Sie sind auf Seite 1von 19

TÍTULO 1

9
8
2
-
1
6
7
0

O CUSTO DO
MUNDO VIRTUAL
A internet é criticada de
muitas maneiras, mas
tudo tem suas
vantagens e
desvantagens

Empresas
InvestimentoSocial
Privado amplia o olhar
para o território;

Cidadão
Aproximação com Entrevista
governo melhora
Por que oexcessodomundovirtualpode
políticas públicas;
prejudicar;
Vocêc o n se g u e EDITORIAL
imaginar Articulação de forças
m u n i c í p i o S COM Como a História mostrou n a s últimas décadas, o crescimento

cidadãos econômico e a tecnologia, sozinhos, n ã o g a r a n t e m a criação de


emp rego s, o co mb ate à desigualdade e o b e m estar d as p esso as e m
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS
DE SÃO PAULO DA FUNDAÇÃO GETULIOVARGAS

s a t i s f e i t o s com u m me i o a mb i e n t e saudável. DIRETORLuiz Artur Brito

A d esco nce nt ra ç ão d o p o d e r eco nô mico e a diversificação d a s


os serviços atividades e n t r a r a m n o r a d a r d e estud io so s c o mo e l e me n t o s
t a m b é m necessário s p a r a e n fr e n t a r a crise d o capitalismo q ue
p ú b l i c os? suced eu o s a n o s d o urad o s d o P ó s-Guerra – e n s i n a o professo r
Arilson Favareto n a Entrevista d e s t a edição.
COORDENADOR Mario Monzoni

JORNALISTAS FUNDADORAS Amália Safatle e FlaviaPardini

EDITORA Amália Safatle

EDIÇÃO DE ARTE José Roosevelt Junior


Isso é possível A p a r t i r disso, u m e l e m e n t o crucial p a s s o u a fa z e r p a r t e www.mediacts.com

d o s d e b a t e s s o b r e d e s e n v o l v i me n t o : o s territó rio s, s u a s ILUSTRAÇÕES José Roosevelt Junior (seções)


e j á está caracter íst i ca s p r ó p r i a s e s u a s p luralid ad es. O Brasil, e n t r e t a n t o , EDITORA DE FOTOGRAFIA Flavia Sakai
REVISOR José Genulino Moura Ribeiro
GESTORA DE PRODUÇÃO Bel Brunharo
aco n t e cendo! t e m c a minha d o n a contramão n a medida e m que a ssume u m
mo d e l o d e d e s e n v o l v i me n t o b a s i c a m e n t e m o n o t e m á t i c o e COLABORARAM NESTAEDIÇÃO
Andrea Vialli, Arthur Fujii, Bruno Gomes,
Diego Viana, Fábio Rodrigues, Magali Cabral,
c o n c e n t r a d o r d e riq uezas. Ricardo Young, Sérgio Adeodato

JORNALISTARESPONSÁVEL
Daí a i mp o r t â n c i a d e p e n s a r o d esenvo lvi m e nto o l h a n d o p a r a Amália Safatle (MTb 22.790)

a s especificidades d e cada território – e n t e n d e n d o território ANUNCIE


Para informações sobre anúncio no website
c o mo u m a ideia q ue s e b aseia so b retud o e m identidad es, e n ã o e no pdf da edição disponível para download,
contate Bel Brunharo:

Conheça o novo Programa Serviços públicos de nova geração, n e c e s s a r i a m e n t e e m fro nteira s geopolíticas. belbrunharo@pagina22.com.br

Qualidade dos Serviços Públicos, em sintonia com a nova Lei


iniciativa da Agenda Pública para 13.460/2017, um estatuto que Não é t a r e fa fácil, co nsid era nd o q ue cada território c o n t é m u m a REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO
Avenida Nove de Julho, 2029, 11ºandar - São Paulo - SP

apoiar a construção de serviços define os direitos dos usuários do co nj unto diversificado d e forças sociais, mu i t a s vezes co nflitantes (11)3799-3212 /leitor@pagina22.com.br
www.fgv.br/ces/pagina22
e n t r e si. O desafio – e a beleza – d a g o v e r n a n ç a territorial é
públicos de alta qualidade, ágeis e serviço público. CONSELHOEDITORIAL
co nsegu ir articular e s s a s forças e id entid ad es únicas e m t o r n o d e
eficientes, satisfazendo expectativas Ana Carla Fonseca Reis, Aron Belinky,
José Eli da Veiga, Leeward Wang,
projetos e m prol d o d esenvo l vi m e nto local e nacional.
e necessidades de cidadãos cada vez Mario Monzoni, Pedro Telles,
Roberto S. Waack, Rodolfo Guttilla

mais exigentes. IMPRESSÃO: Braspor Gráfica e EditoraLtda.


Mais q ue d i s s e mi n a r o conceito d a g o v e r n a n ç a territorial, e s t e TIRAGEM DESTA EDIÇÃO:1.000 exemplares

Projeto Especial, produzido e m parceria c o m o Instituto Lina Os artigos e textos de caráter opinativo assinados
por colaboradores expressam a visão de seus autores,
Galvani, m o s t r a c o mo colocar e s s e d eb ate n a prática, co nsid era nd o
Conheça o P r o g r a m a n o s i t e não representando, necessariamente, o ponto devista
de PÁ9ıNAZZ e do FGVces.
o s diversos atores: o s go verno s, a s e mp r e s a s (por me i o d o
agendapublica.org.br I n v e s t i me n t o Social Privado), a s o rganizaçõ es d a sociedad e civil e o
cidadão interess ad o e m p articip ar d e i n s t â n c i a s d a a g e n d a pública.

Boa leitura! A REVISTA PÁGıNA22 ADERIU À LICENÇA


CREATIVE COMMONS. ASSIM, É LIVRE
A REPRODUÇÃO DO CONTEÚDO – EXCETO
IMAGENS – DESDE QUE SEJAM CITADOS COMO FONTES A PUBLICAÇÃO E O AUTOR.

PÁGINA22 JUNHO 2018 3


PROJETO ESPECIAL Use o QR Code para acessarPÁGıNA22
gratuitamente e ler esta e outras edições ÍND ICE

Transformando juntos
Há 15 anos, dedicamo-nos a identificar e ap o iar iniciativas q u e c o n t r i b u a m p a r a
ampliação das capacidades para as co munida des liderare m sua t ra nsfor ma ç ão
social. Evidenciamos o p otencial d o s ato r es locais p a r a q u e p e r c e b a m s e u p ap el n o
d es e n vo l vi me n to d a co munid ad e . Ao lo ngo d e ss a trajetória, co nso lid amo s o princípio
d e que, e m vez d e fazer pelo o utro, d e v e mo s fazer com o o utro , visando co mu nid ad es
sustentá v ei s articuladas e m red es sociais solidárias.
Co ntr ib u í mo s p a r a a f o r m a ç ã o d e s s a s r e d e s n a s localidad es o n d e n o s s a s asso ciad as
o p e r a m e a t u a m n o d e s e n v o l v i m e n t o co mu n it ár i o . N es s e p ro cesso q u e e n t e n d e m o s
c o mo si ngul ar, n ã o é possível utilizar u m a fó r mul a p r o n t a , e s i m a b o r d a g e n s
q u e r e s p e i t e m c ad a r e a l id ad e . D e s d e 2 0 0 9 , f a z e m o s u s o d a T erap ia C o m u n i t á r i a
Integrativa, q ue utiliza o f o r ma t o d e Rodas d e Conversa c o mo i n s t r u m e n t o facilitador de

ARTHURFUJII
ap r o xi maç ão c o m a s c o m u n i d a d e s , d e d iagnó stico s particip ativo s e d e fo r t a l e c i me n t o
d o tecido social. A f e r r a m e n t a o ferece possibilid ades d e esc uta, fala e a c o l h i me n t o ,
cr iand o vínculo s p a r a q u e a p r ó p ri a c o m u n i d a d e t e n h a co nd içõ es d e s e articular e
6
ENTREVISTA
e n c o n t r a r saíd a p a r a s u a s d e m a n d a s .
Ao d e p a r a r m o s - n o s c o m a s q u e s t õ e s d e cad a te rritó rio ( C a mp o Alegre d e Lo u r d e s -
Camifthos p a r a o deseftvolvimeftto
BA, Luís Ed uardo Magalhães -B A, Serra d o Salitre -MG e Jaguaré, e m São Paulo -SP) A diversificação e a desconcentração das atividades econômicas ampliam asoportunidades, evitando
a desigualdade e o desemprego, diz Arilson Favareto. Mas o Brasil tem ido na contramão
e n t e n d e mo s a necessidade de fo r ma ta r parcerias e fo r ma r redes multisetoriais,
p r o p o r cio n a nd o u m a g o v er n a n ç a c o m a p articip ação f u n d a m e n t a l d o p o d e r público, 1ft C a p a Saiba como a participação articulada de diversos atores locais, em novos arranjos institucionais, pode ajudar
a resolver ou minimizar problemas complexos da sociedade
seto r privado e sociedade civil. Tais “p o d e r e s ” estão p r e s e n t e s n a s reflexões p ro mo vid as
e m n o s s o s e v e n t o s b ianuais “Dialo gand o ” . 18 Participação Para fazer as políticas públicas darem o salto de qualidade que todos esperam, será preciso tornar
mais porosos os limites entre o governo e os cidadãos
Na ú l t i m a e diç ão, e m 2017, o e n c o n t r o t r a t o u do t e m a “ G o v e r n a n ç a p a r a o
Dese n vo lvi me nto Territorial”, q u e insp iro u e s t a publicação. A p ar ceria f i r m a d a c o m A busca pela licença para operar dá vez ao olhar territorial, levando às
ftft I f t v e s t i m e f t t o S o c i a l P r i v a d o
empresas o desafio de operar pela lógica do bem comum –e não sódo privado
a P ÁGINA 22 d á co nti n u id a d e ao diálogo so b r e o desafio d e p e n s a r e p r o p o r fo r m a s d e
go v er n a n ç a q u e n o s f a ç a m alcançar u m a co nvergência equilibrada d e ato r es , esforços, Empreendimentos na Amazônia mostram que o licenciamento ambiental não basta. É preciso
ft6 G r a f t d e s o b r a s
i n v e s t i me n t o s , r ecur so s e ativos n o territó rio , e m t o r n o d e u m a a g e n d a c o m u m . haver também um planejamento territorial integrado

Agr adecemos a to d o s q ue co ns tr uí r a m conosco e s t a edição t ão especial pois, a l é m d e d ar 30 Na prática Embora a governança territorial não tenha uma “receita de bolo”, alguns elementos são determinantes
luz a u m a temática tão significativa, brinda a co memo ração d e no sso s 15 a n o s d e história! para garantir sua efetividade. Já outros fazem a massa desandar

SEÇÕES CAPA: STORYBLOCKS

De to do s n ó s , do Instituto Lina Galvani 4 Projeto Especial 17 Artigo I 34 Artigo II

4 PÁG INA 2 2 JU N H O 2018 PÁGINA22 JUNHO 2018 5


ENTREVISTA ARILSON FAVARETO

Da retórica à prática
POR AMÁLIA SAFATLE FOTO ARTHUR FUJII

Desde os anos 1970, crescimento econômico e tecnologia deixaram de ser suficientes para garantir um
desenvolvimento que combatesse o desemprego, a desigualdade e trouxesse bem-estar para a popu-
lação em um ambiente saudável. Nesta entrevista, Arilson da Silva Favareto mostra por que olhar para
as especificidades dos territórios passou a ser cada vez mais importante nessa equação. O professor
baseia-se nos estudos referenciais do sociólogo italiano Arnaldo Bagnasco, que identificou ao menos
dois elementos cruciais para enfrentar o período que sucedeu a crise do capitalismo fordista, o qual pôs
fim aos anos dourados do Pós-Guerra. São eles: a diversificação e a desconcentração das atividades
econômicas. Com isso, ampliam-se as oportunidades, evitando a desigualdade e o desemprego já no
momento em que as riquezas são criadas.
Transpondo para o Brasil, Favareto observa que caminhamos na contramão: nosso modelo de desen-
volvimento é monotemático, especializado em poucos bens primários, e altamente concentrador de
riqueza, exigindo políticas redistributivas de renda para remediar as mazelas sociais.
Embora o conhecimento teórico sobre desenvolvimento territorial tenha ganhado corpo no Brasil, há
grandes dificuldades de articular sua prática. Uma delas, segundo o professor, é de ordem política,
porque o território não é um ator, não é uma formação social, e sim uma pluralidade de forças sociais.
“Para que se possa influir substancialmente na trajetória de um território, é preciso uma coalizão de
forças sociais articuladas, convergindo em torno de um projeto. Isso é extremamente difícil, porque em
geral os atores não têm acordo sobre esse futuro, na verdade disputam entre si”, afirma. Diante disso,
ele propõe uma discussão sobre as potencialidades territoriais que podem nos levar na direção de uma
economia maisdiversificada.

Professor da Universidade Federal do ABC, atua na área de sociologia econômica em temas relativos a instituições e políticas para o desenvolvimento
territorial sustentável. É sociólogo pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC), mestre em Sociologia pela Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) e doutor em Ciência Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP).

6 PÁG INA 2 2 JU N H O 2018 PÁGINA22 JUNHO 2018 7


ARILSON FAVARETO

Não diria que a governança


Por que a expressão território entrou na como mostra a obra recente do [economista fran- desconcentração de oportunidades que permite à
retórica dos gestores públicos e, mais cês] Thomas Piketty. A característica marcante do sociedade de um território participar das decisões
recentemente, dos atores de Investimento capitalismo do século XXI é a desigualdade. E esta sobre o seu futuro e com isso evitar caminhos que
SocialPrivado? se expressa entre classes sociais, raciais, de gêne-
ro e entre territórios. Posteriormente aos anos 70,
levem ao esgarçamento desse tecido territorial. territorial é pouco praticada.
Um marco da entrada do termo “território” nas
discussõesdegovernançaterritorialfoiapublicação
em1977do livro do sociólogo Arnaldo Bagnasco, so-
o crescimento econômico e a tecnologia deixam de
ser suficientes para se pensar em uma perspectiva
Transpondo para oBrasil, comoessa prática
tem sidoaplicadapela gestãopública?
E, sim, que é mal praticada
bre o desenvolvimento da Itália. O momento era do na qual as regiões tivessem futuro garantido. Olhar Oconceitoémuito falado,mas pouco
fim da expansão do capitalismo do Pós-Guerra, que para as especificidades do território ou das regiões praticado? movimento social vai conseguir organizar esses fa-
nos anos 50 e 60 havia sido de forte crescimento passa a ser cada vez mais importante. Eu não diria que é pouco praticado. E, sim, que é tores na direção de uma maior sustentabilidade dos
econômico e expansão do bem-estar. A partir dos mal praticado. Ou seja, houve uma incorporação do recursos naturais com expansão do bem-estar das
anos 70, com a crise do modelo fordista, por conta No caso da Terceira Itália, que elementos adjetivo “territorial”, mas, em muitos casos, seja em pessoas. Note que governança remete a um conjun-
da revolução tecnológica e da crise do petróleo, que específicos levaram a uma trajetóriamais estudos, sejaemexperiências, sejaem políticas, não to de domínios e é extremamente difícil operar com
reduziu a disponibilidade financeira no mercado in- virtuosa? houve a correspondente mudança cognitiva. Falar esse conjunto de instâncias da realidade. Então não
ternacional, o desemprego passou a ser componen- Desde o livro inaugural do Bagnasco há uma de território é falar de espaços, dos recursos que é de espantar que, quando esse debate científico so-
te marcante do capitalismo contemporâneo. grande controvérsia na literatura sobre os fatos existemneles edasformas deapropriação eusoque bre o conceito de território migra para o campo das
O estudo do Bagnasco perguntava: existe na Itá- que fazem um território ter trajetória virtuosa ou sempre envolvemconflitosentre os atores egrupos políticas públicas ou para as formas de governança,
lia alguma região conseguindo escapar? A resposta não. Ele chamou atenção para duas característi- que lá estão. O primeiro componente importante ele passa por uma simplificação.
era “sim”. A surpresa é que não se tratava nem do cas. A primeira é: quanto mais diversificada for a dessa ideia é: falar em território é falar em conflito, E aí chego na sua pergunta anterior. Quando fa-
Norte, de alto desenvolvimento tecnológico indus- economia do território, melhor, porque até então o conflitoemtornodasformas deusar seusrecursos. lamos de América Latina, e de Brasil em particular,
trial, e nem do Sul agrícola ,com mão de obra barata paradigma era o da especialização. Antes, regiões O território torna-se uma espécie de categoria- houve uma atualização discursiva –cada vez mais se
edisponibilidadedeterras– masjustamentearegião altamente especializadas iam melhor, mas ele mos- -síntese que nos permite abordar pelo menos três fala em território –, mas não nos marcos cognitivos:
central da Itália, que ficou conhecida como Terceira tra que, no atual momento do capitalismo, quando tipos de interdependência que a literatura havia as pessoas continuam não olhando para os territó-
Itália. Com isso, começa-se a olhar as característi- há uma crise em um determinado mercado, a diver- separado. A primeira dicotomia que a ideia de ter- rios com a complexidade que o conceito exige. Essa
casquefazemdeterminadaregiãosediferenciardas sificação funciona como um colchão que amortece ritório tenta reunificar é entre sociedade e nature- éuma primeira dificuldade. A segunda tem aver com
demais e experimentar uma trajetória mais virtuosa os impactos e o território busca outras opções. za, pois fala da base natural da qual esse território capacidades técnicas. Durante todo o século XX, o
em termos de crescimento econômico, geração de depende e dos sistemas sociais que se estruturam território era passivo, ouseja, umespaço querecebe
emprego, e assim por diante. Depois, nos anos 80 e É como diversificar orisco eminvestimentos? para utilizar essa base de recursos. A segunda dico- investimentos. A partir dos anos 70, começa-se a
sobretudo nos 90, a União Europeia começa a fazer Exatamente. E a segunda característica é a des- tomia que vem superar é entre local e extra-local, olhar para o território com propriedades ativas: a
estudos comparados para tentar entender quais os concentração. Quantomais concentrada aatividade ou seja, como determinada unidade espacial locali- maneira como os fatores territoriais estão dispos-
territórios que estão gerando emprego em um con- econômicaem umterritório, é mais difícil que o con- zada estabelece relações com as forças exógenas. tos é constitutiva da trajetória do desenvolvimento
texto de crise. E, finalmente, na virada dos anos 90 juntodeatores ali presentes consigamcriar alterna- E a terceira interdependência envolve as relações naquele local. Isso é uma mudança de paradigma e,
para os 2000, esse debate chega à América Latina. tivas em momentos de crise. Temumoutro aspecto entre Estado, sociedade e mercado. como tal, sempre muito lenta. Nossos atuais geó-
ligado à desconcentração. Em uma economia mais Na literatura sobre governança, vamos encon- grafos, economistas, sociólogos, cientistas políti-
Chegaaquiporque nessa épocatambém desconcentrada, pode-se combater a desigualdade trar uma visão “estadocêntrica”, ou excessivamente cos –enisso eumeincluo –nãoforam formados com
entramos emcrise? na origem da criação da riqueza. pautada nas forças de mercado ou na sociedade ci- a nova visão. É natural que a gente tenha algumas
O que aconteceu na Europa dos anos 70 para Hoje, no Brasil, temos o contrário disso: um mo- vil. E a ideia de território convida justamente a que se décadas de aprendizado para que se possa dar ao
80 – o desemprego estrutural, aquilo que alguns delo econômico muito concentrado e especializado. pense nas formas de cooperação ou conflito entre território o tratamento que o conceito reivindica.
chamam de onda neoliberal –, chega na América A gente tem passado por um processo de desin- atores. Somente o mercado não perfaz o território, E a terceira dificuldade é política, porque o ter-
Latina 15 a 20 anos mais tarde. Por isso, o debate dustrialização e especialização em bens primários somente o Estado não molda o território, e somente ritório não é um ator, não é uma formação social,
territorial também chega uma década e meia de- produzidos de maneira muito concentrada. Então asociedade não consegue governaro território. e sim uma pluralidade de forças sociais. E, para
pois. Até meados do século passado, havia uma ex- pensamos em políticas redistributivas – pois é pre- que se possa influir substancialmente na trajetória
pectativa de que o capitalismo seria expansivo, ou ciso ter uma forte política social para compensar os Precisa dacooperação? de um território, é preciso uma coalizão de forças
seja, mais cedo ou mais tarde as regiões e os países efeitos da desigualdadedo modelo econômico. É necessário algum tipo de cooperação, ainda sociais articuladas, convergindo em torno de um
seriam envolvidos na expansão das atividades pro- No caso da Terceira Itália, a própria forma de que conflitivo, entre esses tipos de atores. Por isso projeto. Isso é extremamente difícil, porque em ge-
dutivas. Mas, após os anos 70, isso se quebra com produção da riqueza já se dava de forma descon- a ideia de governança é tão importante para o de- ral os atores não têm acordo sobre esse futuro, na
a revolução tecnológica da microeletrônica e, mais centrada. Não é só a questão de distribuição da ri- bate sobre desenvolvimento territorial. Se o terri- verdade disputam entre si.
tarde, com a integração comercial nos anos 80 e queza, mas de um modelo de organização social no tório envolve uma base de recursos, as formas de
90 –aquilo que se convencionou chamar de globali- qual os atores desse território são, desde o primei- sua apropriação, e a forma como localmente essas NoBrasil, queexperiênciasexemplificam
zação. A reestruturação industrial e o desemprego ro momento, dotados dos recursos, dos capitais e coisas se condicionam pelas forças externas a esse essa dificuldade?
chegam por aqui nos anos 90. dos trunfos para poder participar da vida social e território, é inimaginável pensar que unicamente a No caso brasileiro há um marco para a
A desigualdade, então, passa a ser estrutural, influir nos rumos dessa sociedade. Trata-se de uma atuação de uma empresa, de um governo ou de um entrada desse debate territorial. Os primeiros

