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research audiovisual
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O status quo da teoria da linguagem audiovisual e seu marco na
communication researcch
O ocultar mostrando do telejornalismo na era digital (A communication research e a
rotina produtiva dos telejornais:marco teórico e a combinação de várias teorias) é fruto de
uma parte de minha pesquisa de doutorado: A palavra, a imagem e o som. Informativos
televisivos do Brasil e da Espanha. Estudo comparativo e análise da linguagem audiovisual,
textual e narrativa realizada junto ao Departamento de Comunicação Audiovisual e
Publicidade da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB) e da Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul (UFMS), com o apoio do Ministério de Educação e do Desporto,
CAPES, Fundação Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, sob a
orientação do Professor Doutor José Luís Riva Amella.
Esta obra surge ao ser observada a necessidade de um estudo sistematizado sobre a
emissão e recepção das mensagens nos informativos televisivos, que segundo vários
estudos e pesquisas demonstraram ser falhas, um fracasso comunicativo no que se refere à
compreensão por parte do público receptor, conforme já destacaram Vilches (1989, 1995);
Fombona Cadavieco (1996); Hills (1978); Orive (1988); Lins da Silva (1984), entre outros.
3 – Os efeitos vídeográficos produzem uma entropia no processo comunicacional que leva à
incompreensão das mensagens apresentadas.
4 – A narrativa dos informativos televisivos se estrutura em uma só direção: criar no
espectador o efeito de saturação do conteúdo, cujo objetivo é que haja apenas uma realidade,
apenas uma verdade, ou seja, o discurso do poder.
O meio televisivo trabalha com a emoção e não através da argumentação, criação e
crítica, que seriam os elementos cognitivos da inteligência. A emoção está não só na
publicidade, no drama, mas também nas mensagens dos informativos, dando ao espectador a
sensação de estar informado, quando na realidade não é assim.
O experimento de estudo casuístico de telespectadores de telejornais no Brasil e na
Espanha, através da triangulação metodológica (qualitativa e quantitativa), com análises
subjetivas e experimentos concretos suscetíveis de serem medidos com base em variáveis que
possam ser comprovadas, assim como também sua confiabilidade utilizou os instrumentos de
análise já ideados pelo professor Dr. Javier Fombona Cadavieco em sua Tese Doutoral
Diseño de Informativos em televisión. Estúdios y Análisis de Categorías y Variables (UC
Madri, 1996); os conceitos de aprendizagem, inteligência e informação desenvolvidos pelo
professor Dr. José Luís Riva Amella em sua Tese Doutoral Prensa y Educación. Dos
elementos indisociables en la Sociedad de la Información(UAB – Barcelona); e também como
leitura crítica dos informativos televisivos trabalhouse com os instrumentos de análise
desenvolvidos pelos pesquisadores Lorenzo Vilches (1995) e Michel Thiollent, que realizaram
a análise do léxico para uma depuração de forma e conteúdo das mensagens transmitidas.
Este tipo de metodologia possibilitou um inventário exaustivo das palavras utilizadas
nos telejornais e a sua proximidade com outras e também a análise quantitativa. Ao incluir a
análise das imagens, utilizamos a metodologia proposta por Francis Vanoye e Anne Goliot
Lété como expõem em seu livro Ensaio sobre a análise fílmica, São Paulo (1994), cujo núcleo
são os movimentos da câmera e os raccords.
Além disso, como leitura crítica dos informativos televisivos, se trabalhou com os
instrumentos da análise desenvolvidos pelo pesquisador Artur da Távola, o qual, ao estudar o
conteúdo da mensagem televisiva, estabelece as seguintes categorias: nível patente, nível
latente, nível jacente e também compreensão (incompreensão), apoio (rechaço), aceitação
(negação), concordância (discordância). Elementos que foram analisados no discurso, no
excurso, no incurso, no recurso, no decurso, no percurso, no concurso e no transcurso,
segundo assinala Távola em seu livro A liberdade de ver: televisão em leitura crítica, Rio de
Janeiro, 1984.
Deste ponto de vista, fizemos o estudo casuístico com assistência televisiva realizado
no Pantanal Sul-mato-grossense (Brasil) e em Gijón – Astúrias (Espanha), cuja metodologia
está desenvolvida em uma parte específica deste trabalho, referente aos seus anexos.
a) – Estudo comparativo dos informativos televisivos brasileiros e espanhóis e uma análise de
sua linguagem audiovisual;
c) – Detecção do grau de compreensão ou não compreensão por parte dos telespectadores
através do estudo casuístico nas populações escolhidas para este fim (Pantanal e Gijón), que
foi realizado com 56 de pessoas de ambos os sexos feminino e masculino, com pelo menos
14 anos de idade a mais.
. O telespectador dos programas informativos está realmente sendo informado ao
captar este gênero televisivo. Está plenamente satisfeito com a pretendida informação
recebida.
. O uso da linguagem audiovisual (palavra, imagem e som) utilizada nos informativos
televisivos brasileiros e espanhóis não facilita a compreensão da mensagem informativa
aos seus telespectadores
. O conteúdo dos informativos televisivos não tem cumprido com o papel de informar
corretamente os seus telespectadores.
Desta forma, esta obra tem como marco teóricos estudos e análises concretas da área,
assim como as teorias, leis e ciências onde foram concretizados epistemologicamente os
elementos analisáveis. Utilizouse como marco teórico a Teoria da Informação Audiovisual; a
Teoria Geral da Imagem; a Teoria da Comunicação e Jornalismo; a Comunicação Social; os
Estudos Semióticos da Comunicação; a Sociologia, além da Teoria dos Sistemas
(Bertalanfly); da Teoria Cibernética (Wienear); da Teoria Matemática da Informação
(Shannon); bem como as teorias de Kentz; Maletzke; Westley/ Mclean.
Ainda nos baseamos também em outros estudos que se encontram mais detalhados no
corpus geral deste livro, na parte correspondente aos conceitos e marco teórico adotados,
como os estudos de Vilches (1995); McLuchan (1969); Eco (1989); Comparato (1983); Prado
(1991); Bustamante (1992); Varis (1995); Villafañe (1996); Ángel Rodríguez (1998); Armand
Balsebre (1998); Da Távola; Orive; Fombona Cadavieco, entre muitos outros pesquisadores
desta área específica, já amplamente abordado no corpus central deste livro.
A análise deu conta da construção da palavra, da imagem e do som. Ou seja, conteúdo
e forma, cujos resultados encontramse no corpo deste livro.
A communication research: breve histórico
Evolução histórica
A evolução da communication research tem basicamente nove momentos que podem
ser identificados como: a teoria hipodérmica, a teoria ligada ao estudo empíricoexperimental,
a teoria que deriva da pesquisa empírica de campo, a teoria da base estruturalfuncionalista, a
teoria crítica dos mass media, a teoria culturológica, os cultural studies, as teorias
comunicativas; e mass media e a construção da realidade, sendo este último o que constitui a
nova tendência investigativa. (Mauro Wolf, Lisboa, 1995, pág. 20).
Segundo Wright (1975, pág. 79), a teoria hipodérmica é um modelo em que “cada
elemento do público é pessoal e diretamente atingido pela mensagem”. Na abordagem de
Wolf (1995, págs. 20 e 21) “os principais elementos que caracterizam o contexto da teoria
hipodérmica são, por um lado, a novidade do próprio fenômeno das comunicações de massas
e, por outro lado, a vinculação desse fenômeno às trágicas experiências totalitárias daquele
período histórico”. Segundo este autor, “a teoria hipodérmica é um estudo global dos mass
media, indiferente à diversidade existente entre os vários meios e que respondem sobretudo à
interrogação: que efeitos têm os mass media em uma sociedade de massas?”.
O que temos então no modelo exposto acima é uma teoria cujo modelo é o da
propaganda e de estudos sobre a propaganda, que trata do universo dos meios de
comunicação. Principalmente nos anos 20 e 30 o que se queria era saber quais eram os efeitos
retóricos e psicológicos utilizados pelos propagandistas (Wolf, 1995, pág, 21).
Surgia aí o conceito de sociedade de massas que será fundamental para a compreensão
da teoria hipodérmica. Mannuncci (1967) nos dirá que “o conceito de sociedade de massas
não só tem origens remotas na história do pensamento político, mas apresenta componentes e
correntes bastante diversas”. Corroborando esta acepção (Wolf, 1995, págs. 20 a 22) afirma
que “não se pode reconstituir pormenorizadamente sua gênese e sua evolução”.
Devemos considerar que são muitas as variantes do conceito de sociedade de massas,
tais como:
1 O pensamento político oitocentista conservador definia sociedade de massas como “a
conseqüência da industrialização progressiva, da revolução dos transportes e do
comércio, da difusão dos valores abstratos, da exclusividade por parte das elites que
vêem expostas às massas, o enfraquecimento dos laços tradicionais (família,
comunidade, associações, religião, etc.)”.
2 Ortega y Gasset (1930) erigese em corrente adversa aos conservadores, cuja reflexão
está na qualidade do homemmassa resultante da desintegração da elite.
Para Ortega y Gasset, o homemmassa “é a antítese da figura do humanista culto”.
Nessa perspectiva de Ortega e Gasset (1930, pág. 8), segundo salienta Wolf (1995), “massa é
tudo o que não se avalia a si mesmo – nem para o bem, nem para o mal – mediante razões
especiais, mas que se sente como todo mundo e ainda não se aflige por isso, antes sente a
vontade de reconhecerse idêntico aos outros”. Também para Ortega y Gasset (1930, pág. 12),
“a massa subverte tudo o que é diferente, singular, individual, tudo o que é classificado e
selecionado”.
3 A dinâmica que se instaura entre o indivíduo e a massa e o nível de homogeneidade
em torno do qual se congrega a própria massa é a análise de Simmel (1917, pág. 68), que
a diferencia das análises anteriores, segundo constata Wolf (1995, pág. 22).
Para Simmel, “a massa é uma formação nova que não se baseia na personalidade de
seus membros, mas apenas naquelas partes que põem um membro em comum com todos os
outros e que equivalem às formas mais primitivas e ínfimas de evolução orgânica (...)”.
4 A massa não possui tradições, regras de comportamento ou estrutura organizativa
(Blumer, 1936 e 1946).
Esta definição de massa feita por Blumer reforça o elemento fundamental da teoria
hipodérmica (o fato de que os indivíduos estão isolados, são anônimos, estão separados e
atomizados).
Do ponto de vista dos estudos sobre o mass media, esta característica do público dos
meios de comunicação constituem o principal pressuposto na problemática dos efeitos;
invertêlo e posteriormente tornar a invertêlo, pelo menos em parte, será a tarefa dos
trabalhos das pesquisas ulteriores Wolf (1995, pág. 23),”. Sobre essa questão Freidson (1953,
pág. 199) faz a seguinte proposição:
Esse isolamento não é apenas físico e espacial (...) os indivíduos – na medida em que
são componentes de massa – estão expostos às suas mensagens, conteúdos e acontecimentos
que vão além de sua experiência, que se referem aos universos com um significado e um valor
que não coincidem necessariamente com as regras do grupo de que o indivíduo forma parte”,
Blumer (1936 e 1946).
Bullet Theory é o termo também utilizado para a teoria hipodérmica. Isto é, “se as
mensagens da propaganda conseguem atingir os indivíduos que constituem a massa, a
persuasão é facilmente inoculada. Isto é, se o objetivo é conseguido, a propaganda obtém o
êxito que foi estabelecido antecipadamente”. Schramm (1971).
O modelo comunicativo da teoria hipodérmica é mais que um modelo sobre o processo
de comunicação. É uma teoria de ação elaborada pela psicologia behaviorista (estímulo/
resposta), Wolf (1995, pág. 24) e Lund (1933, pág. 28),
Bauer (1964, págs. 319 a 328) observa que “durante o período da teoria hipodérmica,
os efeitos, em sua maior parte, não são estudados; são dados como certos. Notese, no entanto,
que a descrição da sociedade de massas (sobretudo de algumas de suas características
fundamentais (isolamento físico e normativo dos indivíduos) contribui, por sua parte, para
acentuar a simplicidade do modelo E (estímulo) ∙ R (resposta)”).
Na concepção de KatzLazarsfeld (1995, pág. 4) “os mass media constituíam uma
espécie de sistema nervoso simples que se estende até atingir olhos e ouvidos, em uma
sociedade caracterizada pela escassez de relações interpessoais e por uma organização social
amorfa”.
Lasswell, na communication research, terá uma enorme influência nas pesquisas dessa
época. Seu modelo constitui uma sistematização orgânica, uma herança e uma evolução da
teoria hipodérmica. Como já havíamos assinalado anteriormente, o modelo de Laswell
(1936/1948) é a aplicação de um paradigma para a análise sócio política e que deve
responder às seguintes perguntas: quem obtém o que? Quando? De que forma?”. Uma forma
adequada para descrever um ato de comunicação é responder às seguintes perguntas”:
- Quem?
- O que disse?
- Através de que canal?
- Com que efeito?
Este modelo de Laswell permanece durante muito tempo como uma verdadeira teoria da
comunicação, em estreita conexão com outro modelo comunicativo dominante na pesquisa,
que é a teoria da informação (Wolf, 1995, pág. 27).Os pontos básicos dos processos de
comunicação de massas segundo Laswell são:
1 Processos estritamente assimétricos, com um emissor ativo que produz o estímulo e uma
massa passiva de destinatários que, ao ser atingida pelo estímulo, reage;
2 O comunicacional é intencional e tem por objetivo conseguir um determinado efeito,
observável e suscetível de ser avaliado na medida em que gera um comportamento que possa
ser, de alguma forma, associado a esse objetivo.
Segundo Wolf (1995, pág. 27), “este se acha sistematicamente relacionado com o
conteúdo da mensagem. Conseqüentemente, a análise do conteúdo apresentase como o
instrumento para inferir os objetivos de manipulação dos emissores, e os únicos efeitos que tal
modelo torna pertinentes são os que podem ser observados; mudanças de comportamento,
atitudes, opiniões, etc.”.
3 Os papéis dos comunicadores e destinatários surgem isolados, independentes das relações
sociais, culturais e situações em que os processos comunicativos se realizam, mas que o
modelo em si não contempla.
Katz (1969, pág. 113) observa que “nestes modelos de teorias as pesquisas sobre
audiência, relações pessoais, são consideradas como irrelevantes para as instituições da
sociedade moderna”.
A análise dos efeitos e a análise dos conteúdos são os temas centrais da
communication research¸ cujo esquema foi organizado por Laswell.Contra o que supunha a
teoria hipodérmica, a audiência dava mostras de que não estava constituído por indivíduos
separados e independentes, segundo demonstrou Bauer (1958, pág. 127):
A teoria hipodérmica será abandonada através do estudo empíricoexperimental ou de
persuasão. Suas principais características são em primeiro lugar, o estudo experimental,
paralelamente ao estudo empírico de campo, que se desenvolvem nos anos 40. Em segundo
lugar, fica difícil descrever o âmbito dos estudos psicológicos experimentais, dado que
aparece muito fragmentado, composto por um número incalculável de micropesquisas
específicas cujos resultados são freqüentemente opostos ao das verificações experimentais da
mesma hipótese”, Wolf (1995, pág. 30).
Quanto ao estudo empíricoexperimental ou de persuasão, é possível observar algumas
de suas orientações mais importantes na communication research e nos estudos relativos ao
uso e satisfação relacionados com os meios.
Neste sentido, a teoria dos meios de comunicação resultante dos estudos psicológicos
experimentais consiste, sobretudo, no exame do processo comunicativo entendido como uma
relação mecanicista e imediata entre estímulo e resposta, o que torna evidente, pela primeira
vez na pesquisa sobre os mass media, a complexidade dos elementos que entram em jogo na
relação entre emissor, mensagem e destinatário”, Wolf (1995, pág. 30).
Assim, o estudo deixa de ser global, incidindo sobre todo o universo dos meios de
comunicação, e “se encaminha, por um lado, para o estudo de sua eficácia persuasiva ótima e,
por outro lado, para a explicação do fracasso das tentativas de persuasão”.
Esse tipo de teoria estuda basicamente os efeitos dos mass media em campanhas
(eleitoral, informativa, propagandística, publicitária, etc.).Segundo McQuail (1977), estes
estudos têm alguns sinais particulares:
- “têm objetivos específicos e foram projetados para atingilos”;
- “são intensivos e gozam de uma vasta cobertura”;
- “seu êxito pode ser avaliado”;
- “são promovidos por instituições ou entidades dotadas de um certo poder e
autoridade”;
- “seus argumentos devem ser vendidos ao público, para quem são novos, porque se
baseiam em esquemas de valores compartilhados”.
Estas pesquisas se desenvolvem em um contexto comunicativo de caráter administrativo
durante a Segunda Guerra Mundial e principalmente levado a cabo pelo Departamento de
Psicologia em Yale para a Information and Education Division do exército norteamericano.
No que se refere aos fatores relativos à audiência, HymanSheatsley (1947, pág. 449)
assinalam que “pressupor uma correspondência perfeita entre a natureza e a quantidade de
material apresentado em uma campanha informativa e sua absorção por parte do público é
uma perspectiva ingênua porque a natureza real e o grau de exposição do público ao material
informativo são, em grande parte, determinados por certas características psicológicas da
própria audiência”.
Da perspectiva de obter informação, Wolf (1995. pág. 33) acentua “a existência de uma
parte do público que não possui nenhum conhecimento sobre os assuntos tratados em uma
campanha”. HymanSheatsley (1947, pág. 45) asseveram que “há, pois, alguma coisa nos não
informados que os torna difíceis de captar, seja qual for o nível ou natureza da informação”.
A exposição seletiva estudada pelas pesquisas administrativas tem como problema central,
segundo revela Wolf (1995, pág 34) que “os componentes da audiência tendem a ser expostos
à informação que está de acordo com suas atitudes e a evitar as mensagens que, pelo contrário,
estão em desacordo com essas atitudes”. Isto é, “as campanhas de persuasão são bem
acolhidas, sobretudo por indivíduos que já estão de acordo com as opiniões apresentadas ou
que já foram sensibilizados para os temas propostos”. Fica evidenciada assim a complexidade
da relação comunicativa, ao contrário do esquematismo da anterior teoria hipodérmica.
