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M.T: Mas nem o Estado de São Paulo tem uma rede de ambulatórios de saúde mental?
Mirsa Dellosi, da Secretaria da Saúde, em entrevista dada a esta revista, em dezembro de 2003,
disse que essa rede existe.
V.G.F.: Com exceção dos hospitais universitários e de servidores, a rede de ambulatórios
estaduais está sendo fechada ou já fechou, pois o Sistema Único de Saúde manda municipalizar —
mas o município não tem recursos para montar a rede alternativa para saúde mental ou mesmo ter
um psiquiatra. Para alguns, os problemas psiquiátricos podem ser atendidos em cuidados primários,
como se um generalista pudesse diagnosticar e tratar os transtornos mentais de crianças a idosos.
Não é verdade. Talvez clínicos bem treinados possam dar conta das depressões. Quem olha os
dados da OMS, recentemente publicados (J.A.M.A., junho de 2004) vê que, mesmo nos países mais
desenvolvidos, de 35 a 50% dos casos mais graves de transtornos mentais comuns não recebem
atendimento num período de 12 meses. Nos países menos desenvolvidos isso chega a mais de 85%.
No modelo brasileiro não se faz boa prevenção secundária conseqüentemente, os casos se agravam.
Alguns mentores da nossa reforma propõem que o Pronto-Socorro seja uma porta de entrada. Ora,
Pronto-Socorro é indício de falência do sistema: só se vai ao Pronto-Socorro com problema
psiquiátrico porque ele se agravou a tal ponto que a família não pode mais cuidar. O caso ocupará o
espaço e o tempo de alguém que deveria estar atendendo um infarto ou um acidente que são
imprevisíveis. Pronto-Socorro não é para tratar depressão não tem cabimento. Depressão você
detecta precocemente, intervém, aborta e pronto.
M.T.: Mas o que se vê no hospital público com deprimidos não pode ser descrito dessa
maneira: ‘‘intervém, aborta e pronto ‘‘. A clínica mostra que os deprimidos, medicados ou não,
são muito renitentes...
V.G.F.: Se você detecta precocemente um quadro depressivo, sua chance de livrar a pessoa
dessa depressão imediatamente é muito alta. A maior parte das depressões médicas — não
existenciais, médicas -, principalmente aquelas conhecidas há séculos, endógenas, são depressões
com começo, meio e fim. A maior parte desses quadros entra em remissão. Outra coisa é a
depressão neurótica, de baixa intensidade aí talvez a eficácia seja menor.
M.T.: Entre esses deprimidos, o senhor não reconhece um componente que não é
biológico?
V.G.F.: Chamo de depressão não os sintomas, mas a síndrome. Se não houver um
componente biológico, a síndrome não se instala. Sua causa é multifatorial, mas a vulnerabilidade
biológica é fundamental. Estou falando do quadro clínico definido medicamente como depressão.
Não estou falando de depressão em senso amplo.
M.T.: Na rua.
V.G.E.: Não só. Basta conversar com quem trabalha com a população carcerária para saber
que há muitos nas cadeias e prisões. As pessoas foram alertadas que não deveriam fazer isso.
M.T.: Qual?
V.G.F.: Cidade de São Paulo: 10.394 moradores de rua, na parte do município que foi
estudada, de acordo com o recenseamento da Fipe (10/2003), segundo a Secretaria Municipal de
Assistência Social. Se apenas 1000 dessa população tiver esquizofrenia — como em Juiz de Fora,
conforme a tese de doutorado de Uriel Heckert, publicada em 1999 —, então são mais de mil
esquizofrênicos nas ruas da Capital de São Paulo. Adianta colocá-los num hotelzinho da Estação da
Luz? Adianta tratar como se fosse um problema de habitação? Não adianta: essas pessoas estão
doentes. Em termos de ortopedia, isso equivaleria à fratura exposta. Então, temos mais de mil
pessoas com fratura exposta nas ruas de São Paulo: qual é o programa que acolhe a demanda dessas
pessoas?
M.T.: Do quê?
V.G.F.: Do físico. Pode-se trabalhar com o dualismo, se você pensar em alma. Dualismo
interacionista, por exemplo. Mas não se pode trabalhar com o dualismo se você pensar em psíquico
e biológico – não consigo pensar em nada que não seja biológico que tenha psique; não consigo
imaginar psique sem biologia; nem imaginar a psique dos metais ou dos minerais. Não sou
animista. Tento não ser dualista na clínica. Imagino que pessoas em coma possam até ter alguma
vida psicológica; mas os mortos não. Não acredito em algo psicológico que tenha a ver com vidas
passadas. Temos evidências muito seguras do papel da genética, de alterações na fisiologia
corporal, até de alterações micro-anatômicas no cérebro de portadores das principais doenças
mentais. Não há como considerá-lás psicogênicas. Isso não que dizer que não existam componentes
ambientais e estresse psicossocial participando da vulnerabilização, precipitação, manutenção,
agravamento ou melhora e remissão desses quadros. Os componentes causais podem ser numerosos
e temos que trabalhar com mecanismos complexos, inclusive na prevenção.
