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106/05
1. Intróito
Os pontos de contato entre o direito penal e o direito civil não são abundantes
e, por vezes, exigem estudos forçados de seus estudiosos locais para além das
contenções de cada um deles.
A teoria geral do direito tem por obrigação estudar os contatos entre as
diversas áreas do direito e fomentar algumas mudanças nas suas relações, isolando-as
nos institutos singulares ou as tornando mais promiscua nos temas compartilhados. A
falta de detalhamento torna a missão mais agradável e menos exigente, didaticamente
isso é desastroso, uma vez que o doutrinador passa a ser um referencial e deve tratar dos
temas como desbravador impassível de equívocos primários. Verifica-se que o
doutrinador que trata seletivamente dos temas, por conseqüência, deixa de lado questões
importantes para aclarar todo o sistema jurídico. Quiçá seja mais difícil estudar os
institutos que servem aos dois ramos de forma mais específica, como os elementos
característicos do ilícito civil e do ilícito penal, as excludentes de ilicitude ou mesmo o
bem jurídico protegido.
Ao serem exigidos no cruzamento de informações decorrentes de legislação
com reflexos duplos, civilistas e penalistas deixam a desejar aprofundamento no tema
com carências primárias, bem aquém das propostas declinadas no prefácio de suas
obras. Por vezes, com o objetivo de evitar equívoco ou de estreitar o estudo na
ramificação pesquisada, os especialistas limitam-se a excluir o assunto da pauta. Sem
versar sobre o tema, será que cabe ao leitor a missão de refletir em torno de possíveis
situações teóricas e práticas que possam emergir no novo contexto? Com certeza, isso
não é possível por conta da pouca experiência do operador do direito, seja ele iniciante
ou praxista. O mérito aqui fica com os tratadistas específicos do tema, cuja função é
imaginar e articular em torno das situações possíveis, com o detalhamento dos
desdobramentos factíveis.
A política do enfrentamento exige disposição que muitos não têm e os
inexperientes acabam promovendo um despautério e isso pode ser atestado com os
posicionamentos imprecisos. No direito civil, em especial aqui o direito familial, tal
prática apresenta-se como corriqueira e merece ser denunciada com intrepidez.
O foco aqui não é melindrar a doutrina nacional, mas chamar a atenção para a
causa eternamente pendente em prol da doutrina, qual seja a de esclarecer os
dispositivos legais que se propõe a comentar.
2. Capacidade Matrimonial
1
Arnaldo Rizzardo, Direito de Família. 3ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 32.
casamento2 e daí decorria a injustiça contra a própria vítima; mas, isso ficou para traz e
o homem não se importa mais com o fato de a nubente já ter sido deflorada
4. Extinção de Punibilidade
5. Lei nº 11.106/05
2
No Código Civil de 1916, o art. 219, inc. IV, considerava erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge
o fato de já ter ocorrido o defloramento da mulher sem que ele soubesse. No art. 178 do Código Civil de
1916, § 1º, por disposição expressa, impunha a prescrição em dez dias da ação anulatória de matrimônio
contraído com mulher já deflorada, prazo este contados do casamento.
3
Julio Fabbrini Mirabete e Renato N. Fabbrini, Código Penal Interpretado. 6ª ed., São Paulo: Atlas, p.
813.
6. Equívoco dos Civilistas
9. Aturdida Jurisprudência
4
DIREITO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DEFLORAMENTO DE
MENOR VÍRGEM COM PROMESSA DE CASAMENTO. PRESUNÇÃO DE VIRGINDADE. DANO
MORAL. DOTE. CONDENAÇÃO. I - O art. 1.548 do velho Código Civil deve ser interpretado de forma
voluntariedade da vítima afastando a condenação5 etc. Modernamente, continua a
mulher a ter direito à indenização calcada na lesão sofrida, principalmente pelas marcas
deixadas nas esferas sentimentais, psicológicas, sociais...
Nesse diapasão, o crime de rapto deixou de existir em todas suas formas, bem
como o de adultério. Na área cível, seguindo os contornos da moralidade familiar, o
adultério segue como ato ilícito idôneo a justificar a separação judicial litigiosa proposta
pelo ofendido.
Nessa série de medidas inovadoras, o rompimento do contato entre o direito
penal e o direito civil foi o mais destacado acontecimento. Desligou-se o elo de ligação
entre a extinção de punibilidade e o suprimento judicial para o casamento de incapazes.
Por completa falta de bom senso, alguns órgãos do judiciário brasileiro seguiram
aplicando o dispositivo até mais de um ano após a sua revogação. Em um caso, discutia-
se a admissão da união estável como causa idônea a afastar o cumprimento da sanção
penal. Acentue-se que o art. 4º da Lei nº 11.106/05 impôs vigência de seus dispositivos
já na data de sua publicação.
11. Conclusão