Quanto à percepção seletiva, Klapper (1963, pág. 247) afirma que “os elementos do
público não se expõem ao rádio, à televisão ou ao jornal num estado de nudez psicológica;
pelo contrário, apresentase revestidos e protegidos por predisposições já existentes, por
processos seletivos e por outros fatores”.
Wolf (1995, pág. 35) cita o estudo de Cooper e Jahoda (1947) sobre as possibilidades de
êxito de uma série de desenhos animados (cartoon) para a mudança, em um sentido anti
racista, dos comportamentos dos indivíduos com preconceitos raciais. Este estudo demonstra
precisamente que uma reação comum para fugir da questão é não compreender a mensagem.
Os autores qualificam este procedimento de derailment of understanding ou decodificação
aberrante.
Os estudos sobre a memorização seletiva demonstram que a memorização das mensagens
contém elementos de seletividade análogos aos que vimos anteriormente (Wolf, 1995, pág.
37). Bartlett (1932) assinalou que:
O efeito latente
O sleeper effect ou efeito latente, segundo os cientistas, que se dá depois da exposição
do sujeito à mensagem, apresenta, em certos casos, uma eficácia persuasiva quase nula, mas à
medida que o tempo passa, essa eficácia aumenta.
HovlandLumsdaineSheffield (1949) explicam que “se no início a atitude negativa do
destinatário em relação à fonte constitui uma barreira eficaz contra a persuasão, a
memorização seletiva atenua esse fator e, ao contrário, persistem os conteúdos da mensagem,
que aumentam progressivamente sua influência persuasiva”.
É importante levar em conta este elemento da memorização seletiva não apenas nos
estudos de uma campanha informativa/ persuasiva, mas também nos elementos relativos à
mensagem, Wolf (1995, pág. 37). Os fatores ligados à mensagem são um ponto central desta
pesquisa. Nesse sentido, Wolf (1995, pág. 38) chama a atenção para os quatro fatores da
mensagem: “Credibilidade da fonte; a ordem da argumentação; a integridade das
argumentações e a explicitação das conclusões”.
A ordem da argumentação é um tipo de pesquisa cujo objetivo é estabelecer se em uma
mensagem bilateral (pró e contra) são mais eficazes as argumentações finais de apoio à
posição contrária. Falase do efeito primacy (ao comprovarse, neste caso, uma maior eficácia
nos argumentos iniciais) enquanto que os efeitos recency vão ocorrer quando se observa que
os argumentos finais são mais influentes, Wolf (1995, pág. 39).
O estudo empírico de campo ou dos efeitos limitados é uma teoria dos mass media de
orientação sociológica e, como a psicologia estudada anteriormente, também estará presente
nos trabalhos contemporâneos da pesquisa experimental.
Este tipo de estudo sobre os meios de comunicação marcou de forma significativa a
história da communication research. Segundo Wolf (1995, pág. 42), “as aquisições mais
importantes desta teoria se transformam em clássicas e perpetuam sua presença em todas as
resenhas críticas da literatura sobre a matéria”.
Para Wolf (1995, pág. 42), “a perspectiva que caracteriza o começo da pesquisa
sociológica empírica sobre as comunicações de massas trata de forma global a todos os mass
media do ponto de vista de sua capacidade de influência sobre o público”. O autor também
assinala que “a denominação efeitos limitados não indica apenas uma diferente avaliação da
quantidade de efeitos; indica, igualmente, uma configuração desses efeitos qualitativamente
diferente”.
Contrastando com as demais teorias estudadas podese destacar que:
Os estudos mais notáveis sobre o contexto social e os efeitos dos mass media podem
ser constatados nas pesquisas de Janowitz e Shils (1948), como já havíamos citado
anteriormente. Trabalho realizado durante a Segunda Guerra Mundial sobre a questão dos
efeitos obtidos pela propaganda aliada dirigida às tropas alemãs, às quais pretendiam
convencer a depor as armas. No entanto, a pesquisa mãe desta teoria é o estudo realizado por
LazarsfeldBerelsonGaudet (1944), cuja obra é The People’s Choice. How the Voter makes up
his Mind in a Presidential Campaign (A opção das pessoas: como o eleitor elabora suas
próprias decisões em uma campanha presidencial).
Neste caso fica explicito que “as teorias sobre a influência dos mass media revelam um
movimento oscilante: partem de uma atribuição de grande capacidade manipulador; passam
depois por uma fase intermediária na qual o poder de influência é redimensionado de diversas
formas, e finalmente, nos últimos anos, tornam a adotar posições que atribuem aos mass
media um efeito notável, ainda que motivado de uma forma diferente da que afirmava a teoria
hipodérmica”, Wolk (1995, pág. 54).
Carey (1978, pág. 155) destaca que:
A teoria funcionalista dos mass media constitui essencialmente um estudo global dos
meios de comunicação de massas em seu conjunto. Suas articulações internas estabelecem as
distinções entre gêneros e meios específicos, mas se acentua, significativamente, a
explicitação das funções exercidas pelo sistema das comunicações de massas. Segundo Wolf
(1995, pág. 55), “é este o aspecto que mais se distancia das teorias precedentes: as questões de
fundo já não são os efeitos, mas as funções exercidas pela comunicação de massas na
sociedade”.
Fica evidente que o curso seguido por esta pesquisa sobre os mass media começou por
concentrarse nos problemas da manipulação para passar aos de persuasão, depois à
influência, para chegar precisamente às funções.
Na evolução geral do estudo das comunicações de massas, Wolf (1995, pág. 56)
acentuou progressivamente “as relações entre fenômenos comunicativos e contexto social, a
teoria funcionalista ocupa uma posição muito precisa que consiste na definição da
problemática dos mass media a partir do ponto de vista da sociedade e de seu equilíbrio, da
perspectiva do funcionamento do sistema social em seu conjunto”.
Assim, já “não é a dinâmica interna dos processos comunicativos (como é típico,
sobretudo, da teoria dos mass media). É a dinâmica do sistema social e o papel que nele
desempenham as comunicações de massas”. Wolf considera, nesse aspecto, que a teoria
funcionalista dos mass media representa, assim, uma etapa importante na crescente e
progressiva orientação sociológica da communication research.
Sabese que a teoria sociológica do funcionalismo estrutural está preocupada com a
ação social e não com o comportamento e sua adesão aos modelos de valores interiorizados e
institucionalizados. A sociedade é vista de uma forma global. De Leonardis (1976, pág. 17)
assinala que:
As funções das comunicações de massas são explicitadas por Wright (1960) em seu ensaio
Functional Analysis and Mass Communication e Wolf (1995), que descreve uma estrutura
conceitual que deveria permitir inventariar, em termos funcionais, os complexos vínculos que
existem entre os mass media e a sociedade, tais como:
1. as funções e
2. as disfunções
3. latentes e
4. manifestas das transmissões
5. jornalísticas,
6. informativas,
7. culturais,
8. de entretenimento, relativas
9. à sociedade,
10. aos grupos,
11. ao indivíduo,
12. ao sistema cultural.
Este inventário das funções de Wright se relaciona com os quatro tipos de fenômenos
comunicativos diferentes: a) existência de um sistema global dos mass media em uma
sociedade; b) os tipos de modelos específicos de comunicação ligados a cada meio de
comunicação (imprensa, rádio, televisão, etc.); c) a ordem institucional e organizativa em que
operam os vários mass media; e d) as conseqüências que derivam do fato de que a principal
atividade da comunicação se desenvolve através dos mass media.
Wright (1974, pág. 205) e Wolf (1995, pág. 60), observam que “os quatro tipos de
atividades comunicativas por ele indicadas (observação atenta do ambiente, interpretação dos
acontecimentos, transmissão cultural e entretenimento) não são sinônimos de funções; refere
se às conseqüências de desempenhar tais atividades comunicativas mediante os processos
institucionalizados de comunicação de massas”.
Com relação ao indivíduo, e no que diz respeito à ‘mera existência’ dos meios de
comunicação de massas, Wolf (1995, pág. 60) afirma que independentemente de sua ordem
institucional e organizativa são indicadas três funções:
a) A atribuição de posição social e de prestígio às pessoas e aos grupos que são
objeto de atenção por parte dos mass media; estabelecese um esquema circular,
uma posição social, entrase na atividade social organizada, legitimando certas
pessoas, grupos e tendências sociais que recebem o apoio dos meios de
comunicação de massas (LazarsfeldMerton (1948, pág. 82).
b) O esforço de prestígio daqueles que se identificam com a necessidade e o valor
socialmente difundido, de ser cidadãos bem informados;
c) O esforço das normas sociais, isto é, uma função ode caráter ético.
O controle social realizado pelos meios de comunicação
Já para Wright (1960, pág. 102), esta última função implica que “a informação dos meios
de comunicação reforça o controle social nas grandes sociedades urbanas onde o anonimato
das cidades debilita os mecanismos de descoberta e controle do comportamento com o
contato informal cara a cara”. Ou também, segundo Lazarsfeld e Merton (1948, pág. 48), “está
claro que os meios de comunicação de massas servem para confirmar as normas sociais,
denunciando seus desvios à opinião pública. O estudo do tipo particular de normas assim
confirmado aporta um índice válido da medida em que esses meios afrontam problemas,
periféricos ou centrais, de nossa estrutura social”.
A difusão de notícias alarmantes pode provocar reações de pânico em vez de reações de
vigilância consciente. Por outro lado, a exposição a grandes quantidades de informação pode
provocar a chamada disfunção narcotizante. Lazarsfeld e Merton a definem como:
As hipóteses de usos e satisfações (uses anda gratifications) demonstram (Wolf 1995,
pág. 63) que “se a idéia inicial da comunicação como geradora de uma influência imediata,
em uma relação estímulo/ reação, é suplantada por uma pesquisa mais atenta aos contextos e
às interações sociais dos receptores e que descreve a eficácia da comunicação como resultado
global de múltiplos fatores, na medida em que o estudo funcional se enraizar nas ciências
sociais, os estudos sobre os efeitos passam da pergunta o que é que os mass media fazem com
as pessoas? para a pergunta o que é que as pessoas fazem com os mass media?”.
Deve se levar em conta que, normalmente, nem sequer a mensagem do mais poderoso
dos mass media pode influenciar a um indivíduo que não faça uso dele no contexto sócio
psicológico em que vive”, Katz (1959, pág. 2). Por outro lado, Merton (1982) compartilhando
essa idéia, afirma que “o efeito da comunicação de massas é entendido como conseqüência
das satisfações às necessidades experimentadas pelo receptor: atribui tal eficácia baseandose
precisamente na satisfação das necessidades”. Além disso, “a influência das comunicações de
massas permanecerá incompreensível si não for considerada sua importância com relação aos
critérios da experiência e aos contextos e situações do público: as mensagens captadas,
interpretadas e adaptadas ao contexto subjetivo das experiências, conhecimentos e
motivações”.
Neste sentido, McQuail (1975, pág. 17) observa que “o receptor é também um
iniciador, seja no sentido de originar mensagens de retorno, seja no sentido de pôr em prática
processos de interpretação com um certo grau de autonomia. O receptor ‘atua’ sobre a
informação que está a sua disposição e ‘a utiliza’”. Para Wolf (1995, pág. 63), “segundo este
ponto de vista, o destinatário – mesmo estando desprovido de um papel autônomo e simétrico
ao do destinador, no processo de transmissão das mensagens – transformase, no entanto, em
sujeito comunicativo total. No processo da comunicação, tanto o transmissor como o receptor
é partes ativas”.
A hipótese dos usos e satisfação gerou algumas dúvidas, que a citação acima serve
para esclarecer. Segundo Wolf (1995, pág. 64), “por um lado, essa hipótese se insere na teoria
funcionalista dos mass media e constitui seu desenvolvimento empírico mais consistente; por
outro lado, se insere no movimento da revisão e superação do esquema informacional da
comunicação”. Sociologicamente, continua Wolf, “constitui e se acompanha a elaboração de
uma teoria comunicativa, diferentes da teoria da informação, que o estudo semiótico propunha
entre fins dos anos sessenta e meados dos anos setenta”. Para este autor, “a hipótese dos usos
e satisfação ocupa, na evolução da communication research, um lugar mais importante que o
que está apenas ligado à teoria funcionalista”.
Sobre os usos e satisfação é possível identificar três precedentes teóricos:
1 – Os estudos de Waples, Berelson e Bradslaw (1940) sobre a função e os efeitos da leitura;
2 – Berelson (1949) estuda as reações dos leitores dos diários durante a greve dos jornais de
Nova York; e
Wright (1960) agrega a estas três funções uma quarta: a de entreter o espectador,
dandolhe um meio de evadirse das ansiedades e dos problemas da vida social. Katz,
Gurevitz e Haas (1973), baseandose em uma pesquisa da literatura sobre os mass media, com
relação às funções psicológicas e sociais da comunicação de massas, distinguem cinco classes
de necessidades que os mass media satisfazem:
a) necessidades cognitivas (aquisição e reforço de conhecimentos e de compreensão);
b) necessidades afetivas e estéticas (reforço da experiência estética, emotiva);
c) necessidades de integração no nível da personalidade (segurança, estabilidade
emocional, incremento da credibilidade e da posição social);
d) necessidades de integração no nível social (reforço de contatos interpessoais, com a
família, amigos, etc.); e
e) necessidades de evasão (redução das tensões e dos conflitos).
Nos estudos das reações da audiência, o conteúdo específico da mensagem pode ser
relativamente secundário. O significado do consumo dos mass media não pode ser
demonstrado somente pela análise de seu conteúdo ou por parâmetros sociológicos
tradicionais baseados nos quais o público é descrito (Wolf, 1995, pág. 68). Para Mc Quail
(1975, pág. 11), “não implicam nenhuma inclinação para a fonte representada pela emissão;
têm significado somente no mundo do sujeito que forma o público”.
Com o nazismo, a Escola de Frankfurt se transfere para Paris, depois para várias
universidades americanos e, finalmente, para o Institute of Social Research, em Nova York
(1950).
Exatamente por isso a teoria crítica pretende ser o oposto, pretende evitar a função
ideológica das ciências e das disciplinas setorizadas. Diferencia-se das demais teorias que
crêem nos dados e fatos por crer que o produto de uma situação é gerado por uma situação
histórico-social específica. Para Horkheimer (1937, pág. 25, citado em Rusconi, 1968e Wolf,
1995, págs. 73 e 74), “os fatos que os sentidos nos transmitem são pré-fabricados socialmente
de dois modos: através do caráter histórico do objeto percebido e através do caráter histórico
do órgão perceptivo. Nem um, nem outro são meramente naturais: pelo contrário, são
formados por meio da atividade humana”.
O ponto de partida da análise da teoria crítica é a análise do sistema da economia de
mercado, denunciando a separação e a oposição do indivíduo em relação com a sociedade
como resultante histórico da divisão de classes. Segundo Horkheimer (1937, pág 267):
Rusconi (1968, pág. 38, citado por Wolf, 1995, pág 74) afirma que:
Adorno e Horkheimer (1956, pág. 39), acreditavam que “é necessário libertarse da
pobre síntese de estática e dinâmica social que se manifesta na atividade científica, como
antítese da doutrina conceitual da sociologia geral, por um lado, e como empirismo sem
conceituação, por outro”.
Isto porque “a teoria crítica propõese a realizar aquilo que escapa à sociologia”. OU
seja, “uma teoria da sociedade que implique uma avaliação crítica da própria construção
científica”, Wolf (1995, pág. 74).
Marcuse (1936, pág. 29) entendia que “os fins específicos da teoria crítica são a
organização de uma vida em que o destino dos indivíduos seja dependente não já do acaso e
da cega necessidade de incontrolados laços econômicos, mas sim de realização programada
das possibilidades humanas”.
Indústria Cultural
Considerando que os informativos televisivos são um produto da indústria cultural,
nossa análise como marco teórica está refletida nos conceitos e análises da teoria crítica,
levando em conta a industrial cultural como sistema.
O termo indústria cultural foi utilizado pela primeira vez por Horkheimer e Adorno na
Dialéctica del Iluminismo (1947), onde se descreve a transformação do progresso social em
seu contrário, a partir das análises de fenômenos sociais característicos da sociedade norte
americana, entre os anos trinta e os anos quarenta (Wolf, 1995, pág. 75).
A interpretação corrente de indústria cultural é a de que se trata de uma cultura que
nasce espontaneamente das próprias massas, de uma forma contemporânea de arte popular,
segundo explicitaram vários estudiosos.
Do ponto de vista do indivíduo na era da indústria cultural, segundo a teoria crítica, “o
indivíduo deixa de decidir autonomamente; o conflito entre impulsos e consciência se
soluciona com a adesão acrítica aos valores já impostos”. Adorno (1951, pág. 3) afirma que:
A qualidade dos produtos culturais é outro ponto contundente na teoria crítica. Para
Horkheimer e Adorno (1947, pág. 137), os produtos culturais “desde o mais típico, o filme
sonoro, paralisam ‘a imaginação e a espontaneidade’ por sua própria constituição objetiva.
São feitos de tal modo que sua adequada apreensão exige não apenas prontidão de instinto,
dotes de observação e competência específica, mas também são feitos para impedir a
atividade mental do espectador se ele não quiser perder os fatos que passam rapidamente na
sua frente”.
Wolf (1995, págs. 73 a 88) observa que, segundo a teoria crítica, estes produtos são
construídos para um consumo descontraído, não comprometedor. Isto é, “cada um desses
produtos reflete o modelo do mecanismo econômico que domina o tempo do trabalho e o
tempo do ócio. Cada qual torna a propor a lógica da dominação que não poderia ser apontada
como efeito de um simples fragmento, mas que é, pelo contrário, próprio de toda a indústria
cultural e da atração que ela exerce na sociedade industrial avançada”.