8 PÁG INA 2 2 JU N H O 2018 PÁGINA22 JUNHO 2018 9


ARILSON FAVARETO

O Territórios da Cidadania foi Nosso modelo econômico


formas de uso dos recursos naturais sem ciência e rística de transitar entre diferentes universos. Ele
tecnologia? Como conciliar expansão do bem-estar trabalhava em uma secretaria ligada à Secretaria
com uso sustentável dos recursos naturais sem ser de Planejamento da Bahia e, ao mesmo tempo, tinha
um programa periférico em por meio de uma nova economia? entrada muito forte no mundo acadêmico e proxi-
midade com as pessoas que mencionei, o Zé Eli da
gera dependência do
um ministério periférico Essa divisão entre ministérios mostra a
diferençadepoder dentro dogoverno?
Veiga, o Abramovay. Por essa posição que ocupa-
va entre os dois mundos, conseguiu influenciar a
Bolsa Família para sempre
Mostra que tem os ministérios para os pobres burocracia governamental no momento em que o
trabalhos acadêmicos que começam a asso- e tem os ministérios para a competividade e o dina- debate territorial estava tomando forma em uma
ciar território e desenvolvimento são de auto- mismo econômico. Isso é coerente com a linha do direção mais coerente com os debates acadêmicos
res como José Eli da Veiga e Ricardo Abramovay, modelo social-desenvolvimentista. Costumo dizer e científicos. A discussão entra pela Secretaria de
que vêm do campo das discussões ambientais. A que é um modelo esquizofrênico. Ele teve um papel Planejamento, e não pela de Agricultura. ria. Esta é uma baita discussão. Mas, se é verdade
preocupação desses autores era: temos de en- importante de colocar o social no centro da agenda que essa equação pode ser posta dessa maneira,
contrar caminhos que diminuam a desigualda- do Estado, mas de maneira mal-arranjada, porque, Isso dá outrostatus. temos de fazer uma outra pergunta: o que pode-
de espacial e que essa diminuição se dê em uma ao mesmo tempo em que tínhamos uma agenda Sim, pela capacidade de mobilizar recursos e in- mos fazer para evitar que daqui a 10anos tenhamos
direção de usar melhor os recursos naturais, social, com prioridade para os mais pobres, para fluenciar outras políticas. Já no caso do governo fe- um Belo Monte II? Porque sabemos que o grande
fortalecendo a conservação. Isso vai se tradu- a redução de desigualdade, tínhamos também um deral, os atores que implementaram a retórica ter- potencial hidrelétrico brasileiro está na Amazônia.
zir no embrião de política pública até a política de modelo econômico gerador de desigualdades, al- ritorial eram marcados pela velha retórica setorial. Então, a cada vez vamos ficar vítima desse dilema
desenvolvimento territorial do governo federal, tamente especializado e nocivo do ponto de vista tão estreito? Ou vamos discutir de que forma as
na virada do governo FHC para o governo Lula. de impactos ambientais. Durante um tempo essas O que significa retórica setorial? É uma especificidades brasileiras podem ser mais bem
O auge dessa tentativa teria sido o programa coisas acabavam se equilibrando, porque a gente característica mais corporativa,dedefender aproveitadas na direção de resolver, sim, a deman-
Territórios da Cidadania, uma experiência fra- vivia um período econômico muito favorável. Mas, os interesses daquelesetor? da energética, mas com conservação ambiental e
cassada, apesar da enorme importância sobre- quando vem a crise financeira de 2007/2008, a pos- Basicamente isso. Por exemplo, o rural é cate- bem-estar da população – o que abre para discutir
tudo para a disseminação da retórica territorial. sibilidade de equilibrar essas contradições diminui goria espacial, a agricultura é uma categoria seto- a diversificação das fontes de energia?
Na virada para o segundo mandato do governo muito. A partir daí, começa a crise cujo ápice se dá rial. Fala-se em desenvolvimento territorial, mas Vamos pegar outro exemplo, a expansão da
Lula, criou-se o PAC [Programa de Aceleração do em 2014/2015, com a interrupção do segundo man- coloca-se dinheiro em uma atividade agrícola. Per- agropecuária. De novo, a chantagem: sem agrone-
Crescimento], e algumas pessoas começaram dato do governoDilma. de-se a diversidade do território. E não é só onde gócio, o Brasil não vai crescer, se não crescer não
a dizer: “O governo precisa ter uma marca social se coloca o dinheiro, mas também quem participa. tem emprego etc. Quando a discussão toda deveria
da mesma envergadura do PAC”. Então, montou- Existem experiênciasbem-sucedidas? Cria-se um fórum territorial, mas quem vai? Só ser: com aperspectiva de 20 ou30 anos, que modelo
-se o Territórios da Cidadania, um programa pe- Com o tempo, outros agentes, como o BNDES e o os atores da agricultura. No caso do Investimento econômico queremos? Queremos ser um grande ex-
riférico, em um ministério periférico que era o Ministério do Planejamento, passam a falar em ter- Social Privado, muitas vezes acontece o mesmo. portador de soja, carne e quase nada mais? Ou usar
Ministério do Desenvolvimento Agrário [MDA]. ritorialização de suas ações. Isso criou um campo de Fala-se em território, mas são mobilizados apenas esses recursos para fazer uma transição de paradig-
Em seguida tentou-se dar uma amplitude ao inovações interessantes. As melhores experiências os atores ligados ao do setor em que se está atuan- mas da nossa organização econômica? (mais sobre
tirá-lo do MDA e levar para a Casa Civil, em tor- não estão no governo federal. Quem tem ido mais do, ou os que são afetados pelo empreendimento. agronegócioem p22on.com.br/desmatamento)
no do qual se articulavam 19 ministérios. Só que longe é o governo da Bahia. Desde o meio da déca- Isso é um viés setorial. O ponto de vista é sempre o A agropecuária [concentrada em poucas cultu-
com dois problemas. Primeiro: não havia articu- da passada, a Bahia busca implementar um plano setor envolvido, e não o território. ras] é uma atividade que não gera muitos empregos.
lação. O governo disse que os ministérios deviam plurianual territorializado. Inclusive na construção Estamos gerando riqueza, mas, ao mesmo tempo,
priorizar suas ações em cercade 100 territórios. do plano houve um projeto de escuta, de consulta E issoé um problema. gerando desigualdade. Aí tem de fazer Bolsa Famí-
Então, pode-se notar que foi um programa de aos territórios, no sentido de estabelecer as priori- Isso é um grande problema. Quando falamos de lia, criar não sei o quê... E asociedade fica dizendo:“O
cima para baixo, em vez haver um pacto com dades. Há tentativas de construir bases de serviço território, é como se tratasse de três camadas. A Bolsa Família não pode ser para sempre!” Mas o nos-
projetos no âmbito do território, e os ministé- de assistência técnica, organizadas em bases terri- primeira camada pode ser traduzida em uma per- so modelo econômico gera dependência do Bolsa
rios continuaram a fazer o que já faziam antes. toriais. Ainda é muito marcado pelo rural, mas tenta gunta: qual é o lugar que o território, na sua plu- Família para sempre. Para discutir o modelo do de-
ampliar-se para mais setores e para o conjunto de ralidade, ocupa em uma estratégia de desenvolvi- senvolvimento econômico, a discussão é justamen-
Ou seja, subvertendo o próprio conceito de instrumentos da gestão pública. mento? Vamos pegar o episódio de Belo Monte: ali, te sobre quais são as potencialidades territoriais que
governança territorial, que é a cooperação o campo se estabelece a partir de um campo muito podem nos levar na direção de uma economia mais
entre as váriasforças. E por queaBahia? Foi por acasoouhouve limitado de soluções. A questão é colocada assim: diversificada. Hoje, a perspectiva do Brasil é:vamos
Exatamente. E o segundo problema foi que, en- motivos específicos? “Se a gente não fizer, haverá uma crise de energia. exportar bens primários e ponto.
tre os 19 ministérios, estavam fundamentalmente É uma boa pergunta. Minha opinião é que ocor- E se houver uma crise de energia, o setor privado
os sociais – Educação, Saúde, Igualdade Racial. O da reu um quase acaso quando havia nos anos 2000 será afetado. E isso afeta também o emprego”. Para ler a continuação desta entrevista, acesse a versão digital em pagina22.com.br, em
que Favareto expõe quais são as demais camadas do desenvolvimento territorial, os três
Indústria não estava, o da Ciência e Tecnologia não uma pessoa, [o economista] Vítor de Athayde Filho, Então existe quase que uma chantagem segun- “Brasis” que coexistem no território nacional e os riscos de não se aproveitaremas
estava. O do Meio Ambiente estava, mas como fa- filho de um professor da Universidade Federal da do a qual os interesses da maior parte da sociedade oportunidades geradas pela Agenda 2030 (mais sobre ODS à pág. 17) e pela estabilização
demográfica.
zer desenvolvimentoterritorial pensando emnovas Bahia, que morreu tragicamente e tinhaa caracte- não podemser sacrificadosemnome deumamino-

