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* Conferência proferida pelo Prof. Ur. Tércio Sampaio Ferraz Júnior, Titular da
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no Salão Nobre do Compus de
Bragança Paulista da Universidade São Francisco, no dia 11 de Agosto de J 993,
comemoração da instituição dos cursos jurídicos no Brasil.
questão no âmbito constitucional brasileiro.
tecnocracia estatal (relação esta pouco a pouco levada a uma crise), com
desenvolvimento político).
sentido de não ser impedido; no sentido positivo, a liberdade tem relação com a
à vontade dos outros. Pela ordem, a liberdade é seguida da segurança, que, como
tratamento uniforme dos endereçados. Exige, pois, que todos, nas mesmas
condições, tenham o mesmo tratamento. Segurança exclui, portanto, tratamento
arbitrários, ou seja, não só os que não são uniformes, mas também os que
legal do Estado como ordem normativa, limites claros de sua atuação como
instituição. Mas, numa extensão mais ampla, configura não apenas a repulsa ao
cidadão, sugerindo uma forte dimensão social. Como valor amplo alcança, pois,
socialmente injustas que são, então, juridicamente repelidas pela sua inclusão,
ao sujeito isolado, mas como valor objetivo. Sua configuração não é, por isso,
pode-se dizer que o bem-estar, como valor, releva-se em uma situação de não-
lo. Desenvolvimento não é meio nem fim, nem correlação de meios e fins, mas
uma situação permanente de uma sociedade que muda e que se reconhece como
voltada para seu próprio progresso e aperfeiçoamento. Não é, pois, meio para o
possibilidades reais.
básicos. Sabe-se que a igualdade, como valor, toma vários sentidos. Na tradição
lei, o que postula uma desigualdade de fato, decorrente das diferentes aptidões
do artigo 5º: "todos são iguais perante a lei", garantindo-se, entre outros, "o
direito à igualdade" -, generaliza uma aspiração bem mais ampla que alcança
tal, o valor igualdade, tomado não apenas como condição para o exercício das
fundamentais.
diferentes. Mas numa aproximação positiva, o valor aponta para a igualdade dos
das demais virtudes ou, como diríamos agora, dos demais valores. Justiça, neste
desafio e realização.
absorvida nem por um nem por outro, mas deve ser reconhecida como um
esta reconhecido que o homem tem um lugar no mundo político em que age.
viver em um lugar como ser distinto e singular entre iguais (esfera pública) e do
enquanto lugar em que o homem exerce seu autogoverno, e que lhe traça,
o faz pela afirmação da cidadania, que é um dos seus fundamentos, junto com a
livre iniciativa, o pluralismo político (art. 1º, I até V). Este conjunto que se
pública ao parágrafo único do art. 1º: "Todo o poder emana do povo". Note-se
que o texto diz: todo o poder e não todo poder. Trata-se de um só poder de
cidadania enquanto agir conjunto, que a todos inclui e a ninguém absorve. Por
deve ter o seu lugar no mundo político, preverte-se a soberania numa relação de
submissão para a qual o pluralismo então não conta, absorve-se a esfera pública,
por Celso Lafer em seu trabalho sobre Hannah Arendt (Lafer, 1988:146), como
de uma estrutura de divisão dos poderes. Por este último princípio ressalta-se a
Isto deve valer também para as famigeradas "medidas provisórias com força de
idênticos conteúdos toda vez que alguma delas for rejeitada pelo Legislativo.
Presidente, devem ter seus limites traçados pelo Poder Judiciário que, se
na legitimidade constitucional.
partidária, é o único dos poderes cujo exercício, sendo público, exige, não
de guarda da constitucionalidade.
Não é preciso muito esforço para perceber que vivemos no Brasil, uma
Constituição?
económica. Sua textura não é de simples exegese, posto que o próprio enunciado
naquilo em que consiste: a iniciativa não se toma mais ou menos livre; como
caso, a expressão “tarbalho humano”. Por que "humano"? Que outra forma de
produto: aquilo que o trabalhador fabrica e coloca no mundo, como algo que
vem da sua arte c esforço e ganha vida própria no comércio com os outros. Pelo
todos podem perceber e sentir como algo que não havia e passou a existir. Nesse
quando o produto está pronto, ao contrário do homem que é capaz, como o Deus
bíblico, de olhar, ver que está bom e, ao concluir sua obra, descansar. A
operacional das máquinas mas do homem como máquina, ou seja, uma ordem
que inverte fins e meios, que almeja apenas a "libertação de mão-de-obra" (vide
art. 7º, XXVII), que produz apenas para produzir mais ou melhorar seus próprios
rítmica conforme regras de eficiência, que faz com que desapareça a distinção
também afirmar que a estrutura desta está centrada na atividade das pessoas e
dos grupos e não na atividade do Estado. Não significa a exclusão deste, mas
exclusão: o que não está proibido, está permitido. Obviamente, isto não é um
mas não nos desempenhos e nas consequências. Livre iniciativa, assim, não
de produzir algo novo, de começar e empreender desde o princípio algo que não
estava ali. É desta liberdade que se fala como livre iniciativa. Conjugada com a
fundamento que a Ordem Económica revela sua própria legitimidade. Sob este
fundamento ergue-se uma ordem, cujo fim, diz o caput do artigo 170, é
objetivos fundamentais da Republica (art. 3a) é promover o bem de todos (arí. 3a,
ela não realiza. Apenas deve assegurar uma realização da existência digna.
Assegurar, como fim da Ordem, é velar para que não ocorram impedimentos na
realização de valores.
Constituição proclama que "a ordem social tem como base o primado do
trabalho e como objetivo o bem estar e a justiça sociais". Em que sentido este
não se conjuga com a livre iniciativa, mas é base única que diz respeito à própria
objeto: força de trabalho. Pois a Ordem Social, como que ciente, não obstante,
da possibilidade de ocorrência desta degradação, encara de frente a
(Arendt, 1981:99). Do ponto de vista social, o que conta não é a produção das
coisas, bens que podem ser acumulados, mas o próprio processo vital do ser
pública (Arendt, 1981:45). Trata-se de uma instituição da era moderna, cuja raiz
das classes trabalhadoras. Nesta nova esfera, a vida ó o supremo bem. Por isso,
exegética. Seu conteúdo está nas relações humanas enquanto relação entre seres
que sobrevivem pela sua própria força de trabalho e seu problema é constituí-los
sua substância.
pluralista, tais direitos, venha o seu exercício cingir-se e esgotar-se no mero jogo
de classes dominantes. Seus efeitos, assim, não devem se produzir apenas frente
tarefa comum, que deve fazer da Constituição uma prática e não somente um
gente muito simples, que certamente mal sabe que temos uma Constituição, mas
democracia. Por isso, apesar de tudo, esta Constituição é, como disse Ulisses
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS