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REPORTAGEM DE CAPA

A Bíblia, reescrita pela ciência


Pesquisas arqueológicas criam polêmica ao desmentir as versões mais aceitas dos
relatos bíblicos
MARCELO FERRONI

Episódios como a fuga do Egito, a conquista da Terra Prometida e o reinado de Davi e


Salomão compõem a obra essencial do mundo ocidental. É ela que deu o fundamento
religioso ao judaísmo, e assim consolidou as aspirações de um povo. Sob o nome de
Antigo Testamento, é ela que também deu início a uma religião revolucionária, com base
nos ensinamentos de Jesus. Muitas pessoas hoje lêem esses textos sagrados como se
fossem livros de História - ou seja, relatos ao pé da letra sobre o que aconteceu em
determinada época. Outras afirmam justamente o contrário, que quase nada do que está
descrito na Bíblia realmente ocorreu. O texto, segundo elas, consistiria simplesmente em
uma pregação feita em linguagem figurada e poética, própria de seu tempo, e sem relação
com a História factual. Nas últimas três décadas, esforços de arqueólogos, historiadores e
lingüistas mostram que a Bíblia está em uma situação intermediária entre essas visões
extremas. E o que eles revelam sobre as escrituras sagradas é uma série de surpresas.

Boa parte dessas descobertas é narrada em um livro lançado


nesta semana no Brasil. A Bíblia Não Tinha Razão (Editora
Escribas da corte de Girafa, 516 páginas, R$ 54), livro escrito pelos arqueólogos
Josias, há 2.600 Neil Asher Silberman e Israel Finkelstein, dois dos mais
anos, deram início à respeitados pesquisadores dessa área, traz revelações
compilação dos surpreendentes sobre ä esse período histórico. Ao que tudo
primeiros livros da indica, no decorrer de poucas décadas, há cerca de 2.600
Bíblia anos, um esforço conjunto de escribas, sacerdotes e profetas
deu forma a uma escritura sagrada que iria mudar o mundo.
Ao unir uma coleção de memórias, poesias, lendas, folclore e
relatos históricos, esses homens do pequeno reino de Judá,
perdido entre as montanhas próximas ao Mar Morto, deram início ao Antigo Testamento e
plantaram a pedra fundamental de religiões que iriam se espalhar por toda a Terra. Em
entrevista exclusiva a ÉPOCA, Neil Silberman, diretor de interpretação histórica do Centro
Ename de Arqueologia Pública, na Bélgica, e um dos editores da revista Archaeology,
explicou seu trabalho ao lado de Finkelstein, professor de arqueologia da Universidade de
Tel-Aviv.

Entre as histórias da Bíblia, uma das mais contadas e recontadas é aquela em que Moisés,
à frente do povo escolhido, desafia os poderes de um faraó egípcio, lançando-o numa
viagem de 40 anos pelo deserto rumo à Terra Prometida, Canaã. Segundo o relato, os
israelitas viviam no exílio no Egito, nas cidades a leste do Delta do Nilo, e tinham passagem
livre para ir e voltar a sua terra natal. No entanto, com a chegada ao trono de um novo
faraó, o povo foi escravizado - e só seria libertado por Moisés, um israelita criado por uma
filha do faraó, que se revoltou diante do tratamento dispensado a seu povo e terminou por
liderá-lo na revolta e no Êxodo. Em sua história estão descritos milagres como a sarça
ardente, as dez pragas do Egito, a abertura do Mar Vermelho e o aparecimento de maná no
deserto. É ele também que recebe de Deus, no Monte Sinai, as tábuas com os Dez
Mandamentos.