10 PÁG INA 2 2 JU N H O 2018 PÁGINA22 JU NHO 2018 11


REPORTAGEM CAPA

F
r eq uent a r as u r n a s a cada dois a nos
para escolher candidatos para as
instâncias federal, estadual ou m u -
nicipal é suficiente p a r a ver mos
n o s s a s n e ce s s id a d e s o u a s p ir a çõ e s

Democracia
concretizadas? E m u m a mb i ent e globali-
zado, parece contraditório exercer f o r ma s
c o m p l e m e n t a r e s d e c o n s t r u ç ã o c o l e t i va , e m
contrapont o às soluções padr onizadas pa ra

em essência uni versos repletos de diversidade e de p e r s -


p e c t i v a s p r ó p r i a s . Os g o v e r n o s , m e s m o q u e
bem-intencionados, n e m semp r e são efeti-

Como a participação articulada


vos n a realização des s es ans eios, t a m a n h o
o déficit d e o f e rta d e serviç os à p op u la ç ã o .

de diversos atores locais pode


Assim, a soci eda de r e o r ga n i z a - s e e m n o vos
arranjos institucionais, n o que é c h a ma d o de

ajudar a resolver ou minimizar


governa nça territorial.
“A i d e i a d e g o v e r n a n ç a t e r r i t o r i a l h o j e

problemas complexos
é a de u m espaço m a i s a mp l o de articulação
de diferentes atores da sociedade pa ra defi -
n i r c o i s a s públicas”, d e f i n e o p e s q u i s a d o r d o
P O R M AG ALI CABRAL F O T O E L E M E N T S
Cent r o de Est udos de Admi ni s t ra çã o Pública
e G o v e r n o (CEAPG) e p r o f e s s o r d o D e p a r t a -
m e n t o de Gestã o Pública da Fundação Getulio
V a r g a s (FGV), F e r n a n d o B u r g o s .
S e g u n d o e l e, o c o n c e i t o d e g o v e r n a n ç a
s u r g i u n o B r a s i l n o s a n o s 1990, q u a n d o o B a n -
co Mundial começ ou a sugerir que os gover -
n o s n ã o f u n c i o na va m b e m e a solução seria a
iniciativa p ri va da part icipar m a i s da s a d m i -
nistrações . Vei oaondadepr i vatizações . Mais
t a r de, p e r c e b e u - s e q ue a ideia de g o ve r na nç a
p oder i a r es p o n d e r a o desafio, e n ã o s i m p l e s -
m e n t e alocar agentes privados par a as s umi r
tarefas de governo.
Se o Esta do s oz i n h o n ã o dava c ont a de r e -
solver t odos os p r ob l ema s, u m a es fera m a i s
a mp l a de participação, mui t o a l é m do e m -
presariado, fazia-se necessária . Neste ponto,
r e p r e s e n t a d a p e l o T e r c ei r o S e t o r , a s o c i e d a d e
ci vi l t a m b é m e n t r a e m c e n a p a r a p a r t i c i p a r
da s dec isões públicas. Assim, g o ve r na nç a
p a s s a a significar, c o n f o r me Burgos, o Esta do
abert o à participação de diversos atores, n a
m a i o r p a r t e da s vezes n o p r oc ess o decisório,
m a s e m mui t os casos t a m b é m n a i m p l e m e n -
tação das políticas públicas.
“ Q u a n d o o a d j e t i v o ‘ t e r r i t o r i a l ’ f oi i n c o r -
porado ao conceito de governança, criou-se

