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fete 47S 2 INTERDEPENDENCIA, SEGURANGA E DESENVOLVIMENTO NA POLITICA EXTERNA DO GOVERNO CASTELO BRANCO (1964-1967) ‘artigo identifica os postulados basicos de atuacéo internacional do Brasil durante o governo Gastelo Branco (1964- 1967), a partir da anélise do bindmio ‘seguranga e desenvolvimento, situando- 0 como resultados da ganese do proprio regime militar brasileiro, das tradigdes da politica externa brasileira e, principalmente, dos constrangimentos intemacionais caracteristicos da década de 1960. rv G ‘The articlo identifies the basic postulates of the Brazilian international action during the torm of president Castelo Branco (1964-1967), starling from the binomial security and development by placing them as the outcomes of the gonesis of the Brazilian military regime itself, of the traditions of the Brazilian Foreign Policy, and specially, the international constraints typical from the 1960's. André Luiz Reis da Silva" Os estudos sobre o regime militar, assim como sobre a politica exterior do Brasil, tém- se avolumado nos iltimos anos. Entretanto, verifica-se uma caréncia no que tange a politica externa do governo Castelo Branco. De fato, durante esta pesquisa, constata-se a caréncia de um trabalho que cobrisse, de forma ampla, organica e sistematica, o tema. Os trabalhos mencionados na bibliografia analisam periodos mais longos e/ou teméticas correlatas. O objetivo deste trabalho é tentar, dentro dos seus limites, cobrir uma lacuna nas pesquisas sobre politica exterior do Brasil. Dentro dessa perspectiva, procuraré identificar quais os postulados basicos de atuagao do Brasil no contexto internacional durante 0 governo Castelo Branco, a partir da anélise do bindmio seguranca desenvolvimento. Nesta perspectiva, constitui uma tentativa de encontrar o ponto de cruzamento entre trés avenidas, que correm quase sempre paralelas, continuamente trafegadas pela historiografia brasileira: 0 estudo do regime militar, que adveio apés 0 Golpe Militar de 31 de margo de 1964; a insergao internacional do Brasil, multilateral e desenvolvimentista, principalmente na segunda metade do século XX; e o sistema internacional, vigente na década de 1960.1 Rorista Cena Internacional. 2 (2): 137-164 (2000) * Mestre em Histéria pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS — e Especialista em Integracio Sconémica pela Universidade de Leiden, Holanda, BEBE! tereeerevencin, sucuraNca t DESENVOLVIMENTO NA POLITICA EXTERNA... cee O Golpe Militar de 31 de margo de 1964, no Brasil, foi o desfecho de uma profunda luta entre projetos antagénicos, que disputavam poder e encontravam-se, nos momentos anteriores ao Golpe, em situacdo de um instavel equilfbrio. A solugéo “técnica” advinda com o Golpe foi acompanhada da instauracao de um regime militar, apoiado por civis, que imprimiram um modelo de desenvolvimento econdmico gestado ¢ idealizado pelo novo bloco de poder, que se assenhorava do pafs. O modelo politico- econémico populista foi interrompido, cedendo espaco para uma modernizagéo conservadora, Modernizagao porque procurava consolidar a implantagao das relagoes, capitalistas no Brasil. Conservadora pois negava 4 boa parcela da populagdo, os beneficios econdmicos e politicos dessa modernizagao. Assim, Golpe Militar —e a implantagdo de seu regime — alterou o equilibrio de forgas e introduziu uma reorientagao no curso histérico do pais, tanto na sua esfera interna quanto na sua extema — sua politica exterior. Nesse campo, verifica-se que o Brasil rompeu relagoes diplomaticas com Cuba em maio de 1964,? procurou eliminar éreas de atrito com os, EUA, enviou forgas brasileiras (FAIBRAS) para combater, ao lado dos Estados Unidos, na Repiiblica Dominicana e defendeu - junto a OEA ~ a institucionalizagao da Forga Interamericana de Paz, como instrumento de seguranga coletiva no continente contra a subverséo comunista, Ainda dividiu a atuagao da politica exterior em dreas de