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A IMAGINAÇÃO NO PODER
Agradeço ao Marcelo Santos, por existir, e à comissão organizadora o convite para abrir
o II Seminário dos alunos de Pós-graduação em Letras: áreas de Literatura. Agradeço ao
poeta, matemático e professor do I. M. da UFRJ, Ricardo Kubrusly e a Luiz Alberto
Oliveira, pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Quero saudar
os alunos do Programa de pós-graduação em Letras da UERJ, os professores, a
coordenação e secretaria da pós, pelo esforço, pela dedicação e por darem continuidade
ao Seminário dos alunos realizando a segunda versão do mesmo.
O Seminário, se ele tem continuidade, passa a fazer parte do cotidiano da vida
acadêmica de vocês, é um modo de projetarem o que desejam de e para suas vidas
acadêmicas, compartilhando-as com o conjunto de seus colegas, seus pares, um modo
de se tornarem autores de suas vidas, autores de si mesmos. Modo de gerirem seus
destinos, serem seus próprios tutores.
Fazer um seminário dos alunos, hoje em dia, com apoio das coordenações, com apoio
dos professores e da infra-estrutura universitária é uma tarefa complicada, meritória,
trabalhosa, mas sem oposições a vencer. Pois isso que hoje parece ponto pacífico, isso
que se oferta a vcs.,como uma máquina do mundo em maravilha aberta, diria o poeta,
foi conquistado faz tempo, por jovens como vcs., por esforços, em meio a lutas,
discussões, brigas, barricadas. Hoje as condições são enormemente diferentes...
Eu me recordo de, por volta, de 1990, ter sido chamada para um encontro de pós-
graduação na PUC-RJ, como representante dos alunos e de ter lido duas folhas de
caderno escritas a mão, onde, como uma certa arrogância diante dos meus mestres ali
reunidos, eu dizia que as Letras estavam encasteladas, que precisavam descer à rua e se
misturarem à sujeira da vida. Hoje, diante das 21 inscrições no Seminário, num corpo
discente de aproximadamente 120 alunos das áreas literárias... eu perguntaria se as
Letras não foram à rua , mas os alunos continuaram encastelados...
Por conta disso e para ficar no lugar comum mais recente, gostaria de pensar este evento
dentro das comemorações de 1968, refletindo sobre um dos temas daquela geração: A
imaginação no poder. O que aqueles jovens desejavam, afinal? Eu poderia dizer, como
Santo Agostinho ao ser perguntado sobre o tempo, que se me perguntassem o que é a
Imaginação no Poder eu não saberia dizer, mas que se não me perguntassem eu o
saberia...Creio que a imaginação é o modo mais anti-poder de saber, de conhecimento, a
imaginação seria a capacidade de renunciar ao poder toda vez que o sujeito, tendo
conquistado poder, se sentir dono do poder, se sentir poderoso. A imaginação no poder
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seria talvez a capacidade de desconfiar do poder; de poder transformá-lo em


hospitalidade, talvez dissesse o Derrida.
Aqui não desejo, nem teria competência para tanto, para fazer uma conferência sobre
pensamento, razão, imaginação e fantasia. Para separar a capacidade de imaginação, do
pensamento imaginativo ou inventivo, ou do pensamento sensível da noção de fantasia,
de criação de imagens, de ficcionalização. Também não contraponho imaginação à
Razão, porque creio que podem caminhar juntas. Uso, desta forma, sem preocupação, a
imaginação como pensamento ativo sobre o presente, sobre as coisas do mundo e como
capacidade de criar imagens, preencher o futuro, com possibilidades projetadas no
devir. Haveria mais imaginação num artista, num poeta, num matemático, num físico,
num homem de letras do que num operário, numa mãe organizando a vida familiar? O
que seria afinal essa capacidade da imaginação se não uma possibilidade, uma
virtualidade, a potência de desgarrar-se das contingências, dos campos limitadores do
seu próprio pensamento?