M.T.: O que leva, na sua opinião, os adeptos da reabilitação psicossocial a negarem esse
aparato de conhecimento?
V.G.F.: A negação não vem da reabilitação psicossocial; ela é remanescente do movimento
antipsiquiátrico. A reabilitação psicossocial tem aspectos interessantes. Para promover a
reabilitação psicossocial, não é necessário desconstruir a psiquiatria, não é necessário “liberar a
identidade” e dizer que a psiquiatria é uma farsa, uma ideologia, uma disciplina inexistente, como
sustenta Benedetto Saraceno. O Viés antipsiquiátrico tem também um componente corporativista.
Qual é a origem do movimento da luta antimanicomial? Segundo Paulo Amarante, ele começa
como um Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental. Em 1978, na chamada “Crise da
DINSAM”, essas pessoas estavam lutando por melhores condições de trabalho, por poder exercer
melhor a sua arte, serem mais bem remuneradas, mais bem treinadas, para terem mais poder.*
M.T.: Quem eram esses “trabalhadores da saúde mental”?
V.G.F.: Jovens psiquiatras que estavam empregados em hospitais da DINSAM no Rio, com
bolsas insuficientes, sobrecarregados; enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, estudantes
universitários, médicos. Era o fim do regime militar, e o movimento de trabalhadores, querendo
melhores condições de trabalho tornou-se um momento de confronto social. Não foi um movimento
de pacientes, nem para fechar hospital, para fechar manicômio: foi um movimento de trabalhadores,
corporativo, de luta social. Quer dizer: “Vamos tirar um pouco da autoridade desses dirigentes de
hospitais, desse governo autoritário, desse Ministério da Saúde, e vamos aproveitar para tirar um
pouco do poder dos médicos mais graduados das instituições universitárias”. Todo o movimento da
reforma psiquiátrica brasileira passa à margem da Universidade. Por quê? Pela mesma razão qual a
Associação Brasileira de Psiquiatria saiu das mãos dos catedráticos – porque os jovens dessa época,
todos nós, queríamos mais autonomia, mais poder. O que acontece quando, em 1984, seis anos
depois, se consistiu o movimento da Luta Antimanicomial? Decidiu-se que era hora de não apenas
defender melhores condições de trabalho, melhor remuneração, mais poder para os não-medicos da
equipe, mais autonomia para escolher tipos de conduta terapêutica – acrescentou-se a tudo isso a
idéia de fechar algumas das péssimas instituições; serviram-se então do movimento basagliano (da
Lei 180 de 1978 na Itália) para negar a psiquiatria. Quem visitava a maioria dos hospitais
psiquiátricos brasileiros da década de 1970 tinha mesmo vontade de fecha-los. Aqui no Instituto de
Psiquiatria, em 1990, apresentavam-se para nós duas opções: fechar ou modernizar. Modernizamos.
Quando somos mais jovens, é mais fácil demolir; se tivessem se preocupado com o custo social,
provavelmente teriam percebido que melhor seria readequar algumas das instituições. Mas a época
era de revolução; uma revolução não-sangrenta, exceto para os pacientes e para as famílias. Esse
movimento se torna “Movimento da Luta Antimanicomial” e sua bandeira passa a ser o fechamento
dos hospitais.
O que está por trás disso continua sendo a mesma coisa: melhores condições de trabalho,
mais poder, mais direito de dizer o que fazer para cada paciente, condições mais agradáveis de
trabalho. Quais são essas condições mais agradáveis? Desconsidera-se os casos mais complicados e
mais difíceis, como se eles não existissem; seleciona-se os casos mais adequados para o modelo que
a equipe pretende seguir; propõe-se atividades em grupo para ajudar criativamente essas pessoas a
se sentirem melhor; também o profissional de saúde procura se sentir mais feliz, realizado e, de
preferência, mais bem remunerado. Quem fala isso sobre os centros italianos não sou eu. É
Kathleen Jones, Professora Emérita de Política Social na Inglaterra. Ela visitou os serviços:
atendiam neuróticos e psicoses leves, em grupo, em psicoterapia, ambientes assépticos, algumas
horas por dia, bem remunerados. Não é uma maravilha? O que aconteceu, na Itália, em muitos
centros comunitários, foi que eles só ficaram com os casos de que podiam dar conta.
M.T.: Então o seu critério é a possibilidade de causar dano, para outro ou para si
próprio.
