras”.
O conceito de ciência foi cunhado ao longo do tempo por inúmeros pensadores, mas,
seguindo parametrização “geral”, pode-se ser subdividido em três grandes sentidos3.
3
Cf. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia, p. 136.
potencial de como poderá vir a ser a coisa; eficiente, a “força” de orientação, o “vigor” de
inserção da forma; final, o objetivo fixado pela “intenção” do agente.
4 “Demais. - Na distinção das potências, dos hábitos e dos atos, quanto aos seus objetos, considera-se
principalmente a razão formal destes, como do sobredito se colhe. Logo, diversos hábitos não se diversificam
pelo objeto material, mas pela razão formal deste. Ora, o princípio da demonstração é a razão de se conhecerem
as conclusões. Logo, o intelecto dos princípios não deve ser considerado como um hábito ou virtude diferentes
da ciência das conclusões.” SANTO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, Ia IIae parte, Q. 57, Art. 2.
5
“RESPOSTA À SEGUNDA. - Quando o objeto, por natureza se refere por um só ato, a uma potência
ou a um hábito, não se distinguem então os hábitos ou as potências pela razão do objeto e pelo objeto material;
assim, à mesma potência visiva pertence ver a cor e a luz, que é a razão de vermos a cor, e é vista
simultaneamente com esta. Ora, os princípios da demonstração podem ser considerados separadamente, sem
considerarmos as conclusões. Também podem considerar-se simultaneamente com estas, enquanto são
conducentes a elas. Ora, considerar os princípios, deste segundo modo, é próprio da ciência, que considera
também as conclusões. Considerar porém os princípios, em si mesmos, é próprio do intelecto. Por onde, quem
refletir retamente verá que essas três virtudes não se distinguem, por igual, entre si, mas numa certa ordem. Pois,
assim como num todo potencial, uma parte é mais perfeita que outra, como, p. ex., a alma racional o é mais que a
sensível e esta, que a vegetativa; assim também a ciência depende do intelecto como do principal; e ambos, da
sapiência, como do principalissímo, e compreende em si o intelecto e a ciência, pois julga das conclusões das
ciências e dos princípios das mesmas.” (destaques nossos), Idem.
6
SANTOS, Mário Ferreira dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais, p. 13.
abstração criam-se “regras gerais” obtidas da observação das coisas, firmando-se “norma” de
existência “esperada”, “provável” quanto ao que virá-a-ser. Importante notar que a abstração
“propõe” a exclusão das qualidades de diversos objetos, alcançando o que “os torna
observados”, o que lhes é próprio, imutável (sua substância). Abstração não pode ser
confundida com “análise científica”.
7
“[A abstração] não deve ser confundida com a análise (vide). Esta considera igualmente todos os
elementos da representação analisada, e divide em partes uma coisa composta; considera, insulanamente, uma
qualidade comum a uma multidão de compostos. Assim reconhecer a brancura de uma rosa determinada é fazer
análise; conceber a brancura em si-mesma, como qualidade peculiar a um grande número de objetos, é proceder
abstração. A abstração é, portanto, a base da formação das ideias gerais. (…) Assim, toda idéia geral é abstrata,
porque não contém os característicos dos sujeitos, objetos que representa. Muitos consideram que uma idéia
abstrata pode não ser geral. É o caso de considerar, apenas, a cor branca deste papel. É somente o branco deste
papel que consideramos abstratamente, fazendo abstração das outras qualidades.” Idem, p. 13.
8
“Essa acentuação da atenção sobre uma qualidade não é ainda uma abstração ou ato abstrativo, embora
a gere, porque se fixa no espírito, pela atenção que mantemos sobre algum objeto ou parte deste, e o
comparamos com outro semelhante. Esse ato atencional é um estatizar do que se dá dinamicamente. Não
podemos abstrair algo sem algo que se compare com outro, que lhe é semelhante. Se verificamos que tal fato
antecede tal outro - por exemplo, que ao esquentar a água, até certo ponto, ela entra em ebulição – podemos
verificar tal fato com maior ou menor atenção, desatendendo outros que sucedem ao derredor. E se verificamos
esse fato numerosas vezes, concluímos que a água, quando esquentada até certo ponto, entra em ebulição.
Podemos concluir que a ebulição é causada pelo calor intenso. E se ao verificar outros fatos, vemos se são
causados por outros, e ao comparar a relação existente desses fatos uns com os outros, concluímos que existe um
princípio de causa e efeito, e atribuímo-lo a toda a natureza, realizamos uma abstração, porque a ideia de causa e
efeito é uma abstração feita de um semelhante, que se dá numa série de fatos semelhantes.” Ibidem, p. 15.
científica”, com presunção de validade geral.9
A ciência, por este primeiro sentido, aborda a criação de “leis gerais” para compreensão
de fenômenos potenciais futuros assemelhados a fatos originantes, sem se reduzir a regras
gerais desconectadas da realidade. Evita-se, com isso, a redução da ciência à “pura abstração”,
até porque não faria sentido a ciência não se comprometer com elemento concreto, com o
“fato da vida”. Defender ciência por demonstração e por abstração sem referência à realidade
concreta significa criar “teses gerais” cuja credibilidade firma-se, na “confiabilidade”, na
opinião de autoridade.
9
Segundo Tomás de Aquino: “No conhecimento da verdade, nossa inteligência usa de uma dupla
abstração. Pela primeira, ela capta os números, as grandezas, as figuras matemáticas, sem pensar na matéria
sensível. Quando pensamos no número três, na linha ou na superfície, no triângulo ou no quadrado, nada
encontramos em nossa apreensão que se refira ao quente ou ao frio, ou a qualquer outra qualidade que possa ser
percebida pelos sentidos. A segunda abstração serve à nossa inteligência, quando ela conhece um termo
universal, sem ser representado qualquer termo particular, quando, por exemplo, pensamos em homem, sem
pensar em Sócrates ou em Platão, ou não importa em que outro indivíduo. Poder-se-ia mostrar a mesma coisa
através de outros exemplos” Ibidem, p. 16.
10
“c) Tendência a supervalorizar um aspecto da realidade, que é atualizado, enquanto se virtualizam
outros, que se dão na sua concreção, de modo a reduzir estes últimos ao primeiro. Neste sentido, preferimos o
termo abstratismo. São abstratistas o historicismo, o psicologismo, o ecologismo, o materialismo econômico
(economismo) e, em geral, todos os ismos.” Ibidem, p. 17.
11
“O surgimento da ciência moderna não pôs em crise esse ideal. De um lado, o necessitarismo dos
aristotélicos é compartilhado até por seus adversários; de outro, persiste a sugestão da matemática como ciência
perfeita pela sua organização demonstrativa.” ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia, p. 137.
pensamento de Descartes e de Bacon. Com posição de análise da realidade diametralmente
oposta ao do primeiro sentido, não mais presa por ciência da busca pelo permanente, pela
substância. Recrudescida pelo positivismo oitocentista, reduz-se à observação de fatos
particulares, distinguindo-os, por descrições, chegando a induções superáveis por novos
experimentos. Negou-se o estribo em princípios permanentes, assumidos como causas.
Firmou-se a “nova ciência”, na descrição repetida do que é “meramente descoberto”. Dá-se o
império do empirismo, a concepção da ciência, não como “compreensão de causas”, mas
como demonstração do caráter operacional da apresentação dos corpos.12
12
“A Ciência reduz-se, assim, à observação dos fatos e às inferências ou aos cálculos fundados nos fatos.
O positivismo oitocentista não fazia mais do que recorrer ao mesmo conceito de ciência. Dizia Comte: O caráter
fundamental da filosofia positiva é considerar todos os fenômenos como sujeitos a leis naturais invariáveis, cuja
descoberta precisa e cuja redução ao menor número possível constituem o objetivo de todos os nossos esforços,
ao mesmo tempo em que julgamos absolutamente inacessível e sem sentido a busca daquilo que se chama de
causas, tanto primeiras como finais”. Idem, p. 138.
13
“A valorização do especialismo surge da consciência, que se toma em primeiro lugar, do acervo
imenso de conhecimentos particulares e da impossibilidade que limita nossa vida e nosso conhecimento em
poder acompanhar tudo quanto é descoberto, achado, conquistado. Então, surge aos olhos de muitos, que é
preferível conhecer-se bem alguma coisa em particular do que mediocremente muitas em geral. O universalismo
ciência “experimental” dos especialistas, é só válida, se “autorizada” pelas “autoridades
políticas”, o que mostra a interferência do sistema político no científico.
A “mostração” do objeto se faz pela “presença” do sujeito, por sua “atenção”, fixando
artefatos da natureza, por perenidade de atualização de possibilidades formais, por
comportamentos não simplesmente previsíveis (ou absolutamente presumidos) em
mecanismos empíricos de análise quantitativa de dados. A ciência advém como dependente
do “risco”. A mudança comportamental dos fatos da natureza impede que se creia em
princípios científicos estanques, na posição de autoridade que, nada obstante defenderem
análise científica, ficam premidas pela virtualização de diversos aspectos do objeto,
privilegiando justo os que lhes convêm.
do conhecimento é combatido em favor do especialismo, e o especialista começa a surgir aos olhos dos menos
percatados como representante de um nível mais alto de cultura. Contudo, na verdade, não foram as mentes da
banausia que criaram algo de novo e de grande para a humanidade, mas precisamente aqueles que invadem
vários setores do conhecimento. Por isso, não é de admirar que a Humanidade deva mais aos autodidatas o seu
progresso intelectual que aos prisioneiros de uma escolaridade particularista. Ademais, os poderosos sabem que
o melhor meio de dominar é dividindo. E como desejam dominar uma totalidade, como poderiam dividi-la em
partes? O processo é simples: dividam-se os homens pelo conhecimento, de modo que nada em comum haja
mais entre um médico e um engenheiro, que não podem mais manter entre si uma conversação sobre temas
superiores, porque estão ambos distantes um do outro, e separados por um abismo de ignorância, pois o médico
orgulha-se de ser nesciente da engenharia e o engenheiro exibe o galardão da sua ignorância total da medicina.
Desse modo, estarão separados pelo espírito. Mas poderão estar unidos pelo poder coativo do Estado ou do
partido, ao qual servem como "soldados fiéis" ou "correligionários". Desse modo, os poderosos, dividindo,
melhor podem governar.” SANTOS, Mário Ferreira dos. Filosofia e História da Cultura, Vol. II, p. 39.
Precedentes científicos hão de se sujeitarem a fatos, a possibilidades de comportamento da
própria existência. Deve-se considerar a infinidade de valores, de expectativas, de
necessidades e de interpretações de vida e do mundo. A regra „constante‟ para a ciência é a da
sua mutabilidade, da incerteza e das expectativas.14
14
“É neste mundo (no mundo da vida) que nós nos encontramos, enquanto mundo de todas as realidades
conhecidas e desconhecidas. É neste mundo da intuição que efetivamente se faz experiência (comprova por
experiência) que pertence à forma espaço temporal, com todas as figuras corporais que se inscrevem nele, é nele
que nós mesmos vivemos, conforme nosso modo de ser, em toda carne de nossa pessoa.” HUSSERL, Edmund.