interesse, compreendendo, em cfrculos concéntricos, a América Latina, o continente americano e o mundo ocidental. Na drea que abrange o primeiro e 0 segundo cfrculo concéntrico (continente americano), o Brasil assumiu uma politica de aliado preferencial dos EUA. Para dar mostras de boa vontade para com os EUA, o Brasil rompeu relages com Cuba em 1964 ¢ participou da invasdo da Repiblica Dominicana em 1965. Também apoiou a idéia norte-americana de constituigdo de uma Forga Interamericana de Paz, que teria condigées de intervir em paises latino-americanos, que passassem por instabilidade politica, Jé quanto ao terceiro circulo concéntrico, que corresponde as relagdes extra~ hemisféricas ocidentais, a politica externa brasileira sofreu um relativo recuo, embora nao significasse abandono. As relacdes com a Europa foram mantidas, mas o enfoque teria um conteiido mais comercial que politico. A interdependéncia como matriz teérica da politica externa Se 0 Golpe Militar alterou profundamente o modelo de desenvolvimento politico-econémico e social do Brasil apés 1964; na esfera da politica externa, as mudangas nao foram menos incisivas, pois houve uma nova orientacéo, calcada no INTERDEPENDENCIA, SEGURANGA F DESENVOLVIMENTO NA POLITICA ExTERNA... “FQ ideério do Golpe. Dessa forma, interrompeu-se a politica externa desenvolvida pelos seus dois antecessores, Janio Quadros e Joao Goulart. Essa politica era denominada politica externa independente, pois denunciava o conflito entre as duas superpoténcias —EUA e URSS - como sendo desfavorével as demandas do Terceiro Mundo e pregava © néo-alinhamento ¢ o neutralismo.* Tal politica era motivo de criticas e dentincias internas e externas por parte dos setores conservadores ¢ dos EUA. Em 4 de abril de 1964, Aratijo Castro passou 0 cargo de Ministro das Relagdes Exteriores ao Embaixador Vasco Leitdo da Cunha, que discursou de improviso e confessou que nada sabia sobre a nova orientagio da politica externa do Brasil, porque nao havia conversado com o Presidente da Repiblica, alegando inclusive que o proprio Sr. Ranieri Mazzilli tinha declarado que “ (...) estamos vivendo um governo de transigdo”.* Ainda que 0 Chanceler Vasco Leitao tivesse distribuido uma nota & imprensa em 7 de abril - defendendo o Golpe de 31 de margo e afirmando que o Brasil continuaria a manter relagdes com todos os paises* — de fato, as primeiras inovages da orientagéo da politica externa apareceriam no discurso de posse da Presidéncia, em 15 de abril de 1966, quando Castelo Branco afirmou: “A independéncia do Brasil constituiré 0 postulado bésico da nossa politica internacional. ‘Todas as nagdes amigas contardo com a lealdade dos brasileiros, que honrarao os tratados e os pactos celebrados. Todas as nagées democraticas ¢ livres seréo nossos aliados, assim como os povos que quiserem ser livres pela democracia representativa contaréo com 0 apoio do Brasil para a sua autodeterminagfo. As hist6ricas aliangas que nos ligam as nagées livres das Américas seréo preservadas ¢ fortalecidas. Respeitaremos a interdependéncia dos paises de todo o mundo nos seus negécios internos e exigiremos igual respeito aos nossos negécios, que néo admitem a minima interferéncia, por discreta e sutil que venha a manifestar-se. (...)".° Vasco Leitdo da Cunha, agora jé plenamente inteirado da nova orientagao da politica externa brasileira, concedeu no dia 6 de julho uma entrevista em que, a0 discorrer sobre os mais importantes problemas internacionais, afirmou: “Em primeiro lugar, a recolocacao do Brasil num quadro de relagdes prioritarias com 0 Ocidente. Isto significa defender a politica tradicional de boa vizinhanga na América, a seguranca do Continente contra a agressao a subversio vindas de fora ou de dentro dele; a consolidagao dos lagos de toda a ordem com os Estados Unidos, nosso grande vizinho e amigo do norte; ampliagao de nossas relagdes com a Europa Ocidental ¢

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