V.G.F.: Imagine que ele ouve voz. Essa voz diz para ele seguir algo escrito em algum livro
religioso. Por exemplo: ao ver algo de condenável, ele tem que arrancar os próprios olhos. Não
faltam textos para sugerir esse tipo de Coisa. Ou que tal o caso da enfermeira norte—americana
Andrea Yates, que afogou seus cinco filhos na banheira? Sofria de depressão psicótica pós-parto,
foi tratada com antidepressivos de penúltima geração. A indicação específica para ela teria sido
eletroconvulsoterapia; mas, no Texas, fazer ECT é muito complicado. Recebeu alta; em casa,
quando o marido foi trabalhar, afogou todos os filhos, um atrás do outro; depois telefonou à polícia,
e esperou ser presa. Foi condenada a prisão perpétua. O marido a defendeu no tribunal. Minha
pergunta é: quem deveria ser condenado? A sociedade do Texas.
M.T.: O senhor afirma então que no modelo de Saúde Mental preconizado pelo Sistema
Único de saúde, essas pessoas não podem ser tratadas.
V.G.F.: Obviamente, elas precisam de tratamento médico ultra - especializado. Num caso
como o de Andrea Yates (e eles existem aqui), é necessário um centro capaz de fazer
eletroconvulsoterapia, sob anestesia, com cuidado intensivo. Onde é possível fazer isso na rede
publica no Brasil? Em alguns centros universitários em poucos hospitais públicos. Tente fazer isso
fora daí. Em primeiro lugar, o ECT não é remunerado pelo SUS. Por isso, alguns hospitais
filantrópicos o aplicam, mas sem as condições técnicas adequadas. Tente regulamentar isso.
Participei de uma audiência pública na Câmara Federal; estava lá o autor de um projeto para
regulamentar o ECT, o Deputado Marcos Rolim. Levei um vídeo para mostrar como se faz ECT
aqui no Hospital das Clínicas: uma senhora idosa entra, deita, põe os eletrodos de monitorização, é
anestesiada, faz a convulsoterapia, levanta, toma café e vai embora para casa - a maior parte dos
nossos clientes são ambulatoriais. Surpresa na platéia: “quer dizer que não é na marra, 450 volts,
passando uma motocicleta por cima das pessoas?” Não. O ECT é um procedimento médico que
salva vidas. No caso da Andréa Yates, poderia ter salvo a vida de cinco crianças e a dela. Só que, na
câmara Federal, os médicos foram contra, por considerarem o projeto uma intervenção na
autonomia do médico; o Conselho Federal de Psicologia foi contra, porque não quer que a
eletroconvulsoterapia seja reconhecida pelo SUS. Um absurdo. O projeto foi rejeitado;
conseqüentemente, até hoje a rede não tem como atender casos com o de Andréa Yates. O que é
isso?
M.T.: No modelo, os Caps 24 horas deveriam ser capazes de acompanhar casos graves
durante até cinco dias. Prevê-se que a pessoa não saia do Caps no período.
V.G.F.: Isso que você descreve chama-se “hospital psiquiátrico de agudos”.
M.T.: Tenho notícia de que esse parece ser um problema bastante concreto no modelo:
não há lugar para agudos.
V.G.F.: Agudos precisam de Unidade Psiquiátrica. Chega uma certa hora em que não se
pode negar assistência; em cinco dias, o caso do seu Raimundo ou o de Andrea Yates não se
resolvem. Mas eles não têm que ficar num manicômio.
M.T.: O hospital psiquiátrico não pode ser substituído pela enfermaria psiquiátrica no
Hospital Geral?
V.G.F.: A enfermaria psiquiátrica no Hospital Geral é útil, principalmente em regiões em
que não se pode ter uma instituição mais sofisticada. Há entre essas enfermarias aquelas que são
manicomiais. Por quê? Por misturar patologias num mesmo ambiente; por não ter equipes com o
número de funcionários e a competência técnica necessários. A remuneração do leito psiquiátrico
pelo SUS não é compatível com a manutenção de um serviço adequado. Os casos mais graves
deveriam ser remunerados como Alta Complexidade.
M.T.: Mas essas enfermarias são pequenas. Falta a elas essa característica de imensidão
do que é chamado de manicômio.
V.G.F.: A lógica é manicomial: uma equipe mal treinada lida simultaneamente com doenças
diferentes. Não adianta dizer que as enfermarias psiquiátricas da Unicamp, de Ribeirão Preto, da
Escola Paulista de Medicina. do Servidor Estadual, ou a da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul - as melhores que temos - dão conta de tudo. Eles não podem atender vários casos muito craves.
Em uma delas, não se podem atender homens. Precisaríamos de muitas unidades psiquiátricas no
Hospital Geral. Como se faz para não ficar manicomial? Pode-se, por exemplo, criar unidades
psiquiátricas especializadas em determinados tipos de problemas afins, em diferentes hospitais
gerais. Por exemplo, uma para esquizofrenia e transtornos psicóticos ou afins, outra para transtornos
ansiosos e do humor, outra para casos geriátricos, outra para anorexia nervosa e distúrbios
alimentares, uma para crianças e adolescentes, outra para dependências e descontrole dos impulsos,
em diferentes hospitais gerais.
