Científica 3ª aula: fundamentos teóricos, métodos e metodologias
Por Sandra Novais Sousa
MARXISMO • Marx se fundamenta nas três principais correntes de ideias existentes no século XIX: a filosofia clássica alemã, a economia política inglesa e o socialismo francês, ligado às doutrinas revolucionárias francesas em geral. • Marx efetuou um estudo aprofundado sobre o capitalismo, desvendando seu funcionamento e explicando-o aos trabalhadores. Introduziu uma verdadeira novidade: a necessidade de apreender os elementos objetivos de existência da sociedade, as relações materiais de existência da sociedade (modos de produção) e, portanto, a relação entre as classes sociais para desvendar a natureza e o limite da sociedade capitalista. Para Marx, é da compreensão prática destas relações que se deduz a necessidade de superar o sistema capitalista, e não de um sistema de ideias mais ou menos brilhantes ou melhores do que as ideias vigentes. • O materialismo de Marx terá um fundamento material e, portanto, apenas apreensível na história dos homens. Será então um materialismo histórico e que se refere à unidade sujeito e objeto, logo, dialético. • (Relembrando: para os idealistas, as ideias precedem a matéria. Para eles, na origem de tudo que existe estaria algum tipo de pensamento. Assim, as ideais teriam criado o mundo e, consequentemente, seriam portadoras de uma razão normativa que o regularia. As ideias, desta forma, não teriam história, não resultariam da experiência humana, mas criariam a história e a experiência humana. Não é de se estranhar, portanto, que esta concepção esteja na base de todas as religiões, pois todas negam a autoconstrução do homem e atribuem a algum tipo de deus a criação do mundo e do homem. Conforme os evangelhos: “primeiro foi o verbo, e o verbo se fez carne”.) • Para os materialistas, ao contrário, a natureza e a vida material são os elementos essenciais que determinam a consciência: o mundo existe, independentemente das ideais dos homens sobre ele.
• Até Marx, entretanto, os materialistas separavam o homem do mundo ao seu
redor, atribuindo a este uma determinação absoluta sobre a vida humana. “O homem é produto do meio”, ou seja, o meio, separado do homem, exerce sobre este uma ditadura absoluta, a qual só poderíamos constatar, mas não agir sobre o meio. (Lembrando: o positivismo, por exemplo, afirmava que a sociedade era comparável à ordem natural e biológica, a qual a ciência podia estudar e entender, mas não alterar. = materialismo mecanicista, como se trocasse a figura de “deus” pelo “meio material”) • Para os materialistas dialéticos, as ideias são as representações do mundo real, da natureza e da produção da existência do homem, como sujeito e objeto de sua própria história. Assim, é a existência, ou seja, a produção material da própria vida humana pelo trabalho, que determina a consciência dos homens. • A dialética apresenta o mundo, a sociedade, o próprio homem em constante mudança, nascendo, vivendo, transformando-se, morrendo. Em resumo, a dialética vê todas as coisas em constante movimento e transformação. Para se entender qualquer fato, é preciso combinar seus elementos mais importantes, em evolução, para que nos aproximemos de seu significado. • (fonte: http://otrabalho.org.br/o-que-e-afinal-o-marxismo-o-marxismo-e- seu-metodo/) Neomarxismo ou marxismo ocidental: o conjunto das correntes nascidas nos anos vinte deste século, em torno das teses de Lukacs, Ernst Bloch, Karl Korsch e Antonio Gramsci.
