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Manuel da Fonseca

«Sempre é uma companhia»


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Júlio Pomar, O almoço do trolha (1950).


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O título

«Sempre é uma companhia»

Remete para a vantagem da introdução de um novo


meio de comunicação numa pequena e isolada
aldeia alentejana, na primeira metade
da década de 40 do século XX
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As personagens

O Rata

Figuras que António


chegam à aldeia Barrasquinho, A mulher
de Alcaria de Batola
o Batola

O caixeiro-viajante,
Outras figuras
vendedor de telefonias,
da aldeia de Alcaria
e o motorista

Os ceifeiros e os restantes
trabalhadores agrícolas

Os habitantes de Alcaria
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As personagens

O protagonista
Sabemos o nome,
o apelido e a alcunha

«António Barrasquinho, o Batola,


é um tipo bem achado.»

Indivíduo invulgar

Dórdio Gomes, Cabeça de ceifeiro


alentejano (1941).
Fisicamente
Vestuário
• Homem de estatura mediana, Um «chapeirão» e um «lenço
atarracado» e de «pernas arqueadas». vermelho amarrado ao pescoço»
• Cara redonda. (traje alentejano).
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As personagens

O protagonista

Personalidade

• Preguiçoso, passivo e conformado com


a sua situação.

• Pouco polido.
«Não faz nada, levanta-se quando
• Agressivo para com a mulher.
calha, e ainda vem dormindo
Dórdioda
lá dos fundos Gomes, Cabeça de ceifeiro
casa.»
• Fraco — bebe e não consegue ultrapassar alentejano (1941).
a frustração e o vazio interior. «cospe por cima do balcão»

• Com a compra da telefonia, ganha ânimo, «Era o Batola, bêbado, a espancar


a mulher.»
vitalidade e gosto pela vida.
«começa a beber […] e para ali fica
com um olhar mortiço»
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Importa mais o seu papel «Que pessoas tão diferentes!»
As personagens do que a sua identidade
«Muito alta, grave, um rosto
A mulher do Batola Não se lhe conhece o nome ossudo e um sossego de
maneiras que se vê logo que
Contrasta com o retrato é ela quem ali põe e dispõe.»
inicial do marido
«É a mulher quem abre
Fisicamente
a venda e avia aquela meia
dúzia de fregueses de todas
• Alta, séria («grave»), «rosto ossudo» e «olhos negros».
as manhãzinhas. Feito isto,
volta à lida da casa.»

Personalidade «Ela, silenciosa e distante,


como se em nada reparasse,
• Serena («um sossego de maneiras»). vai-lhe trocando as voltas.
Desfaz compras, encomendas,
• Dinâmica, muito trabalhadora, organizada e sensata.
negócios. Tudo vem a fazer-se
• Domina em casa e na loja. como ela entende que deve
ser feito. E assim tem
governado a casa.»
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As personagens «Batola vai ruminando


a revolta sentado pelos
O casal caixotes. Chegam ocasiões
Barrasquinho em que nem pode encará-la.
De olhos baixos, põe-se a beber
de manhã à noite, solitário
A relação matrimonial é marcada por como um desgraçado. O fim
um aparente vazio e pela frieza daquelas crises tem dado que
falar: já muitas vezes, de há
trinta anos para cá, aconteceu
Vive em estado de tensão, ira e revolta
a gente da aldeia ouvir gritos
aflitivos para os lados da venda.
O mal-estar origina violência — Batola Era o Batola, bêbado,
a espancar a mulher.»
agride a mulher
«— Olha... Se tu quisesses,
O relacionamento é, de algum modo, a gente ficava com o aparelho.
modificado com a introdução da telefonia Sempre é uma companhia
neste deserto.»
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As personagens

O Rata

• Companheiro do Batola.
• Mendigo e viajante (contrastando com
o imobilismo do Batola); percorre o Alentejo
e traz notícias do que se passa fora da aldeia.

• Suicida-se quando já não pode viajar.

«Que belo companheiro! Pedia de monte a monte, chegava a ir a Ourique, a Castro,


à Messejana. Até fora a Beja. Voltava cheio de novidades.»

«Nos últimos tempos, o reumatismo tolhera-lhe as pernas, amarrando-o à porta


do casebre. De quando em quando, o Batola matava-lhe a fome; mas nem trocavam
uma palavra. Que sabia agora o Rata? Nada. Encostado à parede de pernas estendidas,
errava o olhar enevoado pelos longes.»
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As personagens

Os ceifeiros e demais Personagem


habitantes de Alcaria coletiva

• Vivem em condições difíceis e não têm esperança numa


vida melhor; sentem-se incapazes de escapar a uma vida
monótona, pobre e isolada do resto do mundo.
• Os ceifeiros trabalham «de sol a sol».
• Os aldeãos tornam-se mais humanos com a chegada da telefonia.

«Lá vêm figurinhas dobradas pelos atalhos, direito às casas tresmalhadas da aldeia. Nenhuma virá
até à venda falar um bocado, desviar a atenção daquele poente dolorido. São ceifeiros, exaustos
da faina, que recolhem. Breve, a aldeia ficará adormecida, afundada nas trevas.»