M.T.: Cada um no seu escaninho. Mas esses são casos graves?
V.G.F.: Podem ser e cabem unidades psiquiátricas sub-especializadas para casos agudos que
precisam de hospitalização em cidades grandes, como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador. Mas não
é o caso de se fazer isso numa cidade de porte médio, porque não haverá as diferentes equipes.
Recebendo diárias de R$ 37,00, qual é o Hospital Geral que abrirá leito psiquiátrico, ao invés de
leito cirúrgico de alta complexidade? Resposta: só os hospitais gerais públicos, sempre deficitários,
nos quais o problema são equipes mal remuneradas. Uma outra crítica aos defensores da reforma os
psiquiatras nela engajados não brigaram pelo essencial: que a psiquiatria de agudos fosse tratada
como uma especialidade médica e não como se doença mental fosse uma questão de saúde pública
básica, de cuidados primários, ou simples “sofrimento mental”. Esse foi um erro tático fundamental
para quem queria alternativas como a internação em Hospital Geral.
M.T.: De acordo com os postulados da reforma, isso era estratégico, pois justamente se
tratava de diluir o saber próprio do psiquiatra.
V.G.F.: Isso; para os anti-psiquiatras. Mas do ponto de vista do Ministério da Saúde, da
Secretaria de Saúde, psiquiatria deveria ser tratada como a cardiologia, deveriam existir programas
de prevenção.
M.T.: O senhor estava descrevendo o seu ideal de hospital psiquiátrico. No que ele é
diferente de um manicômio?
V.G.F: É um hospital de agudos, especializado, de alta complexidade, que deve funcionar
como uma UTI. Um paciente internado num hospital psiquiátrico deve ser tratado intensivamente
para abreviar a internação. Nada de ficar em observação de rotina, durante dias, sem ser
medicado.O melhor dos hospitais nunca vai ser um lugar agradável. Para quem está com doença
mental é pior ainda, porque o paciente já não entende a lógica da instituição. É necessário ter um
controle da eficiência e capacidade de adequar o sistema conforme a necessidade de cada paciente.
Não se pode simplesmente adotar um procedimento por ele parecer intuitivamente eficaz, ou apenas
por ser compatível com uma teoria ou ser bem intencionado. É necessário adotar procedimentos que
funcionem. Não vai ser o PNASH [Programa Nacional de Avaliação dos Serviços Hospitalares] que
vai mudar essas coisas. O texto do PNASH para psiquiatria foi baseado numa pesquisa de satisfação
do “cliente externo.., no Grupo Hospitalar Conceição” no Rio Grande do Sul. Nada se sabe dessa
pesquisa. Imagine se alguém perguntar a um usuário: “Você quer tomar eletrochoque?; quer ser
amarrado na cama?; quer tomar remédio sedativo?”. Avalia-se assim a eficiência de um sistema?
Foi perguntado se a pessoa precisa de ECT; se é preciso ficar temporariamente contido no leito
enquanto toma um soro ou espera uma medicação fazer efeito; se tem impulsos agressivos agudos;
se precisa de uma medicação sedativa durante algum tempo, para controlar sintomas psicóticos ou
agitação? Ao mesmo tempo, o PNASH não serve para remunerar decentemente um serviço melhor.
Só é levado em conta para reduzir a diária hospitalar, já aviltante, conforme o número de leitos de
uma instituição, independentemente da qualidade dos seus serviços. Isso parece o garrote espanhol.
É mais uma forma de fechar leitos e impedir a oferta de serviços hospitalares, adotada desde que o
Projeto Delgado foi derrotado, ao não conseguir impor o fechamento obrigatório dos hospitais. Se
fosse para aumentar a receita para serviços extra-hospitalares, a estratégia deveria ter sido ir ao
Congresso, ao Ministério da Fazenda, dizer: “precisamos de mais recursos para a área de saúde
mental; isto aqui causa prejuízos de bilhões de dólares por ano”. A verba para a Saúde Mental —
R$ 600 milhões por ano — é irrisória perto do prejuízo, dos custos indiretos das doenças mentais. O
que precisaria ser dito é: “temos hoje boa medicina, boa psiquiatria, boa eficácia, boa prevenção
secundária; vamos investir num sistema eficiente, treinar bem as equipes, dar os medicamentos
essenciais e diminuir as repercussões econômicas e sociais disso”. Mas não é o que acontece. O
Ministério vai ao Congresso se vangloriar do fechamento de leitos e promete fazer mais Caps. Por
quê? Como reivindicar psiquiatria de alta complexidade, se o compromisso é com cuidados
primários e com o movimento basagliano, que pretende negar a psiquiatria e desmedicalizar os
problemas de Saúde Mental? Como dizer que a eletroconvulsoterapia é um procedimento eficaz e
seguro, que deve ser utilizado por salvar vidas, que deve ser remunerado para ser bem utilizado,
quando os seus aliados querem caracterizar o FCT como tortura? Falávamos de três conflitos...