Contra as banalidades preguiçosas e repetitivas das comemorações, que retiram
cadáveres dos túmulos e fazem os da minha geração sentirem-se mais velhos ao
compararem as fotos de jovens nas passeatas com as fotos de 40 anos depois, nas quais
os jovens de ontem mostram os rostos arruinados de hoje, gostaria de poder instigá-los
de algum modo a pensar por que a imaginação se ausenta do poder...? Por que o poder
parece tão sem imaginação? Eu continuo perguntando aos jovens de 2008: “O que
faríamos com a imaginação no poder, o que poderia a imaginação no poder? ainda é
possível desejar a imaginação no poder?”
Como ativar a imaginação? Se não por meio do pensamento em ação, por meio das
ações de relacionar, criar, inventar ou construir imagens. O pensamento inventivo por
dentro do pensamento disciplinado? Pergunto se imaginação e crítica são as duas faces
de uma só atitude mental? Isso teria a ver com a paixão crítica, com a crítica
apaixonada?Gostaria de perguntar se o pensamento pode, por meio da faculdade
imaginativa, libertar-se do aprisionamento da «barbárie técnica e totalitária» do futuro,
segundo Cesare Pavese?
A imaginação, portanto, está onde o pensamento permite-se a liberdade de pensar de
modo sensível, sutil, alegre, potente, um pensamento contrário ao ceticismo, ao cinismo.
E, se estamos em um Seminário em uma pós-graduação em Letras, como a Literatura
pode ativar a imaginação? Como pode levá-la ao poder, sem deixar que seja aprisionada?
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Creio que o melhor modo de compreender isso foi dito recentemente por Silviano
Santiago numa entrevista no livro em sua homenagem, “Leituras críticas sobre Silviano
Santiago”. Ali Silviano diz o seguinte:
“Nós estamos chamando o discurso literário de não-disciplinar (disciplinar é a economia ,
a história, a sociologia etc) , mas no fundo, nós devíamos chamá-lo de multidisciplinar. È
esse o problema metodológico. De novo a sabedoria contra o saber. Se vc. define o
discurso literário como multidisciplinar – eu até gosto de dizer indisciplinado, sem –
disciplina, no sentido específico que disciplina tomou no currículo universitário – se ele é
isso, está permitida uma leitura do espectro social que alguns dirão superficial e que eu
direi mais ampla” (p. 206)
Então podemos ver que é a não fixação da Literatura num único saber, é sua capacidade
de agenciar múltiplos saberes, sua capacidade imaginativa que permitem que o saber se
transforme em sabedoria. Permito-me, então, desobedecer ao meu antigo mestre, e esticar
o sentido da indisciplina do literário à rebeldia jovial dos protestos daqueles que queriam
tomar o poder em 68 e cuja utopia mais radical era não deixar que o poder os tomasse.
Eis então o que posso entender de Imaginação no poder. A imaginação só estará no poder
como possibilidade indisciplinada de exercer o poder sem se tornar poderoso, só estará no
poder se puder converter o pensamento, no nosso caso a arte, a literatura em vida, se se
puder, como dizia Rimbaud, “mudar a vida”, não a minha, nem a tua, mas a VIDA.
Mudar onde há vida. Porque é vivo, é dádiva, vida. Assim, a sabedoria da Literatura e não
o saber, como gosta de frisar Silviano Santiago, é possibilidade aberta à compreensão do
mundo, à mudança existencial, ao aumento, milimétrico que seja, de nossa sensibilidade a
cada dia, como queria Ismael Neto. ou como diz F. Nietzsche um modo de nos ajudar, a
“afastarmo-nos das coisas até que não mais vejamos muita coisa delas e nosso olhar
tenha de lhes juntar muita coisa para vê-las ainda – ou ver as coisas de soslaio e como em
recorte – ou dispô-las de forma tal que elas encubram parcialmente umas às outras e
permitam somente vislumbres em perspectivas – ou contemplá-las por um vidro colorido
ou à luz do poente – ou dotá-las de pele e superfície que não seja transparente: tudo isso
devemos aprender com os artistas, e no restante ser mais sábios que eles. Pois neles esta
sutil capacidade termina, normalmente, onde termina a arte e começa a vida; nós, no
entanto, queremos ser os poetas-autores de nossas vidas, principiando pelas coisas
mínimas e cotidianas” (A gaia ciência, p. 202)

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