EM BUSCA DO JESUS HISTÓRICO


Na época, fora dos livros religiosos, há somente duas menções ao nome de
Jesus, filho de José
No século XIX, arqueólogos e historiadores Corbis/Stock Photos
chegaram a propor que Jesus não existiu.
Hoje, os especialistas não seguem nem esse
extremo, nem o outro - crer que tudo o que o
Novo Testamento diz é exato. O consenso de
historiadores, lingüistas, teólogos e
arqueólogos é de que Jesus nasceu entre 7
a.C. e 6 a.C. e, por volta do ano 30 d.C., foi
condenado à morte sob as ordens de Pôncio
Pilatos. No entanto, os especialistas
concordam que muitas das narrativas sobre
ele têm um sentido figurado, e não factual.
Das diversas histórias sobre Jesus, quatro - os
Evangelhos da Bíblia, escritos entre os anos de 50 d.C. e 110 d.C. - são aceitas
pelo cristianismo. Outras 60, os evangelhos chamados 'apócrifos', também o
mencionam. Fora da literatura religiosa, há apenas duas referências, nos livros
dos romanos Flávio Josefo (que escreveu a história dos judeus) e Plínio, o Moço.
Segundo os especialistas, nenhum dos textos pode ser tomado ao pé da letra.
'Tudo o que se diz sobre Cristo foi escrito num período muito posterior aos
acontecimentos. Não é uma história, e sim uma memória', diz o arqueólogo
Francisco Marshall, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 'Nesse
sentido, os livros revelam um ambiente cultural, e o que se dizia naquela época.'

Nas últimas décadas, inúmeros esforços foram feitos para descobrir um pouco
mais da história de Jesus. Houve até uma tentativa de reconstituir seu rosto, a
partir de dados e medidas do crânio de um judeu do século I d.C. Mas pouco se
avançou, e houve até fraudes, como a urna funerária apresentada há dois anos
com a inscrição 'Tiago, irmão de Jesus', que se revelaria uma falsificação.

#Q: A Bíblia, reescrita pela ciência - Continuação:#

Por anos, os cientistas buscaram o indícios de um Moisés histórico, sem sucesso. É pouco
provável que existisse um líder tão importante comandando uma revolta de proporções, e
ainda criado por uma filha de faraó, sem que isso fosse registrado nos documentos oficiais
ä egípcios. Se a existência da figura de Moisés, porém, é posta em dúvida, há evidências
de que a presença de povos originários de Canaã no Egito, entre os séculos XVI a.C. e XIII
a.C., era comum. Os egípcios eram um povo rico e poderoso, capaz de estocar grãos e
manter sua produção estável devido à constância das cheias do Nilo e ao avançado
sistema de irrigação. Isso naturalmente atraía seus vizinhos mais pobres. 'Quando havia
fome, era comum que o povo de Canaã fosse ao Egito. É possível que houvesse uma
tradição antiga, talvez imemorial, de migrações ao sul', conta Silberman. 'Além disso, os
tipos de condição de servidão que vemos descritos no Êxodo parecem realistas.' Mas os
indícios específicos de israelitas no Egito ou de uma fuga pelo deserto não foram
encontrados. 'Não é razoável aceitar a idéia de fuga de um grande grupo de escravos do
Egito, através de fronteiras fortemente vigiadas por guarnições militares, para o deserto e
depois para Canaã, numa época com colossal presença egípcia na região', escrevem
Finkelstein e Silberman em seu livro.

As escavações e os estudos de textos antigos podem não dar


pistas precisas sobre a veracidade do Êxodo, mas ajudam a
Registros egípcios desenterrar algo de velado e surpreendente do relato bíblico. O
dizem que um povo que os especialistas vêm descobrindo, com cada vez maior
chamado Israel foi clareza, é que o Antigo Testamento foi composto de uma série
dizimado em uma de lembranças ancestrais, lendas, mitos e histórias populares
campanha do faraó de diversas tribos israelitas, todos 'costurados' em um único
Meneptah texto. 'São como córregos que vão formando um rio', diz o
pastor metodista Luciano José de Lima, especialista em
História bíblica, citando uma metáfora usada por alguns
estudiosos. 'Não é uma narrativa factual, não é uma
reportagem histórica. Esse povo vai olhar para sua história e recontá-la à luz de sua fé. O
que conta não são os fatos em si, mas a interpretação que será dada a eles', explica.
Segundo os especialistas, a Bíblia pegou uma série de histórias e lendas de personagens
como Abraão, Moisés e Josué, que existiam isoladamente, e colocou-as juntas em um
mesmo texto. Essa composição ocorreu provavelmente nas últimas décadas do século VII
a.C., no pequeno reino de Judá. A razão para ter sido feita justamente nessa época, sob o
reinado de um rei chamado Josias, é fascinante.