M.T.: O senhor explicitou dois: socialismo versus capitalismo, psiquiatria dinâmica
versus psiquiatria biológica.
V.G.F.: O terceiro grande conflito é o corporativista.
M.T.: Não há nada mais próprio à psiquiatria do que ela ser medicina?
COMENTÁRIOS EM RELAÇÃO À ENTREVISTA
DO PROF.VALENTIM GENTIL FO.
Carol SONENREICH *
Desde 1962, no Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, os médicos que lá
trabalham esforçam-se para praticar uma psiquiatria capaz de responder às necessidades dos
beneficiários. No que diz respeito à equipe terapêutica, espaço, recursos materiais, compreensão das
autoridades, passamos muitas vezes por condições difíceis. Porém, sempre mantive-mos os
objetivos: atendimento psiquiátrico no hospital-geral, limitando ao indispensável as internações no
próprio HSPE ou em hospitais de convênio, ampliação das atividades ambulatoriais.
Nos anos 60, muita literatura proclamava a necessidade de uma “reforma da assistência à
saúde mental”. Principalmente sob a influência do que se chamou de “antipsiquiatria”, a diretiva
era: doença mental não existe, é uma invenção das classes dominantes, o “asilo deve ser abolido”.
Esta não foi, em momento algum, a nossa orientação. Considerávamos que a medicina tem direito e
possibilidade de formular conceitos de doença mental, e de assumir o seu combate.
O movimento da luta antimanicomial falava de “recursos alternativos”, mas basicamente o
que proclamava era abolir os hospitais psiquiátricos (asilos, manicômios), reduzir o número de
leitos para doença mental. Os participantes do “movimento”, no Brasil, eram predominantemente
voltados contra hospitais particulares, cujo fechamento era visto como uma grande conquista. Os
recursos alternativos não precisavam ser prioridade, e sua criação dependeria das economias que
seriam feitas pelos estados, deixando de pagar as instituições conveniadas, denunciadas como
“indústria da loucura”.
Algumas das alegações dos protagonistas da luta antimanicomial eram: doença mental não
existe, o hospital psiquiátrico é um lugar de confinamento da classe trabalhadora, servindo aos
interesses da classe hegemônica, o “asilo” nunca teve objetivos terapêuticos e a internação é causa
de cronificação. Não é necessária muita erudição, para saber que, estudos clínicos, históricos
desmentiam tais asserções. Os psiquiatras conheciam as condições horríveis às quais, no mundo
inteiro, eram submetidos os doentes mentais, internados ou abandonados, e trabalhavam para
corrigi-las.
O conhecimento das situações catastróficas, ou apenas péssimas, de certas instituições, nos
fez procurar desmascará-las, combatê-las, trabalhar para modificá-las. Ainda mais porque
consideramos, por experiência própria e leituras, que o hospital aspira a ser um instrumento de cura;
que as condições desumanas prejudicam a doença, mas que — em si — a internação combate à
loucura, e falar de efeito demenciador do hospital é um engano.
Achamos que, entre as autoridades que dirigiam a política de saúde mental, as idéias dos
“anti-manicomialistas” tiveram muito mais sucesso do que entre os médicos que trabalhavam com
os doentes. Na condução dos departamentos de psiquiatria, nos ministérios dos governos estaduais e
municipais, houve sempre, nos anos 60-80, decididos “anti-manicomialistas”. E até curioso que não
terem aplicado mais suas idéias, já que não lhes faltava o poder. O que mais fizeram foi reduzir os
leitos psiquiátricos.
A redução dos leitos foi também feita na Grã-Bretanha, desde 1962, durante os governos
conservadores. Depois de 1997, com a eleição dos trabalhistas, uma revisão enérgica desta política
foi iniciada. A assim chamada “assistência comunitária” passou a ser nomeada “espectro
assistencial”. Alocaram-se verbas impressionantes para construir unidades psiquiátricas, para
corrigir os “males da desinstitucionalização”. O número crescente de abandonados, indefesos,
perigosos, presos sem tratamento, enfim, os “expulsos dos hospitais” constituíram um problema que
o governo decidiu não ignorar mais. (Dratcu 2000 e 2002).
No Canadá, desde 1960, portanto antes de todos os outros países, a política de
“desospitalização” começou a ser aplicada. A redução dos hospitais psiquiátricos, grandes e
pequenos, foi qualificada de “escandalosa”, e as residências protegidas, a colocação em famílias, o
tratamento na comunidade e os leitos psiquiátricos em hospitais gerais, considerados insuficientes.
O governo foi acusado de intencionar apenas reduzir os gastos, sem sensibilidade pelos interesses
da população (Bernard-Thomson 1997).