Desta forma, o espectador não deve atuar pela própria cabeça; o produto prescreve
todas as reações; não por seu contexto objetivo, mas através de sinais, obstaculizando sua
capacidade de pensar. Qualquer conexão lógica que exija perspicácia intelectual é
escrupulosamente repelida”, Adorno (1947, pág. 148).
Wolf (1995, pág. 80) opina que com estas características da indústria cultural é
evidente que nenhum tipo de análise dos meios de comunicação de massas pode ignorálas e
muito menos uma análise dos chamados efeitos dos mass media. Nem sequer o interesse por
um meio específico, como a televisão e sua linguagem, deve prescindir do contexto
econômico, social e cultural em que esse meio opera.
Sobre esta questão, Adorno (1954, pág, 384) escreve que:
Para Wolf (1995, pág. 81), “a manipulação do público – perseguida e conseguida pela
indústria cultural entendida como forma de domínio das sociedades altamente desenvolvidas –
passa assim pelo meio televisivo, mediante efeitos que são postos em prática nos níveis
latentes das mensagens”. Esse autor aponta também que “eles fingem dizer uma coisa e diz
outra, finge ser frívolos, mas ao situar-se mais além do conhecimento público, reforçam seu
estado (situação) de servidão. Através do material que vê, o observador é continuamente
colocada, sem saber, na situação de absorver ordens, indicações, proibição”.
Com relação aos gêneros, Wolf (1995, pág. 81) afirma que “portanto, a estratégia de
domínio da indústria cultural vem de longe e dispõe de múltiplas táticas. Uma delas consiste
na estereotipagem”. O estereótipo, segundo assinalou Wolf, “é um elemento indispensável
para organizar e antecipar a experiência da realidade social que o sujeito leva a efeito.
Impedem o caos cognitivo, a desorganização mental, constituem, em suma, um instrumento
necessário da economia no aprendizado. Como tal, nenhuma atividade pode prescindir deles;
porém, na evolução histórica da indústria cultural, a função dos estereótipos alterou-se e
modificou-se profundamente”.
A divisão do conteúdo televisivo em vários gêneros (jogos, policiais, comédia, cinema,
informativos, etc.) conduziu ao desenvolvimento de formas rígidas, fixas, importantes porque
definem o modelo de atitude do espectador, antes que este se interrogue acerca de qualquer
conteúdo específico, determinando assim, em grande medida, o modo como esse conteúdo é
percebido, Adorno (1954, pág. 388).
Por uma cultura de massas: os cultural studies
No início dos anos 60 surge na França a teoria culturológica fazendo oposição, como o
fazia a teoria crítica, à communication research de pesquisa administrativa. A característica
fundamental desta teoria, segundo escreveu Wolf (1995, pág. 89), “é o estudo da cultura de
massas, distinguindo seus elementos antropológicos mais relevantes e a relação entre o
consumidor e o objeto de consumo”.
Morin propõe de fato uma fenomenologia sistemática apoiada pela pesquisa empírica,
Wolf (1995, pág. 94), “a ausência de sistematicidade própria da teoria culturológica, as
reações por ela suscitadas, sobretudo na França, reivindicarão um comportamento mais
empírico, menos vago e generalizante em relação com estes problemas”.
BourdierPasseron (1963, pág. 17) tinham a seguinte opinião: “os mass media podem
funcionar como veículos para as mais diversas mensagens e encontrar os mais variados níveis
de receptividade; brincando com o efeito de halo, contentamse com despertar o modelo
arquétipo de condicionamento através da imagem publicitária. Uma sociologia que quisesse
reintroduzir uma avaliação discreta do fenômeno em seus matizes e em seus limites, é
considerada, literalmente, mais na sociedade que no Espírito do Tempo”.
Ou bem, “a constatação de que a mensagem dos mass media não tem, implicitamente,
capacidade para eludir as defesas da personalidade do destinatário. Estas questões banais
apontam o caminho de um discurso dos mass media que, mais que profético, pretende ser
objeto e fruto de uma elaboração científica”.(BourdieuPasseron, 1963, pág. 31, em Wolf,
1995, pág 95).
As controvérsias e polêmicas surgidas no curso dos tempos no seio da communication
research e exploradas com mais veemência pelos pesquisadores da teoria culturológica
ajudarão a compreender o aspecto de fundo da pesquisa comunicativa que é, segundo Wolf
(1995, pág. 95), “o fato de estar fortemente exposta a discursos de competência, setoriais e às
vezes corporativos sobre o mesmo assunto”. Ou seja, de um lado, “o saber prático dos
profissionais de comunicação (jornalistas, mediamen, publicitários, responsáveis
televisivos)” e de outro lado, “o saber político das instituições diretas ou indiretamente
implicadas na gestão ou no controle dos mass media”.
Para redefinir esta contradição surgem os cultural studies, teoria dos mass media, na
Inglaterra (1950/60). Seu interesse está centrado principalmente na análise de uma forma
específica de processo social, relativa à atribuição de sentido à realidade, à evolução de uma
cultura, de práticas sociais compartilhadas, de uma área comum de significados (Wolf, 1995,
pág. 96).
A essência desta teoria é a de que “a cultura não é uma prática, nem é simplesmente a
descrição da soma dos hábitos e costumes de uma sociedade”. Passa por todas as práticas
sociais e é a soma de suas interrelações, segundo destacou Hall (1980, pág. 60). O objetivo
dos cultural studies, Wolf (1995, págs. 96 e 97), é definir o estudo da cultura própria da
sociedade contemporânea como um campo de análise conceitualmente relevante, pertinente e
teoricamente fundamentado”.
O papel da cultura
O papel atribuído à cultura pelos culturais studies “não é um papel meramente
reflexivo e residual no que se refere às determinações da esfera econômica”, assinala Wolf. Os
culturais studies se diferenciam de outra corrente de pesquisa sobre os mass media e da
produção cultural. O cultural studies representa a cultura em um âmbito mais clássico, em
que a especificidade da dimensão culturalideológica tende a atenuarse; a dinâmica
econômica é, de fato, proposta como explicação necessária, e também suficiente, para
compreender o processo dos efeitos culturais e ideológicos dos mass media”(Hall, 1980, em
Wolf, 1995, pág. 97).
Em outras palavras, para os teóricos dos cultural studies, “o efeito ideológico global da
reprodução do sistema cultural operada através dos mass media sobressai pela análise de
várias determinações (internas e externas ao sistema de comunicação de massas) que
vinculam ou liberam as mensagens dentro das práticas produtivas e através delas”(Wolf, 1995,
pág. 97).
Teorias da palavra, da imagem, do som, da luz, da cor, da
linguagem nãoverbal
O estudo da palavra, da imagem e do som nos informativos televisivos entranha uma
série de estudos que podem dar conta deste processo de comunicação como um todo,
enquanto queremos detectar as estruturas da construção da linguagem audiovisual informativa
da televisão. Portanto, o marco teórico que se encaixa neste estudo é a combinação de várias
teorias, por considerarmos que um só modelo não é suficientemente adequado para analisar a
magnitude do problema proposto.
Bauer (1964, pág. 517) já havia apontado a necessidade de um estudo multidisciplinar
na pesquisa comunicativa. Segundo ele, “se perfila atualmente uma situação que permite
deslocar o ‘centro de gravidade’ da pesquisa comunicativa, da utilização de um método para a
essência de problemas que para serem avaliados exigem metodologias diversas”.
McQuail (1981, pág. 54) compartilha essa linha de pensamento ao afirmar que “os
mass media são um fenômeno demasiado complexo para ser representado por um modelo de
tipo convencional e, além disso, em muitos aspectos, as atividades sociais chave que devem
ser estudadas não são predominantemente comunicativas, a não ser no sentido de que todas as
relações sociais dependem da comunicação”.
Ou também, segundo esse mesmo autor, “as comunicações de massas são em grande
parte caracterizadas por desigualdades, solipsismos, irracionalidade e disfuncionalidade (...) e
as atividades implicadas podem parecer, muitas vezes, bastante diversas a participantes
‘situados’ de um modo diferente”(1981, pág. 54).
Neste sentido, ao estudar os informativos televisivos brasileiros e espanhóis quanto à
estrutura de suas linguagens e o grau de compreensão de duas populações de trabalhadores
rurais no Brasil e na Espanha, estivemos sujeitos a uma gama de variáveis que só através de
uma metodologia multidisciplinar e de múltiplas teorias seria possível desenvolver tal
pesquisa.
Assim, este estudo se nutre de um marco teórico variado, motivado pelas seguintes
argumentações:
essencialmente comunicativo. Efetivamente, emissores e receptores constituem grupos sociais
diferentemente estruturados. No caso dos emissores, são grupos com níveis organizativos
compartilhados e por eficazes sistemas de sanções e de recompensas. Os destinatários, por sua
vez, mesmo apresentando uma situação estruturada em que os laços do grupo e os sistemas de
referência estão organizados e são, em parte, compartilhados, não possuem formas de
agregação comparáveis às dos emissores e, além disso, é difícil que a audiência tenha uma
percepção coletiva de si própria”.
Nesta mesma acepção, Wolf (1995, pág. 120) compartilha dessa asseveração ao
afirmar que “somente a esse nível macrosocial podem ser captados os significados da
comunicação de massas”. Wolf assinala também que “essa tendência – originada, em parte,
pelo funcionalismo implícito na herança da teoria crítica – está se convertendo na forma
atualizada de tornar a propor antigas oposições, no âmbito global dos estudos dos mass
media”.
Sankoff (1980) e Wolf (1995) chamam a atenção sobre a necessidade da pesquisa na
comunicação e de trabalhar em um marco teórico variado. Sankoff observa que “se a pesquisa
não se concentra nas possíveis relações, associações e mediações existentes entre as diversas
proposições, o resultado implícito na essencialidade comprovada de uma pertinência em
relação com as outras é a sobrevivência da velha representação lineartransmissiva do
processo comunicativo”. Além disso, “por trás do funcionalismo que individualizar, como
objeto principal de análise, a macrofunção de controle social desempenhada pelos mass
media, existe uma idéia de comunicação que confunde a unidirecionalidade do processo de
transmissão com a simplicidade da atividade comunicativa e, além disso, pressupõe um
conceito de cultura que implica um completo e homogêneo compartilhamento do mapa
cognitivo por parte de todos os membros de uma sociedade, com um hiperdeterminismo que
é amplamente refutado pelas pesquisas realizadas em outros domínios”.
Desta forma, este estudo se encaixou, dependendo da variável estudada, em marcos
teóricos distintos, como veremos a seguir:
Em um primeiro momento, analisados os estudos que contextualizam os paradigmas
sobre os mass media; a metodologia aqui utilizada como marco teórico é o das Teorias
Comunicacionais (Teoria dos Sistemas de Bertalanffly; Teoria Cibernética de Wienear e
princípio de retroação); Teoria Matemática da Informação, de Shannon (concepção
mecanicista); Modelos de comunicação de Kientz, Maletzke; Modelo Schramm de
comunicação pessoal; Modelo Schramm de comunicação coletiva; Modelo geral de
comunicação de Westley/ Maclean; da Teoria Crítica e dos modelos das Novas tendências das
Teorias comunicativas. De forma mais ajustada, analisamos os mass media televisivos
(informativos televisivos) nos marcos teóricos da construção da realidade social do ponto de
vista da agendasetting; da sociologia dos emissores ao newsmaking, potenciando a pesquisa a
partir de um estudo dos emissores e do valor notícia (do gatekeeper ao newsmaking). E
também as teorias que fundamentam os estudos das rotinas produtivas, a seleção de notícias, o
editing e a apresentação das notícias que nos servirão como marco teórico através da
observação participante e da entrevista; dos estudos de conteúdo; dos estudos casuísticos e do
estudo comparativo.
A teoria da informação
Na parte que trata dos conceitos e definições já deixamos claros os marcos do processo
de comunicação e informação nos meios de comunicação de massas, que são bem definidas
por suas quatros características básicas: a) a de comunicação dirigida a um grande público,
heterogêneo; b) organização ampla e complexa, com capital e tecnologias especializadas
como a multimídia e a telemática, caracterização importante para delimitar as fronteiras que
separam a comunicação de massas da comunicação que não é de massas; c) esta audiência,
além de indefinida e dispersa geograficamente, é anônima; e d) são veículos de comunicação
em um só sentido (mesmo que disponham de vários feedbacks, como índices de consumo ou
de audiência, cartas, telefonemas, etc.), segundo revelaram Pfromm Netto e Pasquali (1987).
Como já havíamos explicitado anteriormente na parte correspondente às definições e
conceitos, o modelo comunicativo da teoria da informação pode ser observado historicamente
como, no nível semântico, os termos comunicação e comunicar mudam de forma sensível,
como também destacou Wolf (1995, pág. 100).
A origem do modelo está nos trabalhos de engenharia das telecomunicações. Escarpit
(1976) distingue três momentos fundamentais: um estudo de Niquist (1924) sobre a velocidade
de transmissão das mensagens telegráficas; um trabalho de Hartley (1928) sobre a medida da
quantidade de informação e, finalmente, o esboço publicado em 1948 por Shannon no Bell
System Technical Journal, da teoria da informação. Escarpit (1976, pág. 19) afirma que “é,
antes de tudo, uma teoria do rendimento informacional”. Para Umberto Eco (1972, págs.14 e
15), “esta é entendida como uma propriedade estatística da fonte das mensagens (...), como
medida de uma situação de eqüiprobabilidade, de distribuição estatística uniforme, que existe
na fonte (...) como um valor de eqüiprobabilidade entre muitos elementos combináveis, valor
que é tanto maior quanto mais opções são possíveis”(Ver Wolf, 1995, págs. 100 e 101 e 199).
fonte de informação destinatário
mensagem mensagem
sinal sinal captado
transmissor receptor
fonte de ruído
Fonte: Mauro Wolf, 1985, pág. 101
Teoria Matemática
Neste sentido, sobre cada processo comunicativo, Eco (1972, pág. 10) afirma que o
modelo de Shannon ilustra que “existe sempre uma fonte ou origem da informação, a partir da
qual é emitido um sinal através de um aparelho transmissor; esse sinal viaja através de um
canal ao longo do qual pode ser perturbado por um ruído, Quando sai do canal, o sinal é
captado por um receptor que o converte em mensagem, que, como tal, é compreendida pelo
destinatário” (Ver Wolf, 1995, pág. 101).
Para Escarpit (1976, pág. 33), um dos méritos de Shannon, maior ainda que a avaliação
da entropia, é o fato de ter formulado aquilo que se chamou teorema do canal do ruído”. Este
canal, segundo destacou esse autor, “baseiase em uma melhor utilização da codificação: os
efeitos da cadeia energética são arranjados através de melhoramentos no rendimento da cadeia
informacional” (Escarpit em Wolf, 1995, pág. 102).
Assim, o problema da teoria da informação é a sintaxe interna do sistema binário, não
o fato de que as seqüências expressadas pelo sistema binário podem se expressar, como
conteúdo, em letras alfabéticas ou qualquer outra seqüência de valor (...). A teoria da
informação constitui um método de cálculo das unidades do sinal transmissíveis e
transmitidas e não um método de cálculo das unidades de significado, Eco (1972, pág 8).
Esse autor afirma também que “se para a teoria da informação são relevantes os
aspectos ligados ao significante, a suas características – a saber, a resistência à distorção
provocada pelo ruído, a facilidade de codificação e decodificação, a rapidez de transmissão ,
para tudo que se refere ao aspecto comunicacional não se pode prescindir da observação de
que para o destinatário humano a mensagem adquire um significado e pode ter muitos
sentidos possíveis (...) O destinatário extrai o sentido a ser atribuído à mensagem do código e
não da própria mensagem”. (Eco, 1972, pág. 21 em Wolf, 1995, pág. 104).
É certo que para a teoria da informação o significado que é comunicado não conta, e o
que conta é o número de alternativas necessárias para definir o acontecimento sem
ambigüidade, também é certo que para o estudo das comunicações de massas tem uma certa
importância o fato de que o destinador e o destinatário não fazem distinções e avaliações
apenas em termos de probabilidade do sinal, mas também, e sobretudo, em termos de sentido
daquilo que se comunica e do próprio ato de comunicar (Eco, 1972, pág. 14 em Wolf, 1995,
pág. 106).
A lingüística Jakobsiana
A lingüística jakobsiana e a aproximação ao modelo informacional desempenharam
um papel significativo na ampliação do uso do modelo comunicacional de Shannon. Houve
um alinhamento da terminologia lingüística jakobsiana à teoria matemática da comunicação.
Segundo escreveu Wolf (1995, págs. 106 e 107), Jakobson (1963, pág. 8) afirma que “é
necessário reconhecer que, em certos aspectos, os problemas da troca de informações
receberão, por parte dos engenheiros, uma formulação mais exata e menos ambígua, um
controle mais eficaz das técnicas utilizadas no conjunto com possibilidades de quantificações
significativas”. Ou também que “o princípio dicotômico que está subjacente em todo o
sistema dos sinais distintivos na linguagem foi revelado gradualmente pela lingüística e
encontrou sua confirmação no emprego, por parte dos técnicos da comunicação, do sistema de
numeração binária. Quando definem informação seletiva de uma mensagem como o número
mínimo de decisões binárias que permitem que o receptor reconstrua aquilo que deve extrair
da mensagem a partir dos dados que têm a sua disposição, enunciam uma forma realista
perfeitamente aplicável ao papel dos sinais distintivos na comunicação lingüística” (Eco, 1961,
pág. 66).
Segundo os estudos de Jakobson (1963), Jacques (1982) e Wolf (1995), podese
constatar que “a teoria psicológicaexperimental sobre os fatores seletivos da audiência e
sobre a estrutura ideal das mensagens persuasivas pode ser interpretada como homóloga da
variável do ruído que estorva o processo de transmissão”.
