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PLURIVERSIDADE
Paulo César Carbonari
IFIBE 2018/2
SABERES EM DISPUTA
■ Lei e Causalidade
■ Qualidade e Quantidade
■ Objeto e Método
■ Regulação x Emancipação
■ Sujeito x Objeto
■ Natureza x Cultura
■ Monoculturas
GENOCÍCIOS / EPISTEMICÍDIOS
A modernidade, segundo Ramón GROSFOGUEL, é como
uma moeda, o RACISMO/SEXISMO, que tem duas faces: de
um lado, está o “privilégio epistêmico” e, de outro, a
“inferioridade epistêmica”. Examinar a formação desta
“moeda” e de suas “faces” é necessário para entender as
estruturas de “longa duração” do conhecimento moderno.
Ela se expressa no que chama de “genocidios” e no que Boaventura de SOUSA
SANTOS chama de “epistemicídios”. Segundo Ramón GROSFOGUEL no século XVI
foram realizados quatro GENOCIDIOS/EPISTEMICÍDIOS:
1) CONTRA OS MUÇULMANOS e OS JUDEUS na conquista da Al-Andalus, feita em
nome da “pureza de sangue”;
2) CONTRA OS POVOS INDÍGENAS (primero nas Américas e depois na Ásia), que
colocou em questão sua humanidade: ;
3) CONTRA OS AFRICANOS, com o tráfico forçado de escravos para as Américas;
4) CONTRA AS MULHERES que praticavam e transmitiam o conhecimento na
Europa e que foram queimadas vivas acusadas de bruxaria.
Foram formas de GENOCÍDIO (assassinato de pessoas em massa) e de
EPISTEMÍCIDO (destruição de saberes e conhecimentos próprios em nome de
supostos conhecimentos superiores).
Estes quatro genocídios/epistemicídios foram
contemporâneos e ocorreram todos no interstício do final do
século XV e no século XVI (e seguintes). A conquista contra os
muçulmanos/judeus foi concluída em 02 de janeiro de 1492,
com a tomada de Granada; sendo que nove dias depois
Cristóvão Colombo recebeu a autorização para a expedição
que o levaria às “Índias Ocidentais” em 12 de outubro de
1492. As perseguições da inquisição às “bruxas” ocorreram
mais intensamente também no mesmo período (1550-1650).
A escravidão dos africanos, com o tráfico forçado, inicia em
meados do século XV (1444) e vai terminar no século XIX
(Bula Dum Diversas, de 1452 do Papa Nicolau V dá ao rei de
Portugal a faculdade de conquistar e escravizar os “infiéis”
africanos).
Se no genocidio/epistemicídio semita (muçulmanos e judeus), o que
justificava era o fato de eles seguirem um “Deus equivocado” ou uma
“religião errada”, por isso, os que não se convertessem em moriscos
ou marranos foram expulsos da Espanha; no caso dos indígenas, o
que justificava era sua natureza humana, ou seja, a dúvida sobre se
eram humanos, já que, como declarou Cristóvão Colombo em carta às
Majestades Espanholas, ao reportar o que “descobriu” nas “novas
Índias”: “[…] me pareceu que eran gentes muito pobres de tudo. […] E
eu acreditei e acredito que rapidamente se fariam cristãos: já que me
pareceu que não tinham religião alguma”, e, se não tinham religião,
não tinham Deus, se não tinham Deus, não tinham alma, se não
tinham alma, não eram humanos, ainda que parecessem ser, estavam
mais próximos dos animais (indígenas passaram a ter alma depois de
Bula Sublimis Deos, de Paulo III, de 1537).
Há, portanto, um “debate” de fundo sobre a condição ou a natureza
humana “desses humanos” (judeus, muçulmanos, indígenas, negros e
mulheres), que não é novo, mas que ganha novos contornos e novos
conteúdos (no caso dos indígenas, vai a Valiadolid – Guinés x Las
Casas – em 1551). A inferiorização de dá no religioso e no cultural,
mas também no antropológico e no ontológico. Ela não só levou à
eliminação física, mas também à eliminação dos saberes, dos
conhecimentos e dos meios de sua transmissão e guarda (na
biblioteca de Córdoba foram destruídos 500 mil libros e 250 mil na de
Granada, milhares de “códices” e “quipus” dos Astecas e as
bibliotecas Maias e Incas, no caso de negros e mulheres, além de
indígenas de tribos menores, o saber foi eliminado com o corpo, já
que o corpo se constituía no meio portador do saber oral e ancestral).
Nelson Maldonado-Torres diz que:
“Referirse a los indígenas como sujetos sin religión los saca aparte de la categoría de lo humano.
Como la religión es algo universal en los humanos, la falta de la misma no denota la falsedad de la
proposición, sino al contrario, el hecho de que hay sujetos que no son del todo humanos en el
mundo […] Los sujetos sin religión no están equivocados, tanto como están, según esta
concepción, ontológicamente limitados. Al juzgar a los indígenas como sujetos “sin secta” Colón
altera la concepción medieval sobre la ‘cadena del ser’ y hace posible pensar sobre el ‘condenado’
ya no en términos exclusivamente cristianos y teológicos sino más bien antropológicos y modernos.
A los condenados’ modernos les faltará no sólo la verdad, sino también parte fundamental de lo
que se considera ser humano. Su falta no es tanto un resultado de su juicio, como un problema
mismo de su ser. La colonialidad del poder nace así pues simultáneamente con la colonialidad del
ser. […] la aseveración de Colón sobre la falta de religión en los indígenas introduce un sentido
antropológico del término. A la luz de lo discutido aquí habría que añadir que el sentido
antropológico del término está también vinculado a una manera muy moderna de clasificar a los
humanos: la clasificación racial. Con un solo plumazo, Colón lanza el discurso de la religión del
ámbito teológico al de una antropología filosófica moderna que distingue entre distintos grados de
humanidad con identidades fijadas en lo que luego se conocerá como razas. Aunque suene
exagerado, quizás no está muy lejos de la verdad decir que Colón fue a la vez no sólo el primer
teórico moderno de la religión sino también el primer racista en Occidente” (2008, p. 217-220).
SENTIDO DE PLURIVERSAL
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