Nas “comunidades” aparecem “nômades” desorganizados, “criminalisados”, complicados
com abuso de drogas ilícitas e álcool. Aumentou o número dos sem-teto, criou-se a situação
chamada porta-giratória nos hospitais psiquiátricos, apareceu um novo tipo de pacientes jovens-
adultos com transtornos crônicos, novos casos de longa duração. Os autores manifestam a
preocupação com o “destino dos pacientes sofrendo de distúrbios mentais muito graves e
persistentes, sem hospital psiquiátrico” (Trudel, Lesage 2005).
Nos EUA (começando com a Califórnia, governada na época por R Reagan), já em 1983, o
Grupo para Progresso da Psiquiatria concluía: a afirmação de que os cuidados comunitários são
melhores do que o hospital deve ser tomada por uma piada, equívoco, opinião. Falava-se (Talbott,
1985) de desastre da desinstitucionalização. Foi compensada em parte por uma rápida expansão dos
serviços de internação, predominantemente particular (Dorwart, 1988).
Em 2000, uma conferência realizada na Alemanha nos informa sobre a situação em diversos
estados europeus. Aparece claramente que, nos países do leste europeu, sob regime comunista, a
questão da “reforma psiquiátrica não se colocava”. Na República Democrática Alemã só se iniciou
uma reforma depois de 1989, depois da unificação. Do outro lado, na República Federativa Alemã,
o parlamento recomendou em 1971 uma reforma, sem fechamento de hospitais psiquiátricos, mas
com reestruturação.
Como no resto do mundo, na Europa a reforma foi aplicada somente nos países mais ricos. Os
regimes comunistas nunca a adotaram. Nem na China, nem em Cuba proclamou-se o objetivo de
reduzir o número de leitos psiquiátricos.
A Itália merece observação destacada, especialmente pela importância que é dada à
“reforma”, associada ao nome de Basaglia, legalizada em 1 978. A lei “180”, aprovada por
entendimento entre as lideranças partidárias, não foi a primeira, mas foi a mais radical na abolição
do hospital psiquiátrico. Até 1 996, todo hospital psiquiátrico deveria ser fechado. Este prazo foi
adiado para 3 1 de Março de 1 998, mas até hoje não concluído.
Em 1985, Papeschi declarava ser errada esta lei, e exigia sua reconsideração. Pederzini (1
986) dizia que a filosofia da lei 180 fazia parte da cultura de morte. A viúva de Basaglia, Franca
Ongaro (1988) constatava que por falta de instrumentos, persistiam na Itália “manicômios dos mais
degradantes”. A hospitalização seria necessária, para elaborar a identidade do delirante, escrevia
Sarli (1986), citando Basaglia.
Saraceno, que muitas vezes fez afirmações incompreensíveis sobre a doença mental e seu
tratamento, escrevia (1990) que a reforma não teria sido “contra o asilo”, mas exaltava a terapia
comunitária.
Parece que muitos hospitais psiquiátricos italianos declararam for-malmente seu
fechamento, mas freqüentemente escondem a realidade sob outros nomes (Bassi-Parma, 1999).
O Ministro da Saúde, F. di Lorenzo (1991), declarava que a Lei 180 foi um remédio quase
pior que a doença. Favoreceu verdadeiras tragédias, atos de violência. As famílias foram muito mal
tratadas.
Em 1996 jornais protestavam contra a perspectiva de mais fechamentos de hospitais.
Tais informações serão desconhecidas para os “lutadores antimanicomiais” do Brasil? A figura e a
atividade de Basaglia, na visão de Colucci (2001) - autor da única biografia dele que conhecemos -
não são das mais merecedoras de um culto. Ele não conseguiu o cargo universitário que desejava,
em Parma, e foi para o “manicômio” de Gorizia, que representava o oposto da carreira universitária.
Neste lugar, nada conseguiu realizar “por falta de apoio das autoridades (1 961). Sua saída de lá não
foi bem vista por seus companheiros; Jervis o acusava de carreirismo (1977). Mudou-se para Trieste
já com apoio material da OMS (173). Em 1977, foi eleito secretário nacional da Psiquiatria
Democrática. Preferiu não debater o significado da “doença mental”, enquanto não fosse realizada a
transformação da instituição. Uma “auto-suspensão científica, para não atrasar a luta
antimanicomial”. As vezes dizia que a doença mental existe, outras vezes a via como um
instrumento de rotulação, e o manicômio como instrumento de destruição daquele que foi rotulado
(1979), ou: “Não quero dizer que doença mental não exista, mas que nós produzimos uma
sintomatologia - o modo de exprimir-se a doença conforme o modo que pensamos em questioná-la -
porque a doença constrói-se e exprime-se sempre conforme as medidas adotadas para enfrentá-la”.
Os autores da biografia citada acham que Basaglia não fez muito para os pacientes, para a
psiquiatria, mas fez muito para sua carreira.
Conhecemos uma série de tomadas de posição dos psiquiatras brasileiros, contrários ao
fechamento indiscriminado de instituições e leitos psiquiátricos, como objetivo de uma “reforma”.
Sempre proponho caminhos, meios de melhorar as condições hospitalares, de criar modos
alternativos de atendimento, de valorizar os ambulatórios, o tratamento na comunidade. Assim
orientamos toda nossa atividade, na Unidade Psiquiátrica no Hospital-Geral, no HSPE de São
Paulo.
Argumentar com veemência contra o uso de leitos psiquiátricos ou contra o “modelo
hospitalocêntrico” foi, e continua sendo, uma prática mais exercida por não-médicos, seja
exercendo poderes públicos, seja como componentes eventuais da “equipe de saúde mental”.
Alguns deles sustentam esta posição por achar equivocadamente — que a “reforma”, assim como
foi proposta por Basaglia, teria um caráter popular de esquerda, o que é decididamente falso.
Somente os governos mais conservadores, nos países mais ricos do mudo, adotaram tais medidas.
Outros, por interesses corporativistas, acham que assim podem abrir grandes campos de
trabalho para eles mesmos ou para suas categorias pro-fissionais. Encontraram apoio em pessoas
que exercem, de uma forma ou de outra, o poder, continuando uma linha que não foi interrompida
durante as ditaduras. Num fórum organizado pelo Conselho Federal de Psicologia, em 3 1 de Maio
de 2000, foi enaltecida a abolição do “modelo hospitalocêntrico, baseado na exclusão social”.
Política assumida como nacional pelo próprio ministério da Saúde. Abolir quase 20.000 leitos
psiquiátricos na última década (noventa) foi mérito do “brilhantismo da condução ministerial
daquele momento - e da capacidade política de certo dirigente - e das condições institucionais
daquele mesmo momento” (pg. 20). No mesmo fórum, falava-se do “bando” de psiquiatras que se
opunham à reforma, e da necessidade de combater a psiquiatria acadêmica, a aliança com a
indústria farmacêutica, os donos de hospitais, os reducionistas que levantam a cabeça.
Encontramos ainda na literatura brasileira (maio. 2005) artigos que repetem o tom e o
conteúdo dos panfletos de trinta anos atrás, omitindo, voluntariamente ou não, a evolução das idéias
e das práticas, as avaliações dos resultados de uma “reforma” basicamente orientada para a abolição
dos hospitais psiquiátricos. Segundo tais autores, os hospitais sempre teriam como objetivo
“limpar” as cidades, conforme modelos da burguesia. Não havia, proclamavam eles, uma
preocupação com a patologia médica, mas uma correspondência a interesses políticos, econômicos,
sociais. Os “loucos” internados nestes hospitais trocavam uma prisão por outra. O “manicômio”
apareceu para conter a irracionalidade (Pinel acreditava na animalidade do “louco”).
A prática do confinamento da classe trabalhadora seria o interesse da classe hegemônica.
Um ator faz tais declarações e outros o citam piedosamente. Dispensam argumentos, dispensam
uma tentativa de observar o que estava acontecendo nos respectivos anos, nos países nos quais o
governo não era “burguês” (parlamentar ou ditatorial), na então URSS e outros países com
governos comunistas.
A década de 90 teria sido da “luta antimanicomial” (Gonçalves, 2005, p. 904). Com o
nascimento da Associação Basaglia, em São Paulo, e da Franco Rotelli, em Santos, é evocada a
Conferência Nacional de Saúde Mental, de 1992, na qual eram denunciados “os empresários da
loucura”, que teriam os privilégios de um modelo de atendimento caro e cronificante. Os familiares
dos doentes mentais, enganados, desinformados sobre outras formas de trabalho que evitam a
segregação e a a cronificação (como fariam os CAPS, NAPS e os leitos psiquiátricos em hospitais-
gerais)’ persistem em reivindicar o modelo hospitalocêntrico, os asilos. Persistem na sua
“ignorância”, apesar das tentativas oficiais ou dos lutadores antimanicomiais, de orientá-los. Não
por falta de esforços de propagação dos “ideais antimanicomiais”, na ocasião do Encontro Estadual
(1997), no Rio Grande do Norte, realizaram um “ato público” na praia de Ponta Negra, em Natal,
estrategicamente escolhido por concentrar grande contingente de banhistas, segundo a psicóloga
Alencar A. 1., funcionária da Secretaria Municipal de Saúde do RN (em: Estudos de Psicologia,
2(2):421-423, 1997). Os funcionários governamentais, mais uma vez eram os promotores de ações
antimanicomiais.