Na França: Sartre procura adequar o marxismo ao existencialismo, invocando-se a
fenomenologia e Heidegger; o neogramscianismo de Louis Althusser procura integrar o estruturalismo. Na Alemanha, destaca-se a chamada Escola de Frankfurt, onde Marx se mistura com Nietzsche e Freud. Os fundadores são Adorno e Horkheimer, os criadores de um marxismo sem proletariado. A escola só repudia o leninismo no pós-guerra, com Habermas. Dela nos vem Walter Benjamin e Herbert Marcuse. Althusser e Poulantzas. A partir dos anos oitenta, deu-se uma nova síntese, anglo-saxónica, destacando-se o magistério de Boaventura Sousa Santos Método marxista ou materialista histórico e dialético: as categorias de análise • [...] toda totalidade possui suas categorias-chave e que, no processo de investigação de cada uma delas, deve-se tomar categorias já comprovadamente eficazes para resultados rigorosamente científicos ou, em se tratando da primeira vez e do primeiro esforço de teorização/investigação, deve-se pinçar as categorias- chave à testa da análise tão logo sejam descobertas e identificadas como tais. Dessa forma, o empirismo vai sendo ultrapassado no próprio curso da investigação, à medida que a necessidade vai ultrapassando, nela e com ela, a casualidade aludida. (CARVALHO, 2008, n.p). • Instituto de Estudos Socialistas, nº 15, 2007. • Disponível em: http://orientacaomarxista.blogspot.com.br/2008/07/totalidade-como-categoria-central- da.html. Acesso em 17 jul. 2017. • Para conhecer as categorias-chave: DICIONÁRIO BÁSICO DE CATEGORIAS MARXISTAS – NÉSTOR KOHAN. • https://praxisteoria.wordpress.com/2016/07/14/dicionario-basico-de-categorias-marxistas-nestor-kohan- nota-introdutoria/ A fenomenologia • Com a fenomenologia, Husserl pretende superar as epistemologias realistas e idealistas, e é nessa superação que se encontra a gênese do projeto fenomenológico. • “A fenomenologia é o estudo das essências, e todos os problemas, segundo ela, resumem-se em definir essências, a essência da percepção, a essência da consciência, por exemplo.” (Merleau-Ponty, 1994, p. 1). • Investigar fenomenologicamente consiste em: “uma descrição direta de nossa experiência tal como ela é, e sem nenhuma deferência à sua gênese psicológica e às explicações causais que o cientista, o historiador ou o sociólogo dela possam fornecer” (Merleau-Ponty, 1994, p.1-2). Método fenomenológico - Husserl • 1- redução fenomenológica em que o investigador suspende, de início, todas as teorias acerca da consciência, seja essa teoria empírica ou logicamente fundada. Ao suprimir as perspectivas naturalizantes, assume-se uma postura antinatural frente ao fenômeno; 2- descrição dos vetores internos ao fenômeno, na medida em que o investigador acompanha a própria constituição da consciência em ato e 3 - explicitação da experiência, alcançando, assim, a sua essência, ou seja, no caso da consciência, a intencionalidade. • Intencionalidade diz respeito ao incessante transcender de si mesmo, rompendo com o pressuposto de que é o sujeito que posiciona as coisas (idealismo) ou de que as coisas existem independentemente da consciência (materialismo). A investigação fenomenológica: Merleau-Ponty • Merleau-Ponty, fiel a crítica de Husserl ao idealismo e ao realismo e na mesma direção de Heidegger e de Sartre, defende que a fenomenologia é uma luta constante contra o idealismo kantiano, que pressupõe uma subjetividade transcendental, a qual possui as leis fundamentais que tornam possível o conhecimento. Nessa perspectiva, o que conhecemos é um objeto que se mostra no campo da experiência, no entanto, este é posicionado pelas estruturas do sujeito. • “não há explicação, isto é, conceituação do singular a partir de leis gerais. O conhecimento analisado não pertence ao domínio dos fatos, não pergunta pelo que acontece no mundo, de modo circunstancial e a partir de uma repetição necessária. Esse exercício é próprio de ciências que explicam os fatos recorrendo a leis gerais da própria natureza. Mas a teoria do conhecimento, na perspectiva husserliana, propõe uma investigação diferente de qualquer ciência explicativa real (ciência da natureza física, psicologia, metafísica). Seu