La crise des sciences européenes. P. 59, tradução livre.
15
“Em termos aparentemente paradoxais, mas equivalentes, K. Popper afirmara, em Lógica da descoberta
científica (1935), que o instrumental da C. não está voltado para a verificação, mas para a falsificação das
proposições científicas. 'Nosso método de pesquisa', dizia ele, 'não visa defender as nossas antecipações para
provar que temos razão, mas, ao contrário, visa destruí-las. Usando todas as armas do nosso arsenal lógico,
matemático e técnico, tentamos provar que nossas antecipações são falsas, para apresentar, no lugar delas, novas
antecipações não justificadas e injustificáveis, novos 'preconceitos apressados e prematuros' como escarnecia
Bacon' (The Logic of Scientific Discovery, ed., 1958, § 85, p. 279). Com isso, Popper pretendeu assinalar o
abandono do ideal clássico da C: O velho ideal científico da episteme, do conhecimento absolutamente certo e
dernonstrável, revelou-se um mito.” ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia, p. 139.
“provavelmente” efetivas, sem análise fenomenológica de seus efeitos “em face” do mundo
da vida, das expectativas das pessoas e da consciência e reconhecimento de riscos,
correspondam automaticamente a fundamento justificador de coações legais ou judiciais. É
por tal raciocínio que se põe em xeque o conceito de “evidências científicas”.
É preciso que outros sentidos de ciência, firmados pela teoria fenomenológica, tendo em
conta o probabilismo, o risco e a autocorrigibilidade sejam trazidos à baila, no instante da
consideração das “evidências científicas”, enquanto fundamento para medidas legais e
jurídicas de imposição de deveres ou assecuritárias de garantias.
A expertise individual nada mais seria do que o julgamento do médico, construído por
experiência casuística, ao longo dos anos, tendo em conta observações sobre diagnósticos,
identificação de variantes, preferências e direitos que deram azo para suas decisões clínicas.
16
“Evidence based medicine is the conscientious, explicit, and judicious use of current best evidence in
making decisions about the care of individual patients. The practice of evidence based medicine means
integrating individual clinical expertise with the best available external clinical evidence from systematic
research. By individual clinical expertise we mean the proficiency and judgment that individual clinicians
acquire through clinical experience and clinical practice. Increased expertise is reflected in many ways, but
especially in more effective and efficient diagnosis and in the more thoughtful identification and compassionate
use of individual patients' predicaments, rights, and preferences in making clinical decisions about their care. By
best available external clinical evidence we mean clinically relevant research, often from the basic sciences of
medicine, but especially from patient centred clinical research into the accuracy and precision of diagnostic tests
(including the clinical examination), the power of prognostic markers, and the efficacy and safety of therapeutic,
rehabilitative, and preventive regimens. External clinical evidence both invalidates previously accepted
diagnostic tests and treatments and replaces them with new ones that are more powerful, more accurate, more
efficacious, and safer.” SACKETT, David L. Evidence based medicine: what it is and what it isn't, BMJ, Vol.
312, P. 71.
17
“Good doctors use both individual clinical expertise and the best available external evidence, and
neither alone is enough. Without clinical expertise, practice risks becoming tyrannized by evidence, for even
excellent external evidence may be inapplicable to or inappropriate for an individual patient.” Idem.
18
“The argument that 'everyone already is doing it' falls before evidence of striking variations in both the
integration of patient values into our clinical behaviour7 and in the rates with which clinicians provide
interventions to their patients.” Ibidem.
conforme as circunstâncias vividas.19
19
“External clinical evidence can inform, but can never replace, individual clinical expertise, and it is this
expertise that decides whether the external evidence applies to the individual patient at all and, if so, how it
should be integrated into a clinical decision.” Ibidem.
20
“Evidence based medicine is not restricted to randomized trials and meta-analyses. It involves tracking
down the best external evidence with which to answer our clinical questions. To find out about the accuracy of a
diagnostic test, we need to find proper cross sectional studies of patients clinically”. Ibidem.
21
Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3124652/. Acessado em 04/07/2021.
inesperados ou adversos.
Em paralelo, traz a proposta de Sackett, adaptada de seu artigo “Rules of evidence and
clinical recommendations on the use of antithrombotic agentes”. Por tal alvitre, o primeiro
nível de evidência abrangeria informações obtidas de amplos estudos randomizados, com
resultados claros; o segundo, de estudos menos amplos com resultados não claros; o terceiro,
de estudos sobre “coortes em experiências, separando casos controlados”; o quarto, de análise
histórica sobre estudos controlados de casos; o quinto, de constatação de série de casos
(clínicos) e de estudos sem controle.23
Nada obstante a indicação de outras tabelas, o texto clareia ser preciso convivência da
prática médica e da análise científica de casos para aplicação de opções de tratamento, de
criação de políticas públicas e de imposições judiciais, tendo em conta o “grau de incerteza”
que sempre existe em qualquer espécie de opção científica.
22
BURNS Patricia B. ROHRICH Rod J. CHUNG Kevin C. The Levels of Evidence and their role in
Evidence-Based Medicine. US National Library of Medicine – National Institutes of Health.
23
SACKETT DL. Rules of evidence and clinical recommendations on the use of antithrombotic agents.
Chest 1989; 95:2S–4S.
24
Cf. Centre for Evidence-Based Medicine. Disponível em http://www.cebm.net. Acessado em
04/07/2021.