12 PÁG IN A 2 2 J U N H O 201 8 PÁGINA22 JU NHO 2018 13


CAPA

u m a referência a espaços ma i s circunscritos to, o País p er c eb e u q ue es s e r ec or te territorial 2016, e n c e r r o u d e f i n i t i v a m e n t e a s c h a n c e s e m relação ao m u n d o da infor mali da de e do
d o País”, e x p l i c a e l e. A i d e i a d e t e r r i t ó r i o b a - era i mp or t a nt e pa ra a gestão de recursos h í - do p r o g r a ma que apoiou ma i s de 2 00 t er ri tó - i l í c i t o. A p e s a r d a g r a n d e p r o p o r ç ã o q u e e s s a
seia-se e m identidade e nã o necessariament e dricos e apostou nes s a dinâmica .” rios, m a s deixou a l g u n s legados . U m deles n o realidade v e m a s s u mi n d o dent r o da s oci e-
e m f r ont ei r a s muni c i pa is . Por exemp l o, s e o Outra f or ma de organização territorial que estado da Bahia, que n ã o só nã o desfez o r e - d a d e b r a s i l e i r a , e s s a d i m e n s ã o a i n d a n ã o f oi
pr opósit o de u m a ação for p r o mo v e r o d e s e n - v e m f unc i ona ndo, s e g u n d o Dal Fabbro, sã o c o r t e t e r r i t o r i a l c r i a d o p e l o PTC c o m o i n s t i - introduzida n a s ações de gover nança t er r i t o-
v o l v i m e n t o l oc a l , a a b r a n g ê n c i a t e r r i t o r i a l o s c o n s ó r c i o s p ú b l i c o s . Os m u n i c í p i o s e n t e n - t ui u u m ma r c o legal p a r a es s a c onf o r ma ç ã o rial. “ Se é preciso negociar c o m os agentes do
p ode estar circunscrita a u m d et e r mi na d o d e r a m que, s oz i nhos , n ã o t i n h a m força s u f i - territorial n o que concerne à i mp l ement açã o c r i m e p a r a e n t r a r e m d e t e r m i n a d o s locais,
muni c í p i o ou a u m a região, ou m e s m o e x t r a - c i e n t e p a r a a t ua r n a s á r e a s de s a ú d e , educação d e p o l í t i c a s p ú b l i c a s . O u t r o , f oi a e x p e r i ê n c i a s i g n i f i c a q u e n a q u e l e t e r r i t ó r i o já e x i s t e u m a
p ol a r f r ont ei r as estaduais . Ou seja, o conceito ou resíduos sólidos, p or ex emp l o. “ B us c a r a m adquirida por mui t os dos atores que partici- ação de gover nança que nã o está n e m sob o
det er r i t ó r i onã oé f ec ha d o . Aocontrário, p ode u m a coordenação ent r e municipalidades p a r a m d e s s e p r o c e s s o a o l o n g o d o s 14 a n o s do mí ni o institucional do governo, n e m de
ter as ma i s variadas conformações . para, juntos, e n f r e nt a r e m esses desafios de des de a instituição da política de d es e n vo l - fundações, ta mp o uc o de organizações nã o
“ D i r c e Koga [ p r o f e s s o r a n o P r o g r a m a d e f or ma sistêmica. E muitos estão conseguindo v i m e n t o t e r r i t o r i a l (mais sobre Territórios da governa mentais” .
E st u d os P ó s - G ra d u a d o s e m Serviço Social b o n s r es ul t ados”, o b s e r v a . Cidadania na E n t r e v i s t a à pág. 6). Ma s c o m o inc luir o ilícito n o p r o c es s o d e -
d a PUC/SP e p e s q u i s a d o r a d o C e n t r o d e E s t u - Mas esse c a mi nho para o sucesso nã o é H u m b e r t o O l i ve i r a f oi u m d o s p r o t a g o n i s - cisório da s políticas públicas n a prática? Pa r a
dos da s Desi gual da des Socioterritoriais] t r a z simples e mui t o m e n o s garantido, diz o d i - t a s . I d e a l i z a d o r d o PTC e h o j e r e p r e s e n t a n t e Koga , e m p r i m e i r o l u g a r , r e c o n h e c e n d o q u e o
Organização
com opropósito u m a ideia q ue e u gosto, q ue é a do território d e retor-executivo da Ag e nda Pública, Sérgio do Instituto Intera mericano de Cooperação p r obl ema existe e terá de ser enfr enta do. E m
de aprimorar a v i vê n c i a , a q u e l e e s p a ç o d o n o s s o c o t i d i a n o , Andrade. U ma das tarefas da organização que p a r a a Agricultura, da Colômbia, ele fala do segundo, p a r a nd o de priorizar ta nt o a busca
gestão pública, o n d e e s t a b e l e c e m o s n o s s a s conexõ es”, c o n t a ele c o m a n d a é j u s t a m e n t e facilitar es s a t r a - desafio q ue é l evar a ideia de participação p or defi nições e conceitos do q ue seja g o v e r -
a governança
democrática o p r o f e s s o r d a FGV. jetória, c o n s t r u i n d o u m a visão de l i d e r a n - popular ao mei o rural, onde as d e ma n d a s n a nç a territorial, e buscando c o mp r eender
e incentivar a Quer dizer, u m a p es s o a q ue m o r a n a c i da - ça p a r a que o gr up o constituído e m t or no de p or p r o g r a m a s sociais s e m p r e f or a m, e c o n - c omo ela se organiza n a realidade c onc r e -
Programa de
participação social t i n ua m sendo, muitas. “ Encontrávamos u m t a da s cidades brasileiras. “Por exempl o, do
d e d e São P a u l o t e r á u m e s p a ç o d e v i v ê n c i a q u e u m p r ob l ema consiga vencer as resistências acesso à casa
em todo oterritório
p o d e es t a r circunscrito, p or exempl o, e n t r e o burocráticas do funcionalismo que s e g u r a - s e nt i me n t o imediatista de busca por s ol u- p ont o de vista da dinâ mica, enq ua nt o a polí - própria para
brasileiro
famílias de renda
b a i r r o d e P i n h e i r o s ( Z o n a O e s t e d a c i da d e ) e m e n t e enc ont r a r ã o. “ Se h á u m a visão de l i - ções n a ma i or pa r t e dos territórios. O noss o tica pública p e r m a n e c e n o território s o m e n -
baixa e média
o d a B e l a Vi s t a ( C e nt r o ) . Q u a n d o a p r e f e i t u r a der a nç a , u m c a m i n h o c ons t r uí do p or vários desafio era conseguir t r a n s f o r ma r aquele te de segunda a sexta-feira e apenas durante lançado em 2009
instala u m eq ui p a me nt o público n o bairro do atores e u m p ont o de chegada, será ma i s fácil s e n t i m e n t o de ur gência da s p es s oa s e m visão o dia, o s a g e n t e s d o ilícito n ã o a r r e d a m o p é pelo Governo
Federal emparceria
C a m p o B el o ( Z o n a Sul), n ã o e s t a r á a t e n d e n d o i m p l e m e n t a r p o l í t i c a s o u mu d a n ç a s ” , a f i r m a . e s t r a t é g i c a p a r a a t e n d e r o i n t e r e s s e c o l e t i vo . nunca”, a f i r m a a a c a d ê m i c a .
com estados,
às necessidades daquele mor a d or de P i nh ei - Para Andrade, quanto ma i s próximo u m I s s o e r a a l g o m u i t o di f í c i l d e fazer”, r e c o r d a . municípios,
r o s . E o m e s m o v a l e p a r a A l t a m i r a (PA), p a r a determinado problema está da esfera m u - VISÃO MAIS QUENTE empresas e
entidades sem fins
P e t r o l i n a (PE) o u q u a l q u e r o u t r a c i d a d e . nicipal, me l h o r p a r a t r a b a lha r a gover nança FATORDIVERSIDADE Por si só, o p o d e r público, de fato, n ã o a l -
lucrativos
Na perspectiva do pesquisador de D e - territorial. Há ma i s proximida de n a s r el a - Di r c e Koga , d a PUC-SP, t r a z a l g u n s c o n t r a - c a n ç a e s s a v is ã o m ic r o d o s t e r r it ó r io s co m o a s
s e n v o l v i m e n t o Loc a l d o C e n t r o d e E s t u d o s ções, a l é m de a s q ues t õ es s e r e m m a i s c o n c r e - pont os sobre o t e ma da governança. Segundo d e s c r i t a s p o r D i r c e Koga . E, q u a n d o a p r e s e n -
e m S u s t e n t a b i l i d a d e d a F G V - E a e s p (FGVces), t a s . Por exemp l o, s e h á o projeto de u m a e s - ela, existe u m a c ontra diçã o n a gestã o d e d e - t a iniciativas de c i ma p a r a baixo, s e m a c o n -
M a r c o s Da l F a b b r o , o t e m a t e m u m s e n t i d o t r a d a p a s s a r n o me i o de u m município, ou de ter mi nadospr ogra masinsti t uci onais, q u e e s - tribuição dos atores que vivem o território, o
s e m e l h a n t e . P a r a el e, a c o m b i n a ç ã o e n t r e u m b a i r r o , n ã o é t ã o di f í c i l i d e n t i f i c a r e m - s e v a z i a m d e s e n t i d o o i n g r e d i e n t e “ territorial”, governo c omp r omet e o desenvol vi ment o de
u m d e t e r m i n a d o es paço geográfico e a e x - os impactos que serão gerados, os ga nha dor es reduzindo-o muito mais a u m a nomenclatura suas próprias ações. É c omo p e n s a a c o n s e -
pressão da sociedade dentr o daquele limite e o s p e r d e d o r e s . “ E é m u i t o m a i s fácil e n g a - do q ue o t o r n a n d o realidade. “ Temos u m a g o - l h e i r a e e x - d i r e t o r a d o Ins t i t ut o Lina Galvani,
configura governa nça territorial. “ Q ua ndo jar a s p e s s o a s c o m algo q ue es t á m a i s p e r t o v e r n a n ç a t e r r i t o r i a l n o B r asi l , n a m a i o r p a r t e C e c í l i a G a l va n i : “ As l i d e r a n ç a s l o c a i s c o n s e -
s e fala de territórios, de ges tã o d e m o c r á t i - d o m u n d o d e l a s . As p e s s o a s v i v e m a l i e s a b e m da s vezes, b e m m a i s a dmi ni s t ra t i va e b u r o - g u e m t er u m a visão m u i t o m a i s ‘quente’ dos
ca, p r e s s u p õ e - s e u m ol ha r difer enciado p a r a q u a i s s ã o s e u s p r ob l ema s ” , e x p l i c a A n d r a d e . crática do que u m a governa nça que de fato se t e m a s n o território. Esses aportes, n a t u r a l -
e s s a s l o c a l i d a d e s . Os l i m i t e s p o d e m s e d a r No entanto, n ã o existe garantia p a r a r e - a p r oxi me do cotidiano dos territórios.” me n t e , t ê m de conversar c o m a agenda do
por recortes que faça m senti do p a ra aquela sultados certeiros. Como diz Fer na ndo B ur - U m exemplo que se aplicaria a essa crítica gover no. Essa i nt egr ação de t oda s a s visões
s o c i e d a d e . ” D e a c o r d o c o m Da l F a b b r o , e s s a g o s , d a FGV, m e s m o q u a n d o b e m a p l i c a d o , é o d o p r o g r a m a M i n h a Ca s a M i n h a Vi da. é f u n d a me n t a l p a r a se conseguir soluções
va ria bilida de espa c ia l p e r m i t e o exercício d e e s s e m o d e l o d e exercício d e mo c rá tic o , q u e Idealizado por várias ca ma da s de agentes de sustentáveis, que f a ç a m sentido p a r a q u e m
u m a m e l h o r governa nça das políticas e ações é a governa nça territorial, será s e m p r e u m a g o v e r n a n ç a e i n s e r i d o e m u m a l ó gi c a d e t e r - a s e s t á r ec eb endo” , a r g u m e n t a a c o n s e l h e i r a .
s ob r e d e t e r m i n a d a localidade. aposta: “Pode ser que ajude a resolver p r ob l e- ritório, e n ã o d e m u n i c í p i o , o m o d e l o f o i u m s ó Iniciativasfomentadasnosterritóriosem
S e g u n d o o p esq uisa d o r, o Brasil t e m e x - m a s complexos.” p a r a t o d o o Brasil. Ig n o r o u p a r t ic u l a r i d a des c onf or mi da de c o m u m exercício de p a r t i c i -
p e r i me n t a d o gover nança territorial e m d i s - U m a g r a n d e a p os t a, feita e m 2 00 8 p el o s o c i a i s , c u l t u r a i s e g e o g r á f i c a s . “A l ó gi c a d a s p a ç ã o p o p u l a r (de b a i xo p a r a cima), s e g u n d o
t i ntas situações, a exempl o dos comitês de g o v e r n o f e d e r a l , f oi o P r o g r a m a T e r r i t ó r i os nossas políticas públicas, traz poucos di s p o - Galvani, a l g u m a s vez es p o d e m a t é i n c o m o -
bacias hidrográficas. “ E m u m dado m o m e n - d a C i d a d a n i a (PTC) – e s t r a t é g i a c r i a d a v i - s i t i vo s c a p a z e s d e a b a r c a r t o d a a d i v e r s i d a d e da r o p oder público. Afinal, n e s s e exercício
s a ndo o des envolvimento econômico de m i - e x i s t e n t e n o País”, a r g u m e n t a . democrático, os atores do território d e s e n -
A Lei nº20.974/2014instituiu a Política de Desenvolvimento c r o r r e g i õ e s r u r a i s p o r t o d o o B r a s il . O i m p e - Outra questão ainda ma i s complexa, s e - volvem capacidades de ler a s ua realidade, de
Territorial da Bahia
d i m e n t o da p r es i dent e D i l ma Rousseff, e m g u n d o D i r c e Koga , é a “ c e g u e i r a ” q u e e x i s t e identificar s ua s fragilidades, de correr a t r á s

