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do Papa Francisco
Evangelii Gaudium
Nelito Dornelas
Evangelii Gaudium
A 'Evangelii Gaudium' (a alegria do Evangelho) perfila a
Igreja que o papa Francisco quer. Trata-se de uma
exortação apostólica pós sinodal que o Papa escreveu
sobre o sínodo que discutiu a Evangelização nos novos
tempos, acontecido em outubro de 2012 com a
participação de bispos do mundo todo. O objetivo do
Sínodo era discutir o “como anunciar o Evangelho no
mundo de hoje”. Nesta exortação o papa conclama ao
líderes mundiais a lutar contra a desigualdade e atacou
duramente o capitalismo desenfreado, o qual ele
considera uma “nova tirania”.
A continuação, alguma citações do primeiro documento
escrito diretamente pelo Papa Francisco
SOBRE A IGREJA E A EVANGELIZAÇÃO 1
“A Igreja “Os preceitos de Cristo são pouquíssimos.
não é Não tenham medo de revisar alguns
alfândega costumes e normas da Igreja”
é a casa
paterna “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e
onde há lameada por sair às ruas, a uma Igreja
lugar para preocupada por ser o centro, que
cada um termina fechada em um emaranhado
com a sua de obsessões e procedimentos, doente
pelo fechamento e comodidade de
vida, tal
apegar-se às suas próprias seguranças”.
como ela
é”.
"Uma excessiva centralização, mais do que
ajudar, complica a vida da Igreja e a sua
dinâmica missionária".
“A Igreja deve chegar a todos, mas
sobretudo aos pobres e doentes, aos
que são marginalizados e esquecidos”.
“ A atividade missionária é
paradigma de toda a Igreja. Um
Igreja missionária não fica obcecada
por uma transmissão desarticulada, a
ferro e fogo, de inúmeras doutrinas”.
“É necessária uma
“Faz-se necessária uma
reforma das conversão pastoral e
estruturas eclesiais missionária, que não permite
para que todas deixar as coisas com estão”.
elas de tornam
mais missionárias”.
“Quantas guerras
no seio da Igreja! A
quem vamos
evangelizar com
este
comportamento?”
A Igreja «em saída» é uma
Igreja com as portas abertas.
Sair em direção aos outros
para chegar às periferias
humanas não significa correr
pelo mundo sem direção nem
sentido. Muitas vezes é melhor
diminuir o ritmo, pôr de lado a
ansiedade para olhar nos olhos
e escutar, ou renunciar às
urgências para acompanhar
quem ficou caído à beira do
caminho. Às vezes, é como o
pai do filho pródigo, que
continua com as portas abertas
para, quando este voltar,
poder entrar sem dificuldade.
Se a Igreja inteira assume este dinamismo missionário, há de chegar a todos,
sem exceção. Mas, a quem deveria privilegiar? Quando se lê o Evangelho,
encontramos uma orientação muito clara: não tanto aos amigos e vizinhos
ricos, mas sobretudo aos pobres e aos doentes, àqueles que muitas vezes são
desprezados e esquecidos, «àqueles que não têm com que te retribuir»
(Lc 14, 14). Não devem subsistir dúvidas nem explicações que debilitem esta
mensagem claríssima. Hoje e sempre, «os pobres são os destinatários
privilegiados do Evangelho», e a evangelização dirigida gratuitamente a eles
é sinal do Reino que Jesus veio trazer. Há que afirmar sem rodeios que existe
um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos jamais
sozinhos!
Enquanto no mundo, especialmente
nalguns países, se reacendem várias
formas de guerras e conflitos, nós,
cristãos, insistimos na proposta de
reconhecer o outro, de curar as feridas,
de construir pontes, de estreitar laços
e de nos ajudarmos «a carregar as
cargas uns dos outros» (Gal 6, 2).
A nossa tristeza e vergonha
pelos pecados de alguns membros da
Igreja, e pelos próprios, não devem
fazer esquecer os inúmeros cristãos
que dão a vida por amor: ajudam
tantas pessoas seja a curar-se seja a
morrer em paz em hospitais
precários, acompanham as pessoas
que caíram escravas de diversos vícios
nos lugares mais pobres da terra,
prodigalizam-se na educação de
crianças e jovens, cuidam de idosos
abandonados por todos, procuram
comunicar valores em ambientes
hostis, e dedicam-se de muitas outras
maneiras que mostram o imenso
amor à humanidade inspirado por
Deus feito homem. Agradeço o belo
exemplo que me dão tantos cristãos
que oferecem a sua vida e o seu
tempo com alegria.
Ser Igreja significa ser Povo de Deus, de acordo com o grande
projeto de amor do Pai. Isto implica ser o fermento de Deus no
meio da humanidade; quer dizer anunciar e levar a salvação de
Deus a este nosso mundo, que muitas vezes se sente perdido,
necessitado de ter respostas que encorajem, deem esperança e
novo vigor para o caminho. A Igreja deve ser o lugar da
misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos,
amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa
do Evangelho.