'Nesse tempo havia uma nova situação mundial, em que os impérios antigos,
particularmente o assírio, estavam perdendo seu poder', diz Silberman. Os assírios, que
haviam dominado o Oriente Médio e controlado os reinos de Judá e Israel, mais ao norte,
começaram a abandonar a região entre 630 a.C. e 640 a.C., criando, assim, um vácuo
político. Ao mesmo tempo, o Egito ensaiava um renascimento militar e se tornava um forte
candidato a ocupar o lugar deixado pela Assíria. Josias, rei de Judá, queria anexar Israel, o
reino vizinho do norte, antes que outros o fizessem. Ao se preparar para uma guerra muito
perigosa contra o Egito, contra os assírios remanescentes e os países vizinhos, a corte de
Josias decidiu compilar uma história que iria validar o que estavam fazendo. 'Queriam
deixar claro que era como se Deus tivesse ordenado a eles', diz Silberman. Nesse
contexto, o Êxodo tinha uma importância fundamental. A história da fuga bem-sucedida do
Egito e da ajuda de Deus contra os exércitos do faraó poderia servir de incentivo e
justificativa para um novo confronto com esse poderoso vizinho.

ÊXODO SEM VESTÍGIOS


Não há indícios da existência de Moisés, nem da
travessia épica pelo deserto
Hulton Archive/Getty images A história de Moisés é a mais
cinematográfica da Bíblia. Colocado
num cesto e jogado no rio para
escapar à perseguição aos filhos dos
hebreus. Adotado pela filha do faraó,
revolta-se ao ver os maus-tratos
contra os escravos hebreus. Recebe
a revelação divina e as tábuas da lei.
Lança as Pragas do Egito, leva os
hebreus pelo deserto e abre o Mar
Vermelho, que se fecha sobre o
exército do faraó (leia mais sobre os
milagres na página 92). A
arqueologia procurou indícios do
Êxodo. Encontrou sinais de que habitantes de Canaã - de onde os hebreus
seriam originários - podem ter migrado gradualmente para o Egito. Mas uma
inscrição egípcia do século XIII a.C. faz a menção mais antiga conhecida de um
povo chamado Israel, num contexto completamente inverso ao da Bíblia - diz que
o povo foi dizimado em uma campanha do faraó Meneptah. Não há nenhuma
prova concreta da existência de Moisés, embora fosse de esperar que um jovem
criado pela família do faraó, envolvido em brigas políticas, fosse citado em algum
lugar. Não há nenhum indício palpável de que tenha havido um grande êxodo
pelo deserto. Um povo numeroso, viajando por uma região de pouca vegetação,
deveria deixar diversos vestígios arqueológicos, mas eles não existem. 'Eu diria
que Moisés pode ser considerado como uma figura arquetípica de grande líder',
diz o teólogo Luciano José de Lima, da Universidade Metodista de São Paulo.
'Não se sabe nada de sua existência factual. Não dá para afirmar nem que
existiu, nem que não.'
#Q: A Bíblia, reescrita pela ciência - Continuação:#

Esse ponto, no entanto, permanece polêmico. 'Ainda há debates intensos sobre muitos dos
temas que tratamos no livro. Muitas de nossas idéias são altamente controversas e
certamente não compartilhadas por todos', admite Silberman. Apesar disso, suas teorias
ganham cada vez maior respaldo na comunidade acadêmica. 'A partir do final da década
de 60, uma ä nova geração de arqueólogos com uma competência técnica extraordinária,
como é o caso de Finkelstein, começou a revolucionar essa área de estudo', diz o
historiador e arqueólogo Francisco Marshall, coordenador do núcleo de História antiga da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 'O trabalho deles é notável. É preciso quebrar
um conjunto de paradigmas muito forte, e isso não é uma coisa simples.'

Outra das questões delicadas diz respeito ao passado do reino


de Judá. A Bíblia fala de uma era de ouro, por volta do século
X a.C., em que há a unificação de Judá e Israel sob o
comando de um rei, Davi. É o jovem Davi que derrota o
Registro em uma gigante Golias e posteriormente se torna rei das 12 tribos de
pedra de templo Israel, cumprindo uma profecia de unificação prevista havia
confirma a existência séculos (leia o quadro na página 88). É seu filho, Salomão, que
de uma 'Casa de Davi' é lembrado como o mais sábio dos reis e como o maior dos
construtores de grandes monumentos, como o Templo de
Jerusalém. No entanto, a história parece não ter sido bem
essa. Muitas teses da arqueologia que davam suporte ao
reinado de Davi e Salomão foram questionadas, e hoje o
quadro é bem diferente. Ao que tudo indica, existiu realmente um Davi. Escavações
realizadas em 1993 num sítio arqueológico conhecido como Tel-Dan, ao norte de Israel,
revelaram um monumento de basalto negro, quebrado e reaproveitado em uma construção
posterior, que citava a existência de uma 'Casa de Davi', ou seja, de uma dinastia cujo
fundador levava esse nome. 'Mas não dizia nada a seu respeito', comenta Silberman.

