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Tecnologias - Português
Ensino Médio, 2ª Ano
A literatura engajada.
LÍNGUA PORTUGUESA, 2º Ano do Ensino Médio
A literatura engajada
Barroco
Arcadismo
Romantismo
O Navio Negreiro
“[...]
E existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e covardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
[...]”
Castro Alves
LÍNGUA PORTUGUESA, 2º Ano do Ensino Médio
A literatura engajada
Lucíola
“Lúcia, então, revela seu passado a Paulo. Conta que era uma menina feliz de
quatorze anos que morava com os pais. Um dia sobreveio a terrível febre
amarela, e seus pais, os três irmãos e sua tia caíram de cama. A pequena
menina, sozinha e desesperada, procura ajuda a um vizinho rico, o senhor
Couto, que, em troca de sua inocência, deu-lhe dinheiro para o tratamento dos
pais. A família então resiste à doença. Entretanto, seu pai, descobrindo da
origem do dinheiro, expulsa-a de casa. Sozinha, Lúcia, que na verdade se
chama Maria da Glória, encontra Jesuína, uma mulher que a conduz à
prostituição. E aí então passa a morar com a verdadeira Lúcia. As duas se
tornam amigas. Depois de pouco tempo, Lúcia morre e Maria da Glória assume
a identidade de Lúcia, passando-se por morta. Depois da morte dos pais, Lúcia
destinava o dinheiro que ganhava à sua irmã Ana, que era mantida num
Colégio Interno. Paulo, sabendo de toda a verdade, compreende Lúcia e passa
a sentir por ela uma grande ternura e um amor sincero.”
José de Alencar.
LÍNGUA PORTUGUESA, 2º Ano do Ensino Médio
A literatura engajada
Realismo
Naturalismo
O Cortiço
“Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração
tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara,
incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco
palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias
entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços
e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto
do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo,
ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força
as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão.
As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada
instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham
ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho
de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás
da estalagem ou no recanto das hortas.”
Aluísio de Azevedo
LÍNGUA PORTUGUESA, 2º Ano do Ensino Médio
A literatura engajada
Parnasianismo
"O mais curioso", concluiu Jacques, depois de uma pequena pausa, "é que o
abalo produzido por essa noite no meu organismo foi tão forte,
tão brutal, que me restituiu a saúde: equilibrou os nervos e livrou-me da insônia.
De modo que a canabina me curou, não pelo bem, mas pelo mal que me fez…"
Houve um momento de silêncio. Um de nós disse: "Mas isso nada prova… Você
sofreu assim, porque o excitante encontrou mal preparado o terreno em que
devia operar. E, mesmo, está hoje provado que o haxixe nada mais faz do que
exacerbar o estado normal do indivíduo: dá mais alegria a quem é naturalmente
alegre, e mais tristeza a quem é naturalmente triste…"
"Pode ser!", retorquiu Jacques. "Mas aconselho-lhes que não experimentem.
Demais, sabem quem tem razão? É Balzac, que, apesar de fazer parte de um
clube de bebedores de haxixe, nunca bebeu a droga, porque (dizia ele) o homem
que voluntariamente se despoja do mais belo atributo humano — a vontade —
deve ser, na escala animal. colocado abaixo do caramujo e da lesma… E vamo-nos
embora, que é meia-noite!"
LÍNGUA PORTUGUESA, 2º Ano do Ensino Médio
A literatura engajada
Simbolismo
Dor negra
Pré-modernismo
Modernismo
O Modernismo em Graciliano Ramos
nos apresenta o homem explorado socialmente
e brutalizado pelo meio e faz uma análise
dos problemas sociais que o envolvem.
Deseja conscientizar o leitor do que é necessário
ser revisto para melhorar a vida das pessoas.
No romance Vidas secas, apresenta o Sertão
sofrido da seca e, em São Bernardo, o latifúndio
em que prospera a opressão.
LÍNGUA PORTUGUESA, 2º Ano do Ensino Médio
A literatura engajada
Vidas secas
“Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham
caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas
como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia
horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos
pelados da caatinga rala.
Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú
de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia
presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra
Baleia iam atrás.
Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar,
sentou-se no chão.
- Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai.
Não obtendo resultado, fustigou-o com a bainha da faca de ponta. Mas o pequeno esperneou
acuado, depois sossegou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano ainda lhe deu algumas pancadas e
esperou que ele se levantasse. Como isto não acontecesse, espiou os quatro cantos, zangado,
praguejando baixo.
A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram
ossadas.
O voo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos.”
Graciliano Ramos.
LÍNGUA PORTUGUESA, 2º Ano do Ensino Médio
A literatura engajada
Incidente em Antares
“– Ora, eu estava serena no sono da morte quando de repente vi uma luz fortíssima. Imaginei que
fosse o olho luminoso de Deus e disse-. “Aqui estou, Senhor, em Vossas mãos entrego a minha alma!”. Ouvi um
grito de susto, a luz caiu e entrevi o vulto dum homem que saía disparando. ..
– Possivelmente um desses profanadores de cemitérios ...