SOBRE O PAPADO 2
“Dado que estou chamado a
viver o que eu peço aos
demais, também devo pensar
em uma conversão do papado.
Corresponde a mim, como
bispo de Roma, estar aberto às
sugestões que se orientam
para o exercício do meu
ministério a fim de que o
mesmo seja mais fiel ao
sentido que Jesus Cristo quis
dá-lo e às necessidades da
evangelização.”
“Não se deve esperar do
Papa uma palavra
definitiva ou completa
sobre todas as
questões.
Nem o Papa nem a
Igreja tem o monopólio
na interpretação da
realidade social ou na
proposta de soluções.
“Penso, aliás, que não se deve esperar do magistério papal uma
palavra definitiva ou completa sobre todas as questões que dizem
respeito à Igreja e ao mundo. Não convém que o Papa substitua os
episcopados locais no discernimento de todas as problemáticas que
sobressaem nos seus territórios. Neste sentido, sinto a necessidade
de proceder a uma salutar «descentralização».
SOBRE A DESIGUALDADE 3
“Assim como o mandamento
de “não matar” coloca um
limite claro para assegurar o
valor da vida humana, hoje
precisamos dizer não a uma
economia da exclusão e da
desigualdade social. ESSA
ECONOMIA MATA. Não pode
ser que um idoso morra de frio
em situação de rua e isso não
nos incomode ou não seja
notícia e uma queda de dois
pontos na bolsa de valores
tome os noticiários. Isso é
exclusão”
“Não se pode tolerar mais o
fato de se lançar comida no
lixo, quando há pessoas que
passam fome. Isto é
desigualdade social. Hoje,
tudo entra no jogo da
competitividade e da lei do
mais forte, onde o
poderoso engole o mais
fraco. Em consequência
desta situação, grandes
massas da população veem-
se excluídas e
marginalizadas: sem
trabalho, sem perspectivas,
num beco sem saída.”
“O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de
consumo que se pode usar e depois lançar fora. Assim teve
início a cultura do «descartável», que aliás chega a ser
promovida. Já não se trata simplesmente do fenômeno de
exploração e opressão, mas duma realidade nova: com a
exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde
se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder
já não está nela, mas fora. Os excluídos não são «explorados»,
mas resíduos, «sobras».
“Enquanto o lucro de uns poucos crescem
exponencialmente, os da maioria ficam cada
vez mais longe dessa minoria feliz. Este
desequilíbrio provêm de ideologias que
defendem a autonomia absoluta dos
mercados e da especulação financeira. Daí
negam o direito de controle dos Estados,
encarregados de velar pelo bem comum. Se
instaura uma nova tirania invisível, as vezes
virtual, que impõe, de forma unilateral e
implacável, suas leis e suas regras".
“Neste sistema que tende a
globalizar tudo no sentido de
acrescentar benefícios a
qualquer custo, tudo que seja
frágil, como o meio ambiente,
fica indefeso ante os
interesses do mercado
divinizado e convertido em
regras absolutas.”
“Hoje, em muitas partes,
reclama-se maior
segurança. Mas, enquanto
não se eliminar a exclusão
e a desigualdade dentro da
sociedade e entre os vários
povos será impossível
eliminar a violência.
Acusam-se da violência os
pobres e as populações
mais pobres, mas, sem
igualdade de
oportunidades, as várias
formas de agressão e de
guerra encontrarão um
terreno fértil que, mais
cedo ou mais tarde, há de
provocar a explosão.”
“Quando a sociedade local, nacional ou
mundial abandona na periferia uma parte
de si mesma, não haverá programas
políticos e nem recursos policiais ou de
inteligência que possa garantir
indefinidamente a tranquilidade. Isto não
acontece somente porque a iniquidade
provoca a reação violenta dos excluídos do
sistema, mas porque o sistema é injusto em
sua raiz.”
“Enquanto não se resolva
radicalmente os problemas dos
pobres, renunciando a autonomia
absoluta dos mercados e da
especulação financeira e
atacando as causas estruturais da
iniquidade, não se resolverão os
problemas do mundo e, em
definitivo, nenhum problema. A
iniquidade é a raiz dos males
sociais.”
Até que não
acabe com a
exclusão e a
injustiça dentro
da sociedade e
entre os distintos
povos será
impossível
erradicar a
violência
É indispensável prestar
atenção (...) aos sem teto,
dependentes químicos,
povos indígenas, anciãos
cada vez mais solitários e
abandonados...
SOBRE A ECONOMIA 4
“Alguns defendem a teoria do “derrame”,
que supõe que todo crescimento
econômico, favorecido pela liberdade de
mercado, logra provocar por si mesmo
maior equidade e inclusão social no mundo.
Esta opinião, que jamais foi confirmada
pelos fatos, expressa uma confiança absurda
e ingênua na bondade de quem detém o
poder econômico e nos mecanismos
sacralizados do sistema econômico
imperante.”
“A posse privada dos bens se
justifica somente para que
sirva melhor o bem comum,
pelo qual a solidariedade deve
caminhar com a decisão de
devolver ao pobre o que lhe
corresponde.”