Wolf (1995, pág. 107) destaca que “só quando o modelo semiótico explicita a
significação inerente ao processo comunicativo é que o problema dos efeitos é formulado de
um modo diferente, através da variável da decodificação e dos sistemas de conhecimentos e
competências que orientam”. Segundo este autor, “isto provoca – juntamente com outros
desvios¸tais como a influência das problemáticas ligadas à sociologia do conhecimento – a
modificação do clima de opinião. Para Sari (1980, pág. 443), “o modelo emissor/ receptor se
presta muito bem para as análises experimentais, para as quantificações, mais análogas às das
ciências físicas”.
MODELO ECO-FABRI
Canal
(Fonte) > Mensagem emitida >Mensagem recebida >Destinatário>Mensagem
Emissor como significante que como significante recebida como
veicula um certo significado
significado
Código Código
Subcódigos Subcódigos
Fonte: Mauro Wolf, 1985, p. 110
Mediação entre indivíduos e comunicação
Em 1965, entre outros autores, Eco e Fabri assinalam que “entre a mensagem
entendida como forma significante que veicula um determinado significado e a mensagem
recebida como significado, abrese um espaço extremamente complexo e articulado. Nesse
espaço entra em jogo – do ponto de vista semiótico – o grau em que o destinador e
destinatário compartilham as competências relativas aos vários níveis, que criam a
significação da mensagem”. Segundo esses autores, “do ponto de vista sociológico, é nesse
espaço onde tomam forma as variáveis ligadas aos fatos de mediação entre indivíduos e
comunicação de massas (rede de pequenos grupos, fluxo em dois níveis, funções de liderança
de opinião, hábitos e modelos de consumo dos mass media). Surge aí a possibilidade de uma
decodificação por parte do receptor chamada de decodificação aberrante”. OU seja, “os
destinatários podem fazer uma interpretação das mensagens diferente das intenções do
emissor e do modo como ele previa que a decodificação fosse executada”(Eco e Fabri, 1965,
em Wolf, 1995, pág. 111).
EcoFabri (1978, pág. 561), segundo diz Wolf (1995, pág. 111), afirmam que “de
acordo com as diversas situações sócioculturais existe uma diversidade de códigos e regras de
competência e interpretação. A mensagem tem uma forma significante que pode ter vários
significados, desde que existam vários códigos que estabeleçam várias regras de correlação
entre determinados significantes e determinados significados. No caso de existirem códigos
de base aceitos por todos, há diferenças nos subcódigos”.
Ao contrário da teoria crítica, confirma-se a impossibilidade de inferir, de uma forma
direta e linear, regras de reconhecimento (efeitos de sentido) a partir da gramática de
produção. Esta define um campo de possíveis efeitos de sentido, mas o problema de saber
qual é, concretamente, a gramática de reconhecimento aplicada, em um momento específico,
a um texto, permanece irresolúvel à luz das regras da produção Veron (1978, pág. 11). Fabbri
(1973, pág. 65), segundo destacou Wolf (1995, pág. 114), afirma que “a distinção – elaborada
pela semiótica da cultura – refere como gramaticalizada a cultura erudita que define suas
regras de produção próprias, uma metalinguagem explicitada e reconhecida por toda uma
comunidade discursiva (...) e como textualizada a cultura das comunicações de massas, na
qual são as práticas textuais que se impõem, difundem-se e se constituem como modelos,
correntes, gêneros”.
Assim, a semelhança essencial das rotinas produtivas nos vários meios de informação
não só provoca uma homogeneidade de fundo na cobertura informativa, mas se relaciona
também com o efeito que exerce sobre os sistemas de conhecimento dos destinatários, na
medida em que, pelo menos como tendência, as pessoas compartilham a mesma agenda de
informações, segundo asseverou Larsen (1980 e 1983).
Wolf e Fabbri acreditam que o modelo semióticotextual estuda o papel do destinatário
na construção e no funcionamento comunicativo de um texto. A semiótica e a análise do
discurso estudarão especialmente a dinâmica existente entre destinador e destinatário, ligada à
estrutura textual e nela incluída, mostrando de que forma essa estrutura contempla os
percursos interpretativos que o receptor tem que atualizar”.
Em síntese, a partir das análises realizadas anteriormente se conclui que “as
comunicações de massa são o domínio onde o mínimo de imprevisibilidade da mensagem é
acompanhado pelo máximo de imprevisão sobre sua recepção”.
Decomposição e recomposição:
informação, comunicação, significação e sentido
Neste aspecto, Ramón Carmona (Madri, 1993, pág. 49) propõe que nos detenhamos
nos quatro conceitos fundamentais para a análise da decodificação de uma mensagem
(decomposição e recomposição): informação, comunicação, significação e sentido. Segundo
este autor, é importante verificar o que Eco expunha em seu Tratado de semiótica
general(1975). Nesse tratado, Eco fez as seguintes considerações: “Todos os processos
culturais são abordáveis, do ponto de vista semiótico, como processos de comunicação; cada
um destes processos só é possível pela existência prévia de um sistema de significação. Um
processo de comunicação viria definido pela passagem de um sinal (não necessariamente um
signo) de uma fonte a um destinatário. Em uma transmissão de máquina a máquina (fax,
modem, vídeos, computadores conectados entre si), os sinais não teriam o poder de significar,
na medida em que só faria chegar uma série de estímulos. Neste caso não haveria significação,
embora haja passagem de certa informação. Quando o destinatário é humano, e mesmo não
sendo fonte, sempre que emita, seguindo um sistema de regras conhecidas pelo destinatário
humano, estamos diante de um processo de significação, porquanto o sinal não é apenas um
estímulo, já que provoca uma resposta no destinatário. Esse processo é possível pela existência
de códigos”.
Ramón Carmona (Madri, 1993, pág. 50) afirma que, segundo Eco, “um código assim
pode ser definido como um sistema de significação na medida em que articula entidades
presentes com elementos ausentes. Quando algo oferecido à percepção de um destinatário
humano representa outra coisa, existe significação”. Eco, segundo escreveu Carmona, acredita
que “dessa perspectiva o importante não é a presença de um destinatário humano, mas sim
que um código estabeleça uma correspondência entre representante e representado, válida
para todo destinatário, inclusive mesmo que não exista nem chegue a existir nenhum
destinatário”.
Fonte versus destinatários
Opinião com a qual Carmona não está muito de acordo, já que para ele “tornase
difícil crer na existência de um código que se construa a si mesmo e também porque fonte e
destinatário não são necessariamente entidades diferentes, mas funções que coexistem
internamente em uma mesma entidade em momentos diferenciados do processo: quem emite a
mensagem? e, quem recebe a mensagem?”. Para Carmona (Madri, 1993, pág. 51), “um código
sempre é o resultado de uma convenção surgida a partir de alguém e para alguém, isto é, só
existe sobre a base de uma relação dialógica entre dois pólos”.
Essas diferenças e a definição exata do que é sentido são explicadas por Carmona da
seguinte forma:
O meio é mensagem?
O meio é mensagem? No primeiro capítulo de Understanding Media, McLuhan (1964)
publica o título que o converteu em um dos mais famosos e controvertidos teóricos dos meios
de comunicação de massas: “o meio é a mensagem”. A televisão aparece em nossas vidas nos
mínimos detalhes. McLuhan retrata as mudanças introduzidas pela televisão em todo o que
afeta os níveis culturais da sociedade norte-americana. Para McLuhan, “tratar de compreender
a televisão através da análise de programas seria tão fútil como tratar de compreender a
transcendência da imprensa fazendo uma interpretação do Cântico dos Cânticos na bíblia
impressa por Gutenberg”, segundo analisa Lorenzo Vilches (1993, pág, 23).
Vários estudiosos da comunicação compartilham os conceitos estabelecidos por
Marshal McLuhan sobre o poder dos meios. Em Understanding Media o autor afirma que
“com exceção da luz, todos os meios andam aos pares, um atuando como conteúdo do outro”.
Em Galáxia de Gutenberg (1969), McLuhan desenvolve as teorias que vão marcar do
determinismo tecnológico, e aborda a influência dos meios, cujo poder está nos mass media e
não no conteúdo. Em O meio é a mensagem explica que a maneira como é difundida a
informação afeta a estrutura mental e emocional de quem a recebe, sendo mais importante que
a própria mensagem.
Já em 1962, com Obra abierta, Eco havia desenvolvido a tese de que a obra de arte
exige uma atitude de congenialidade do público com o autor. Preocupa-se com a criação e a
fruição da obra e reexamina os conceitos de comunicação, informação, alienação e outros,
estabelecendo a partir daí uma poética sobre a obra aberta.
Hall (1980, pág. 129) por sua vez analisará o discurso televisivo proposto em seu
Encoding/Decoding construindo o famoso método conhecido como “o paradigma de Hall”.
Seu paradigma, segundo Hall, serve para compreender questões como a recepção da
audiência, a leitura da mensagem e a resposta à audiência.
No entanto, para Vilches (1993, pág. 99), “o método do paradigma de Hall não é
apenas o de aplicar a teoria semiótica à escritura comunicativa da televisão, mas também da
aplicação dos termos de significação e discurso televisivo, conceitos centrais da semiótica da
comunicação, entre eles o signo icônico, o escasso rigor técnico com que se tem utilizado a
distinção entre conotação e denotação, e a pertinência da relação competência/ performance”.
Javier Fombona Cadavieco (Madri, 1996, pág. 25) retoma a questão de “o meio é a
mensagem”, de McLuhan, segundo a análise de Lucas (1976, pág. 114). Lucas faz as
seguintes considerações:
- Cada meio desenvolve seu próprio público, cuja preferência por este meio é muito
mais importante que seu conteúdo;
- A mensagem do meio inclui toda aquela parte da cultura ocidental sobre a qual o meio
exerce influência; e
- O próprio meio molda suas limitações e possibilidades para a comunicação de
conteúdo.
Justo Villafañe & Norberto Mínguez (Madri, 1996, págs 12 a 18), afirmam que “o
estado epistemológico de uma teoria expressa o grau de formulação da mesma”. A
formulação, como diz Bunge (1985, pág. 528), segundo destacaram Villafañe & Mínguez
(1996, pág. 18), “tem um duplo objetivo: um teórico e outro meta-teórico. O primeiro
persegue a eficácia da teoria aportando-lhe ordem e clareza, eliminando redundâncias,
descobrindo insuficiências, melhorando, em suma, a lógica da teoria; o objetivo meta-teórico
é o de facilitar a pesquisa da própria teoria, mostrando sua estrutura lógica, seu pressuposto e
seu conteúdo formal e empírico”. Segundo a resenha bibliográfica que fizemos até aqui sobre
as teorias da imagem e que partilhamos com Villafañe & Mínguez (Madri, 1996, pág. 18), hão
de existir alguns pontos que devem ser examinados, tais como:
c) Dificuldade metodológica real. Segundo Villafañe & Mínguez (Madri, 1996, pág. 18),
“a pergunta: onde se deve situar a origem do estudo da imagem?” terá como resposta
que “freqüentemente as imagens têm sido consideradas exclusivamente como
representações, quando em realidade a natureza icônica abarca outros âmbitos, às
vezes absolutamente intangíveis, como, por exemplo, as imagens mentais”.
Para esses autores, “a revisão dos conceitos clássicos de epistemologia efetuada por
autores como Lakatos, Musgrave, Quine, etc., demonstra que se faz menos pertinente a
determinação do próprio objeto da disciplina científica; ou a de Bunge (1985, pág. 144) que,
embora a partir de posições prévias às daqueles, opina abertamente que uma pesquisa não tem
por que partir da definição do seu objeto”.
Outro aspecto importante apontado por Villafañe & Mínguez, Madri (1996, págs. 18 e
19) é que “no estudo das imagens está a existência de múltiplas teorias, algo que em princípio
não é mau, mas que merece uma reflexão a partir da divisão primária das ciências em formais
e factuais”. Para estes autores, “nas ciências formais o objeto científico coincide com o ou os
conceitos chave; não obstante, nas factuais – e a teoria da imagem o é – essa coincidência é só
conjuntural, tal como assinala Bunge (1985, pág. 143): ‘(...) nenhuma teoria factual pode
prover mais do que uma definição temporal e contextual (parcial, portanto) de seu conceito-
chave; uma mudança da teoria pode supor uma modificação do mencionado conceito’”.
Na opinião destes autores, o que Bunge (1985, pág. 143) quer dizer “é que a existência
de diversas teorias pressupõe diferentes conceitos-chave e, portanto, múltiplos objetos
científicos, com o que inicialmente poderia considerar-se como positivo – a existência de
várias teorias a partir de um mesmo objeto – converte-se assim em algo perigoso, pois nos
encontramos não diante de várias teorias da imagem, mas diante de teorias de diferentes
coisas, não da imagem”.
Villafañe & Mínguez (Madri, 1996, pág 19) crêem que “é difícil assegurar se o estudo
das imagens se baseia em um conhecimento pseudocientífico – caracterizado por
considerações aparentemente científicas, mas que não partilham nem as considerações, nem
as técnicas, nem o corpus de conhecimento da ciência – ou, pelo contrário, já se alcançou o
estatuto que a ciência exige”. Eles consideram que a teoria da imagem se encontra ainda em
um estado pré-teorético.
3 – A escassa base conceitual. Villafañe & Mínguez assinalam que “a escassa base
conceitual das teorias da imagem existentes é outra característica do seu estado
epistemológico, o que não quer dizer que as referidas teorias não estejam povoadas de noções
e conceitos sobre a imagem. O problema é de ordem estritamente epistemológica”.
O real problema epistemológico dos estados da imagem radica, segundo estes autores,
na falta de estabelecimento de sua lógica e de uma epistemologia de seus conceitos. Eles
citam, por exemplo, a filosofia do conhecimento que estabelece esta ordem: “a lógica
conceitual tem duas partes: a sintaxe, que estuda sua estrutura, e a semântica, que se ocupa da
conotação dos conceitos e de sua denotação. A epistemologia dos conceitos se ocupa da
função que eles cumprem no processo do conhecimento”. Para Villafañe & Mínguez, “de
nada serve um grande número de conceitos relativos à imagem se estes: não estão
internamente hierarquizados; não esclarecem suas relações de dependência; não estão
conectados entre si; não foram formulados com o suficiente grau de abstração; não se referem
a propriedades fundamentais ou originárias que possam explicar o maior número de
propriedades deles derivadas”.
Segundo estes autores, “são estas cinco condições ou exigências que o método
científico impõe para que os conceitos sejam eficazes no desenvolvimento de uma teoria; são
as que tornam precário esse arsenal conceitual existente em torno à imagem”.
Devido a estes problemas assinalados por eles, Villafañe & Mínguez (Madri, 1996,
págs. 18 a 20) propõem uma Teoria Geral da Imagem (TGI), “entroncada com as ciências da
cultura e dependente da comunicação visual, cujo tronco mais próximo é o das ciências
sociais; das ciências da cultura, e nesta haverá que considerar uma dependência intermediária:
ciências da cultura - ciências sociais - comunicação visual - teoria geral da imagem”.
5 – Limites disciplinares imprecisos. Para Villafañe & Mínguez (Madri, 1996, pág.
20), “é difícil determinar os âmbitos de competência da teoria da imagem. Isto é, onde
começa e onde acaba a teoria? Quais conhecimentos podem ser considerados próprios e quais
utiliza por empréstimo? Qual ou quais são suas disciplinas matrizes e quais as auxiliares?”
Estes problemas e perguntas quase infinitos ocorrem, segundo estes autores, “devido a que até
agora se há dado as costas ao método científico”.
Neste sentido, Villafañe & Mínguez (1996, págs. 20 e 21) afirmam que “a chave para
estabelecer tais limites encontra-se nos próprios fundamentos da TGI; um de seus axiomas faz
referência aos dois processos representáveis do estudo e objetivação da natureza da imagem
(seu objeto científico): a percepção e a representação visuais. Os limites da disciplina se
configuram em função das partes de ambos processos que melhor satisfaçam o estudo da
natureza da imagem, e a partir daquelas outras proposições disciplinares que contemplem o
mesmo objetivo”. Isto não significa, segundo eles, que “nega-se a pluridisciplinariedade da
TGI, mas se demarca devidamente o emprego de outros paradigmas disciplinares”.
Os pressupostos da Teoria Geral da Imagem apresentada por Villafañe & Mínguez (Madri,
1996, pág. 23) são:
Como noções primitivas da Teoria Geral da Imagem, que podem ser suficientes para o
futuro desenvolvimento conceitual da disciplina, Villafañe & Mínguez assinalam em seguida
o seguinte conjunto:
Quanto à relação entre imagem e realidade, Villafañe & Mínguez, apoiados nos
conceitos de Aumont (1992, pág. 99) e de Arnheim (1976), afirmam que “na hora de explicar
a relação da imagem com o real não se deve ignorar o papel que o espectador desempenha
nesta relação, sobretudo no processo de observação ou apreensão da referida imagem, no qual
o mecanismo perceptivo humano se vê contaminado por outros processos da conduta que
influem no resultado visual”. Isto é, segundo Aumont (1992), “além das influências
perceptivas, existe inclusive uma concepção do espaço representativo baseada em uma idéia
indutiva da relação do observador com a imagem”, e que Arnheim, segundo eles, “propôs
com freqüência descrever o espaço representativo não segundo a geometria cartesiana,
objetiva, mas sim segundo uma geometria subjetiva, de coordenadas polares, quer dizer,
definidas por um centro, o sujeito que olha, duas coordenadas angulares que situem horizontal
e verticalmente a direção olhada em relação com esse centro, e uma terceira coordenada que é
a distância do objeto olhado ao centro”.
É muito difícil definir a imagem, segundo esses autores que afirmam que isto só
poderá ocorrer seguindo seis variáveis específicas: “o nível de realidade, a simplicidade
estrutural, a concreção do sentido, a materialidade da imagem, a geração da imagem e a
definição estrutural”, isto porque “definir a imagem de uma forma fechada é impossível”
devido a sua própria natureza icônica e polissêmica (Villafañe & Mínguez, Madri, 1996, págs.
39 a 57).
Processos de recepção
Sobre a questão da percepção e do conhecimento, partindo também dos pressupostos
de Villafañe & Mínguez (1996, pág. 99), estes afirmam que “a determinação do possível
caráter cognitivo da percepção -, há que dizer que a fase da sensação visual não tem, em nossa
opinião, essa natureza apesar da indubitável complexidade funcional que o sistema visual
possui, razão pela qual Arnheim lhe outorga o citado caráter cognitivo afirmando (1976, pág.
21) que mesmo no nível da retina não se dá um registro mecânico de elementos, o que
demonstra uma espécie de inteligência da percepção visual”. Os autores citam Luria (1978,
pág. 9), que afirma que “as sensações constituem a fonte principal de nossos conhecimentos
sobre o mundo exterior e sobre nosso próprio corpo”. Gibson (1974), segundo mencionam
Villafañe & Mínguez, enfatiza “a importância do registro sensorial na explicação das leis da
percepção”, mas Gibson “tende também a outorgar a esta primeira fase do processo um papel
mais transcendente que o mero registro retínico às características estruturais do estímulo”.
A memória visual
A memória visual é explicada por Villafañe & Mínguez (Madri, 1996, pág. 101) da
seguinte maneira:
Rudolf Arnheim cunharia o termo pensamento visual em 1969 em sua obra Visual
Thinking. Nesta obra ele não só estabelece uma diferença com o pensamento intelectual, mas
também confirma a natureza da percepção visual.
Há que observar o tempo real e o tempo da imagem. Segundo Villafañe & Mínguez
(1996, pág. 130):
Afirmam também que “essa certa facilidade da seqüência para o relato é, sem dúvida,
dada pela sua capacidade de articular diferentes espaços e distintos tempos, possibilidades que,
como sabemos, está muito atenuada na imagem isolada”. Isto é, “a articulação espaço-temporal
da imagem seqüencial que aparece ligada aos fenômenos de transformação e de duração, ou seja,
transformação devida às mudanças e acontecimentos que compõem a história e duração uma vez
que esses acontecimentos se desenvolvem ao longo do tempo”, destacam.
O espaço da seqüência da imagem é marcado por um espaço mutante e aberto, o que a
diferencia da imagem isolada, cuja estrutura espacial é permanente e fechada. A seleção da
realidade via imagem se dá quadro a quadro, o que marca os elementos importantes do nosso
campo visual. Villafañe & Mínguez (Madri, 1996, pág. 187) indicam que “uma seqüência de
imagens é um signo e, como tal, contém um significante que nos remete a um significado.
Perceber a seqüência não é perceber o objeto representado, embora seja parecido, e essa
semelhança se baseia na utilização de uma série de leis e convenções que permitem que uma
representação seqüencial possa produzir em nós uma impressão similar, nunca idêntica, à
percepção direta da realidade sem mais mediação que a do nosso sistema perceptivo”.
Quando se fala de imagem seqüencial, seja cinematográfica ou televisiva, é preciso
levar em conta os conceitos de perspectiva (forma simbólica de representar o espaço) e de
profundidade de campo (extensão do campo representado) e do plano seqüência, que são
elementos fundamentais da rodagem de cinema ou de TV.
Mitry (1990, pág. 40) adota a concepção de plano “como o conjunto de fotogramas que
formam uma curta cena rodada de uma só vez (...), que é uma unidade de construção e não
uma unidade de significação, pois para descrever um primeiro plano faz falta pelo menos uma
frase”, escrevem Villafañe & Mínguez . Apontam também que Gubern (1994) “insiste na
unidade temporal e na rigorosa continuidade e define o plano segundo sete características
“enquadramento, campo, angulação, iluminação, movimento, duração e som”. Para Villafañe
& Mínguez (Madri, 1996, pág. 191), “os conceitos básicos definidores de uma concepção
ampla do plano são três: o enquadramento, o movimento e a duração. Ao considerar estas duas
últimas características, o espaço se conecta inevitavelmente com a dimensão temporal”.
Esse ponto de vista referese a diferentes aspectos da mecânica narrativa. Villafañe &
Mínguez (Madri, 1996, pág. 192); Chatman (1990, pág. 163); Casetti e Di Chio (1994, pág.
236) apontam distintos terrenos aos quais pode aludir o conceito:
A imagem seqüencial está composta por distintos segmentos icônicos, além das
lógicas relações espaciais; entre eles haver’necessariamente diferentes tipos de relações
temporais possíveis. Sobre esta questão, Burch (1983) e Villafañe & Mínguez (1996)
asseguraram que:
1 – Os planos podem ser rigorosamente contínuos, como acontece quando há um raccord
direto no sentido temporal. O plano A termina exatamente no ponto em que começa o plano
B.
2 – Pode haver um hiato de continuidade entre ambos planos, suficientemente curto para que
possa ser medido. Suprimimos uma pequena parte da ação, mas se mantém o raccord.
Estamos Dante uma elipse definida.
3 – Quando esse lapso na continuidade não pode ser medido com precisão, estamos diante de
uma elipse indefinida.
4 – O retrocesso definido supõe que o segundo plano repete artificialmente parte da ação
mostrada no primeiro plano para dar uma aparência de continuidade.
5 – O retrocesso indefinido é uma volta atrás que se remonta, não a alguns segundos, mas a
um tempo mais longo e muito menos mensurável Villafañe & Mínguez (Madri, 1996, pág.
191).
Nesse aspecto, Aumont (1992, pág. 172), segundo destacaram Villafañe & Mínguez,
ressalta que “a temporalidade das imagens também está relacionada com a subjetividade do
espectador, com o saber do espectador a respeito do dispositivo da imagem e a respeito do que
este dispositivo tem de convencional. Supõese que o espectador tem um conhecimento sobre
a fabricação da imagem e por isso uma fotografia mostra as marcas do tempo; vemos o que
esteve aí. Enquanto que a imagem temporalizada mostra imagem móvelseqüencial, inclui o
tempo em sua própria existência, mostranos o que está aí”.
Igualmente Bettetini (1984) afirma, segundo os autores acima citados, que “o filme
produz um discurso que fala do tempo representandoo (tempo enunciado ou da história) e o
referido discurso realizase em um tempo, estabelecendo uma ordem temporal entre os
distintos segmentos da seqüência e impondo um tempo à fruiçãoleitura (ordem da
comunicação ou do discurso)”. Neste sentido, é necessário saber diferenciar o tempo
simbólico ou representado, do tempo objetivo e concreto.
Movimento e ritmo da imagem
O movimento e o ritmo, segundo definem Villafañe & Mínguez, são os elementos que
definem a relação entre os parâmetros espacial e temporal na imagem móvelseqüencial. Este
movimento está dividido em três tipos:
• Movimento físico (personagens ou objetos ao moverse dentro do quadro);
• Movimento dramático (desenvolvimento da ação avançada diante do nó
desenlace); e
• Movimento psicológico (emoções, percepções e conhecimento dos personagens).
Estas articulações estão assim classificadas, segundo nos ensinam Villafañe &
Mínguez:
1 – Consiste em compor os elementos dentro do quadro, operação plástica que supõe buscar
uma localização aos elementos representados, definir quais serão seus movimentos e
selecionar os pontos de vista mais adequados;
2 – Esta segunda articulação que nunca se produz na imagem isolada, referese ao processo de
ordenar os segmentos obtidos mediante a primeira articulação. É a articulação que coincide
com a definição restrita de montagem e nela, além das funções mais estritamente sintáticas de
enlace, disjunção ou alternância, cumprese uma função semântica ou narrativa.
Segundo mencionam esses autores, Gubern (Barcelona, 1994, pág. 292) afirma que:
Sintaxe da seqüência
A sintaxe da seqüência ou montagem é conceituada por Villafañe & Mínguez (Madri,
1996, pág. 210) como “aquela operação sintática que regula as relações de ordem e duração
entre os diferentes segmentos visuais e sonoros da seqüência. A montagem permite construir
uma espacialidade e uma temporalidade próprias da imagem seqüencial com claras diferenças
com respeito ao tempo e ao espaço da realidade”.
O criador da geografia ideal(espaço ilusório), Kuleshov, demonstrou que este espaço é
perfeitamente unitário e integrado aos olhos do espectador, mediante a articulação de
elementos heterogêneos e selecionados em espaços diferentes, dizem Villafañe & Mínguez
(Madri, 1996, pág. 210). Segundo estes autores, Kuleshov foi um dos primeiros em teorizar
sobre esta peculiaridade da montagem e em demonstrar empiricamente suas possibilidades.
O efeito Kuleshov consiste em montar um primeiro plano neutro e inexpressivo de um
homem junto a outros três planos que mostravam diferentes situações: um cartaz de sopa
fumegante, uma mulher voluptuosa e o cadáver de uma criança. Em cada uma das montagens
os espectadores atribuíam ao rosto do homem uma atitude diferente. No primeiro caso viase
um homem faminto, no segundo o homem expressava claramente um desejo sexual e no
terceiro o rosto manifestava uma atitude de dor”. Este experimento, segundo dizem os
estudiosos, demonstrou a capacidade da montagem de criar, com um mesmo plano, diferentes
significados.
Burch (1983) demonstra que existem três possibilidades espaciais que são articuladas
através da montagem: a) continuidade espacial (com ou sem continuidade temporal); b)
descontinuidade espacial relativa (o plano B mostra um espaço próximo ao plano A; e c)
descontinuidade espacial total.
Villafañe & Mínguez (Madri, 1996, pág. 210) nos ensinam que o raccord foi instituído
para que “na fragmentação espaçotemporal não se perdesse a ilusão de que existe uma
continuidade física e dramática, e uma coordenação”. Afirmam que “o raccord estabelece a
continuidade entre elementos que aparecem em dois planos sucessivos, havendo, portanto,
raccord de objetos, de velocidade, de iluminação, de som (...). De elementos de continuidade
espacial há raccord de olhar, de posição e de direção. Existem também o raccord de posição
(localização de objeto e personagens); o raccord de eixo (situação rodada em dois planos,
seguindo a mesma direção). O raccord de direção supõe que se um objeto ou personagem sai
de um campo pela esquerda há de entrar em campo pela direita”.
Estudos de raccord
Como já explicamos em nossa metodologia, as análises de conteúdo do discurso
narrativo das imagens dos informativos televisivos foram analisadas sob a ótica dos estudos de
raccord a partir da metodologia de Francis Vanoye e Anne GoliotLété.
Seguindo o que propõem Villafañe & Mínguez (Madri, 1996, pág. 211), nos
encontramos com os conceitos de Zunzunegui (1992, pág. 163), que distingue três tipos de
montagem: montagem alternada, montagem paralela e montagem convergente, conceituados
pelos referidos autores da seguinte forma:
1 – Montagem alternada ou crosscutting representa, mediante planos sucessivos ações que se
desenvolvem simultaneamente em espaços distintos. Esse tipo de montagem implica, portanto,
uma série de analepses ou retrocessos definidos;
2 – Montagem paralela é uma forma discursiva que mostra sucessivamente ações que na
história não são simultâneas e serve para marcar relações de semelhança ou de contraste entre
duas ações;
3 – Montagem convergente é a que mostra sucessivamente um conjunto de ações que tendem
todas a um mesmo fim. Neste caso, alternamse os momentos de duas ações que chegarão a
coincidir, de modo que quanto mais convergem, quando mais próxima se encontra sua união,
tanto mais rápida é a alternância. (Deleuze, 1994, pág. 53 em Villafañe & Mínguez Madri,
1996, pág. 211).
Na concepção de Deleuze (1994, pág. 54), “esta é uma das fórmulas pelas quais o
cinema americano restabelece ou transforma de maneira orgânicaativa uma situação de
conjunto neste tipo de montagem”. Deleuze afirma que este tipo de montagem “não está
subordinado à narrativa, mas é precisamente a narratividade que emana desta concepção da
montagem”.
Jaime Barroso García (1992, pág. 223) afirma e demonstra que “a linguagem
televisiva não se diferencia da linguagem cinematográfica, salvo as condições técnicas
expressivas impostas pelas características de recepção e as induzidas pelo formato (invariável)
da imagem e da claridade da imagem eletrônica (menor definição, contraste mais reduzido,
etc.)”.
Villafañe & Mínguez (Madri, 1996, pág. 237) têm a mesma opinião ao dizer que
quando se fala de linguagem narrativa da imagem cinematográfica e televisiva “a pergunta
que surge imediatamente é se existe alguma diferença quanto à definição estrutural entre a
imagem eletrônica da televisão e a imagem fotoquímica do cinema”. Respondem que “não há
absolutamente nenhuma, pois ambas são imagens móveis seqüenciais com um segmento
visual e outro sonoro. Não obstante, apesar dessa semelhança estrutural no aspecto
estritamente icônico, as implicações tecnológicas, sociais e econômicas da criação e emissão
de imagens eletrônicas através da televisão são de tal calibre que é necessário dedicar um
estudo específico sobre o tema”.
Assim, a linguagem audiovisual se configura a partir dos signos visuais, sonoros e
verbais e seu processo de montagem (edição) está organizado como um sistema de
significação, sendo que os códigos que regulam e ordenam suas relações de significação, bem
como a mediação tecnológica ou instrumental para a realização deste procedimento, estarão
condicionados pelo meio tecnológico e do ponto de vista dos produtores e emissores, segundo
afirmam Barroso García (1992), Villafañe & Mínguez (1996), Lage (1986) e Francis Vanoye e
Anne GoliotLété (1994).
Dziga Vertov e a história dos gênerosda produção audiovisual
A história da narrativa televisiva e gêneros da produção audiovisual passa por Dziga
Vertov, em 1919, ao propor o cineverdade ou cineolho, pretendendo surpreender a vida em
qualquer momento (Três canções sobre Lênin; Adiante soviet! e O homem e a câmera). Em
1920, Robert Joseph Flaherty conta a história da vida real de uma família de esquimós, depois
produz Moana. O amor das sereiazinhas dos amores do Sul, na Polinésia e, em 1934, realiza
O homem de Arán, historiando uma comunidade irlandesa (ficção neorealista). Em 1929,
John Grierson cuidou de tratar a realidade de forma criativa ao produzir Barcos de pesca.
Formam parte desta escola Arthur Elton, Paul Totha e Basil Wight, da produção documental
britânica (Lage, 1986, págs. 27 a 33).
A tradição alemã no gênero documental chega com Walter Ruttman, autor de
Berlim¸em 1927 e 1929. Os franceses optaram pelos temas geográficos que deram expressão
ao documentarista Marc Allégret (Viagem ao Congo, 1926) e Leon Poirier (O cruzeiro negro),
segundo escreveu lage (São Paulo, 1986, págs. 27 e 28). Lage destaca que “a experiência
desses pioneiros e outros, como no Brasil, Humberto Mauro principalmente, dão uma
dimensão semântica ao jornalismo contemporâneo”.
Nas palavras de Lage com o qual estamos de acordo, “em termos de construção da
informação televisiva, seja documental, reportagem com a seqüência delimitada entre
nascente e poente; como reportagem de ação, em que o equipamento interfere no curso de
uma atividade, sejam matérias sobre o comércio de sangue ou operações financeiras
irregulares, com a câmera partindo dos planos mais gerais até o detalhe mais ou menos notado
ou com as imagens compondo versões conflitantes, o que estará em jogo é a linguagem do
cinema”.
Vejamos agora as reflexões de montagem sob a ótica dos mais importantes estudiosos
sobre o tema e que foram relatadas por Lage (1986) Villafañe & Mínguez (1996), Francis
Vanoye & Anne GoliotLété (1994), como fizera o próprio Eisenstein, que já havia escrito seu
ensaio publicado no livro de N. Kaufman, Cinema Japonês (Moscou, 1929) e que foi retratado
por nós no início desta pesquisa. Reflexões com as quais estamos de acordo e que constituem
nosso marco teórico, no que se refere à sintaxe da seqüência:
O cineasta Vsevolod I. Pudovkin (Berlim, 1928), através do prefácio ao sem Film
Regie und FilmManuskript, segundo dizem Villafañe & Mínguez (Madri, 1996, pág. 212),
“parte da idéia de que a montagem é a base estética do filme e para demonstrálo recorre à
comparação entre o cinema e a literatura”. Assim, “para o escritor, as palavras são a matéria
prima, mas o significado final das palavras depende da composição, pois só em relação com
outras palavras cada palavra recebe vida e realidade artística”. Pudovkin crê que no cinema
acontece a mesma coisa, afirmam Villafañe & Mínguez (1996): “um objeto filmado e
projetado tal qual sobre uma tela de cinema é uma coisa morta. O movimento de um objeto ou
de um personagem diante da câmera não é ainda um movimento fílmico, mas constitui a
mate’ria cinematográfica para a futura composiçãomontagem. A montagem é a criadora da
realidade cinematográfica e a natureza recolhida em fragmentos de filme nada mais é que a
matéria prima para sua elaboração”. Conceituase aí a montagem como “o instrumento para
dar forma, para destacar determinados acontecimentos da realidade. Serve para selecionar
fragmentos que temporal e espacialmente são mais relevantes, construindo com detalhes
significativos e omitindo os demais” (Villafañe & Mínguez Madri, 1996, pág. 212).
Eisenstein e os cinco métodos de montagem
Eisenstein em Cinema Japonês (Moscou, 1929) e em La forma del cine (México Siglo
XXI, 1986) fala de cinco métodos de montagem e que foram sintetizados por Villafañe &
Mínguez (Madri, 1996, pág. 213):
Conforme relatam os autores Villafañe & Mínguez (Madri, 1996, pág. 214), “segundo
Eisenstein, as características tonais podem ser medidas com precisão e assim haverá diferentes
graus de tonalidade lumínica ou diferentes graus de tonalidade gráfica. Junto ao tom básico
dominante, podemos encontrar uma dominante rítmica secundária e acessória expressa por
movimentos mutantes escassamente perceptíveis que, em última análise, também são
elementos de uma ordem tonal”. Para Eisenstein, “este tipo de montagem permite aumentar a
tensão intensificando a determinante musical e criando conflitos entre argumento e forma, ou
seja, construindo dissonâncias”.