Sobre essa questão, os cientistas têm concluído que a dinastia real de Davi não era tão
poderosa como diz a tradição bíblica. Tudo indica que Davi, Salomão e sua dinastia
governavam apenas Judá, e não um reino unificado. Israel, mais poderoso que Judá entre
os séculos XI a.C. e X a.C., possuía outros governantes e uma relação comercial mais
intensa com as regiões adjacentes. Além disso, na época de Davi e Salomão, Jerusalém,
centro administrativo de seu reino, era uma cidade pequena e pouco influente. Ela só iria se
tornar um centro expressivo séculos depois. 'O reino de Judá permaneceu relativamente
desocupado de uma população permanente, muito isolado e marginal durante e logo
depois do tempo presumido de Davi e Salomão, sem grandes centros urbanos e sem
hierarquia articulada de vilas, aldeias e cidades', escrevem Finkelstein e Silberman.
NEM TANTO PODER ASSIM
Para arqueólogos, Davi existiu de fato, mas não chegou
a unificar as 12 tribos israelitas
O duelo mais famoso da história mundial Corbis/Stock Photos
está nas páginas da Bíblia. Armado de uma
funda, o pastor Davi mata o gigante Golias e
corta-lhe a cabeça. Mais tarde, Davi se
tornará o novo rei de Israel, unificando sob
seu comando as 12 tribos em um só reino e
dando início à era de ouro do povo de Israel.
Salomão, seu filho, se torna o rei mais sábio
de seu tempo. Empreendedor de grandes
obras, como o Templo de Jerusalém,
mandou fortificar essa e outras cidades
provinciais, como Hazor, Megiddo e Gezer.
A história de Davi e seu filho Salomão, com
suas manobras políticas e intrigas
dinásticas, pareceu durante séculos uma
descrição exata do que realmente havia
acontecido em Judá e Israel. No entanto,
nova luz sobre essa época, entre os anos de
1005 a.C. e 930 a.C., aponta para um
mundo bem diferente. É certo que pelo menos Davi realmente existiu, devido à
descoberta de uma inscrição do século IX a.C. que cita o nome de sua dinastia.
No entanto, seu reinado não chegou a unificar as 12 tribos israelitas, nem foi tão
vasto como diz a Bíblia. 'Quando olhamos para os padrões de assentamentos
em Judá nessa época, só encontramos algumas pequenas aldeias, e não há
nenhuma evidência de um comércio exterior de porte ou mesmo a capacidade
para construções monumentais', comenta Silberman. O Templo de Salomão,
descrito na Bíblia como tendo dimensões internas de 10 metros de largura por
30 metros de profundidade, era de fato grande para os padrões do Oriente
Médio daquele tempo, mas não era o maior (esse posto cabe a um templo em
Alep) e não pode nem de longe ser comparado aos templos gregos que seriam
construídos alguns anos depois.
#Q: A Bíblia, reescrita pela ciência - Continuação:#

As contradições entre a Bíblia e as descobertas arqueológicas não param por aí. Os


especialistas, por exemplo, questionam os relatos épicos que descrevem a conquista da
Terra Prometida. Conforme o Antigo Testamento, depois do Êxodo, Moisés morreu antes
de levar os filhos de Israel a Canaã. Quem conduz o povo é Josué, seu ajudante de longa
data. A Bíblia fala de batalhas, cerco a cidades e milagres, como quando o Sol permanece
parado nos céus, dando tempo para que Josué e seu exército aniquilem totalmente o
inimigo. O relato mais impressionante descreve como os israelitas conquistam Jericó,
localizada perto do Rio Jordão. Eles marcham em volta dos muros da cidade e, no sétimo
dia, ao soar suas trombetas, as resistentes muralhas tombam a seus pés. O problema é
que escavações arqueológicas nessa cidade mostram que ela nunca teve muros. 'Todas as
cidades da região tinham apenas um palácio, algumas edificações em torno de um templo
e uns poucos prédios públicos', contam os arqueólogos. 'Mas não existiam muros.' Esses e
outros indícios levam a crer que a ocupação da Terra Prometida tenha ocorrido
pacificamente e aos poucos, de forma diferente da descrita na Bíblia (leia o quadro abaixo).

