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Introdução Geral
Introdução
Iniciemos este nosso estudo do Evangelho de João fazendo
uma pergunta: Como deverá ser nosso estudo do IV Evangelho?
É preciso lembrar que, na leitura dos evangelhos, o ponto de par-
tida fundamental é o texto e é de onde se deve partir para ir
avançando em direção a uma compreensão mais profunda de sua
mensagem.
Em que consistiria essa desordem?
Vejamos antes de tudo os fatos, seguindo passo a passo o
Evangelho:
- no Prólogo encontramos inserido no hino ao Logos duas referências
em prosa a João Batista que interrompe o hino (1,6-8.15);
Em 2,23 Jesus realiza muitos sinais em Jerusalém e em 4,54 o
sinal realizado ali parece ser o segundo.
Em que consistiria essa desordem?
Quanto ao autor:
tese tradicional do século II (cf. Irineu, Clemente de Alexandria, e
outros) retém como autor do IV Evangelho o apóstolo João, filho de
Zebedeu, proveniente da Galiléia.
Ele teria escrito nos últimos anos de sua vida no I século em Éfeso,
onde é venerada a sua tumba. Recorrendo ao conceito de geral de
paternidade literária presente na Bíblia (cf. a escola de isaiana e paulina),
podemos falar do apostolo João como autor do IV Evangelho e atribuir ao
trabalho escrito a duas personalidades diferentes da escola jovanea.
A primeira redação do IV Evangelho seria um cristão anônimo, um
judeu-cristão de língua aramaica e grega, sacerdote convertido que viveu
num ambiente helenístico, teólogo e místico simples e profundo.
Ao invés, o redator-editor final de João poderia ser um responsável
da comunidade cristã jovanea que, na dificuldade da vida eclesial do final
do século I, insiste sobre a vida litúrgica e da ordem institucional.
Quanto à datação
Quanto à datação
o texto de João possui nobre ascendência de manuscritos.
Antes de tudo, o papiro Ryland (P52) (ver slide seguinte) descoberto no
médio Egito, Ossirinco, contém os capítulos 18,31-33 e 18,37-38 do ano
125. É o testemunho mais antigo que possuímos do NT.
dynamis (força) 13 10 15 0
kakein (chamar) 26 4 43 0
parsbole (parábola) 17 13 18 0
O mundo conceitual do Evangelho de João
É evidente que estamos diante de uma informação de suma
importância, que tem conseqüências de grande envergadura para a nossa
introdução. Digamos, em primeiro lugar, que os aspectos teológicos foram
claramente modificados.
Os temas que mais interessam a João não correspondem aqueles
que foram salientados pelos Sinóticos. Mas, é preciso ser mais concreto: os
temas que escolhemos na segunda lista correspondem todos, direta ou
indiretamente, ao tema central da pregação de Jesus segundo os sinóticos:
o tema do reino.
Jesus proclama que o reino está próximo, e convida (kalein) a todos
se converterem para fazer parte dele. Jesus ilustra a realidade, por sua vez
presente e iminente do reino mediante parábolas (parabloai), e suas ações
extraordinárias (dynamis) em favor dos oprimidos pelas forças sobre-
humanas do demônio são sinais da presença do reino (se expulso os
demônios com a força de Deus, então é que chegou até vós o reino de
Deus: Mt 12,28; cf. Lc 11,20).
Por isso, o reino é objeto da boa notícia (euagelion) que Jesus veio
proclamar (keryssein).
O mundo conceitual do Evangelho de João
Torna-se surpreendentemente que João parece não saber
nada disso tudo. Jesus neste Evangelho não anuncia o reino,
nem o proclama presente, nem o ilustra mediante parábolas.
a) Tempo
E interessante observar que estas controvérsias sempre
ocorrem em que ocasião?
por ocasião de uma festa judaica:
2,13, Estava próxima a páscoa dos judeus.
5,1, Em seguida celebrava-se uma festa dos judeus.
7,2, Estava perto a festa dos judeus, chamada dos Tabernáculos.
7,14, Já estando a festa pelo meio.
7,37, No ultimo dia, o mais importante da festa.
10,22, Celebrava-se em Jerusalém a festa da dedicação do templo.
Existem algumas controvérsias que não estão delimitadas quanto ao
tempo (por exemplo: 7,25-31; 8,12-20; 8,21-30; 8,31-59),
mas, de fato, estão encaixadas de tal forma nos diálogos que Jesus
manteve no templo de Jerusalém, que podemos pensar terem acontecido
durante as festas.
As Controvérsias e os Diálogos do Evangelho de João
b) Interlocutores
Quem são?