4 – Montagem harmônica: “é organicamente o desenvolvimento mais elevado ao longo da
linha de montagem tonal, da qual se diferencia pelo cálculo coletivo de todos os
requerimentos de cada fragmento, elevando a impressão emocional até a percepção
fisiológica. Se o conflito entre a longitude da tomada e o movimento dentro do quadro produz
um salto do métrico ao rítmico e se o tonal surge do conflito entre as características rítmicas e
tonais do fragmento, a montagem harmônica se produz pelo conflito entre o tom dominante
do fragmento e a harmonia, que nos leva a considerar a construção da montagem de um ponto
de vista pictórico. A harmonia é o resultado das contraposições e transições entre diferentes
tipos de montagem”.
5 – Montagem intelectual: “não é uma montagem de sons harmônicos geralmente fisiológicos,
mas de sentidos e harmonias de uma espécie intelectual, isto é, o conflito e a justaposição são
de caráter intelectual. Neste nível não há diferença entre o movimento de um homem que se
balança por influência de uma montagem métrica e o processo intelectual que tem lugar em
seu interior, pois esse processo é a própria agitação, mas no domínio dos centros nervosos
superiores”.
Os princípios de montagem de Rudof Arnhein
Rudolf Arnheim (1930/1986) escreverá e publicará uma série de textos sobre cinema,
dedicandose também à montagem, nos quais faz uma descrição dos princípios que a regem:
princípios do corte, relações temporais, relações espaciais e relações do tema. Entre os
princípios do corte estão a extensão da unidade do corte; montagem de cenas inteiras e
montagem dentro de uma cena. Nos princípios das relações temporais regem o sincronismo, o
antes e depois e a relação temporal neutra, que contempla três possibilidades: ações
completas, tomadas isoladas e inclusão de tomadas isoladas em cena completa (como a
montagem simbólica de Pudovkin). Os princípios das relações espaciais são regidos por o
mesmo lugar, tempo diferente e o lugar trocado. Finalmente, os princípios do tema se regem
pelas relações de semelhança, contraste e combinação de contraste com semelhança.
Os estudos de Bela Balàzs: montagem
como composição da imagem
Os estudos de Bela Balázs (1978) sobre a montagem, segundo salientam Villafañe &
Mínguez (1996, pág. 216) vão demonstrar que “a montagem é a composição da imagem
seqüencial”. Balázs vai defender a idéia de que “o enquadramento mais conseguido não é
suficiente para expressar todo o significado do objeto e que o significado último só se
manifesta através da montagem, da mesma forma que uma mancha de cor em um quadro só se
revela através da composição interior da obra globalmente considerada, e do mesmo modo
que uma palavra só encontra um significado pleno em uma frase ordenada”. Estas idéias de
Balázs são o resultado de textos escritos em 1924 e 1928 que ele recopila e que estão
publicados em sua obra fundamental Evolución y esencia de un arte nuevo.
Os pontos de vista extraídos de suas reflexões e que consideramos mais importantes
são:
• “A montagem é uma associação visual que confere seu significado definitivo às
imagens que compõem a seqüência, significado que está associado a uma condição
psicológica prévia: saber que a referida composição de imagens tem uma intenção
criadora”.
• “A montagem permite criar, alterar e falsificar a realidade (o exemplo do
Encouraçado Potemkin, de Eisenstein, ao mudar a seqüência de ações devido à
censura”.
• “O tempo como vivência não se pode medir em um relógio em uma criação
dramática, pois o tempo, da mesma forma que o espaço, é representado mediante
perspectivas, isto é, o tempo e o espaço são ilusões”.
Como precursor do conceito de duração, Balázs defende a existência de três tempos
diferentes em uma cena: o tempo da realidade; o tempo das imagens e o tempo em que as
tomadas se sucedem na montagem.
Gilles Deleuze (1985) em L’imagetemps mencionado por Francis Vanoye e Anne GoliotLété
(1994, pág. 34) e Villafañe & Mínguez (Madri, 1996, pág. 218), partirá da idéia da montagem
a partir de uma perspectiva filosófica. A montagem é, para Deleuze, “a operação que
desprende das imagensmovimento o todo, a idéia, isto é, a imagem do tempo. O todo é o
aberto e lhe corresponde mudar continuamente, ou seja, durar”. Villafañe & Mínguez
afirmam que para Deleuze, “nesse sentido o todo é espiritual ou mental. Essa imagem do
tempo que nos oferece a montagem é indireta, pois é deduzida das imagensmovimento e de
suas relações”. São quatro as tendências de montagem existentes e salientadas por Deleuze: a
escola norteamericana (tendência orgânica), a escola soviética (tendência dialética), a escola
francesa (tendência quantitativa) e a escola expressionista alemã (tendência intensiva)”.
André Bazín, que opina que o cinema é a arte do real e que no cinema o essencial é
preservar a ambigüidade, acredita que a montagem está proibida (é uma armadilha): “a
estética dominante consiste precisamente em deixar ver os acontecimentos representados, mas
não sua representação”. Para Bazín , “isto é o cinema da transparência ou o grau zero da
escritura cinematográfica, que nos oferece a ilusão de que assistimos a acontecimentos reais
(...). O importante é o acontecimento real e sua continuidade, ambos aspectos muito
respeitados no cinema clássico através do raccord”, destacam Villafañe & Mínguez.
Fundamentos da teoria geral da imagem
Seguindo Brisset e Aumont, os grandes problemas da teoria das imagens residem em:
a) A visão: O que é ver uma imagem? Ou, o que é percebêla? Como se caracteriza essa
percepção?
b) O espectador: Quem é o sujeito que vê a imagem? É aquele para quem foi produzida?
c) O dispositivo: Quais são os fatores situacionais (contexto social, institucional, técnico,
ideológico) que regulam a relação do espectador com a imagem?
O que é a imagem?E a relação da imagem
e um destinatário concreto
Brisset (Málaga, 1996, pág. 35) esclarece que, depois de considerar os principais aspectos da
relação entre uma imagem e um destinatário concreto, Aumont fará as seguintes perguntas:
Perguntas que nós também nos propusemos desde o início deste estudo.
Não obstante, o terceiro ponto de questionamento de Aumont (1992, pág. 202) referese ao
termo dispositivo. Segundo ele, nos anos setenta já se faziam importantes considerações
teóricas sobre ele:
Em La imagen. Comunicación funcional (1991, pág. 24), Abraham Moles escreveu
sobre a imagem visual em si mesma. Sua definição é a seguinte:
Segundo diz Brisset (Málaga, 1996, pág. 36), “estamos diante da materialidade da
imagem, seu aspecto construído, uma vez que se separa de suas aparências da realidade que
refletem, onde pode incluir em plano de igualdade os diferentes meios de expressão onde são
produzidos”.
Moles que foi o criador da Teoría informacional de la percepción¸procura aplicar a
cibernética aos saberes humanos e sociais e as análises da realidade, examinando as condições
de existência do homem em relação com a cultura e a sociedade (1987, pág. 620).
No livro Teoria de los objetos, Moles (1972) analisa o fenômeno do consumo exigido
pela sociedade industrial e realizado principalmente através de objetos. Mole crê que “o
indivíduo está condicionado a se relacionar de determinados modos com os objetos (desejar,
manter, substituir, etc.) e nessa relação sua função e seus papéis sociais se colocam em jogo.
Os objetos se constituem em famílias e, na medida em que o fazem, determinam outros
objetos”.
Para Moles, esses objetos consistem em mensagens que não dependem de sua
materialidade: “por mediação dos objetos, o indivíduo pertence à sociedade industrial. E
estabelece comunicação com o outro”.
A mesma visão é encontrara me seu livro El Kitsch – El arte de la felicidad (1971).
Moles diz que a comunicação de massas tende inicialmente a produzir uma visão alienada e
distorcida do mundo e da cultura manipulada pelo Estado e pela tecnocracia. Mas a
intensificação dos meios de comunicação pode levar à saturação e à criação de novas
respostas por parte dos indivíduos, no sentido da comunicação interpessoal facilitada pelos
avanços tecnológicos.
Segundo Ramón Carmona (Madri, 1993, pág. 15), Abraham Moles (1981) define a
imagem como suporte da comunicação visual no qual se materializa um fragmento do
universo perceptivo, e que apresenta a característica de prolongar sua existência no curso do
tempo.
Ramón Carmona (Madri, 1993, pág. 15) extrai daí duas características distintas da
imagem: “materialidade (qualidade de construção da imagem) e sua independência com
relação aos temas e objetos representados”. Também sobre a imagem podese verificar seu
grau de figuração (idéia de representação de objetos ou seres conhecidos); grau de
iconocidade (como oposto ao grau de abstração e que se refere à qualidade da identidade da
representação com o objeto representado); grau de complexidade, prestando especial atenção
ao fato de que em função do número de elementos que a conformam, é imprescindível incluir
neste terreno as competências do espectador; de tamanho (grau de ocupação do campo
visual); das grossuras da trama e o grão das diferentes qualidades técnicas (contraste,
iluminação, nitidez, etc.); da presença ou ausência de cor; da dimensão estética, que introduz a
imagem no campo que Roland Barthes denominou da dispersão do sentido; e do grau de
normalização (ligado às práticas de copiados múltiplos e desfunção em massa).
Não obstante, Moles (1975, pág. 348) dá uma outra contribuição sobre a imagem: “as
imagens não são linguagem, são um acúmulo de dados visuais”. Esta proposta de Moles tem
como vertente tudo quanto se refere ao que a imagem contém. Moles propõe também a
necessidade de elaborar algumas leis “relativas ao modo como são representados os objetos”,
intrínsecas à imagem em si mesma, tais como : uma sintaxe dos elementos das imagens,
vocabulário, gramática e lógica; tudo isto daria lugar a uma “estrutura visual” que constitui o
objeto da iconologia. Assim Moles diferencia o que é análise do conteúdo do que a imagem
contém (Brisset, Málaga, 1996, pág. 37).
Gilles Deleuze (1983) fala de imagem e poder:
“Que nossa autodeterminada civilização da imagem seja, sobretudo,
uma civilização do clichê (...) pode ser explicado em um duplo
sentido. Por um lado, porque a inflação icônica edificase sobre a
redundância. Por outro, em um sentido mais complexo, porque o
Poder constituído mantém muitas vezes um interesse evidente na
ocultação, distorção ou manipulação de certas imagens, de tal
maneira que estas quase deixam de ser um meio de revelar a
realidade para converterse em uma forma de ocultála”.
Ramón Carmona (Madri, 1993, pág. 16) observa que segundo Deleuze “existe um
interesse generalizado de escondernos algo na imagem. Esse algo, poderia agregar, nada mais
é senão seu aspecto de linguagem, seu caráter de instrumento de persuasão, já que não existem
espelhos que não sejam deformantes, pois todo ato de linguagem icônica é fruto de uma
estratégia significativa e persuasiva”.
A Teoría de la extracción de la información, de James J. Gibson (1979) – qualificada
por alguns de realismo ingênuo “parte da tentativa de explicar a percepção do entorno de
maneira alternativa a qualquer teoria baseada em indícios no processamento cognitivo ou no
duplo jogo da memória e do inatismo” (Carmona, Madri, 1993, pág. 25).
A teoria da imagem e a teoria da Gestalt
Por outro lado, A Teoria da percepção se enfrenta ao problema dos condicionamentos
culturais. Vejase a pesquisa realizada em 1996 por Segal Campbell e Herlskovits, que
desenvolveram um complexo estudo intercultural numa tentativa de “relacionar as alterações
ecológicas com as diferenças nas agudezas visuais”. Segundo Ramón Carmona (Madri, 1993,
págs. 24 a 29), “descartando os aspectos raciais, esses pesquisadores concluíram que em
qualquer mente humana o processo de recepção básico é idêntico; só difere o conteúdo,
devido a que aquela reflete hábitos inferenciais perceptivos distintos”.
Ramón Carmona (Madri, 1993, págs. 24 a 29) escreveu que para os partidários da
teoria da Gestalt, o fato de salientar que a organização perceptiva pode ser descrita como a
passagem de um caos originário a um progressivo aprendizado organizativo não responde à
realidade porque “o mundo já se apresenta organizado, de entrada, em virtude de leis inatas
que contribuem para estruturar o mundo visual”.
A percepção visual não é um processo de associação de elementos soltos, mas sim
“um processo integral estruturalmente organizado, através do qual as coisas se organizam
como unidades ou formas por motivos profundos, concretamente pela existência de um
isoformismo entre o campo cerebral e a organização dos estímulos”, segundo a tese central da
teoria da Gestalt à respeito da percepção.
Saussure, buscando uma analogia lingüística nas relações estabelecidas pelas imagens
entre si, observa “que esta relação é de caráter sintagmático, de acordo com o valor dado a
este termo”. Segundo ele:
“No discurso, as palavras contraem entre si, em virtude de seu
encadeamento, relações fundadas no caráter linear da língua, que
exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo
tempo. Os elementos se alinham um depois do outro na cadeia da
fala. Estas combinações que se apóiam na extensão podese
chamar de sintagmas. O sintagma se compõe sempre, pois, de
dois ou mais unidades consecutivas. Colocado em um sintagma,
um termo sozinho adquire seu valor porque se opõe ao que o
precede ou ao seguinte ou a ambos (...). A conexão sintagmática é
in praesentia e se apóia em dois ou mais termos igualmente
presentes em uma série efetiva” (Saussure em Carmona, 1993,
pág. 32).
Jakobson, segundo Carmona (1993), vincula as relações sintagmáticas aos valores
narrativos, e as paradigmáticas aos poéticos. Projetando o eixo da seleção (paradigma) sobre o
da combinação (sintagma), obtémse um maior domínio dos elementos próprios da linguagem
poética.
Imagem e estímulos informativos
Em Imagen documental, ficción, de Santos Zunzunegui (1985, pág. 28) publicado na
Revista de Ciencias de la Información nº 2 (Madri, 1985), o autor afirma que James Gibson
conceitua a imagem representativa como “a que proporciona estímulos informativos acerca de
outras coisas distintas do que ela mesma é”, podendo a cena original ser real ou inventada,
destaca Brisset (1996).
Nas palavras de Brisset (1996, pág. 37), “temos aqui o sentido mais amplo da imagem:
sua capacidade informativa, o que equivale ao que normalmente se considera comunicação”.
Brisset (1996, pág 37), nos falará também sobre a importância das Novas Tecnologias
da Imagem. Segundo ele, “com as Novas Tecnologias da Imagem, a imagem numérica
constitui sua relação com o real mediante a operatividade da simulação visual: o simulacro
interativo substitui a imagemespetáculo, transformando o conceito de representação. Desta
forma definese um novo regime de discursividade, de sentido, de prazer e de estética, com
procedimentos nos quais o processo predomina sobre o objeto, a forma cede o lugar à
morfogênese”.
Sobre esta proposta, assinala Brisset (Málaga, 1996, pág. 38), M.W. Bruno (Madri,
1990, pág. 169) faz a seguinte proposição: “Com a introdução do pixel (o próprio componente
da imagem digital) se transforma todo o quadro de referência da (re) produtibilidade
tecnológica da imagem (...). Com a pixelização da imagem – com a softwarização do referente
– já não tem sentido falar de níveis moleculares nem das imagens icônicas/ aicônicas
Em Comprender la imagen hoy, Alain Renaud, segundo salientou Brisset (1996, págs
38 e 39), faz o mesmo tipo de proposição que M.W. Bruno, propondo uma mudança filosófica
para a problemática visual.
Das proposições de Jacques Aumont: para que se utiliza a imagem?, Brisset (Málaga,
1996, pág. 38) assinala que ele “advertiu que não se pode ser radical na distinção de grandes
categorias, já que as funções da imagem são as mesmas de todas as produções propriamente
humanas no curso da história, que pretendiam estabelecer uma relação com o mundo”.
Aumont (1992, págs 82 a 85) destaca três modos principais desta relação:
a) O modo simbólico (as imagens serviriam inicialmente como símbolos religiosos, passando
depois a transmitir valores);
b) O modo epistêmico (a imagem aporta informações visuais sobre o mundo, cujo
conhecimento nos permite abordálo dessa maneira);
c) O modo estético (a imagem está destinada a agradar seu espectador, a proporcionarlhe
sensações específicas). Esta função é quase indissociável da noção de arte, assevera Brisset
(1996, pág. 39)
Barthes (1984, págs. 195 a 301) fala de suspensão da imagem. Para ele, “a imagem é
uma espécie de serviço militar social”. Não consigo me isentar (liberar) dela; não consigo me
reformar, desertar, etc.”, escreveu Barthes em crítico artigo sobre as linguagens, a lingüística e
a semiologia pela forma como elas têm entendido e trabalhado com a imagem. Em O rumor
da língua, a imagem é conceituada por Barthes como algo inatingível e ininteligível, mas que
há que passar por ela. Brisset (Málaga, 1996, pág. 39) observa que “Barthes oferece uma
sugestiva distinção entre dois aspectos receptivos da imagem: o studiun (que se manifesta com
a participação do espectador em busca do sentido) e o punctun (esses pontos de interesse que
marcam o espectador)”.
Moles e a classificação da imagem
Por outro lado, Moles (1991), segundo assinalou Brisset (1996, pág. 40), faz uma análise
da classificação da imagem, propondo uma via operativa, ao basear sua decomposição em
uma série de características diferenciadas:
- Qualitativa (a matéria que se apresenta e seu resultado técnico (contraste, nitidez,
‘ruído’);
- Tamanho;
- Cor;
- Força de atração;
- Dimensão estética e seus graus de figuração (exatidão com que se ajusta aos moldes
reais);
- Iconicidade (qualidade de semelhança);
- Complexidade (número de elementos, familiaridade que tem com o espectador); e
- Normalização (quando se trata de um esquema, diagrama, gráfico, etc.).