Justo por isso, nem sempre o nível “1” de evidência é a solução mais apropriada para
certa questão, tendo em conta a variação de resultados na utilização de fármacos e de
tratamentos versáteis por práticas médicas aplicáveis em casos concretos. São comuns erros
por estimação do poder de resultados da randomização, atrelados à fronteira do ambiente
elegido, de modo que relatórios de nível elevado podem ser pouco efetivos, em face da
diferença entre grupos.25
Não à toa, no Código de Ética Médica, no inciso VII do Capítulo I, elenca-se como
princípio fundamental, a autonomia do médico para “analisar” um caso, optando, conforme
sua experiência clínica, por posições científicas que lhe pareçam mais apropriadas,
especialmente em situação de urgência, as quais são cridas por si como possivelmente
suficientes (enquanto alternativas), em respeito à sua consciência.26
Nada obstante o referido tratamento constar com inúmeras drogas, “casos famigerados”
foram o da “ivermectina” - medicamento confeccionado para combate de parasitas
nematoides (Strongyloides stercoralis e Onchocerca volvulus), mas com efeitos antivirais
efetivos contra o COVID-19; o da “hidroxicloroquina” – fármaco para tratamento de
25
“This allows the reader to know the level of evidence of the research but the designated level of
evidence does always guarantee the quality of the research. It is important that readers not assume that level 1
evidence is always the best choice or appropriate for the research question (…). Although RCTs are the often
assigned the highest level of evidence, not all RCTs are conducted properly and the results should be carefully
scrutinized. Sackett stressed the importance of estimating types of errors and the power of studies when
interpreting results from RCTs. For example, a poorly conducted RCT may report a negative result due to low
power when in fact a real difference exists between treatment groups”. Centre for Evidence-Based Medicine.
Disponível em http://www.cebm.net. Acessado em 04/07/2021.
26
Capítulo I. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS. VII – O médico exercerá sua profissão com autonomia,
não sendo obrigado a prestar serviços que contrariem os ditames de sua consciência ou a quem não deseje,
excetuadas as situações de ausência de outro médico, em caso de urgência ou emergência, ou quando sua recusa
possa trazer danos à saúde do paciente.
afecções reumáticas e dermatológicas, artrite reumatoide, lúpus e malária por Plasmodium
Vivax, mas que, por diversos estudos, em dose escorreita, vinha mostrando-se benéfico para
tratamento inicial da maleita originada na China.
27
“For the 24 states of Peru with early IVM treatment, both excess deaths and COVID-19 case fatalities
dropped sharply over 30-45 days after peak deaths. Deaths fell as six indices of Google-tracked community
mobility rose over the same period. For nine states in which IVM was distributed over a short period through
operation MOT, excess deaths at +30 days dropped by a population weighted mean of 74%. Each drop began
within 11 day after MOT start. Several potential incidental causes of mortality reductions were ruled out. The
appropriate clinical follow-up to IVM treatments for COVID-19 in the 25 states of Peru, with a combined total
population of 33 million, is additional such national deployments, interim and complementary to full-scale
vaccine deployments. As noted, the exceptional record of this Nobel Prizehonored drug in 3.7 billion doses
worldwide since 1987 provides a backdrop of safety. IVM treatments offered early for symptomatic indications
of COVID-19 can fill in the gaps of vaccination protection, providing major mortality reductions for individuals
pending development of vaccine-generate antibodies. IVM is also likely to be effective against viral mutants, in
particular, the South African variant, that may receive a lesser degree of protection with current vaccines. Yet
with aggressive such complementary deployments of vaccinations and IVM, the risk of continued contagion
through complacency among individuals spurred by diminished mortality rates must be avoided. Public policies
of widespread, rapid testing, contact tracing and face coverings can ensure that both of these therapeutic tools,
vaccinations and IVM treatments, are optimally applied toward the complete elimination of the COVID-19
pandemic.” CHAMIE-QUINTERO Juan J. HIBBERD, Jennifer A., e SCHEIM David. Sharp reductions in
COVID-19 case fatalities and excess deaths in Peru in close time conjunction, state-by-state, with ivermectin
treatments. WORLD HEALTH ORGANIZATION – Global Literature on coronavirus disease.
28
https://journals.lww.com/americantherapeutics/abstract/9000/ivermectin_for_prevention_and_treatment_of.980
40.aspx. Acessado em 04/07/2021.
29
“There is also evidence emerging from countries where ivermectin has been implemented. For
example, Peru had a very high death toll from COVID-19 early on in the pandemic.128 Based on observational
evidence, the Peruvian government approved ivermectin for use against COVID-19 in May 2020.128 After
implementation, death rates in 8 states were reduced between 64% and 91% over a two-month period. Another
analysis of Peruvian data from 24 states with early ivermectin deployment has reported a drop in excess deaths
of 59% at 30+ days and of 75% at 45+ days. However, factors such as change in behavior, social distancing, and
face-mask use could have played a role in this reduction.” BRYANT Andrew, MSc. Ivermectin for Prevention
and Treatment of COVID-19 Infection: A Systematic Review, Meta-analysis, and Trial Sequential Analysis to
Inform Clinical Guidelines American Journal of Therapeutics.