«E eles voltavam para a escuridão, iam ser, outra vez, o rebanho que se levanta com o dia,
lavra, cava a terra, ceifa e recolhe vergado pelo cansaço e pela noite.»
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As personagens

O vendedor de telefonias

• Elegante, afável e cativante.

• Convincente e calculista.

«— Hem? Que tal?


Esfregando as mãos, começa a enumerar rapidamente as qualidades de um tal aparelho:
— É o último modelo chegado ao país. Quando se quer, é música toda a noite e todo o dia.
Ou então canções. E fados e guitarradas! Notícias de todo o mundo, desde manhã até
à noite, notícias da guerra!...»
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O espaço

O espaço físico

• Aldeia de Alcaria, no Alentejo profundo (na primeira metade da década


de 40 do século XX).

• Ação concentrada na casa do Batola e da mulher, um espaço formado


pela parte habitável e pelo estabelecimento (a «venda»).

«[…] aí umas quinze casinhas desgarradas e nuas;


algumas só mostram o telhado escuro,
de sumidas que estão no fundo dos córregos.»
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O espaço

O espaço psicológico

Concentração O narrador adota


• Aldeia de Alcaria Claustrofobia o ponto de vista do
• Casa do Batola Prisão protagonista, revelando
Isolamento os seus sentimentos
e pensamentos

«Os olhos, semicerrados, abrem-se-lhe um pouco mais para os campos.


Mas fecha-os logo, diante daquela monotonia desolada.»
«Depois disso, para qualquer parte que volte os olhos, estende-se a solidão
dos campos. E o silêncio. Um silêncio que caiu, estiraçado por vales e cabeços,
e que dorme profundamente. Oh, que despropósito de plainos sem fim,
todos de roda da aldeia, e desertos!»
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O espaço
Microcosmos da pobreza
e do atraso cultural do
O espaço sociopolítico Portugal do Estado Novo

Localidade rural isolada


A casa de Batola é a única que tem eletricidade
Alcaria do mundo e parada
(fundamental para a instalação da telefonia)
no tempo

Isolamento atenuado com a introdução da telefonia —


linha de comunicação com o resto do País e com o mundo

«Um sopro de vida paira agora sobre a aldeia. Todos sabem o que acontece fora dali. E sentem
que não estão já tão distantes as suas pobres casas. Até as mulheres vêm para a venda depois
da ceia. Há assuntos de sobra para conversar. E grandes silêncios quando aquela voz poderosa
fala de cidades conquistadas, divisões vencidas, bombardeamentos, ofensivas. Também silêncio
para ouvir as melodias que vêm de longe até à aldeia, e que são tão bonitas!...»
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Solidão e convivialidade

1.ª parte da narrativa Isolamento geográfico da aldeia e solidão do Batola

• Afastamento e silêncio na relação com a mulher

• É comerciante, mas a maior parte da população


trabalha no campo e frequenta pouco a sua loja
• Convivia apenas com o Rata, mas este suicida-se

2.ª parte da narrativa Aquisição da telefonia Os habitantes saem


à noite para ouvir
«E os dias passam agora rápidos para António Barrasquinho, notícias do mundo,
o Batola. Até começou a levantar-se cedo e a aviar os fregueses conversar e ouvir
de todas as manhãzinhas. Assim, pode continuar as conversas música
da véspera. Que o Batola é, de todos, o que mais vaticínios faz
sobre as coisas da guerra. Muito antes do meio-dia já ele começa
a consultar o velho relógio, preso por um fio de ouro ao colete.»
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A importância das peripécias inicial e final

Peripécia inicial Apresentação do protagonista, dos traços


principais da sua personalidade e da sua
relação com a mulher

Peripécia final
A mulher do Batola muda de opinião sobre
(desenlace)
a telefonia e aceita que o casal compre
o aparelho para animar a loja e a aldeia

Nova dinâmica na comunidade:


maior convívio e ânimo
entre os seus membros
Melhoria do relacionamento
do casal Barrasquinho
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Dificilmente, ainda, o leitor de hoje não será tentado a pensar este conto
num quadro de atualidade tecnológica. O mundo globalizado em que vivemos
(que, se nos integra, não deixa, simultaneamente, de nos tornar comunidades
isoladas, quais pequenas aldeias perdidas «lá para o fim do mundo»), bem
como o vertiginoso desenvolvimento de meios tecnológicos e de comunicação
a que assistimos, implicam, necessariamente, alterações nos hábitos,
na convivialidade, no comportamento das populações. As interações
que se criam, ao nível comunitário como ao nível familiar, hão de, por certo,
influir no modo de ser, no íntimo de cada indivíduo.
Violante Magalhães, in Conto português: séculos XIX-XX — antologia crítica
(coord. de M.ª Isabel Rocheta e Serafina Martins),
Porto, Edições Caixotim, 2006, p. 109.

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