Em todas as controvérsias, sem exceção, os interlocutores de Jesus
são os judeus de Jerusalém, ou, mais concretamente, os fariseus:
2,18, Os judeus tomaram a palavra.
5,10, Os judeus diziam.
7,15, Os judeus admiravam-se.
7,25, Diziam algumas pessoas de Jerusalém.
7,32, Ouvindo tais comentários, os fariseus...
8,13, Os fariseus lhe retrucaram.
8,22, Perguntavam os judeus.
8,31, Jesus dizia aos judeus que acreditaram.
8,52, Disseram-lhe os judeus.
10,24, Os judeus o rodearam e lhe perguntaram
As Controvérsias e os Diálogos do Evangelho de João
Com a matiz de 7,25 "algumas de Jerusalém diziam" (cf.
1,24), que indica que entre os judeus existe também divisão de
opiniões (cf. 7,43; 9,16 e 10,19), os interlocutores de Jesus são os
judeus que se encontram ao redor do templo e do culto.
Os fariseus, por outra parte, são os responsáveis diretos pela
repressão contra Jesus (7,47-48; 9,13-16.24-29.40; 11,46; 12,19.42).
Neste sentido, eles são uma especificação dos "judeus", os
oponentes de Jesus.
O autor sabe que os fariseus sozinhos não podiam tomar
medidas contra Jesus, por isso em algumas ocasiões ele coloca junto
com os fariseus os archiereis, que não devem ser identificados com
os "sumos pontífices" e sim com os oficiais do templo encarregados
de manter a ordem no templo.
As Controvérsias e os Diálogos do Evangelho de João
C) Lugar - (Onde?)
As controvérsias com os judeus e os fariseus se dão sempre
em Jerusalém, e mais concretamente, no templo. Isto Já ficou claro
pelo fato de que pelo motivo das festas judaicas Jesus sobe a
Jerusalém, como vimos anteriormente.
Mas parece importante para o Evangelho de João assinalar
que as controvérsias ocorrem sempre no templo:
2,14, Subiu a Jerusalém e encontrou no templo vendedores.
5,1, Jesus subiu a Jerusalém.
5,14, e encontrou no templo.
7,10, Jesus também foi à festa (em Jerusalém).
7,14, Jesus subiu ao templo.
7,25, Diziam algumas pessoas de Jerusalém. 7,28, Ensinando no templo. 7,37, No
último dia da festa... Jesus fio (ao templo). 8,20, Estas palavras Jesus as proferiu
no tesouro do templo. 8,59, Jesus se escondeu e saiu do templo.
10,23 Jesus passeava no templo, sob pórtico de Salomão.
As Controvérsias e os Diálogos do Evangelho de João
d) Temas de discussão
Apesar da tonalidade de ensinamento que caracteriza as
intervenções de Jesus, não deixa de ser interessante constatar que
as controvérsias de Jesus com os judeus de Jerusalém se centralizam
em temas doutrinais de certa importância para o judaísmo e com um
aprofundamento que não se encontra nas tradições Sinóticas.
Eis os principais temas:
-O templo: 2,13-22; cf. 4,20-24. -O sábado: 5,16-19; 7,14-24; cf.
9,14-16.
-A legitimidade do testemunho de Jesus: 5,30-40; 8,14-20.
-Moisés e Jesus: 5,41-47; 7,18-24; cf. 1,17; 6,32; 9,28-29.
-A Escritura: 5,39-40; cf. 1,45. -A lei: 7,19; 7,51. -A circuncisão: 7,22-
24. -A origem do Messias: 7,25-31; 7,40-44; 7,45-52; cf. 12,34.
-A filiação de Abraão: 8,3-59.
As Controvérsias e os Diálogos do Evangelho de João
Para onde irá ele que nós não podemos ir? Irá por acaso, aos
dispersos entre os gregos para ensinar gregos? (7,35).
-Tu dás testemunho de ti mesmo: o teu testemunho não é
verdadeiro (8,13).
-Por acaso irá ele matar-se; pois diz: parra onde eu vou, vós
não podeis ir? (8,22).
-Nunca fomos escravos de alguém, como podes tu dizes:
tornar-vos-eis livres? (8,33).
-Não dizíamos, com razão, que és samaritano e tens demô-
nio? (8,48).
-És, porventura, maior do que o nosso pai Abraão, que
morreu? (8,53).
As Controvérsias e os Diálogos do Evangelho de João
Conclusão
Todas estas características procuram centralizar as
controvérsias no templo de Jerusalém, por motivo das festas
judaicas.