Estribado em meta-análise (análise estatística de resultados de diferentes estudos
individuais), essa pesquisa ainda exalta a eficácia da ivermectina, por experiência de países
da América do Sul, de estados da Índia e, mais recentemente, da Eslováquia. Neles, viu-se
resultado positivo com minoração de mortalidade em 62%. O baixo custo da droga somado à
utilização de corticoides, em casos inflamatórios mais graves, conforme a conclusão
confirma-se como um instrumento público eficaz de combate à Pandemia COVID-19.30
Minoração robusta de morte por COVID-19 em 97% foi registrada em Deli, na Índia,
relacionada ao tratamento precoce e, mais especificamente, ao uso da ivermectina, conforme
notícia divulgada no “The Desert Review”: “Ivermectin obliterates 97 percent of Delhi
cases”, de 1 de junho de 202131, com base em relatos e pesquisas de Justos R. Hope, autor do
livro “Ivermectin for the World”.32
30
“There are numerous emerging ongoing clinical trials assessing ivermectin for COVID-19. The trade-
off with policy and potential implementation based on evidence synthesis reviews and/or RCTs will vary
considerably from country to country. Certain South American countries, Indian states, and, more recently,
Slovakia and other countries in Europe have implemented its use for COVID-19. A recent survey of global
trends documents usage worldwide. Despite ivermectin being a low-cost medication in many countries globally,
the apparent shortage of economic evaluations indicates that economic evidence on ivermectin for treatment and
prophylaxis of SARS-CoV-2 is currently lacking (…) Given the evidence of efficacy, safety, low cost, and
current death rates, ivermectin is likely to have an impact on health and economic outcomes of the pandemic
across many countries. Ivermectin is not a new and experimental drug with an unknown safety profile. It is a
WHO “Essential Medicine” already used in several different indications, in colossal cumulative volumes.
Corticosteroids have become an accepted standard of care in COVID-19, based on a single RCT of
dexamethasone. If a single RCT is sufficient for the adoption of dexamethasone, then a fortiori the evidence of 2
dozen RCTs supports the adoption of ivermectin. Ivermectin is likely to be an equitable, acceptable, and feasible
global intervention against COVID-19. Health professionals should strongly consider its use, in both treatment
and prophylaxis”. Idem.
31
Disponível em https://www.thedesertreview.com/news/national/ivermectin-obliterates-97-percent-of-
delhi-cases/article_6a3be6b2-c31f-11eb-836d-2722d2325a08.html. Acessado em 5/7/2021.
32
Disponível em “amazon.com: Ivermectin for the World eBook: Hope, Justus, R: Kindle Store”.
Acessado em 5/7/2021.
33
“Ivermectin is an antiparasitic drug being investigated for repurposing against SARS-CoV-2.
Ivermectin showed in-vitro activity against SARS-COV-2 at high concentrations. This meta-analysis
investigated ivermectin in 24 randomized clinical trials (3328 patients) identified through systematic searches of
PUBMED, EMBASE, MedRxiv and trial registries. Ivermectin was associated with reduced inflammatory
markers (C-Reactive Protein, d-dimer and ferritin) and faster viral clearance by PCR. Viral clearance was
treatment dose- and duration-dependent. In 11 randomized trials of moderate/severe infection, there was a 56%
reduction in mortality (Relative Risk 0.44 [95%CI 0.25-0.77]; p=0.004; 35/1064 (3%) deaths on ivermectin;
93/1063 (9%) deaths in controls) with favorable clinical recovery and reduced hospitalization. Many studies
included were not peer reviewed and a wide range of doses were evaluated. Currently, WHO recommends the
use of ivermectin only inside clinical trials. A network of large clinical trials is in progress to validate the results
Não se pode deixar de lado experiência nacional do uso da ivermectina e do tratamento
precoce. Na cidade de Porto Feliz, fora criada “unidade sentinela”, com envio de casos
suspeitos. Após exames confirmatórios, seguiu-se protocolo, contando com tratamento inicial
composto por diversos medicamentos, incluindo a ivermectina. Somou-se a isso a distribuição
profilática de ivermectina para 4.500 pacientes e o uso por profissionais de saúde. O resultado
foi uma das menores taxas de mortalidade do país.34
seen to date”. HILL, Andrew et al. Meta-analysis of randomized trials of ivermectin to treat SARS-CoV-2
infection.
34
Cf. Front Line COVID-19 Critical Care Alliance. Disponível em
https://covid19criticalcare.com/pt/ivermectina-em-covid-19/an%C3%A1lises-epidemiol%C3%B3gicas-em-
covid19-e-ivermectina/. Acessado em 05/07/2021.
35
Disponível em https://www.acpjournals.org/doi/full/10.7326/M20-6817?s=09&journalCode=aim.
Acessado em 04/07/2021.
36
“The potential benefits of a community-wide recommendation to wear masks include combined
prevention and source control for symptomatic and asymptomatic persons, improved attention, and reduced
potential stigmatization of persons wearing masks to prevent infection of others (17). Although masks may also
Doutra ponta, no artigo “The role of community-wide wearing of face mask for control
of coronavirus disease 2019 (COVID-19) epidemic due to SARS-CoV-2”,37 a conclusão dos
estudiosos chegou a uma solução contrária, com forte defesa da alta efetividade do uso de
máscaras (de qualquer espécie), diante de comparação de Hong Kong com outras
comunidades no entorno.38
have served as source control in SARS-CoV-2–infected participants, the study was not designed to determine the
effectiveness of source control. (…) Reduction in release of virus from infected persons into the environment
may be the mechanism for mitigation of transmission in communities where mask use is common or mandated,
as noted in observational studies. Thus, these findings do not provide data on the effectiveness of widespread
mask wearing in the community in reducing SARS-CoV-2 infections. They do, however, offer evidence about
the degree of protection mask wearers can anticipate in a setting where others are not wearing masks and where
other public health measures, including social distancing, are in effect. The findings also suggest that persons
should not abandon other COVID-19 safety measures regardless of the use of masks. While we await additional
data to inform mask recommendations, communities must balance the seriousness of COVID-19, uncertainty
about the degree of source control and protective effect, and the absence of data suggesting serious adverse
effects of masks”. BUNDGAARD Henning, DMSc et al. Sharp reductions in COVID-19 case fatalities and
excess deaths in Peru in close time conjunction, state-by-state, with ivermectin treatments.
