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sábado, 22 de Novembro de 2008

Decidir com autonomia até ao fim

Sobre as matérias do fim da vida e da morte, nós, os cidadãos comuns, continuamos a ser
impotentes

"Eu, abaixo assinado, M.I.A.C., no pleno uso das minhas faculdades mentais, como é
atestado pelas duas testemunhas que abaixo assinam o presente documento, declaro que se em
qualquer momento da minha vida: a) Estiver incapaz de participar de forma efectiva nas
decisões que tenham de ser tomadas quanto aos meus cuidados médicos; b) Dois médicos
independentes tenham a opinião de ser improvável a minha recuperação da doença ou
degradação física ou mental de que padeça; e c) A gravidade da minha condição ou sofrimento
seja tal que o seu tratamento pareça provocar mais aflição do que benefício, determino que:
1. Não devo ser submetido a qualquer tratamento ou intervenção médica destinado a prolongar
ou sustentar a minha vida, mesmo que tal facto possa pôr em causa a minha vida.
Nomeadamente não desejo que me seja implantado qualquer tubo artificial de alimentação
através da parede do estômago nem pretendo ser ressuscitado artificialmente. Não desejo, no
entanto, que sejam retirados os tratamentos que possam reduzir os meus sofrimentos ou
proporcionar-me alívio das dores.
2. Quaisquer sintomas de dor ou sofrimento, incluindo os causados por incapacidade de comer,
beber ou receber nutrição, devem ser totalmente controlados por analgésicos apropriados ou
outros tratamentos, mesmo que possam reduzir a minha vida.
Estes sintomas podem surgir de uma doença relacionada com a demência (que pode ou não ter
sido formalmente diagnosticada) ou de qualquer outra condição de gravidade equiparável.
Autorizo tudo o que seja feito ou omitido de acordo com as instruções acima expressas e exonero
de quaisquer responsabilidades indemnizatórias o pessoal médico que assim tenha actuado,
desde que tenha tido o devido cuidado no exercício da sua responsabilidade."
Este texto, com ou sem as assinaturas do próprio e das testemunhas e que é designado por living
will, advanced directive ou, entre nós, e entre outras designações, testamento vital, é no nosso
país uma ficção. Este documento, que expressaria de forma inequívoca a minha vontade quanto
ao meu fim de vida, mas ainda a minha vida, não tem qualquer valor legal. Não vinculando nem
os médicos, nem as administrações hospitalares. Porque não há lei sobre tal matéria. Porque a
única actuação pública de relevo sobre esta matéria foi, como já aqui referimos, o parecer do
Conselho Nacional para a Ética e Ciências da Vida em 2005, sobre o estado vegetativo
persistente que deixou mais questões do que soluções.
Mas nos EUA e em Inglaterra, estas questões estão legisladas e reguladas. O texto que serviu de
base ao documento que acima ficcionámos no nosso país consta do site da Alzheimers Society.
Nos EUA, há mesmo um registo central federal de todos estes documentos de última vontade
quanto aos cuidados médicos.

Em Nova Iorque, um living will seria, numa tradução livre e adulterada: "Eu, M.I.A.C., estando
de perfeita lucidez, faço esta declaração como uma directiva a ser seguida se eu me tornar
permanentemente incapaz de participar nas decisões relativas aos meus cuidados médicos.
Estas instruções reflectem o meu firme e assente desejo de recusar tratamentos médicos tais
como: a) ressuscitação cardíaca, b) respiração artificial, c) alimentação e hidratação artificiais,
d) antibióticos. Determino ao meu médico assistente para não iniciar ou retirar tratamento que
prolongue a minha morte, no caso de eu estar num estado incurável ou irreversível mental ou
fisicamente sem expectativas razoáveis de recuperação, nomeadamente numa situação terminal,
num estado vegetativo persistente ou, ainda, num estado de consciência mínima em que eu
esteja permanentemente incapacitado de tomar decisões e exprimir os meus desejos.
Mais determino que o meu tratamento seja então limitado a medidas para me manterem
confortável e para aliviar a dor, incluindo qualquer dor resultante de não ser iniciado ou ser
retirado qualquer tratamento. Pretendo assim o máximo alívio da dor, mesmo que acelere a
minha morte".
Uma figura igualmente regulada e utilizada e que não existe no nosso país é a do procurador
para questões de saúde, que nos representa quando já não temos condições para decidir sobre
questões relevantes para a nossa saúde. Para além destes instrumentos estrangeiros para os
nossos últimos tempos, são também de referir as ordens de não ressuscitação cardiopulmonar,
no geral emitidas pelo médico assistente e que permitem evitar casos de puro prolongamento do
sofrimento à custa de imensos sofrimentos. As ordens de não reanimação decorrem da postura
anteriormente referida e serão determinadas por decisão conjunta da equipa médica em relação
a um doente cujo tratamento passe, a partir de um certo momento, a ser fútil, logo, eticamente
condenável.
Todo este nível de decisão, em nome da autonomia, necessita de uma correcta informação e de
uma cultura própria que devemos procurar também no nosso país. Infelizmente, por cá, a
tendência é para a informação ser pertença só de alguns, em geral bem-intencionados e prontos
a ajudarem-nos do alto da sua sapiência mas ciosos das suas "quintas do saber". Assim, sobre
estas matérias do fim da vida e da morte, nós, os cidadãos comuns, continuamos a ser
impotentes. Seria talvez a altura de se mudar esta situação. Advogado (ftmota@netcabo.pt). O
autor contou, para a escrita deste texto, com a colaboração do prof. José Fragata, cirurgião
cardiotorácico

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