maior desafio é, portanto, explicar a ideia do conhecimento, com seus elementos constitutivos e suas leis. Visa, igualmente, compreender o sentido ideal das conexões específicas, necessárias ao ato de conhecer Antes de afirmar algo sobre a realidade (metafísica), sobre a natureza (ciências) e sobre a alma (psicologia), buscam-se as estruturas essenciais das vivências “puras”, bem como o sentido de tais vivências. • Husserl entende que a ―atitude natural‖ – que inclui tanto a atitude científica quanto a do senso comum – considera as coisas como existentes em si mesmas, independentemente de sua relação com a consciência. Esta concepção trata-se de uma atitude ingênua, já que supõe gratuitamente uma natureza em si, cujo caráter de algo simplesmente dado, antes de qualquer relação com a consciência, é aceito sem nenhuma problematização, já a ―atitude fenomenológica ou filosófica no sentido próprio é entendida contrariamente, pois deve se ater apenas àquilo que se dá à experiência tal como se dá: ao que chamamos de fenômeno (SÁ, 2007). Desta forma, compete à Fenomenologia descrever a coisa, o fenômeno, o dado que é apresentado, revelado à consciência, que nos faz pensar e falar nele, da mesma forma em que ele se faz conhecer (CAPALBO, 2001). Termos usados em uma pesquisa fenomenológica: • consciência; objetos intencionais; intencionalidade; consciência transcendental; ato de representação; epoché (ou epoquê - o estado de repouso mental no qual nada afirmamos nem negamos); redução fenomenológica (o processo que desloca a consciência natural, imediata e permite que a sua essência, a sua significação, se revele); intuição; automanifestação; (ente, ser) sensível; essência; aparência; noese (pensamento) e noema (o objeto desse pensamento); ontologia regional ou material (relação fenomenológica entre objeto, mundo e campo); ego transcendental (o fundamento, a origem de toda significação, o doador de intenção e de significação) Método biográfico • No Brasil, as pesquisas classificadas como qualitativas e que usam como fontes relatos orais, embora ainda ocupem uma posição marginal no campo da produção de conhecimento científico sociológico, vêm sendo utilizadas desde a década de 1940. (FERREIRA, 1994). • Mais especificamente em relação às histórias de vida, sua utilização esteve marcada, inicialmente, tanto pelo interesse em pesquisar grupos minoritários, como o fez Florestan Fernandes ao analisar “a biografia de um índio do centro-oeste brasileiro” ou Roger Bastide, ao pesquisar “as relações raciais na sociedade brasileira” valendo-se, entre outros instrumentos, de histórias de vidas. (SANTOS; OLIVEIRA; SUSIN, 2014, p. 360). • No entanto, as histórias de vida apareciam como forma complementar a outros métodos ou instrumentos de pesquisa, ligadas, ainda, ao interesse crescente na sociologia sobre as camadas subalternas. Durante esse período da história da pesquisa sociológica brasileira, essa abordagem metodológica que principiava a ser utilizada não se fortaleceu no meio acadêmico, “[...] cedendo lugar a abordagens quantitativas, que prometiam mais objetividade à atividade da pesquisa sociológica”, podendo, assim, “‘descontaminar’ a pesquisa sociológica da subjetividade do ator, substituindo-a pela suposta objetividade dos instrumentos utilizados pelo pesquisador.” (SANTOS; OLIVEIRA; SUSIN, 2014, p. 361). • Contra essa abordagem estritamente quantitativa, baseada sobretudo em estatísticas: Maria Isaura Queiroz - as histórias de vida poderiam contribuir para “[...] captar o grupo, a sociedade de que ela é parte; encontrar a coletividade a partir do indivíduo” (QUEIROZ, 1988, p. 24). • No campo educacional, a partir da década de 1980: sobressai o caráter formativo que a rememoração de uma história de vida pode assumir, quando utilizada em pesquisas com professores. Exemplos: Zélia Brito Demartini, Velhos mestres das novas escolas: um estudo das memórias de professores da 1ª República em São Paulo (1984); • A publicação no Brasil das obras do professor António Nóvoa [1988, 1992a, 1992b] contribuiu para divulgação de trabalhos de pesquisadores estrangeiros, que, a partir de diferentes perspectivas, desenvolviam