37
Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32335167/. Acessado em 04/07/2021.
38
“Conclusion: Community-wide mask wearing may contribute to the control of COVID-19 by reducing
the amount of emission of infected saliva and respiratory droplets from individuals with subclinical or mild
COVID-19.” CHENG Vincent Chi-Chung et al. The role of community-wide wearing of face mask for control of
coronavirus disease 2019 (COVID-19) epidemic due to SARS-CoV-2.
39
“During the analysis period, the VAERS received and processed 221 reports involving Covid-19
vaccination among pregnant persons; 155 (70.1%) involved nonpregnancy-specific adverse events, and 66
(29.9%) involved pregnancy- or neonatal-specific adverse events (Table S4). The most frequently reported
pregnancy-related adverse events were spontaneous abortion (46 cases; 37 in the first trimester, 2 in the second
Outro artigo intitulado “Necessity of COVID-19 vaccination in previously infected
individuals”, um pré-print do MedRxiv – BMJ Yale – site de distribuição de artigos em vias
de publicação em revistas e jornais científicos internacionais – da labuta de médico-
pesquisador do Departamento de Doenças Infecciosas, Prevenção de Infecção, Ciências
Quantitativas de Saúde e Saúde Ocupacional de Cleveland, Ohio, sustenta a falta de
evidências sobre a eficácia da vacinação contra COVID-19, em pessoas que já tiveram a
doença.40
Do mesmo site técnico acima citado, no artigo “Effectiveness of the CoronaVac vaccine
in the elderly population during a P.1 variant-associated epidemic of COVID-19 in Brazil: A
test-negative case-control study”, de estudiosos integrantes da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul entre outros, demonstrou-se a redução da efetividade da vacina Coronavac, na
medida em que é aplicada em grupos mais longevos. Insta curiosamente citar que as
“inicialmente priorizadas” foram pessoas mais velhas.41
trimester, and 7 in which the trimester was unknown or not reported), followed by stillbirth, premature rupture of
membranes, and vaginal bleeding, with 3 reports for each. No congenital anomalies were reported to the
VAERS, a requirement under the EUAs. (…) In addition to vaccination protecting women against Covid-19 and
its complications during pregnancy, emerging evidence has shown transplacental transfer of severe acute
respiratory syndrome coronavirus 2 (SARS-CoV-2) antibodies after maternal Covid-19 vaccination during the
third trimester, which suggests that maternal vaccination might provide some level of protection to the
neonate.29-32 However, we do not have data on antibody transfer and level of protection relative to the timing
of vaccination. The CDC and the FDA are continuing to monitor and disseminate information about the safety of
mRNA and additional types of Covid-19 vaccines in pregnant persons.” SHIMABUKURO, Tom T., M.D et al.
Preliminary Findings of mRNA Covid-19 Vaccine Safety in Pregnant Persons. Preliminary Findings of mRNA
Covid-19 Vaccine Safety in Pregnant Persons, NEJM.
40
“It is reasonable to expect that immunity acquired by natural infection provides effective protection
against future infection with SARS-CoV-2. Observational studies have indeed found very low rates of
reinfection over the following months among survivors of COVID-19 [6–8]. Reports of true reinfections are
extremely rare in the absence of emergence of new variants. When such reinfections occur, it would be purely
speculative to suggest that a vaccine might have prevented them. Duration of protective immunity from natural
infection is not known. However, the same also can be said about duration of protective immunity from
vaccination. Uncertainty about the duration of protective immunity afforded by natural infection is not by itself a
valid argument for vaccinating previously infected individuals. This study provides direct evidence that
vaccination with the best available vaccines does not provide additional protection in previously infected
individuals.” NABIN K. Shrestha et al. Necessity of COVID-19 vaccination in previously infected individuals.
41
Cf. Effectiveness of the CoronaVac vaccine in the elderly population during a P.1 variant-associated
epidemic of COVID-19 in Brazil: A test-negative case-control study. RANZANI Otavio T. et al. Disponível em:
Effectiveness of the CoronaVac vaccine in the elderly population during a P.1 variant-associated epidemic of
COVID-19 in Brazil: A test-negative case-control study (medrxiv.org). Acessado em 07/07/2021.
integram patamar de prevalência substancial de incerteza científica. Pensar diferente é atribuir
a uma opinião científica o status de poder de império, indelével arbitrarismo.
No que toca à vacinação e ao uso de máscaras, tais práticas foram consideradas deveres
de todo cidadão e passíveis de serem consideradas pré-requisitos para exercer direitos.
Optaram o Poder Executivo, Legislativo, Judiciário e a Comunidade Médica em geral, com
auxílio da mídia, em considerá-los fundados em “imperatividade”, com possível aplicação de
sanções, em caso de descumprimento, pré-julgando-os em irrefutáveis evidências científicas,
ainda que claramente constituam temas postos em xeque em diversos estudos.
Assemelhado tratamento, no entanto, não foi dado para o uso off label dos
medicamentos componentes do dito “tratamento precoce”, eis que exatamente como a
efetividade e os efeitos das vacinas e o uso de máscaras também não possui justificativa
sustentada por evidências científicas de grau máximo, mas, diferente delas, foi politicamente
“rotulado” como deliberado equívoco e prática viciada, passível de potencial condenação.