Brisset (Málaga, 1996, pág. 40) afirma que “este esquema de desintegração icônica da
imagem nos oferece a base metodológica para exercitar as análises formais das imagens fixas,
que são prévias às imagens seqüenciais”.
Arnheim (1971, págs. 147 a 486), segundo observa Brisset, “faz uma proposta diferente
sobre o estudo da imagem de modo que possa ser considerada a articulação de uma
linguagem, embora fale de expressão”. Para ele, a percepção visual é a captação de uma
estrutura, estrutura como conceito genérico que se desenvolve continuamente. As imagens são
portadoras de uma dinâmica com sentido expressivo e estão configuradas em ordem para
serem percebidas como ‘objeto de constituir veículos para idéias’” (Arnheim (1971, págs. 147
a 486). Brisset (1996) assinala “que são modos de comportamentos orgânicos ou inorgânicos
evidenciados no aspecto dinâmico dos objetos ou acontecimentos pontuais”.
Em Lenguaje y cine (1973, pág. 102), Metz “sintetiza as opiniões de Umberto Eco, P.P.
Pasolini e LiviStrauss, destacam Brisset (1996, pág. 41) e Javier Fombona Cadavieco (1996,
pág. 24), reafirmando o importante sentido social e cultural da linguagem audiovisual,
atribuindolhe uma articulação diferente da lingüística”. Romà Gubern (Barcelona, 1987, pág.
108, em sua obra La mirada opulenta. Exploración de la iconosfera contemporánea ensina
que “é fácil convir que a expressão icônica, se não é uma linguagem no sentido estrito,
constitui pelo menos um fenômeno paralingüístico, ou uma paralinguagem já que permite
que um emissor, por meio de um conjunto de símbolos combináveis e socialmente
compartilhados, transmita informações e idéias a um receptor. E esta é uma propriedade
intelectual que a comunicação icônica compartilha nitidamente com a linguagem verbal, ou
linguagem por antonomásia”.
Representações icônicas como um
macro fenômeno cultural
Romà Gubern (Barcelona, 1987, pág. 108) afirma também que “a diferença de tal
linguagem, a comunicação mediante representações icônicas, constitui um macrofenômeno
cultural que exige uma tipologia muito variada (imagem fixa, imagem seqüencial, imagem
móvel, imagem com texto lingüístico, imagem sonorizada), variedade de modalidades que
entorpece consideravelmente a fixação de modelagens semióticas genéricas e aplicáveis,
válidas para todas as variantes. A semiótica icônica se constitui assim em um projeto
científico ao qual espreita, por um lado, a tentação do bem estudado modelo lingüístico (que
só muito parcialmente e com reservas pode ser aplicado e operativo nesse caso), e por outro, o
desafio da heterogênea pluralidade das chamados por analogia linguagens icônicas”.
A questão da imagem icônica e o contexto cultural em uma perspectiva ocidental do
enquadramento é analisada por Romà Gubern (Barcelona, 1987, págs. 125 a 127). Ele afirma
que “o contexto cultural – o tecido de circunstâncias sócioculturais – em que se inscreve a
produção de imagens icônicas torna inapelável referilas ao que Metz chamou de trabalho
social de produção da significação”. Esta expressão de Metz, segundo Gubern, “figura na
introdução de um interessante número iconográfico da revista francesa Communications
dedicado à imagem icônica (...). Com isso se oficializa a abrumadora introdução da
antropologia no campo dos estudos icônicos, coincidindo, o que não é casual, com o impulso
dado contemporaneamente aos estudos sobre pragmática na lingüística textual, especialmente
por parte de Van Dijk”.
Para Gubern (Barcelona, 1987, págs. 125 a 127), “os psicólogos da percepção (...) nos
haviam feito refletir sobre a importância do contexto nos processos perceptivos. (...) Uma
mesma cor, em dois contextos cromáticos diferentes, não é a mesma cor. (...) UM objeto
examinado através de um orifício e por isso separado do seu contexto, torna impossível
determinar seu tamanho real, ao faltarem elementos de referencia e de comparação, como têm
demonstrado reiteradamente experimentos efetuados em laboratórios de percepção. (...)
Contexto é o que vai com o texto, seu marco referencial indissociável. Todo produto cultural
adota de seu conteúdo suas convenções e a ele se remete”. Neste aspecto, Gubern salienta que
“cada contexto gera suas convenções icônicas próprias, vigentes naquela parcela cultural,
porém não em outra”. Os marcos de todas as diversidades circunstanciais deste contexto
cultural, segundo Gubern (Barcelona, 1987, págs. 125 a 127), são:
1 – contexto de lugar.
2 – contexto de época.
3 – contexto medial (próprio de cada meio de expressão).
4 – Contexto genérico (próprio de cada gênero comunicativo).
5 – Contexto estilístico (próprio de cada estilo ou escola).
6 – Contexto situacional (próprio de momento social específico em que se produz: rito
religioso ou funerário, relação amorosa, etc.).
7 – Idiocontexto (próprio da produção cultural de um sujeito singular).
8 – Contexto do leitor (próprio de suas circunstâncias pessoais e sociais).
Ramón Carmona (Madri, 1993, pág. 38) retoma os conceitos de Metz (1979) e Baudry
(1975) sobre a experiência do expectador e a imagem, quando afirma que “sendo um filme
como um espelho – suscetível de provocar uma identificação imaginária oposto à simbólica/
semiótica que se produz graças à consciência da linguagem , existe uma diferença essencial:
o filme nunca reflete o corpo do espectador, e o que possibilita a ausência deste na tela é o
fato de que todo espectador teve anteriormente a experiência do estado de espelho, podendo
constituir um mundo de objetos sem que lhe seja necessário começar por reconhecerse a si
mesmo”.
A imagem não como unidade palavra, mas como unidade frase
Não obstante, Romà Gubern (Barcelona, 1987, pág. 270) em sua obra La mirada
opulenta. Exploración de la iconosfera contemporánea explica que “muito se tem escrito
sobre o estatuto semiótico da imagem móvel do cinema, desde Christian Metz até Gilles
Deleuze”. Em seu famoso artigo de 1964, Metz, segundo Romà Gubern “deixou
definitivamente assentado que a imagem cinematográfica não equivale a uma unidade
palavra, mas sim a uma unidadefrase, inclusive nos casos em que mostra objetos isolados e
imóveis. A imagem do plano tem, efetivamente, um estatuto assertivo. Também é sabido que a
imagem cinematográfica é uma imagem necessariamente conotada, não só por suas
características adjetivas do objeto ou sujeito mostrado, pelos atributos afetivos do referente,
mas sobretudo pelo ponto de vista escolhido para a câmera, sua angulação, a iluminação que
banha o sujeito ou objeto, etc. No ato de enquadrar ou iluminar um objeto, o diretor não pode
renunciar a uma muito específica produção de sentido , produto de uma investidura emocional
ou crítica, que corresponde precisamente ao seu ponto de vista psicológico ou moral sobre o
sujeito ou objeto enquadrado e iluminado”.
O próprio Brisset (Málaga, 1995, págs 33 a 60), ao referirse às estruturas da imagem, diz
que “a imagem, além dos componentes materiais, conta também com elementos formais
organizados e que são responsáveis de uma capacidade de significação”. Assim, segundo este
autor, podese distinguir em toda imagem três tipos de estruturas que a configuram:
a) Espacial (que segundo sua dinâmica objetiva pode ser fixa ou móvel, e segundo as
dimensões físicas do suporte, plana ou estereoscópica);
b) Temporal (que segundo sua ação pode ser isolada ou seqüencial, e segundo sua
dinâmica formal, as relações entre seus componentes, estática ou dinâmica); e
c) Relação (que são os elementos de escala ou mensuráveis).
Neste sentido, Brisset (Málaga, 1996, págs. 33 a 60) revela que “espaço e tempo são,
portanto, os dois novos elementos de definição icônica, correspondente ao que Aumont
qualifica como dimensões espacial e temporal do dispositivo: o espaço plástico da imagem”.
Assim, podese também, de outro ponto de vista, estabelecer dois grandes aspectos de
análise de uma imagem fixa: quando se relaciona com a geometria da imagem (composição
formal) e o que tem que ver com a semiologia da imagem (as conotações ou significados
incorporados), em outras palavras: o estético e o semântico, Brisset (Málaga, 1996, págs. 33 a
60)”.
Com relação às teorias que estudam o som no contexto audiovisual, Los mensajes
audiovisuales, de Demetrio E. Brisset (1990, págs. 33 e 34) assim como La audiovisión
(1993) de Michel Chion, dizem “que os produtos audiovisuais se materializam em imagens
acústicas e visuais, mas os teóricos das obras visuais, em sua maioria, somente se têm
interessado pelo componente da imagem”. Para Brisset, “estes produtos suscitam em seu
espectador, seu audioespectador uma atitude perceptiva especial, que o compositor,
realizador e crítico francês Michel Chion propõe chamar de audiovisão. Chion publicou uma
obra em 1990, na qual tenta explicar como, na combinação audiovisual, uma percepção influi
na outra e a transforma: ‘não se vê o mesmo quando se ouve, não se ouve o mesmo quando se
vê’”.
Para Brisset, “crítico francês estabelece aí as bases da acuologia ou teoria da escuta e
do som, para a qual distingue três atitudes de escuta: a causal (servese do som para informar
se sobre a causa); a semântica (que se refere a um código ou a uma linguagem para interpretar
uma mensagem); e a reduzida (a que toma o som como objeto de observação, segundo suas
qualidades e formas”. Define também como acusmática a situação em que se escuta o som
sem ver sua causa; que fala da capacidade da música de criar emoções e que distingue entre o
modo empático (ao vincularse à situação mostrada) e apático (quando a ignora)”. Chion
também faz “um estudo dos planos e campos do som, seu modo de afetar as imagens e de ser
montadas; os problemas da produção sonora e da gravação ao vivo e da importância dos
ruídos; os três modos de presença da palavra no cinema, televisão e vídeo: teatral (com
diálogos funcionai), textual (com off) e emanada”.
Fica evidente então que este ensaio teórico abre portas a futuras e proveitosas
pesquisas sobre os mecanismos e efeitos particulares da trilha sonora das mensagens
audiovisuais, Brisset (Málaga, 1996, págs. 33 a 60),
.
Como novidade na área do som, Ángel Rodriguez (Barcelona, 1998, págs. 195 a 215)
que consideramos o teórico mais atualizado nessa área, dá, com suas reflexões, um novo
entendimento à matéria, propõe avanços significativos na hora de trabalhar com o som.
Villafañe & Mínguez (Madri, 1996, pág. 225) citam a Alcalde (1988, pág. 123) que,
segundo eles, parte da idéia de que “o segmento sonoro das mensagens audiovisuais ocupam
uma pequena parcela de nossa paisagem sonora quotidiana e da comunicação acústica (...)
disciplina eminentemente ecológica no sentido de ser considerada como um fenômeno
humano no qual se produz uma interação entre o indivíduo e o meio ambiente. A audição é o
processamento de um som disponível e potencialmente significante para aquele que escuta.
Este ato mediatiza a compreensão do entorno por aqueles que o habitam, que são
precisamente aqueles que o criam e o organizam significativamente”.
Para esses autores, imagem e som afetamse mutuamente:
O segmento sonoro, conforme escreverão Villafañe & Mínguez (1996, pág. 225),
“pode ser constituído por voz, música e ruídos ambientais, mas a mensagem audiovisual é
eminentemente vococentrista, pois a voz, especialmente a palavra, é o som sobre o qual giram
todos os demais. Isto é simplesmente um reflexo de nossos hábitos perceptivos transferidos
aos modos de produção de imagens seqüenciais com som”.
Ángel Rodriguez (Barcelona, 1998, págs. 195 a 215) mostra os conceitos de signo
utilizados pela lingüística e pela semiologia, segundo as concepções saussuriana e peirciana,
que inicialmente fundamentam o fenômeno da construção de sentido:
Aqui, Ángel Rodriguez (Barcelona, 1998, págs. 195 a 215) explica que “podemos,
logicamente, reduzir este modelo apenas ao som e explicar a produção de sentido a partir da
interação que se estabelece entre as formas sonoras reconhecíveis, a associação de cada
forma sonora a um conteúdo e a parte do universo que estamos nomeando ou escutando”.
Para ele, ao seguir esta linha de pensamento, “o fenômeno da produção de sentido em torno às
formas sonoras há de se apoiar, ao mesmo tempo, em duas concepções de certo modo
antagônicas: a saussuriana e a peirciana”.
Neste sentido, Ángel Rodriguez (Barcelona, 1998, págs. 195 a 215) revela a diferença
existente entre elas: a diferença essencial entre estas duas concepções é que a primeira
entende o signo como uma forma perceptível que se escolhe arbitrariamente para associá-la a
um sentido determinado. Este é o caso da concepção saussuriana. Em troca, a segunda
entende o signo como uma forma perceptível que está vinculada fisicamente com algum
fenômeno real do qual emana seu sentido. Fala-se então, respectivamente, de signo arbitrário
(concepção saussuriana) e de signo motivado (concepção peirciana)”.
Nesta acepção - signo arbitrário e signo motivado -, Ángel Rodriguez mostra quais são
os signos sonoros motivados e quais são os signos sonoros arbitrários:
1 – Signos sonoros motivados: “são aqueles que têm sua origem em formas sonoras
que ao serem reconhecidas nos remetem a um ente ou a um fenômeno concreto no universo
referencial que é sua fonte de produção. São formas sonoras vinculadas fisicamente à fonte de
vibrações que as produz, e o que nos indicam é a existência ou a presença desta fonte (...).
Este tipo de formas sonoras são determinadas por Peirce como índices e se caracterizam por
estar sempre associadas fisicamente ao fenômeno que as produz. São os signos mais simples
possíveis”;
2 – Signos sonoros arbitrários: “são aquelas formas que estão associadas mediante
escolha arbitrária a uma classe de objetos ou ações do universo referencial. São estruturas
sonoras como as palavras “árvore”, “classe”, “esferográfica”, “papel”, “correr”, “amar”,
“comer”, “falar”, etc. São caracterizados pelo fato de não haver nenhuma razão que explique
por que cada uma destas seqüências de som foi associada a determinado objeto ou ação”.
Ángel Rodriguez (Barcelona, 1998, págs. 195 a 215), destaca que “da mesma forma
que ocorria com os signos motivados, o modelo para explicar a produção do sentido sonoro
proposto por Saussure funciona bem em um contexto literário de leitura e escrita, mas
funciona bem pior em um contexto audiovisual, pois a forma de dizer cada palavra está
sempre vinculada em maior ou menor grau, por exemplo, ao estado emocional do indivíduo
ou às características objetivas daquilo que se nomeia(...)”.
Mecanismos de escuta
O professor afirma também que “os modelos clássicos que a semiologia tem utilizado
tradicionalmente são insuficientes para dar conta de todas as dimensões de produção de
sentido que se produzem no contexto da linguagem audiovisual a partir das formas sonoras”.
Segundo ele, “necessitamos, pois, buscar situações de produção de sentido”. Modelo este que
foi criado pelo próprio Ángel Rodriguez e que vem sendo desenvolvido na UAB.
Vejamos suas explicações sobre este tema relacionado aos mecanismos de escuta:
Em última análise, segundo Ángel Rodriguez (Barcelona, 1998, pág. 207), “este
modelo insere o discurso lingüístico em seu contexto sonoro real, que é muito mais amplo e
complexo que o escrito/ literário, permite explicar como se cria sentido a partir de formas
primárias e permite explicar, além do mais, de que maneira se vinculam estas formas
primárias com as formas sonoras culturais em um único sistema expressivo
multidimensional”.
Para este tipo de variável elaborado neste estudo, o marco teórico adotado está de
acordo com o que Roberts (1972, pág. 361) identifica como “as comunicações não intervêm
diretamente no comportamento explícito”. Ou também o que Wolf (1995, pág. 126) aponta:
“as comunicações tendem, isso sim, a influenciar o modo como o destinatário organiza o
ambiente à sua imagem”.
Noelle Neumann (1983) revela que as principais diferenças entre o velho e o novo
paradigma das pesquisas sobre os efeitos são os seguintes, segundo escreveu Wolf (1995):
A questão dos efeitos está sofrendo algumas mudanças já faz algum tempo.
Muda em primeiro lugar o tipo de efeito, que já não tem que ver com as atitudes, os valores,
os comportamentos dos destinatários, mas é um efeito cognitivo sobre sistemas de
conhecimento que o indivíduo assume e estrutura de uma forma estável, devido ao consumo
que faz das comunicações de massas Wolf (1995, pág. 126),
Em segundo lugar, de acordo com Wolf (1995), “muda o quadro temporal: já não há
efeitos específicos, ligados à exposição à mensagem, mas efeitos acumulativos, sedimentados
no tempo. Isto é, é realçado o caráter processual da comunicação, que é analisada seja em sua
dinâmica interna, seja em suas relações com outros processos comunicativos, anteriores ou
contemporâneos”.
Roberts (1972, pág. 377) compartilha essa formulação ao afirmar que “evidente que a
passagem dos efeitos limitados aos efeitos acumulativos implica a substituição do modelo
transmissivo da comunicação por um modelo centrado no processo de significação. De fato,
desse ponto de vista os mass media desempenham um papel de construção da realidade
(creating a second-hand reality)”. Roberts afirma também que “a influência dos mass media é
admitida sem discussão, na medida em que eles ajudam a estruturar a imagem da realidade
social, em longo prazo, a organizar novos elementos dessa imagem, a formar opiniões e
crenças novas”.
Portanto, neste estudo, mais que nos efeitos intencionais estivemos interessados nos
efeitos latentes. Efeitos esses que, segundo Noelle Neumann (1973), “estão implícitos no
modo como determinadas distorções na produção das mensagens se refletem sobre o
patrimônio cognitivo dos destinatários”. Ou também, segundo este autor, “atualmente, no
centro da problemática destes efeitos se coloca, portanto, a relação entre ação constante dos
mass media e o conjunto de conhecimentos acerca da realidade social, que dá forma a uma
determinada cultura e que sobre ela atua dinamicamente. Nessa relação, há três características
dos mass media que são importantes: a acumulação, a consonância e a onipresença”.
