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MULHERES DEPOIS

CORPOS ESTRANHOS NA
LITERATURA
BRASILEIRA
CONTEMPORÂNEA

“RESISTIR PRA EXISTIR, EXISTIR


PRA REAGIR.”
Provocações
 A literatura deve provocar (Angélica Freitas)

 Ah, esta semana a Heloisa me mandou a capa do meu livro! Que


emoção. Deve sair aí por outubro, acho. E o título ficou aquele
mesmo: Um útero é do tamanho de um punho. Já me perguntaram
se tem a ver com fisting (!). Não, não, pelo amor de Buda. É uma
frase que li na internet há uns quatro anos, quando estava
pesquisando textos sobre o corpo da mulher. Encontrei um que lá
pelas tantas dizia: "um útero é do tamanho de um punho fechado".
Fiquei pensando que é desse tamanho mas cabe tanta coisa ali...
Cabem faculdades de direito, de medicina, cabem igrejas inteiras...
Acabei escrevendo um poema de cinco páginas. Que está no livro,
claro. Acho que muitos dos meus amigos e amigas não gostaram do
título. Talvez a palavra útero incomode. Mas tudo bem, porque
incomodar é bom. Já reparou que os títulos dos livros de poesia são
quase todos muito sérios e chatos? (20.08.2012 do blog IMS)
Provocações
 O martelo é um livro sobre violência e sexualidade feminina,
narrado por uma voz feminina sem nome, com um
antagonista (o príncipe) e um herói ambivalente (Humboldt).
O livro é assim dividido em duas partes - na primeira, a
mulher sem nome descreve sua experiência pós-estupro
dentro de instituições públicas e instâncias burocráticas; na
segunda parte, ela descreve sua experiência como mulher
casada e adúltera, fazendo paralelos questionáveis e suspeitos
entre marido e amante, e entre estupro e sexo consensual. A
divisão do livro é inspirada por Constantino, o Grande,
primeiro imperador romano cristão, que criou uma lei
estabelecendo que o estupro e o adultério eram crimes
semelhantes, cometidos apenas pela mulher, por ela ser
incapaz de cuidar da propriedade de seu marido (ie seu corpo)
(IVÁNOVA, site da autora)
OS CORPOS QUE FAZEM POESIA

 ANGÉLICA FREITAS (Pelotas, 1973)

 Cursou Jornalismo – UFRGS


 Repórter: Estadão e Informática hoje
 Editora Revista e blogues Modo de usar & Co e Tome uma xícara de chá
 Viveu temporariamente em vários países, como Holanda, Bolívia e Argentina
 Livros: Rilke Shake (2007), Um útero é do tamanho de um punho (2013)
OS CORPOS QUE FAZEM POESIA

 ADELAIDE IVÁNOVA (Recife, 1982)

 Vive entre Brasil e Alemanha


 Atividades voltadas para a literatura, as artes fotográficas e
a militância
 Obras: Autonomia e polaróides (2014) e Martelo (2017)
Os corpos trans no/do poema

“Queer é um corpo estranho, que


incomoda, perturba, provoca e
fascina” (LOURO, 2004, p.08)
mulher depois

queridos pai e mãe


tô escrevendo da tailândia
é um país fascinante
tem até elefante
e umas praias bem bacanas

mas tô aqui por outras coisas


embora adore fazer turismo
pai, lembra quando você dizia
que eu parecia uma guria
e a mãe pedia: deixem disso?

pois agora eu virei mulher


me operei e virei mulher
não precisa me aceitar
não precisa nem me olhar
mas agora eu sou mulher

(FREITAS, 2013, p.35)


para laura

em 1998 quando encontraram foi filmada ainda viva


o corpo gay de matthew shepard por outro sujeito
sua cara tinha sangue por todo lado que em vez de ajudá-la
menos duas listras postou no youtube o vídeo
perpendiculares d’uma laura desorientada
que era por onde suas lágrimas e quem não estaria
haviam escorrido tendo sangue na boca e na parte
naquele dia o ciclista de trás do vestido
que o encontrou não
ligou para polícia logo que o viu laura tem um corpo
porque o corpo de matthew e um nome que lhe pertencem
estava tão deformado laura de vermont presente!
que o ciclista achou ter visto foi assassinada pela nossa indiferença
um espantalho e pela polícia brasileira
tinha 18 anos
sábado passado em são paulo sábado passado.
a polícia matou laura
não sem antes (IVÁNOVA, 2017, p.17)
torturá-la laura
“já/ se sabe que poemas tal qual leis não mudam nada
tudo/ sobre isso já foi legislado e dito em todas as
línguas/ também em português mas meu deus/ de que
adiantaria meu silêncio?/ de quem estaria meu
silêncio a serviço?” (IVÁNOVA, Performance Frutos
Estranhos, 2017).
 O poder não apenas nega, impede, coíbe, mas
também "faz", produz, incita. (...) o poder produz
sujeitos, fabrica corpos dóceis, induz
comportamentos, "aumenta a utilidade econômica" e
"diminui a força política" dos indivíduos. (...) Os
gêneros se produzem, portanto, nas e pelas relações
de poder. (LOURO, 2014, p.44)
Referências bibliográficas

BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do sexo. In: LOURO, Guacira Lopes (org.). O corpo educado:
pedagogias da sexualidade (organizadora). Tradução dos artigos: Tomaz Tadeu da Silva. 4 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2018. p.191-
219.

____. Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade. Trad. Renato Aguiar. 8 ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2015.

CARPEGGIANI, Schneider. Um livro como se fosse uma mordida. Disponível em:


http://www.suplementopernambuco.com.br/entrevistas/1544-um-livro-como-se-fosse-uma-mordida.html, acesso em 21 de agosto de
2018.

FOUCAULT, Michel. Poder-Corpo. In:____. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1986.

FREITAS, Angélica. Um útero é do tamanho de um punho. São Paulo: Cosac Naify, 2013.

IVÁNOVA, Adelaide. Martelo. 2ed. Rio de Janeiro: Edições Garupa, 2017.

____. mimimi. Performance para a série Fruto Estranho da Flip 2017. Disponível em:
https://adelaideivanovadotcom.files.wordpress.com/2017/09/mimimi_adelaide-ivanova.pdf, acesso em 31 de agosto de 2018.

LOURO, Guacira Lopes (org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade (organizadora) Tradução dos artigos: Tomaz Tadeu da
Silva. Belo Horizonte: Autêntica, 2014.

____. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 16 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

____. Um corpo estranho: ensaio sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
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