No atual estudo das escrituras sagradas, não é só o Antigo


Testamento que é alvo de indagações. Outro foco de pesquisa
O Templo de de arqueólogos, historiadores e teólogos é o Jesus Cristo
Salomão era grande, histórico. Apesar de a maioria dos especialistas concordar que
mas não o maior das ele deve ter existido, muito pouco de concreto se pode afirmar
tribos judaicas. E era sobre sua vida. 'A arqueologia tem muito pouco a dizer em
menor que os dos favor da existência de um Cristo histórico', afirma Marshall.
gregos 'Mas a gente tem de relativizar, porque no mundo antigo
muitos fenômenos podiam ocorrer sem deixar vestígios.'
Atualmente, o consenso é de que, em Belém ou Nazaré,
nasceu Yeshua Ben Yossef, que significa 'Jesus filho de José',
em aramaico. A data estimada varia entre os anos de 7 a.C. e 6 a.C. e a morte por volta do
ano 30 d.C. De resto, pouco mais se sabe. 'O que é mais expressivo na história de Cristo
não é a sua historicidade, e sim seu caráter mítico', diz Marshall. 'Quando falamos em
mítico, é preciso explicar que não é no sentido de falso, mas de culturalmente significativo.'
Embora possam criar dúvidas sobre os eventos históricos e mesmo a existência de Jesus,
Moisés, Davi e Salomão, os arqueólogos tratam de observar que não querem contestar a
Bíblia. 'Procuramos descobrir como o texto foi escrito, qual era seu significado, seu
contexto. Tentamos dar às pessoas uma visão mais complexa e detalhada', afirma
Silberman. 'Depois que se provou que o mundo não foi criado em sete dias, as pessoas
continuaram a admirar a história de Adão e Eva, do Dilúvio. Agora estamos simplesmente
levando essa fronteira um pouco mais além.'
CONQUISTA SEM MURALHAS
Jericó era uma cidade quase abandonada e nunca
chegou a ser protegida por muralhas
Hulton Archive/Getty images Após conduzir os israelitas até as
margens do Rio Jordão, Moisés, já
com 120 anos, não será o líder na
conquista da Terra Prometida. Ele
indica Josué para, em seu lugar,
liderar uma campanha militar
fulminante. O livro de Josué, do
Antigo Testamento, descreve o
ataque dos israelitas a Canaã, com
a conquista de cidades como
Jericó, Hai e Hazor. Os arqueólogos
Finkelstein e Silberman queriam
descobrir como um exército em
andrajos, viajando com mulheres,
crianças e idosos, emergindo do
deserto depois de décadas, poderia montar uma invasão efetiva. A resposta,
segundo eles, é que a ocupação se deu de uma forma muito diferente do contado
na Bíblia. Para começar, muralhas como as de Jericó - que teriam sido
derrubadas com o soar das trombetas - simplesmente não existiam, nem ali nem
nas outras cidades da região. Aparentemente por motivos econômicos, as
grandes e médias civilizações do Mediterrâneo, como Canaã, começaram a se
desagregar entre os séculos XIII a.C. e XII a.C. 'Esse foi um dos períodos mais
dramáticos e caóticos da História, com velhos impérios caindo e novas forças
chegando para substituí-los', dizem os arqueólogos. Silberman calcula que os
israelitas, povos nômades e pastoris das redondezas, passaram a se fixar em
Canaã por volta de 1200 a.C., após o colapso da civilização mais antiga ter
transformado várias localidades em cidades quase fantasmas. 'É viável que a
maioria das pessoas que mais tarde se tornaram israelitas tivesse ancestrais
cananeus', diz Silberman. 'Assim, a distinção entre israelitas e cananeus não é
tão aguda quanto a Bíblia faz crer.'

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