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A colonização das Américas foi moldada a ferro e fogo, dirigida pela ânsia
do capital mercantil na acumulação de prata, ouro e especiarias. O
extermínio de astecas, maias e incas, que possuíam avançados sistemas de
produção agrícola e de organização social, foi uma das conseqüências desta
colonização predatória. As florestas foram queimadas e os templos e peças
sacras destruídos ou fundidos para confecção de moedas. A atividade
mineradora implantada pelos espanhóis escravizou estes povos,
desarticulou sua economia, gerou epidemias. Segundo Celso Furtado, a
população mexicana de 16 milhões da época da conquista foi reduzida a um
décimo deste total um século depois. Recentemente, os povos indígenas das
Américas se organizaram de forma mais eficiente buscando uma
sobrevivência digna e o resgate de suas origens culturais.
No início da colonização portuguesa do Brasil, a população indígena
estimada era de 5 milhões. O censo de 1997 registrou apenas 326 mil
índios que lutam pela demarcação de suas terras e pelo reconhecimento de
seus direitos.
Recentemente, anos após os direitos territoriais indígenas serem
consagrados na Constituição Federal de 1988, os fazendeiros e garimpeiros
ocuparam terras e mataram os Taxáua Makuxi e Wapixana. Mineradoras de
cassiterita agrediram o povo Ianomâmi. A Paranapanema invadiu as terras
dos Waimiri-Atroari para a mineração do ouro no Amapá. Os suicídios em
massa verificados nas aldeias Guarani em Mato Grosso foram causados pela
expansão das fazendas, desagregando sua economia, gerando doenças,
endividamento, alcoolismo e prostituição.
A economia colonial no Brasil foi movida a braço escravo. O tráfico negreiro
trouxe entre 1580 e 1850 cerca de 6 milhões de africanos. As viagens de
Angola a Pernambuco duravam de sete a oito semanas e os navios
transportavam de 300 a 600 escravos, um quinto dos quais morria no
percurso. O escravismo colonial criou o mercado de compra e venda de
escravos, o trabalho sem remuneração, castigos e ausência de vida familiar.
Três séculos de sangria produziram na África desequilíbrios regionais,
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Caleidoscópio multidimensional
X Socialização
Planejamento Z
Apropriação social
Coletividade Autonomia, controle
Tecnologias duras, pesadas, do tempo e do espaço
centralizadas, poluentes, pelos cidadãos. Gestão do
dominadas por especialistas, corpo e da vontade.
grande escala, soluções Liberdade de opções.
homogêneas, conexões militaristas.
Y’ Y
Heteronomia, ampliação do trabalho Tecnologias doces
alienado. Restrição dos espaços Brandas alternativas, não
convencionais. Intervenção poluentes, descentralizadas,
do estado ou do mercado diversificadas, com sistemas,
na limitação das energéticos renováveis.
liberdades dos Mercado
cidadãos. Lucro
Individualismo
Concorrência
Z’ X’ Privatização
Apropriação Social
O Desafio da Ecopolítica
Ecologia Urbana
1 – Uso do solo
Reativar a COMISSÃO MUNICIPAL DE ZONEAMENTO, garantindo a
participação das Associações de Moradores e das entidades de defesa do
meio ambiente. A participação popular nos planos, propostas e programas
permitirá o controle sobre os empreendimentos públicos e privados quanto
aos seus impactos sócio-ambientais que afetam a saúde da população e o
patrimônio cultural-ambiental. Esta Comissão será articulada com Câmaras
das Administrações Regionais, ouvindo a população dos bairros concernidos
por obras. Aprovar e ampliar o DIREITO DE VIZINHANÇA, garantindo aos
moradores o prévio conhecimento das obras projetadas para seus bairros e
seus respectivos impactos sócio-ambientais.
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2 – Transportes
Tratar os transportes como um serviço público, tal como o abastecimento de
água, a iluminação pública, etc. e não subordiná-lo à lógica do lucro, que
acarreta freqüentemente no seu não-funcionamento à noite, no mal
atendimento aos bairros populares, e no não controle da emissão de
poluentes, principal fator de poluição do ar na cidade. Rever os contratos de
concessão às empresas particulares, para evitar a superposição de linhas, o
que produz engarrafamentos, aumenta a poluição sonora e do ar.
Estabelecer o sistema de calhas exclusivas para transporte público.
