Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
23 de Março de 2007
(Organização não-Governamental de Ambiente)
1
há duas semanas. No extremo sul da avenida, junto à capela de Carlos Alberto, o que temos não
são árvores, mas sim tocos: restos mutilados de árvores, sem utilidade e sem beleza. Não é plau-
sível a justificação de que as árvores estariam doentes, pois a motosserra tanto atacou árvores jo-
vens como adultas, e as feridas que ficaram expostas nos troncos mostram bem como elas esta-
vam saudáveis. Terá sido por receio de as árvores caírem? É que, nos últimos anos, várias tílias
têm lá caído empurradas pelo vento. Mas, por ironia, também tombaram árvores que tinham sido
podadas preventivamente, o que mostra que tal remédio não é seguro. E se o preço para manter
as árvores de pé é reduzi-las a tocos disformes, então mais vale desistirem das tílias e plantarem
árvores mais resistentes às intempéries. Não tem sentido manter uma alameda de tílias – árvores
ornamentais por excelência, admiradas pela harmonia e simetria das suas copas – neste estado
miserável.
Em todo o caso, é importante que a Porto Lazer, E.M. responda às seguintes perguntas:
1) Foi feito algum estudo fitossanitário que justificasse intervenções tão drásticas como as
que foram feitas nas tílias da avenida?
2) As podas foram acompanhadas por algum técnico de arboricultura credenciado?
3) A empresa que as executou tem pessoal devidamente habilitado para estas intervenções?
Nas intervenções que os serviços da Câmara têm vindo a fazer em espaços públicos (árvores
de arruamento, jardins, etc.), a resposta a perguntas análogas é afirmativa; é que, felizmente, já
não é comum ver na cidade (fora do Palácio) árvores tão mal podadas como estas tílias. Que não
são, no Palácio, as únicas vítimas deste tipo de tratamento: no final de 2004, os jovens choupos
na encosta que desce para Massarelos sofreram um podão que apenas lhes deixou os troncos.
Outros casos mais ou menos recentes são indicativos de negligência. Em 2003, foi instalado
um sistema automático de rega no jardim formal à entrada; na abertura dos regos usou-se uma
escavadora e não houve a precaução de não se cortarem raízes; em resultado disso – e talvez
também do excesso de água – várias árvores e arbustos vieram posteriormente a perder-se.
Os vários jardins temáticos estão ao abandono. O Jardim dos Sentimentos, construído num
socalco voltado para a rua da Restauração e inaugurado em Janeiro de 2001, embora parta de
uma ideia interessante (divulgar alguma da simbologia associada às plantas) e faça uso de um
espaço antes desaproveitado, tem por base um mau projecto. Todo o jardim assenta numa placa
de cimento; e, entre tanques de água estagnada e caminhos em zigue-zague, sobram uns cantei-
ros estreitos, de pequeníssima profundidade. As plantas que têm morrido – e têm sido quase to-
das – não são substituídas, e as etiquetas também já desapareceram: o efeito geral é desolador.
Melhor sorte poderia ter tido o Jardim dos Cheiros, pois aí as condições não são tão adversas
para as plantas; mas o abandono a que foi votado transformou-o num matagal onde há mais ve-
getação daninha do que plantas aromáticas. Finalmente, há o caso caricato do Jardim de Roter-
dão: inaugurado em 2001, ano em que essa cidade holandesa partilhou com o Porto o título de
Capital Europeia da Cultura, foi concebido como um jardim para flores sazonais, mas está hoje
convertido num triste relvado.
A gestão dos jardins do Palácio de Cristal não tem estado à altura da importância patrimonial,
histórica e social desse lugar único da cidade do Porto. E é à Câmara Municipal do Porto, através
do seu Pelouro do Ambiente, que cabe resolver o problema.
P.S. Este texto (pdf) e fotos elucidativas podem ser descarregados de http://www.esnips.com/web/Palacio-de-Cristal
Contactos: Paulo Ventura Araújo (tm. 933631009) / Maria Pires de Carvalho (tm. 938683290)