Certos postulados da “luta antimanicomial foram adotados até transformados em leis
estaduais e municipais. Schneider (2003) cita a expressão “revolução antimanicomial feita em
Santos”, por exemplo, em artigo no qual lemos: “a luta antimanicomial foi apenas o pretexto, nada
mais do que a mesma política de tomada de poder institucional, na área médica, que ocorria em
outras especialidades e em todos os estados” (p. 4). Os militantes instalados na rede pública, em
cargos de direção, nomearam centenas de companheiros em toda a rede pública. O objetivo era
desmedicalizar, desinstitucionalizar. O comitê popular de saúde definia neste sentido suas
diretrizes: os quadros dele deviam ocupar cada vez mais espaços importantes nos programas de
implantação do SUS. “Imensas verbas municipais entravam na mão de pequenos grupos políticos e
de duas comissões, digamos fiscalizadoras”, escreve Schneider (p. 8), evocando também alguém
que ele chama de notável sanitarista de renome internacional, Capistrano.
Em 25 de Novembro de 2004, a Revista Consultor Jurídico publica: “Portas Abertas. O
Estado é obrigado a reabrir unidade de Hospital Psiquiátrico (São Pedro)”. Os desembargadores
negaram a apelação do Estado do Rio Grande do Sul e determinaram a reabertura do hospital. O
Sindicato dos Médicos do RGS, a Sociedade de Apoio ao Doente Mental e a Fraternidade Cristã
dos Doentes e Deficientes do Estado do RGS, abriram ação contra a desativação do sistema de
atendimento, que não foi substituído por alternativas. Foi afirmado que o fechamento da unidade
não atende aos fundamentos constitucionais de respeito a dignidade humana, nem ao principio
universal de acesso à saúde. O estado foi proibido de construir uma escola pública na área referente
ao Hospital Psiquiátrico.
A publicação cita a opinião da advogada S.P.P.F: “decisão acertada, contra um despejo
covarde, desumano”. O médico R.F. do Ri considera que o fechamento de hospitais é um freio aos
movimentos antimanicomiais, provocado por pessoas físicas ou jurídicas desumanas e maus
governantes, tornando a “reforma” um retrocesso aos tempos primitivos, nos quais o abandono e
extermínio de pessoas incapacitadas era a regra. Em resumo, a lei seria boa, mas quando deturpada,
torna-se nociva.
Em 2 de outubro de 2005, nasceu um movimento de luta pela revisão da reforma
Psiquiátrica no RGS, Porto Alegre: MAIS - Movimento pela Atenção Integral à Saúde Mental.
Reúne entidades de portadores de trans-tornos psiquiátricos e familiares, profissionais de
instituições psiquiátricas e unidades de hospitais, Órgãos do setor público e da sociedade
organizada. Lutará pela melhoria da estrutura de atendimento do doente mental, propondo a revisão
da lei de reforma adotada pelo RGS. Uma das metas: suspender a proibição de abertura de leitos em
hospitais e clínicas psiquiátricas.
Para Barreto (2004) a reforma aplicada em Minas Gerais “desconstruiu grande parte da
estrutura carcerária existente, mas... está hoje sob séria ameaça de reduzir-se a um movimento
político”.
O Presidente da ABP, Josimar França, preconiza uma reforma feita com seriedade, sem
abolir leitos, sem se limitar às estruturas insuficientes dos CAPS. Uma reforma capaz de melhorar a
qualidade assistencial para o paciente. A carta aberta ao Ministro da Saúde, encontrou apoio público
de destacadas lideranças da psiquiatria brasileira.
As tomadas de posição com respeito à “reforma” proposta pelos lutadores antimanicomiais,
consistindo principalmente na abolição dos hospitais psiquiátricos, foram rejeitadas por muitos dos
profissionais da saúde mental.
Por parte da diretoria da APB, em certos momentos, houve um equivocado apoio. Médicos
exercendo funções governamentais (federais, esta-duais. municipais) manifestaram apoio a projetos
“radicais” e às vezes as aplicaram, sem tomar em consideração pontos de vista dos trabalhadores no
campo da saúde mental que não exerciam poder.
Por parte das associações de psicólogos, o clamor para a reforma - a mais excessiva - tomou
às vezes um caráter evidentemente cooperativista, apesar das divergências entre os vários grupos,
mais de caráter pessoal do que político. O tom mais autoritário era usado por pessoas exercendo
poder público. Seria urna tarefa ingrata tentar informá-las sobre o que aconteceu em outros países e
no Brasil, já que não acreditamos que estariam interessados em saber. Até nos últimos anos, várias
delas se pronunciaram como se não soubessem nada sobre a evolução das idéias de reforma
psiquiátrica no mundo inteiro.
As citações que fizemos acima, poucas (já que não pretendemos fazer aqui um levantamento
das posições atuais no campo da saúde mental), servem para mostrar que não nos sentimos isolados,
quando ao invés de “luta antimanicomial”, escolhemos trabalhar para uma psiquiatria de conteúdo e
organização, apta a servir os usuários, na nossa unidade psiquiátrica no hospital geral no FISPE de
São Paulo.
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Serviços de Psiquiatria
Hospital do Servidor Público Estadual FMO’
R. Pedro de Toledo, 1801) 04039-901 - São Paulo SP
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