pesquisas colocando os professores e suas histórias de vida no centro da pesquisa educacional. Passamos então a dialogar de forma mais sistemática [...] com as abordagens teórico-metodológicas que favorecem a partilha de narrativas (auto)biográficas como possibilidades de pesquisa-formação. (BRAGANÇA; ABRAHÃO; FERREIRA, 2016, p. 19). • Existem outras abordagens que priorizam, por exemplo, os aspectos psicológicos percebíveis nessas fontes, da qual Marie-Christine Josso (1988, 1999) é representativa, ainda que também tangencie as questões de formação, não exclusivamente de professores, mas de adultos em geral; ou os aspectos mais sociológicos, como o faz Franco Ferrarotti (2014); ou, ainda, sua validade como fonte complementar em estudos da historiografia, em que a história oral ganha destaque, como pode ser observado nos trabalhos de Maria Isaura Pereira Queiroz, para quem as histórias de vida consistem em uma técnica de recolha de dados “de indivíduos de camadas sociais diversas a respeito de um mesmo momento ou acontecimento”, configurando-se como “[...] preciosas fontes de dados e controle.” (QUEIROZ, 1988, p. 28). • Para os pesquisadores que consideram a abordagem biográfica como método, são as impressões e reflexões do agente sobre sua história ou trajetória de vida a principal fonte para análise. • Assim, seria “[...] dispensável buscar outras fontes que pudessem comprovar a fidelidade exata das informações presentes na narrativa, como datas, locais, número de sujeitos envolvidos ou tempo abrangido pelo fato histórico, por exemplo”. (KELLERMANN; RIBEIRO; SOUSA, 2016, p. 3). • Fontes no método biográfico: cartas, diários, memoriais, narrativas escritas, entrevistas narrativas, entre outras. METODOLOGIA • Tipos de pesquisa: Quanto aos procedimentos técnicos • 1. Pesquisa Bibliográfica: é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. • 2. Pesquisa Documental: É muito parecida com a bibliográfica. A diferença está na natureza das fontes, pois esta forma vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa. (documentos: leis, atas, fotografias, diários, etc.) • 3. Estudo de Campo: procura o aprofundamento de uma realidade específica. É basicamente realizada por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas com informantes para captar as explicações e interpretações do ocorrem naquela realidade. • 4. Estudo de Caso: consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento. • 5. Pesquisa - Ação: um tipo de pesquisa com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores são convidados por uma instituição para fazer um diagnóstico e propor soluções de modo cooperativo ou participativo par ao problema. • 6. Pesquisa etnográfica: pode ser entendida como o estudo de um grupo ou povo. As características específicas da pesquisa etnográfica são: o uso da observação participante, da entrevista intensiva e da análise de documentos; a interação entre pesquisador e objeto pesquisado, entre outros. Exemplos desse tipo são as pesquisas realizadas sobre os processos educativos, que analisam as relações entre escola, professor, aluno e sociedade, com o intuito de conhecer profundamente os diferentes problemas que sua interação desperta. • 7. Pesquisa etnometodológica: baseia-se em uma multiplicidade de instrumentos, entre os quais podemos citar: a observação direta, a observação participante, entrevistas, estudos de relatórios e documentos administrativos, gravações em vídeo e áudio. Quanto à abordagem • A pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc. O pesquisador usa fontes diversificadas de coleta de dados. Não defende a neutralidade, mas a implicação do pesquisado em seu campo e objeto de pesquisa. • Pesquisa quantitativa: tende a enfatizar o raciocínio dedutivo, as regras da lógica e os atributos mensuráveis da experiência humana; os resultados da pesquisa quantitativa podem ser quantificados. Usa maiores, consideradas representativas da população, e os resultados são tomados como se constituíssem um retrato real de toda a população alvo da pesquisa. Defende a neutralidade, os instrumentos padronizados e neutros para coleta de dados. Técnicas de análise dos dados