O que se vê, por isso, é férrea oposição política à medicina baseada em evidências,
pondo de lado a potencial eficácia dos medicamentos, sob a labuta da ausência de
comprovação científica, desconsiderando a expertise técnica, o histórico clínico do médico,
estudos presentes em pré-prints e publicados em revistas científicas, revisados por pares,
alcançando graus relevantes na escala de evidências.
42
“Com base nos conhecimentos existentes relativos ao tratamento de pacientes portadores de COVID-19
com cloroquina e hidroxicloroquina, o Conselho Federal de Medicina propõe: a) Considerar o uso em
pacientes com sintomas leves no início do quadro clínico, em que tenham sido descartadas outras viroses (como
influenza, H1N1, dengue), e que tenham confirmado o diagnóstico de COVID-19, a critério do médico
assistente, em decisão compartilhada com o paciente, sendo ele obrigado a relatar ao doente que não existe até o
momento nenhum trabalho que comprove o benefício do uso da droga para o tratamento da COVID-19,
explicando os efeitos colaterais possíveis, obtendo o consentimento livre e esclarecido do paciente ou dos
familiares, quando for o caso; (…) d) O princípio que deve obrigatoriamente nortear o tratamento do paciente
portador da COVID-19 deve se basear na autonomia do médico e na valorização da relação médico-paciente,
sendo esta a mais próxima possível, com o objetivo de oferecer ao doente o melhor tratamento médico
disponível no momento; e) Diante da excepcionalidade da situação e durante o período declarado da pandemia,
não cometerá infração ética o médico que utilizar a cloroquina ou hidroxicloroquina, nos termos acima expostos,
médica possui reflexos de ordem pública, eis que a eficácia gera minoração de mortes,
afetando o interesse difuso.
Na nota, além das inúmeras referências técnicas sobre grau de certeza quanto à eficácia
do tratamento precoce, indica o Ministério Público de Goiás que o combate “integral” da
doença: por vacinação efetiva, por medidas profiláticas, por tratamento inicial e precoce são
medidas de conjunto complexo de estratégia de defesa da saúde, função primaz do
Administrador Público.43
46 Inteiro teor e justificativa do autor do projeto, que cita Ludwig von Mises, está disponível em
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2266196. Acesso em 17/07/21.
47 STF, ADI 6586, Relator(a): Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, julgado em 17/12/2020, Processo
Eletrônico, Dje-063, DIVULG 06-04-2021, PUBLIC 07-04-2021.
48 HONESKO, Raquel Schlommer. Discussão histórico-jurídica sobre as gerações de direitos
fundamentais: a paz como direito fundamental de quinta geração. In FACHIN, Zulmar (coord.). Direitos
Fundamentais e Cidadania. São Paulo: Método, 2008. p. 190.
daí o seu caráter inviolável, intemporal e universal”49. São intrínsecos, inseparáveis do ser,
não passíveis de serem vilipendiados pelo Estado. Respeitar a autonomia da vontade, diante
de imunizantes, ainda em fase de estudos, é salvaguardar a dignidade humana, o que mostra
medidas indiretas e restritivas como insuportáveis ofensas a direitos humanos.
Consequência axiológica dessa obrigação é a criação de “cidadania de vacinados”,
concedida aos que, mesmo não coagidos fisicamente à vacinação forçada, restaram premidos
pelas restrições a liberdades civis, isto é, limitação de acessos e de exercício prático de
direitos. Eis, aqui, a coação moral atentatória à autonomia de escolha, consistindo na
extrapolação dos limites impostos ao Estado sobre a liberdade individual.
O Estado empurra a vacinação desenfreada em massa, podendo firmar ao “não
vacinado” condição análoga a um pária, impuro excluído do convívio social, daí cediço que
os movimentos legislativos do Senado Federal e decisão do Supremo estão em desalinho com
a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos que garante os “interesses e o
bem-estar do indivíduo como prioridade sobre o interesse exclusivo da ciência ou da
sociedade” (art. 3º).
O Código de Nuremberg, de 1947, que julgou vinte e três pessoas, vinte das quais,
consideradas criminosas de guerra, pelos brutais experimentos realizados em seres humanos,
conceituou o consentimento voluntário como absolutamente essencial, sendo que “essas
pessoas devem exercer o livre direito de escolha, sem qualquer intervenção de elementos de
força, fraude, mentira, coação, astúcia ou outra forma de restrição posterior”.50 No
enfrentamento da PANDEMIA, pelo decidido pelo STF, não se percebe o consentimento
informado. Vigora a imposição estatal, por coação moral – medidas restritivas indiretas
autorizadas aos gestores públicos.
Autonomia negligenciada é a prerrogativa que o indivíduo tem para decidir o que
entende melhor para si, diante de quadro de incertezas científicas em torno da COVID-19, da
segurança e eficácia das vacinas, faltando-lhe a opção em ser vacinado ou no uso de fármacos
que compõem o coquetel de tratamento imediato.
Recomendações válidas para qualquer enfermidade apontam que o tratamento inicial
alcança resultados minimizadores de sequelas, por isso conduta equivocada, em se tratado da
COVID-19, é aguardar a evolução máxima dos sintomas para, somente depois, procurar
auxílio médico.
49 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e teoria da Constituição. 3. ed. Coimbra:
Almedina, 1998. p. 359.
O cenário é teratológico: não há medicamentos aprovados, com indicação expressa em
bula para tratamento da COVID-19, o Remdesivir é único fármaco autorizado para uso
hospitalar, de aplicação intravenosa, recomendado a internados com pneumonia51 e os demais
medicamentos compõem o dito tratamento precoce, receitado (e rejeitado) por inúmeros
médicos brasileiros, de uso off label. A título de exemplo, nesse grupo, destacam-se
Nitazoxanida, Fluvoxamina, Budesonida inalatória, Corticoide, Colchicina, Azitromicina,
Ivermectina, Hidroxicloroquina, além de substâncias de reforço ao sistema imunológico,
como Zinco e Vitamina D.
