Estando as espécies de jurisdição abordadas, associadas ao conceito
de competência, caberá definir a mesma como sendo a divisão do trabalho ou atividade desenvolvida pelo Judiciário, de acordo com determinadas especificidades. De fato, verifica-se que diante da diversidade de matérias a serem apreciadas pelos órgãos jurisdicionais (penal, cível, trabalhista e etc...), associada à extensão territorial do país, estando limitada à atuação do julgador neste particular pelo princípio da aderência ao território, importam na necessidade do estabelecimento de critérios a partir dos quais possa estar definida a área de atuação dos mesmos. Cabe, portanto, com relação a mesma o conceito de “ratione materiae”, ou seja, em razão da matéria. Daí, a necessidade de distribuição de atividades de acordo com determinados critérios específicos, a cada um dos órgãos que integram o Poder Judiciário pelo que dispõem as normas constitucionais (art.s 92 a 126, C.F/88) e infra-constitucionais. A este processo de distribuição de atividades dá-se o nome de competência, a qual se encontra associada à natureza do trabalho desenvolvido pelo órgão jurisdicional. Cumpre frisar, que a fixação da competência ocorrerá com relação ao órgão, e não com relação à pessoa física do julgador, que eventualmente haverá de encontrar-se afastada por motivação diversa, a exemplo do que haveria de ocorrer em caso de suspeição ou de impedimento. Destaca-se ainda, que a fixação da competência encontra-se determinada no momento da propositura da ação, sendo irrelevantes as modificações posteriores, associando-se a questão, portanto, ao fenômeno denominado de “perpetuatio jurisdictionis”, com relação à perpetuação da jurisdição, nos termos do art. 87, do CPC, estando à mesma fixada independentemente de modificações posteriores. Distingue-se, portanto, a competência da jurisdição, claramente como sendo a primeira a forma pela qual se encontra limitada à atuação da última, nos termos dos art.s 69 e seg.s do CPP e 86 e seg.s do CPC. De maneira a permitir eventualmente o ajuizamento de determinada ação, haverá de inicialmente se verificar qual matéria será objeto da mesma, de modo a identificarmos o âmbito das justiças especializadas (justiças do trabalho, eleitoral ou militar) ou do campo da justiça comum, seja esta federal ou estadual, como sendo àquele perante o qual haverá de ocorrer à dedução da pretensão pela parte interessada no provimento jurisdicional. Estabelecida à justiça competente, cabe a determinação considerando o critério funcional de acordo com a função primária desenvolvida pelos órgãos de 1º grau ou de 1ª instância e dos órgãos de 2º grau ou de 2ª instância, verificando-se que aos primeiros caiba o julgamento de ações, enquanto que aos últimos caiba de regra o julgamento de recursos, salvo no caso daquelas ações tidas como de competência originária. No que se refere à competência funcional ou hierárquica entre órgãos de graus diversos, haverá de denominar-se como sendo vertical, pois, ao menos em tese estariam os órgãos de 1º grau subordinados àqueles de 2º grau ou de 2ª instância, verticalmente, assim como se admite a hipótese de que venha a mesma a caracterizar a relação entre órgãos jurisdicionais que encontram-se associados a fases diversas, ainda, que em mesmo grau de jurisdição, como vem a ocorrer com relação aos processos de competência do Tribunal do Júri, cujo funcionamento encontra-se regulado pelo que dispõe o art. 5º, inciso XXXVIII, da C.F/88, na medida em que competirá ao chamado juízo singular a condução do feito até a pronúncia e ao colegiado, integrado pelos jurados, o julgamento em plenário. Identificado o órgão competente, haverá de se estabelecer o lugar onde haverá de encontra-se proposta determinada ação. Considerando-se os critérios estabelecidos pelos códigos de processo civil, trabalhista e penal, tem-se que com relação ao primeiro regem a matéria o que dispõem os art.s 94 e seg.s, do CPC e 651, da CLT, prevalecendo com relação a todos o conceito de “ratione loci”, ou seja, em razão do lugar. Por fim, em havendo mais de um órgão competente do ponto de vista da matéria, critério a partir do qual cita-se como exemplo, o caso da existência de várias varas de família com relação ao Distrito Federal, apenas, a uma destas haverá de ser encaminhado o pedido formulado na forma da inicial, passando por processo de distribuição automática. Restando claro, ser a competência a forma de delimitação da atividade jurisdicional, de acordo com critérios específicos, verifica-se que haverá a mesma de encontra-se dividida entre competência absoluta, conceito com relação ao qual se encontram associadas as competências em razão da matéria e àquela denominada de hierárquica ou funcional, e competência relativa, pela qual estão relacionadas a competência em razão do lugar e em decorrência do valor atribuído a causa. De fato, verifica-se que com relação a competência absoluta tem-se que será a mesma inderrogável, ou seja, improrrogável por vontade, ou por omissão, das partes, pelo que estabelece o art. 111, caput, parte inicial, do CPC, enquanto que a competência relativa, ao contrário, pelo que prevê a parte final, do dispositivo mencionado, mostra-se como sujeita ao fenômeno denominado de “prorrogação”. Daí, falar-se no que se convencionou denominar de “prorrogação de competência”, no sentido da ampliação da competência de determinado órgão jurisdicional, o qual seria inicialmente incompetente para a apreciação de determinada matéria, de modo a que o mesmo passe a sê-lo. Verifica-se, portanto, que a modificação de competência haverá de decorrer de causas legais, quando será denominada de prorrogação legal ou necessária ou por ato de vontade das partes, designada como prorrogação voluntária. Quanto as primeiras, constituem-se nas causas legais de modificação de competência, quais sejam, a conexão e a continência, respectivamente previstas, pelos art.s 103 e 104, do CPC, verificando-se a primeira quando for comum o pedido ou a causa de pedir, enquanto que com relação a segunda, além deste serão ainda, comuns as mesmas partes, sendo que o objeto de uma por ser mais amplo, abrange o das demais, havendo o Juiz prevento de proceder a reunião das ações propostas de ofício ou a requerimento das partes. No que se refere a prorrogação voluntária, cumpre destacar que poderá por sua vez decorrer de acordo expressamente firmado entre as partes, quando denominada de expressa, como no caso do foro de eleição, admitido apenas, no processo civil, assim como, no caso da preclusão associada a perda do prazo relacionado a argüição da exceção de incompetência, pelo que dispõe o art. 305, do CPC. Com efeito, dispõem os art.s 102 e 111, § 1º, do CPC, que a competência em função do valor e do território ou foro, são modificáveis de acordo com a vontade das partes, desde que com relação à última, figure o fato expressamente de contrato escrito, como no caso de foro de eleição, sendo que no que se refere ao dispositivo mencionado ao final, resta claro que a competência em razão da matéria e a função são inderrogáveis. Destaca-se ainda, que a competência em razão do valor e do território, encontram-se sujeitas as ditas causas legais de modificação de competência, quais sejam, a conexão e a continência, pelo que dispõem os art.s 102 e seg.s, do CPC. Por fim, diga-se que a incompetência relativa, haverá de ser argüida na forma de exceção obrigatoriamente pela parte a qual prejudica, pelo que prevê o art. 112, do CPC, enquanto que a incompetência absoluta, deve ser declarada de ofício pelo órgão jurisdicional, ou ser alegada em qualquer tempo ou grau de jurisdição, de acordo com o art. 113, inclusive, em ação rescisória, pelo que prevê o art. 485, II, todos do mesmo codex.