14 PÁG IN A 2 2 J U N H O 201 8 PÁGINA22 JU NHO 2018 15


RICARDO YOUNG
REPORTAGEM CAPA Consultor em gestão sustentável e pesquisador no campo de inteligência urbana, empresas e cidades artigo
sustentáveis. Preside o Conselho do Instituto Ethos e do IDS

Do m a c r o a o mi c r o
"A governança territorial será uma saída possível O cinco “pês” estruturantes dos ODS – Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parceria–
desde que todos participem. Não adianta convidar precisam operar nas localidades, ou seja, nos territórios onde a vida das pessoas acontece

somente os amigos da festa", dizprofessor s cidades têm sido aponta- Orientações para o Plano de Metas que

dos s eus direitos e a t ua r d en t r o dos s eus d e -


veres. “ Alguns go ver na nt e s p o d e m i dentifi -
car esse e mp o d e r a me n t o como u m a a meaça
e r e a g i r n ã o a p o i a n d o a l g u n s projetos”, d i z .
SÓ ESCUTA LOCAL NÃOBASTA
U m desafio mui t o present e, s egu n do C e -
cília Ga lva ni, é a m p l i a r o r e p e r t ó r i o d a g o -
v e r n a n ç a p a r a a l é m d o t e r r i t ó r i o . “A g e n t e
A das como o “Armagedomda
Sustentabilidade” ou como
os “buracos negros” para
onde todos os recursos naturais são
drenados sem possibilidade de restau-
integra de forma consistente e extensiva
os 12Princípios das Cidades Sustentáveis
com os 17ODS, e – no melhor tratamen-
to sistêmico – demonstra que, para cada
um dos 12 princípios, há mais do que um
“Mas t a m b é m nos dep a ram os c om a p a r t i - f a z e s s a e s c u t a l oc a l , m a s n ã o b a s t a . É p r e c i s o ração. Estas são metáforas fortes para conjunto de metas a serem contempla-
cipação ativa e saudável de go ver na nt es q ue dialogar c o m a gen da s globais p a r a c ons egui r um fato elementar – não haverá desen- das. Isso mostra o sentido transversal,
e n t e n d e m q ue essa participação facilita o incentivos e t a m b é m p a ra exp a ndir a rede.” É volvimento sustentável, adaptação e interdisciplinar e material da Agenda
trabalho deles.” issoquevaipermitirasconexõescomorgani - mitigação, justiça social e combate a 2030. Outro aspecto importante deste
Das ações q ue c o n t a r a m c o m a pa r t i c i pa - zações, c o m es t a dos e c o m a União p a r a c o m - desigualdades se a lógica da urbaniza- documento é que procura traduzir os
ção do instituto na s rodadas de governança, por arranjos ou pa ra buscar tecnologias que ção continuar a negar um dos princípios princípios e metas em indicadores men-
Cecília Ga l va n i d e s t a c a o c a so d e u m a c o - já f o r a m t e s t a d a s , c o m o n o c a s o d a s c i s t e r - mais caros ànatureza: seu caráter sistê- suráveis, constituindo-se como sólida
m u n i d a d e , a de Angico do s Dias, localizada nas. Um ca mi n ho que o instituto encontrou mico e sua capacidade de regeneração. orientação para gestores públicos.
e m C a mp o Alegre de Lourdes, n o Semiári do f oi a s s o c i a r - s e a o r g a n i z a ç õ e s c o m o a R e d e Falamos aqui de regeneração no senti- Mas todos esses esforços de con-
Brasileiro, di visa da Ba hi a c o m o Piauí, cuja América e o Grupo de Institutos Fundações e do mais amplo, que engloba os recursos vergência, integração e materialidade
principal a gen da é prover a cidade de água. E m p r e s a s (Gife). naturais e também o tecido social. só surtirão efeito se ao menos duas pre-
C o mo o I ns t i t u t o Ga l va ni t r a b a l h a c o m a O substantivo “ desafio” parece ser u m a Conferências como a COP21 e a Habi- Portanto, uma das partes interessa- missas forem incorporadas. A primeira
perspectiva de fortalecimento dos a p a r e - daquelas palavras-cha ve q ua ndo o assunt o tat III,juntamentecom os Objetivos deDe- das mais relevantes são os governos delas refere-se à inteligência local, das
lhos municipais para acessar recursos f e de - é go ver na nç a territorial. Muita di versida - senvolvimento Sustentável (ODS) acor- locais – as Cidades. A Nova Agenda Ur- pessoas em seu território e como são
r a i s , n ã o f oi d i f í c i l i d e n t i f i c a r q u e o p r o g r a - de – e, q u a n t o ma i s , m e l h o r – e n t r e p e s s o a s dados na Cúpula da ONU em setembro de bana, principal documento produzido legitimadas no processo de tomada de
m a U m Milhão de Cisternas t i n h a verba o p i na n d o sobre u m m e s m o t e ma , a princípio 2015, mostram o esforço de concerta- pela Habitat III, demonstra que os cinco decisão. Os ODS só serão atingidos se
Programa do
Ministério do disponível p a r a i mp l a nt aç ã o de c i s t er nas p a r ec e caótico, m a s é s ó u m desafio, p oi s é ção das lideranças mundiais e do sistema “pês” estruturantes dos ODS – Pessoas, funcionarem como elementos catalisa-
Desenvolvimento p a ra captação de á gua de c huva . De p osse dess e caos q ue s u r g e m os b o n s resultados, os multilateral em estabelecer metas pre- Planeta, Prosperidade, Paz e Parceria dores e de transformação cultural das
Social criado dessa infor mação, a c o mu n i d a d e se o r g a n i - m a i s a b r a ngent es e os de ma i o r relevância viamente aceitas pelas nações, para que – estabelecem políticas públicas que realidades locais para o conjunto da mu-
em 2003 com
o objetivo de zou, i ni c ial ment e criando a Associação dos p a r a a coleti vidade. “A g o v e r n a n ç a t e r r i t o - nas próximas décadas possamos mitigar precisam operar nas localidades. De que nicipalidade. As cidades, na condição de
promover o M or a dor es do Peixe, Angico e Região ( A m - rial s er á s e m p r e u m a sa í da possível, d e s d e os efeitos damudança climática edaabis- localidades falamos? Certamente das organismos complexos, têm um grau de
acesso à águapara sal desigualdade social. cidades, mas, mais do que isso, falamos
par e) e, m a i s t a r de, p r ot oc ol a nd o a d e m a n d a que todo m u n d o participe; nã o adianta c o n - auto-organização pouco compreendido
consumo humano
e para a produção ao Gover no do Estado da Bahia. “O recurso v i d a r s o m e n t e o s a m i g o s d a festa”, r e f o r ç a Já em seu Preâmbulo, o documen- dos territórios onde a vida das pessoas pelos agentes públicos. Nesse processo,
de alimentospela chegou e 96 cisternas f oram i mp l e me nt a da s Fer na ndo Burgos. to sobre os ODS, também chamada de acontece, dos distritos e dos bairros. soluções criativas e inovadoras surgem,
agriculturafamiliar n a região”, r e l a t a a c o n s e l h e i r a . Agenda 2030, afirma no segundo pará- Os ODS constituem-se, portanto,
O out ro gr a nd e desafio é e m relação ao inspiram e transformam. Os conselhos
Outra ação c o m o envol vi ment o do I n s - timing, ao mo m e nt o de trazer todos à mesa, grafo: “Todos os países e todas as par- como umconjunto de metas quesó farão municipaiseosmovimentosjáexistentes
t i t u t o G a l v a n i o c o r r e e m Luí s E d u a r d o M a - sobretudo quando se trata de u m a grande tes interessadas, atuando em parceria sentido se forem traduzidos em políticas precisam ser potencializados, tornando-
g a l h ã e s , m u n i c í p i o d e r e g i ã o a g r í c o l a ( s oja e o b r a c o m m u i t o i m p a c t o s l o c a i s (mais em colaborativa, implementarão este plano. públicas, interdisciplinares, interdepen- -se espaços de metabolização entre a
algodão) localizada n o Oeste baia no . Co mo Reportagem à pág. 26). C o m o d i z B u r g o s , o Estamos decididos a libertar a raça hu- dentes e sistêmicas. De nada valerá o inteligência local e o fazer público.
a região v e m receb endo u m n ú m e r o alto de papel da governança territorial é antecipar mana da tirania da pobreza e da penúria esforço isolado de implementação das A segunda premissa decorre do im-
mi g r a n t e s , o go ver no local es t á c o m dificul - e v e n t u a i s p r o b l e ma s e, p a r a isso, p r ec i s a e a curar e proteger o nosso planeta. Es- metas do ODS 11,relativo às cidades, se perativo de transformação profunda
dades p a ra desenvolver s oz i nho u m p l a n e - e s t a r p r es e n t e n o p r oc ess o decisório de u m a tamos determinados a tomar as medidas não estiverem devidamente articuladas das estruturas públicas responsáveis
j a me nt o ur b a no que dê conta do vertiginoso ação – a nt es m e s m o do pl aneja ment o. Mas, ousadas e transformadoras que são ur- com os outros 16. Portanto os ODS reú- pela implementação destas agendas. O
cresci ment o populacional – e m 7 a nos ma i s n o Brasil, as decisões sã o s e m p r e m u i t o u r - gentemente necessárias para direcionar nem princípios de direitos fundamentais aspecto fragmentado da gestão públi-
de 20 mil novos moradores des embarca ra m gentes e as comunidades impactadas aca- o mundo para um caminho sustentável integradosaumconjuntodepropostas de ca, profundamente eivado de estrutu-
n o município e m busca de op or t uni da des de b a m e m s eg un do plano. “Depois que u m a e resiliente. Ao embarcarmos nesta jor- políticas públicas a serem contemplados ras arcaicas, condicionado a interesses
t r a b a l h o , e l e v a n d o p a r a 83 m i l o n ú m e r o d e g r a n d e o b r a já c o m e ç o u e a a d o l e s c e n t e f oi nada coletiva, comprometemo-nos que emprogramasrobustosdegovernoeque políticos partidários, precisa ser atuali-
habitantes. O instituto participa da gover- explorada sexualmente, n ã o adianta ma is ninguém seja deixado para trás.” possamdialogarcomasdinâmicaslocais. zado à luz dessa nova concepção de ci-
n a n ç a p a r a a ges tã o dos ma n a n c i a i s locais e a p e n s a r e m u m a ação articulada de educação No entanto, se fizermos uma análise Recentemente, a Rede Brasileira de dades. O mundo clama por justiça social
articulação de recursos para a construção de p a r a ela. A ação t er á de s er emer ge nc ia l . Será cuidadosa das políticas preconizadas, a Cidades Sustentáveis produziu um do- e sustentabilidade, e a inação tornará
u m aterro sanitário n a região. u m a g a mb i a r r a ” , d i z . grande maioria delas depende de políti- cumento intitulado Guia GPS – Indicado- dolorosamente realistas as metáforas
cas urbanas para sua implementação. res do Programa Cidades Sustentáveis e citadas no início deste texto.