Se as festas são mencionadas é, portanto, para dar uma razão
ao tom de oposição radical que Jesus encontrou, e que, com toda a
segurança o levou à morte.
As festas são importantes na articulação destas
controvérsias, porque é através das festas que nos colocamos em
contato com os judeus de Jerusalém e, mais concretamente, com os
fariseus e os oficiais do templo que levaram a termo a sua
perseguição conseguindo a condenação de Jesus.
Por outro lado, é preciso ter presente que as festas judaicas
são “locus theologicus” por excelência da teologia judaica.
As Controvérsias e os Diálogos do Evangelho de João
Por isso, o marco das festas é também um marco teológico
onde se pode discutir e questionar a teologia dos judeus. Em
particular, as festas da Páscoa e das Tendas-Tabernáculos têm um
lugar especialmente importante neste sentido.
E talvez, sob o ponto de vista doutrinal, ainda mais a festa
das Tendas do que a festa da Páscoa.
A festa das Tendas era a festa messiânica por excelência, era
a festa mais carregada de sentido escatológico, a festa da esperança
judaica. A Páscoa podia ser o centro da fé judaica, mas a festa das
Tendas o ponto doutrinal mais profundo.
Não nos deve causar estranheza, portanto, que tenhamos a maioria das
discussões de Jesus com os judeus situada na festa das Tendas (Jo 7-9); de fato, a
festa da Dedicação (10,22) era chamada também a festa das Tendas de inverno.
No fundo, sob o ponto de vista teológico, existe em João uma forte
concentração das discussões entre Jesus e os judeus no contexto da festa das
Tendas.
As Controvérsias e os Diálogos do Evangelho de João
2. Diálogos
Referimo-nos, sobretudo, aos diálogos com
- Nicodemos (2,23—3,21),
a) Tempo
b) Interlocutores
São bastante variados, mas claramente delimitados e defi-
nidos.
-Nicodemos, um dos fariseus, que debaterá a favor de Jesus
em (7,50) e que acompanhará José de Arimatéia à sepultura de Jesus
(19,39), é o único dos dirigentes aludidos por João, e que vai até
Jesus;
portanto, a sua apresentação é mais a de um crente do que a
de um descrente (cf. 12,42-43).
-A mulher de Samaria chegará à fé a partir de uma fé que
não é exatamente a dos judeus (4,9); dificilmente se poderá evitar a
impressão de que esta mulher representará o acesso a Jesus a partir da
fé samaritana.
Este fato parece também ter sido levado em conta por Lucas
nos Atos dos Apóstolos (cf. At 8).
Controvérsias e os Diálogos do Evangelho de Jo
-O terceiro diálogo apresenta um público flutuante: em
primeiro lugar, se fala de uma multidão (6,2.5.22. 24), e em seguida
se passa a falar dos judeus (6,41-52).
Não deixa de nos surpreender que na Galileia os interlocutores
de Jesus sejam chamados de "judeus".
Pois bem, o diálogo de Jo 6 parece estar mais próximo dos
outros três do que os das controvérsias de Jesus com os judeus de
Jerusalém; recordamos, além disso, que no final do diálogo se nos diz
que este se realizou na sinagoga de Cafarnaum (6,59).
-Finalmente, o diálogo de Jesus com as irmãs de Lázaro,
que precede à ressurreição do amigo de Jesus, é o diálogo com os
crentes que explicitam a sua fé (11,27).
Aqui estamos diante dos que creem ou dos que no futuro
crerão.
Controvérsias e os Diálogos do Evangelho de Jo
c) Lugar
Se as controvérsias se mantiveram em Jerusalém, temos a dizer
que os diálogos ocorrem se realizam em lugares diferentes, mas sempre
fora de Jerusalém:
-Nicodemos procura Jesus de noite, mas não sabemos onde.
Provavelmente em Jerusalém, mas o autor não o sublinha isto e não se
pode assumir como dado do autor.
-O diálogo com a mulher da Samaria acontece em Sicar, próximo
do monte Garizim.
-O terceiro diálogo parece que se realizou na sinagoga de
Cafarnaum.
-Finalmente, o quarto está situado em Betânia, próximo de
Jerusalém, mas não existe nada que nos faça pensar no templo ou nos
oficiais do templo. Estamos em outro contexto.
Aqui, Galiléia (Cafarnaum), Samaria (Sicar) e Judéia (Betânia) são
bastante eloqüentes como lugares geográficos. É preciso observar se estes
dados têm uma significação mais profunda.
Controvérsias e os Diálogos do Evangelho de Jo