Controlar rigorosamente a emissão de poluentes. Incentivar e manter meios
de transportes, como bondes, microônibus, etc. Substituir o diesel por gás
natural nos veículos de transporte público e na totalidade da frota da
Comlurb. Substituir no prazo máximo de 4 anos a frota de ônibus do
município por ônibus adequados a toda a população, inclusive aos
deficientes, idosos, grávidas e crianças, do tipo Padron com câmbios
automáticos (menos barulhentos) e controle de velocidade.
6 – Poluição Sonora
Subordinar a instalação de atividades, eixos viários, etc. ao estudo prévio
dos impactos da poluição sonora, nos planos de zoneamento, consultada a
população através da Comissão Municipal de Zoneamento Urbano. Cumprir
rigorosamente a Lei 646 que determina a gradação de nível de tolerância do
ruído segundo o tipo de zona urbana (na zona residencial estes níveis de
tolerância têm de ser muito mais restringidos). Implementar uma
fiscalização eficiente; aplicar multas exemplares e divulgá-las à população.
Ajudar a tornar a cidade silenciosa e alegre. Estimular proteção acústica
para atividades e a despoluição sonora no interior dos locais de trabalho
(12% dos metalúrgicos sofrem de surdez adquirida).
9 – lixo urbano
Promover a coleta diária de lixo em todas as favelas a partir do 1º semestre
de 1986. Promover a localização mais adequada dos aterros de lixo urbano,
impedindo vazamento para a Baía de Guanabara, rios e lagoas. Incrementar
a reciclagem sistemática do lixo urbano. Incentivar as atividades de
papeleiros e garrafeiros com vistas à reciclagem. Incentivar também a
construção de biodigestores para o aproveitamento do gás metano. Utilizar
os recursos da Comlurb para o apoio permanente das obras e mutirões
comunitários.
10 – Educação ambiental
reformulação dos programas de ciências e de geografia para propiciar um
conhecimento mais profundo dos ecossistemas e da importância da
preservação ambiental. Abrir as escolas para a comunidade,
democratizando seu funcionamento e ampliando sua participação nos
problemas concretos do bairro e da cidade. Promover o estudo da história
dos bairros nas escolas. Projetar filmes e organizar debates sobre a ecologia
e as formas de proteger a vida e o meio ambiente, com participação de
entidades ecológicas. Desenvolver sistemáticas campanhas públicas através
dos veículos de comunicação social acerca das agressões verificadas contra
o meio ambiente e a população, como os desmatamentos, as queimadas, a
privatização de praias e a agressão à fauna e à saúde pública. Divulgar os
procedimentos que devem ser adotados para a defesa deste nosso tesouro
vivo que é a natureza. Realizar campanhas para comprometer clubes,
escolas, empresas e órgãos públicos com a preservação ambiental,
repartindo os custos da conservação de praças e jardins, parques e vias
públicas, em troca da permissão de colocação de discreta propaganda.
Começar as campanhas com o exemplo dos órgãos públicos, que hoje são
poluidores, corruptíveis, permitem construções ilegais em encostas,
concedem Alvarás a empresas sem análise da declaração de impactos
ambientais, em suma, são cúmplices da degradação do nosso espaço vital e
convivencial.
A leitura do Decálogo nos remete aos eixos cruzados da economia, da
tecnologia e da vida cotidiana que adotamos como quadro de referência.
Tomemos como exemplo o ponto 2, com as propostas para os transportes.
O tratamento dos transportes coletivos como um serviço público, fornecido
pelo estado, nos coloca no eixo XX´ com a orientação para a apropriação
social. As propostas de uso do microônibus, de ônibus com chassis
padronizados e de mudança do combustível do diesel para o gás natural,
80% menos poluente, nos colocam no eixo YY´ com a orientação para as
tecnologias mais compatíveis com o meio ambiente e com a saúde dos
cidadãos. As propostas de degraus mais baixos, roletas mais largas,
funcionamento à note, atendimento dos bairros populares situam-se no eixo
ZZ´ com a orientação da autonomia. Se um indivíduo mora em bairros onde
o ônibus não passe à noite, sua capacidade autônoma de deslocamento, de
participação em atividades políticas ou culturais noturnas fica totalmente
bloqueada. O mesmo vale para crianças, mulheres grávidas e deficientes,
para quem o desenho do ônibus inviabiliza ou torna extremamente penoso
o transporte.
Esta abordagem simultânea é um bom exemplo metodológico dos princípios
do ecodesenvolvimento. Este supõe para sua viabilização uma série de
condições culturais e políticas que se reúnem no bojo de lutas sociais, de
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A Ecopolítica na Constituinte