16 PÁG IN A 2 2 J U N H O 201 8 PÁGINA22 JU NHO 2018 17


REPORTAGEM PARTICIPAÇÃO SOCIAL

Q
uandooPaísfervilha vaduranteas t a nt o de contribuir quanto de aprender. E de
Jornadasde junho, u m a d a s m e n s a - receber c o n h ec i me nt os técnicos pa r a t or na r Iniciadas em

Jogando junto
2013 como uma
gens ma i s claras ent oa da s p el a “ voz e s s a c o l a b o r a ç ã o m a i s efetiva”, r e s s a l t a . série de protestos
rouca das r ua s ” a cada manifestação contra umaumento
era de que existia u m a profunda i n - APRENDIZADOSANTERIORES da passagem de
ônibus organizada
satisfação contra a escassez e a m á qualidade De acordo c o m o c oordena dor exec uti - por estudantes
Para fazer as políticas dos serviços públicos. “ ’Queremos u m a t e n -
d i m e n t o ‘padrão Fifa’ f o r a m p a l a v r a s d e
vo d a Casa F l u m i n e n s e , H e n r i q u e Silveira,
o B rasil já p r o d u z i u m u i t a s e x p e r i ê n c i a s
em São Paulo, as
manifestações
tornaram-se
públicas darem o salto o r d e m n o s protestos”, l e m b r a L e a n d r o A ve n a
Prone, coordenador de projetos da Agenda P ú -
b em- s uc edida s de participação popular,
por exemplo, a implantação de mec a ni s mos
progressivamente
maiores até se

de qualidade que todos b l i ca – o r g a n i z a ç ã o q u e p r o c u r a a l a v a n c a r a r -


ranjos capazes de en f r e nt a r desafios c o m p l e -
d e orçamento participativo p o r d i v e r -
s os muni c í p i os brasileiros a o longo dos a n o s
transformarem
em um fenômeno
nacional
esperam, será preciso x o s n o s t e r r i t ó r i o s o n d e a t u a . “ Fi c o u c l a r o c o m
os protestos que havia u m desconcerto ent r e
1990. M a s u m a f a g u l h a q u e r e a v i v e e s s e f o g o
p o d e vi r a c a l h a r . “ S e n ã o t i v e r m o s u m p r o -

tornar mais porosos os E s t a d o e sociedade”, p r o s s e g u e .


P assa dos cinco a nos, a u m e n t a o e n t e n d i -
c e s s o p e r m a n e n t e d e i n o v a ç ã o c í vi c a, e s s a s
i n i c i a t i v a s a c a b a r ã o a t i n g i n d o u m ‘tet o’. A
Padrão de
qualidadeexigido

limites entre ogoverno


pela Federação
m e n t o d e q u e p r e c i s a m o s r e a t a r o fio d e u m a p a r t i c i p a ç ã o p r e c i s a s e r cultivada”, p o n d e r a .
Internacional
m e a d a q ue c onec ta q ua s e 30 a n o s de esforço Foi p e l a f a l t a d e u m p r o c e s s o d e r e n o v a - de Futebol dos
e os cidadãos p el a efetivação do direito à participação s o -
cial n a f o r mu l a ç ã o e i m p l e m e n t a ç ã o d a s p o -
ção que mui t os i ns t r u me n t os i mp or t a nt e s
a c a b a r a m p e r d e n d o vi g o r . É o c a s o d o s i s t e m a
estádios que
abrigariam a Copa
do Mundorealizada
l í t i c a s p ú b l i c a s . Al go q u e e s t á p r e v i s t o d e s d e de consultas e audiências públicas que, m u i - no Brasil em 2014.
P O R FÁBIO RODRIGUES
a C o n s t i t u i ç ã o d e 1988. P a r a f a z e r a s p o l í t i c a s t a s vezes, sã o r ealiza dos a p e n a s p or f o r m a l i - A expressão foi
F O T O RA WPIXEL / UNSPLASH apropriada pelos
públicas d a r e m o salto de qualidade que todos da de. “ Elas c o n t i n u a m i m p o r t a n t es , m a s s e
manifestantespara
es p er a m, s erá preciso t or na r ma i s porosos t o r n a r a m pouco produtiva s porque o g o ver - ironizar aqualidade
os l i mi t es e n t r e o go ver n o e os cidadãos. É aí no chega c om u m a fórmula pronta, abrindo nos equipamentos
e/ou serviços
q ue e n t r a e m prática a ideia de g o ve r na nç a p o u c o e s p a ç o p a r a ouvir”, c r i t i c a Si l ve i r a . A
públicos
(mais sobre o conceito em reportagem à pág. 12). s e u ve r , f a l t a c o n s o l i d a r u m a c u l t u r a d a p a r t i -
“A p a r t i c i p a ç ã o s o c i a l f a v o r e c e a e n t r e g a d e cipação d e n t r o do s et or público. “ Os gest or es
políticas públicas c o m ma ior qualidade e l e - p r ec isa m acreditar que, se houver part icipa- Processo no
gitimidade que serão ma i s b e m apropriadas. ção da sociedade, os resultados serão m e l h o - qual cidadãose
funcionáriosda
Esse é o p ot e de our o n o final do arco-íris que res do que u m a proposta p u r a me n t e técnica. administração
dever ia l eva r os gover n os a i n ves t i r e m m a i s E l es p r e c i s a m r e c o n h e c e r i s s o c o m o u m v a - municipaldecidem,
energia e recursos e m processos de gover - lor”, p r o p õ e . em assembleias
organizadas
nança”, a p o n t a o c o o r d e n a d o r e x e c u t i v o d a Prone, da Agenda Pública, destaca q ue com esse fim,
C a s a F l u m i n e n s e , H e n r i q u e S i l ve i r a . os espaços existem, m a s que muitos deles sobre aalocação
Não é c om o s e a ficha tivesse caído p a r a “ p r eci sam ser potencializados”. É o caso dos de recursos
para novos
t odo m u n d o só agora. Es pal ha dos pelo B ra - Conselhos Municipais. “ No longo prazo, é investimentos
si l é p o s s í ve l e n c o n t r a r o s m a i s d i v e r s o s t i - u m a f or ma de a p r oxi ma r o cidadão das deci-
p o s d e r e l a c i o n a m e n t o e n t r e s o c i e d a d e civil e s õ e s s o b r e o s s e r v i ç o s . E u j á vi p a u t a s s u r g i -
governos– da parceria franca à desconfiança das nesses conselhos c hega r em até os gabi- Espaços
mú t u a . Ainda ass i m, p a r a Leandr o Prone, algo netes”, t e s t e m u n h a . P a c i ê n c i a é u m a v i r t u d e denatureza
deliberativa e
es tá m u d a n d o . “ Os gestores públicos p a s s a - indispensável. “O c a mi n h o é ardiloso e h a - consultiva, cuja
r a m a perceb er que, s ozi nhos , n ã o e s t a va m verá m o m e n t o s de frustração. Precisamos ter função é formular
da ndo conta de dar u m a resposta adequada à f ô l e g o e ob s t i nação”, p o n t u a . e controlar a
execução das
população”, c o m p l e t a . É u m a p e r c e p ç ã o p a r - E h á n o v a s b r e c h a s s e a b r i n d o . “A t e c n o - políticas públicas
tilhada pela gerente de sustentabilidade da l o gi a v e m m u d a n d o a m a n e i r a c o m o n o s r e l a - setoriais. Devem
F u n d a ç ã o A l p ha vi l l e, F e r n a n d a Tol edo d e O l i - cionamos c om tudo. Entre Estado e socieda - ter número igual
de representantes
ve i r a . “ Q u a n d o t e m o s r e u n i õ e s c o m g o v e r n o s de ela p od e s er u m agent e de t r a ns pa rê nci a e do Estado e da
e o r g a n i z a ç õ e s l oca is , s e n t i m o s u m a r e c e p t i - c o nh ec i me n t o” , d i z T h i a g o R o n d o n , o f u n d a - sociedade civil
vidademuitogrande dapartedeles, no sentido d o r d a Ap p Ci vi co. A e m p r e s a q u e d e s e n v o l v e