A ausência de indicação expressa em bula não impede que médicos optem por uso
reposicionado de medicamentos, conforme estabelecem preceitos da ética médica, no
escorreito cumprimento do Juramento de Hipócrates: “Aplicar os tratamentos para ajudar os
doentes conforme minha habilidade e minha capacidade, e jamais usá-los para causar dano ou
malefício.”52 Eis a autonomia e a liberdade profissional, no exercício da medicina, liberdade
garantida por “duas vias”, pois o paciente pode voluntariamente sujeitar-se ou não ao
tratamento, conforme estabelece o Código de Ética Médica (Resolução CFM nº 1.931/09).
Por isso o tratamento off label é indispensável ferramenta de política pública, pois
pautado pela ética, pela autonomia médica, na busca do melhor tratamento com drogas
disponíveis, respeita a liberdade de escolha do paciente, a autonomia do médico e a medicina
baseada em evidências.
No Sistema Público de Saúde, influído por interesses ideológicos baixos, médicos são
coibidos – direta e indiretamente – de receitar o tratamento inicial. Pacientes do SUS ficam a
mercê dos Gestores Públicos, ausentes medicamentos disponíveis, com alegação de “falta de
eficácia” ou de “comprovação científica”. A situação chega ao ápice, com penalidades
impostas a quem opte por inserir, em seu sistema, as drogas citadas, como ocorreu no
Município de Paranaguá, em que agentes públicos foram condenados ao pagamento de multa,
pelo Tribunal de Contas do Estado do Paraná, no Processo nº 480.881/20, de Tomada de
Contas Extraordinária (Acórdão nº 338/21), em razão da aquisição do fármaco ivermectina
para o combate à COVID-19. A justificativa da pena foi literal: “em razão da ausência de
comprovação da eficácia da medida adotada e, consequentemente, da ilegitimidade da
51 https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-03/anvisa-esclarece-divergencia-com-oms-sobre-
uso-do-rendesivir. Acessado em 09/07/2021.
52 REZENDE, Joffe Marcondes de. À sombra do plátano: crônicas de história da medicina [online]. São
Paulo: Editora Unifesp, 2009. O juramento de Hipócrates. pp. 31-48.
despesa”.53 No entanto, diante do avanço das pesquisas científicas, como citado em item
anterior, a ivermectina, plenamente eficaz no tratamento do novo Coronavírus, é fato que o
TCE/PR se posicionou por narrativas, não observou dever de cautela no trato de questões
sensíveis e no interesse difuso e coletivo.
O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Tema 500 de Repercussão Geral (RE
657.718), firmou a tese de que, como regra geral, o Estado não pode ser condenado, por
decisão judicial, a fornecer medicamentos sem registro na ANVISA, portanto experimentais.
A decisão não pode ser aplicável, quando a omissão é na aquisição e no fornecimento de
medicamento “com registro” e para uso off label. Há decisões posteriores do STF aquiescendo
à possibilidade de tratamentos off label pelo SUS, não se enquadrando na tese do Tema 500
(RE 1.308.073, Relatora: Min. Cármen Lúcia, Julg. 05/03/2021; RE 1.282.257, Relator: Min.
Edson Fachin, Julg. 16/10/2020).
Em recentes decisões de casos envolvendo especificamente o fornecimento de
fármacos, mediante receita médica, a pacientes infectados pelo COVID-19, o STJ, no AgInt
no CC 172.061 e no no AgInt no CC 172.502, esclareceu ser o fornecimento de
medicamentos registrados na ANVISA, e não indicados para o tratamento de pacientes
infectados pelo COVID-19, o que caracteriza a pretensão de uso off label do fármaco.
Confirmou que o STF, no julgamento do RE 657.718 (Tema 500 de Repercussão Geral), só se
refere a medicamentos sem registro na ANVISA. Pela leitura dos julgados, resta evidente a
permissibilidade do fornecimento pelo SUS de todos os medicamentos reposicionais para o
tratamento da COVID-19, registrados na ANVISA, devidamente receitados por médico.
Importante inovação de lege ferenda é o Projeto de Lei nº 1.613/21, em trâmite na
Câmara dos Deputados, com regime de urgência. O texto visa alterar a Lei nº 8.080/90 para
expressamente permitir o uso de medicamentos reposicionados (off label), quando
devidamente registrados na ANVISA, “uma vez que não há interesse dos fabricantes em
promover novos testes e modificar as bulas atuais, como preconizam as exigências
54
regulatórias vigentes” . Destaca-se que a norma ampara medicamentos sem patente, como
a ivermectina e a hidroxicloroquina.
Diante de todo o quadro de incertezas que cerca “o tema COVID-19”, o único ponto que
já deveria estar pacificado é o da defesa dos direitos humanos e fundamentais, especialmente
53 Disponível em
http://servicos.tce.pr.gov.br/servicos/srv_consultaprocesso.aspx?processoMaster=48088120
54 Cf. Parecer de Plenário pelas Comissões de Seguridade Social e Família e de Constituição Justiça e de
Cidadania ao Projeto de Lei nº 1.613, de 2021.
a vida, a saúde e a liberdade individual. A contaminação política da saúde pública e do Direito
Sanitário eclode em incertezas e em insegurança social.
Conclusão.
Referências Bibliográficas.