– Talvez tenha sido isso mesmo, um ladrão... – Põe-se a apalpar os dedos, o pulso, o peito, o
pescoço, as orelhas. – Ai! Fui roubada, doutor! O bandido levou todas as minhas joias! – Levanta-se. – Fui
roubada! Meu Deus! Joias antigas de família...
– Desculpe-me, D. Quitéria, mas asseguro-lhe que a senhora foi posta no seu esquife sem
nenhuma das suas joias, nem mesmo a aliança de casamento.
– Como é que o senhor sabe?
– Simples. Fui ao seu velório prestar-lhe uma homenagem. Por sinal levei-lhe um ramo de
gladíolos vermelhos e amarelos, que eu mesmo depositei junto de seu corpo. Fiquei algum tempo a seu lado.
Seu amigo Tibério Vacariano é testemunha desse fato. Conversamos a seu respeito, fizemos os maiores elogios
(aliás muito merecidos) à sua pessoa. Mas repito, sob palavra de honra, que não vi no seu corpo nenhuma joia.
– Mas eu deixei com minhas filhas e meus genros disposições escritas muito claras: queria trazer
comigo para a sepultura todas as joias que herdei de meus antepassados ...
– As suas disposições não foram então cumpridas.
– Tratantes! Gananciosos!
Ela sai a caminhar devagarinho dum lado para outro, arrastando os pés, com as mãos na cintura.
– D. Quitéria, eu não os censuro. Seria um desperdício sepultar nesse caixão algumas centenas de
milhões de cruzeiros...
– Mas não basta o que lhes deixo em terras, casas, títulos, dinheiro, sim, e outras joias de valor?”
Érico Veríssimo
LÍNGUA PORTUGUESA, 2º Ano do Ensino Médio
A literatura engajada
Capitães da areia
Artigo XIII
Os Estatutos do Homem
(Ato Institucional Permanente) Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
A Carlos Heitor Cony
Artigo I o Sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
Fica decretado que agora vale a verdade. o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
agora vale a vida, [para defender o direito de cantar
e de mãos dadas, e a festa do dia que chegou.
marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo Final.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas, Fica proibido o uso da palavra liberdade,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo. a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
Artigo III A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
Fica decretado que, a partir deste instante
haverá girassóis em todas as janelas como um fogo ou um rio,
que os girassóis terão direito e a sua morada será sempre
a abrir-se dentro da sombra; o coração do homem.
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança. Thiago de Mello Santiago do Chile, abril de 1964
[...]
LÍNGUA PORTUGUESA, 2º Ano do Ensino Médio
A literatura engajada
Cidade de Deus
“Poesia, minha tia, ilumine as certezas dos homens os tons de
minhas palavras. É que arrisco a prosa mesmo com balas
atravessando os fonemas. É o verbo, aquele que é maior que o
seu tamanho, que diz, faz e acontece. Aqui ele cambaleia
baleado. Dito por bocas sem dentes nos conchavos de becos, nas
decisões de morte. A areia move-se nos fundos dos mares.
A ausência de sol escurece mesmo as matas. O líquido-morango
do sorvete mela as mãos. A palavra nasce no pensamento,
desprende-se dos lábios adquirindo alma nos ouvidos, e às vezes
essa magia sonora não salta à boca porque é engolida a seco.
Massacrada no estômago com arroz e feijão a quase-palavra é
defecada ao invés de falada.
Falha a fala. Fala a bala.”
Paulo Lins. Cidade de Deus. São Paulo: Companhia da Letras, 1997.
LÍNGUA PORTUGUESA, 2º Ano do Ensino Médio
A literatura engajada
Apesar de você
Ora, tenha a fineza de desinventar
Você vai pagar e é dobrado cada lágrima rolada
Hoje você é quem manda, falou, tá falado
Nesse meu penar
Não tem discussão
Apesar de você amanhã há de ser outro dia
A minha gente hoje anda falando de lado
Inda pago pra ver o jardim florescer
E olhando pro chão, viu
Qual você não queria você vai se amargar
Você que inventou esse estado
Vendo o dia raiar
E inventou de inventar
Sem lhe pedir licença e eu vou morrer de rir
Toda a escuridão
Que esse dia há de vir antes do que você pensa
Você que inventou o pecado
Apesar de você amanhã há de ser outro dia
Esqueceu-se de inventar o perdão
Você vai ter que ver
Apesar de você amanhã há de ser outro dia
A manhã renascer e esbanjar poesia
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Como vai se explicar vendo o céu clarear
Da enorme euforia
De repente, impunemente
Como vai proibir quando o galo insistir em cantar
Como vai abafar
Água nova brotando e a gente se amando sem parar
Nosso coro a cantar
Quando chegar o momento
Na sua frente
Esse meu sofrimento vou cobrar com juros, juro
Apesar de você amanhã há de ser outro dia
Todo esse amor reprimido esse grito contido
Você vai se dar mal
Este samba no escuro
Etc. e tal
Você que inventou a tristeza
Chico Buarque
LÍNGUA PORTUGUESA, 2º Ano do Ensino Médio
A literatura engajada
http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/literatura-engajada-
433766.shtml
http://minhafilosofia.blogspot.com.br/2007/10/literatura-engajada.html
http://www.brasilescola.com/literatura/para-que-serve-a-literatura.htm
LÍNGUA PORTUGUESA, 2º Ano do Ensino Médio
A literatura engajada
Referências