Para Wolf (1995, pág. 129), “o conceito de acumulação está ligado à capacidade que
os mass media possuem para criar e manter a relevância de um tema, e ser o resultado global
(obtido depois de um certo tempo) do modo como funciona a cobertura informativa no
sistema de comunicações de massas”. A consonância, segundo Wolf, “associa-se ao fato dos
traços comuns e as semelhanças existentes nos processos produtivos da informação, que
tendem a ser mais significativos que as diferenças, o que conduz a mensagens mais
semelhantes que dessemelhantes”. Para este autor, “a onipresença é relativa não apenas à
difusão de quantidade dos mass media, mas também ao fato do saber público – o conjunto do
conhecimento público de que esse saber é publicamente conhecido”.
Fishman (1980, pág. 12) afirma que isso “reforça a disponibilidade para a expressão e
para a evidência dos pontos de vista difundidos pelos mass media”, segundo destacou Wolf
(1995, pág. 129). Para Fishman (1980, pág. 12), “está aí o poder que essa evidência tem sobre
aqueles que ainda não têm uma opinião própria. O resultado final é que, muitas vezes, a
repartição efetiva da opinião pública é regulada pela opinião reproduzida pelos mass media e
se adapta a ela, segundo um esquema de conjeturas que se autoverificam”.
O efeito agenda-setting
Para estudar a variável relativa à notícia, noticiabilidade do ponto de vista do emissor,
como ele dá a informação e como também, do ponto de vista do receptor, ele recebe tais
informações e elas organizam seu mundo, o marco teórico aqui utilizado foi o que está
pautado pelo estudo da agenda-setting; consideradas as possíveis divergências que se possa
ter com este tipo de hipótese.
Shaw (1979, pág. 96) destaca que: “como conseqüência da ação dos jornais, da
televisão e dos outros meios de informação, o público sabe ou ignora, presta atenção ou se
desentende, realça ou despreza elementos específicos dos cenários públicos. As pessoas têm
tendência a incluir ou excluir de seus próprios conhecimentos aquilo que os mass media
incluem ou excluem de seu próprio conteúdo. Além disso, o público tende a atribuir a aquilo
que é incluído por esse conteúdo uma importância que reflete de perto a ênfase atribuída pelos
mass media aos acontecimentos, aos problemas, às pessoas”.
Mas é importante ressaltar, segundo Wolf (1995, pág. 130), que “esta clássica
formulação de hipótese se inscreve na linha que vai de Lippman aos Lang e a Noelle
Neumann, e que segundo Shaw (1979, págs. 96 e 101) ‘a hipótese de agenda-setting não
defende que os mass media pretendam persuadir (...). Os mass media, descrevendo e
precisando a realidade exterior, apresentam ao público uma lista daquilo sobre o que é
necessário ter uma opinião e discutir (...). O pressuposto fundamental de agenda-setting é que
a compreensão que as pessoas têm de grande parte da realidade social lhes é fornecida pelos
mass media’”.
Exatamente por esse motivo se faz necessária também uma análise crítica, focal e de
conteúdo dessas mensagens, tanto em seu aspecto quantitativo como qualitativo. Cohen
(1963, pág. 13), por exemplo, afirma que “é certo que a imprensa escrita pode, na maior parte
das vezes, não conseguir dizer às pessoas como pensar; tem, não obstante, uma capacidade
espantosa para dizer a seus próprios leitores sobre que temas devem pensar qualquer coisa”.
Roberts (1972, pág. 380) afirma que na medida em que o destinatário não é capaz de
controlar a precisão da representação da realidade social, tendo por base um padrão exterior
aos mass media, a imagem que ele forma, por intermédio desta representação, acaba por ser
distorcida, estereotipada ou manipulada”.
Galtung e Ruge (1965) haviam observado algo semelhante quando afirmaram que “os
critérios de relevância adotados pelos jornalistas para selecionar os acontecimentos a ser
transformados em notícias percorriam todo o processo que vai desde o fato ao leitor”. Estes
autores afirmam também que “da mesma forma que as rotinas produtivas e os critérios de
relevância, em sua aplicação constante, constituem o quadro institucional e profissional em
que o caráter noticiável dos acontecimentos é captado pelos jornalistas, assim o empolamento
(efeito espetacular da notícia), ou seja, o bombardeio constante de certos temas, aspectos e
problemas constitui um quadro interpretativo, um esquema de conhecimentos, um frame, que
se destina (mais ou menos conscientemente) a dar sentido àquilo que observamos”, Wolf
(1995, pág. 131).
Nas palavras de Shaw (1979, pág. 103 In Wolf, 1995, pág.131) “os mass media
oferecem algo mais que um certo número de notícias. Oferecem igualmente categorias nas
quais os destinatários podem, sem dificuldades e de uma forma significativa, colocar essas
notícias”.
Reforçando esta idéia que realça a diversidade existente entre a quantidade de
informações, conhecimento e interpretações da realidade social, segundo observa Wolf (1995,
pág. 131), Grossi (1983, pág. 225) diz que:
Wolf (1995, pág. 132) assevera que “em relação com a hipótese da agenda-setting, as
problemáticas dos processos de mediação simbólica e dos mecanismos de construção da
realidade, são extremamente pertinentes, assim como é crucial todo o quadro da sociologia do
conhecimento. Porém, no conjunto de pesquisas, os vestígios dessas pertinências teóricas
estão mais ou menos ausentes, assim como parece débil a consciência da utilidade de outras
disciplinas (psicologia cognitiva, semiótica textual)”.
Desse ponto de vista, pode-se verificar que há diferente poder de agenda-setting entre
os diversos mass media. McClure e Patterson (1976, pág. 26) afirmam que “os dois meios de
comunicação – televisão e imprensa – são dotados de um poder de influência diferente: as
notícias televisivas são demasiado breves, rápidas, heterogêneas e acumuladas em uma
dimensão temporal limitada, isto é, são excessivamente fragmentadas para ter um efeito de
agenda significativo. As características produtivas dos noticiários televisivos não permitem,
portanto, uma eficácia cognitiva duradoura, ao passo que a informação escrita possui também
uma capacidade de destacar a diferente importância dos problemas apresentados”. Segundo
estes autores, “a informação escrita oferece aos leitores uma indicação de importância sólida,
constante e visível, enquanto que a informação televisiva tende, normalmente, a reduzir a
importância e o significado do que é transmitido”, (Wolf, 1995, pág. 133).
A agenda-setting também será objeto de estudo por Ian Cornell (1980), que
comprovará “como os meios de comunicação se servem da agenda-setting da política não
tanto para dar maior cobertura a um setor político ou a certos acontecimentos, como para
construir um fundo de compreensão racional e o consenso em trono aos acontecimentos do
momento”, observou Vilches (1993, pág. 101).
Em 1978, segundo Vilches (Barcelona, 1993, págs. 101 e 102) outros dois autores
estudaram informativos televisivos: “Brunsdon e Morley, que pesquisaram o programa de
atualidade Nationwide da BBC. Os estudo destes pesquisadores consiste na análise da seleção
e construção das histórias jornalísticas e o uso de uma linguagem familiar entre os jornalistas.
Como conclusão, o que se detecta é que os programas tentam não tanto transmitir uma
mensagem quanto criar uma imagem pluralista de si mesmos”.
McCombs (1976, pág. 6) parte do princípio de que “os jornais são os principais
promotores da agenda de público. Definem amplamente o âmbito do interesse público, mas os
noticiários televisivos não estão totalmente desprovidos de influência. A televisão tem certo
impacto, no curto prazo, na composição da agenda do público (...)”. McCombs fala também
da agenda-setting como de uma metáfora: “a hipótese da agenda-setting se desenvolve a
partir de um interesse geral pelo modo como as pessoas organizam a estruturam a realidade
circundante. A metáfora da agenda-setting é uma macro-descrição do processo (...). Essa
metáfora se refere a certos pressupostos e interrogações específicas sobre o tipo de estratégia
que os sujeitos utilizam ao estruturar seu próprio mundo” (Wolf, 1995, pág. 142).
Os newsmaking
A sociologia dos emissores ao newsmaking é o outro ponto da pesquisa comunicativa
que constitui nosso marco teórico. Os estudos dos emissores e dos processos produtivos nas
comunicações estão intimamente ligados aos outros pontos estudados anteriormente: os mass
media televisivos e seus efeitos de longo prazo e a agenda-setting na construção da imagem
da realidade social tanto do ponto de vista do emissor como do receptor.
Com esse tipo de estudo teórico tentamos examinar os emissores dos informativos
televisivos e a lógica produtiva dos mass media.
Os estudos sobre os emissores serão confinados, em seu conjunto, nos níveis mais
baixos das operações produtivas dos mass media (...). Os níveis mais altos do planejamento
econômico e da programação política permanecem praticamente inexplorados; as questões
mais amplas e relevantes raramente são colocadas e existem pouquíssimas tentativas
sistemáticas de estudo do emissor, que ocupa uma posição fundamental no tecido social, com
a possibilidade de rechaçar e de selecionar a informação em consonância com a gama de
pressões que são exercidas em um determinado sistema social”, Halloran (1960, pág. 7 In
Wolf, 1995, pág.160).
Wolf (a995, pág, 160) afirma que o estudo dos emissores evoluiu, passando de alguns
conceitos simples a articulações mais complexas entre variáveis que não dizem quase nada a
respeito da lógica produtiva interna dos mass media. “Foram dois enfoques que
caracterizaram essa evolução: o ligado à sociologia das profissões, que estudou os emissores
do ponto de vista de suas características sociológicas, culturais, dos padrões de carreiras que
eles seguem, dos processos de socialização a que estão sujeitos. Neste caso, são estudados
alguns favores externos, como a organização do trabalho, que influem nos processos
produtivos dos comunicadores”. A segunda abordagem, pelo contrário, segundo salienta Wolf
(1995, pág. 161) “está constituído pelos estudiosos que analisam a lógica dos processos pelos
quais a comunicação de massas é produzida e o tipo de organização de trabalho dentro da qual
se efetua a construção das mensagens”.
Neste sentido, para este estudo nos detivemos no enfoque que analisa a lógica dos
processos de produção, ao acompanhar suas rotinas produtivas como observador dos
participantes, enquanto nos interessamos também em registrar a socialização e as
características sociológicas culturais dos jornalistas profissionais que atuam na produção dos
informativos televisivos.
Os gatekeepers
É exatamente na zona filtro onde atua o gatekeeper nos mass media, e principalmente
nos meios televisivos. Existe um individuo ou um grupo de indivíduos que têm o poder de
decidir se deixa ou não a informação.
Robinson (1981, pág. 97) afirma que “as decisões do gatekeeper são tomadas menos a
partir de uma avaliação individual da noticiabilidade que em relação a um conjunto de valores
que incluem critérios, sejam profissionais, sejam organizativos, tais como a eficiência, a
produção das notícias, a rapidez”.
A noticiabilidade
Quanto aos critérios de importância e noticiabilidade nos informativos televisivos
estudados para analisar sua linguagem (a palavra, a imagem e o som), utilizamos o enfoque de
newsmaking das teorias comunicativas.
Segundo dizem esses autores, “esse enfoque se articula principalmente dentro de dois
limites: a cultura profissional dos jornalistas e a organização do trabalho e dos processos
produtivos”.
Tuchman (1977, pág. 45) é a grande teórica deste enfoque, e suas teorias já foram
tratadas amplamente por nós no início deste estudo. Na visão de Tuchman a cultura
profissional dos jornalistas e a organização do trabalho e dos processos produtivos
jornalísticos estão calcados no seguinte:
Veron (1983, II) afirma que “os acontecimentos sociais não são objetos que se
encontrem já feitos e cujas características nos são dadas a conhecer pelos meios com maior ou
menor fidelidade”. Para ele, “os acontecimentos sociais só existem na medida em que esses
meios os elaboram. A informação nos oferece a realidade selecionada e julgada, porque nunca
é neutra”.
Para Wolf (1995, pág. 170) há restrições ligadas às organizações do trabalho sobre as
quais se criam convenções profissionais, pois segundo afirmou Garbarino (1982, pág. 12),
estas convenções profissionais são as que “determinam a definição de notícia, legitimam o
processo produtivo, desde a utilização de fontes até a seleção dos acontecimentos e das
modalidades de confecção, e contribuem a precaver-se contra as críticas do público”. Wolf
afirma que “estabelece, assim, um conjunto de critérios de relevância que definem a
noticiabilidade (newsworthines) de cada acontecimento, isto é, sua capacidade para ser
transformado em notícia”.
A noticiabilidade está constituída pelo conjunto de requisitos que são exigidos dos
acontecimentos – do ponto de vista do jornalista profissional dos jornais (e rádio e televisão)
– para adquirir a existência pública de notícias. Tudo o que não corresponde a esses requisitos
é excluído, por não ser adequado às rotinas produtivas e aos cânones da cultura profissional
(Veron, 1983; Wolf, 1995).
Wolf (1995, pág. 170) compartilha essa formulação ao afirmar que “a noticiabilidade
está estreitamente relacionada com os processos de rotinização e de padronização das práticas
produtivas: equivale a introduzir práticas produtivas estáveis em uma matéria prima (os fatos
que ocorrem no mundo) que é, por natureza, extremamente variável e impossível de ser
prevista”.
Já para Tuchman (1973, pág. 160) “sem uma certa rotina da qual podem servir-se para
enfrentar os fatos imprevisíveis, as organizações jornalísticas, como empresas racionais,
falhariam”. Atheide (1976, pág. 113) salienta que “a definição de noticiabilidade vincula-se ao
conceito de perspectiva-da-notícia (newsperspective), que é “a resposta que os órgãos de
informação dão à questão que domina a atividade dos jornalistas: que fatos quotidianos são
importantes?” (Wolf, 1995, pág. 171).
Neste sentido, Atheide (1976) assinala que “afirmar que fazem ou selecionam
arbitrariamente as notícias seria contrário a sua posição epistemológica, uma teoria de
conhecimento implícita, construída a partir de procedimentos práticos para resolver
exigências organizativas”.
Fragmentação da informação e da noticiabilidade
Em última análise, para Atheide (1976), “notícia é o produto de um processo
organizado que implica uma perspectiva prática dos acontecimentos, perspectiva essa que tem
por objetivo reuni-los, oferecer avaliações simples e diretas, sobre suas relações, e fazer isso
para entreter os telespectadores”. Essa factibilidade contribui para descontextualizar ou para
tirar um acontecimento do contexto em que se produziu, a fim de poder recontextualizá-lo
dentro das dimensões do noticiário” (Atheide, 1976, pág. 179 em Wolf, 1995, pág. 171).
Neste caso nos fixaremos no que propõe Golding-Elliot (1979, pág. 100): “os valores-
notícia derivam de pressupostos implícitos ou de considerações relativas”:
a) A escolha;
b) A seleção; e
c) A apresentação.
Cada uma delas dá lugar a rotinas articuladas e processos de trabalho, dos quais só alguns
aspectos são tratados” Wolf (1995, pág. 195)
Por outro lado, Golding-Elliot (1979, pág. 102) afirmam que “a escolha das notícias nega
o essencial da ideologia profissional que retrata o jornalista à caça das notícias, orientado para
o exterior como ativo selecionador de informações, independente das fontes”. Na prática,
“jornalistas de rádio e televisão estão relativamente limitados quanto à escolha que podem
fazer, e a produção da informação televisiva é, em grande parte, expor as notícias que a
redação não pode deixar de dar”.
A escolha factível “é proporcional aos recursos disponíveis, mas continua sendo a cereja
que enfeita o bolo. Até nos órgãos de informação fortes e organizados observa-se, na fase da
escolha, uma enorme utilização de notícias de agências e de algumas importantes fontes
institucionais” (Wolf, 1995, pág. 196).
Calabrese e Violli (1980) e Wolf (1995, págs. 221 e 222) afirmam que “a fragmentação
dos conteúdos e da imagem da realidade social se situam exatamente entre esses dois
movimentos: por um lado, a extração dos acontecimentos de seu contexto; por outro, a re-
inserção dos acontecimentos noticiáveis no contexto constituído pela confecção, pelo formato
do produto informativo”.
Atheide (1976, pág. 85) e Wolf (1995, pág. 220) são da opinia que: “o editing tem,
portanto, como objetivo oferecer uma representação sintética, necessariamente breve,
visualmente coerente e possivelmente significativa do objeto da notícia”. Produz-se aí o
highlighting provocado pela transformação no modo de condensar, focalizar a atenção em
certos aspectos do conhecimento. O highlighting foi definido por Gans (1979) “como a
seleção dos aspectos evidentes de um acontecimento, ação ou personagem, que obtém,
anulando os aspectos previsíveis e tudo o que não pareça ser suficientemente importante,
novo e dramático”. Wolf, crê que “filmar imagens que acompanham uma notícia, tendo em
mente a possível montagem, significa concentrar-se nos aspectos considerados
profissionalmente mais idôneos para ilustrar o acontecimento, ou seja, significa operar
tomando como base os valores-notícia”.
Vilches (Barcelona, 1993, pág. 100) observa que “nas páginas de Encoding/ Decoding
(1973) Hall analisa em primeiro lugar o conceito de signo televisivo. Remetendo-se ao signo
icônico de Peirce (1965-1966) – como aquilo que possui algumas propriedades da coisa
representada – recorda que a realidade existe fora da linguagem, mas constantemente
mediatiza a linguagem”.
Da mesma forma que R. Barthes (1964, 1970), Hall fala da confusão da teoria
lingüística ao definir os termos de conotação e denotação. Vilches (Barcelona, 1993, pág. 100)
assinala que “acontece que o signo televisivo, como toda imagem, é vulnerável a ser lido
como natural”.