18 PÁG IN A 2 2 J U N H O 201 8 PÁGINA22 JU NHO 2018 19


PARTICIPAÇÃO SOCIAL

t e c n o l o g i a s c o m u m o l h o n a m u d a n ç a s oc i a l d a ç ã o A l p h a vi l l e , q u e d u r a a t é h o j e . “ Foi u m u m ma r c o e serviu de inspiração pa ra que a consegue envolvimento quando se t e m u m a


Evento de curta a p o i a a r e a l i z a ç ã o d o s c h a m a d o s ha cka to ns. divisor de á guas . Não só p or q ue c o n s e g u i mo s U n i ã o f o r m u l a s s e s u a p r ó p r i a Lei d a s Á g u a s p erspect i va real e rel evant e, de t r a n s f o r m a -
duração na qual
U m b o m e x e m p l o f oi 1ª H a c k a t h o n d a S a ú d e espaço e maq ui ná r i o mel hor es , m a s porque alguns anos mais tarde . ç ã o. I s s o p r e c i s a s e r p a c t u a d o , c o m p r e e n d i d o
um grupo formado
por técnicos e realizada n o a n o passado e m parceria c o m o nos d e r a m u m a c ha nc e de crescer por mei o d o Seg und o o s ecr etár io executivo do C o n - e c o m p r o m i s s a d o e n t r e t o d o s . Se n ã o , a p e s -
público em geral S e n a i e a Secretaria M uni ci pa l da S a ú d e d e São c o n h e c i me n t o . O c o n h e c i m e n t o m u d a a vida s ó r c i o PCJ, F r a n c i s c o L a h ó z , t o d o e s s e p r o c e s - s o a n ã o v e r á va l o r e m participar”, d i z D a n i e l a
trabalha de forma
Paulo, q ue t eve c o mo des t a q ue a proposição d a s p e s s o a s . M u d o u a mi n h a ” , a f i r m a . s o foi a c o m p a n h a d o b e m d e p e r t o p e l o g r u - Go mes Pinto, c oor denadora do P r ogr a ma de
concentrada em
um problema de u m sistema integrado de a c o mp a n h a m e n - P a r a F e r n a n d a Tol edo, d a F u n d a ç ã o A l - p o que se articulou c o m outras organizações D e s e n v o l v i m e n t o Local d o C e n t r o d e E s t u d o s
específico to e apoio a ges t a nt es e mo n i t o r a me n t o de c e - phaville, a U ni n d o Forças ilustra b e m c o mo é d a s o c i e d a d e ci vi l l i g a d a s à q u e s t ã o d a á g u a . e m S u s t e n t a b i l i d a d e d a FGV EAESP (FGVces).
buscandosoluções
por meio do
sarianas, c h a ma d o SuperMãe. “ São u m a ó t i - possível ir a l é m do assist encialis mo p a r a g e - Esta s f a z e m p a r t e da Rede Brasil d e O r g a n i s - P a r a H e n r i q u e S i l ve i r a , a f r u s t r a ç ã o d a s
desenvolvimento m a f e r r a m e n t a p a r a colocar t odos os atores rar transformações que se m a n t e n h a m s u s - m o s d e Ba c ia (Reb ob) e i n f l u e n c i a r a m o t e x - exp ectati vas e n ve n e n a os processos de g o -
de ferramentas pa ra conversar. Mostra c omo o governo p od e tentáveis n o longo prazo. “ S e m a construção t o d e ssa legislação e d e o u t r a s s ub s e q u e n t e s , ver na nç a. “ Co mo h á mu i t a ener gia envol vi-
tecnológicas
inovadoras
deixar de ser a p ena s u m ‘prestador de s er vi - de redes e a capacitação dos atores envol vi - c o m o a Lei n º 9 . 9 8 4 / 2 0 0 0 q u e c r i o u a A g ê n c i a da, q ua ndo n ã o pr oduz u m resultado, é g e -
ço’ p a r a s e t o r n a r u m i n d u t o r d e c o n s t r u ç ã o d o s , o s p r o j e t o s n ã o a nda m” , a v a l i a . N a c i o n a l d a s Á g u a s (ANA). “ G r a d a t i v a m e n t e , r a da mu i t a frustração e n t r e os participantes,
conjunta”, e l a b o r a . Esse é o antídoto p a r a i mp edi r que os a t o - criamos element os de governabilidade p a ra o que acaba vira ndo des esp era nça e rancor.
Explorar essas brechas requer u m t rabalho res que estão n a base comunitária – n o r m a l - e x e r c e r a g o v e r n a n ç a d a s águas”, r e s u m e . I g n o r a r a p a r t i c i p a ç ã o t e m s e u preço”, a f i r -
p e r m a n e n t e dasociedadeci vil .“ Precisamosde m e n t e o elo m a i s frágil n a cadeia – a c a b e m “ Hoj e e s t a m o s r a z o a v e l m e n t e b e m s e r v i - m a . P or isso, ele e n t e n d e q u e a c o n f i a nç a é
p r o c e s s o s d e a r t i c u l a ç ã o e mo b i l i z a ç ã o d e u m atropelados durante processos que deveriam d o s e m t e r m o s d e e s t r u t u r a d e governança”, d i z u m a t i v o i m p o r t a n t e n e s s a s i n i c i a t i v a s . “A
lequedi versificadodeatores dasociedadeci vil . ser horizontais. “ Qua ndo fortalecidas, as L a h ó z . Já s ã o m a i s d e 210 Comitês de Bacia população precisa acreditar que os gestores Organismos
A l é m d e m a i s a c es s o à i n f o r m a ç ã o e i n d i c a d o - comunidades ficam mais preparadas para instalados. O ma i or nó, contudo, continua s e n - q u e r e m ou vi r o q ue ela t e m a dizer, e q ue o colegiados que
contam com
r e s . Só c o m g r u p o s a r t i c u l a d o s e b e m i n f o r m a - trabalhar c om atores institucionais, como doacapacitaçãodosparticipantesdoscomitês . p r oc ess o vai ger a r r es ul t a dos . Cons t r ui r essa
representantesde
d o s é q u e va m o s con s e g u ir a in cid ê n cia p olít ica g o v e r n o s e e m p r e s a s . S o m e n t e a í q u e vo c ê “ E s t a m o s c o m d i f i c ul da d es p a r a p r e e n c h e r a s relação de confiança d e m a n d a t e mp o, es f or - todos os setores
p a r a i n f l u i r n o d e b a t e público”, d i z Silveira . consegue chegar a ações que p r omover ã o va g a s [ n o s c o mi t ê s ] r e s e r v a d a s à s o c i e d a d e c i - ç o e s er i eda de” , d i z . da sociedade que
tenham interesse
m u d a n ç a s n o território, capazes de s e r e m vil. P r e c i s a m o s p r o m o v e r a i n t e g r a ç ã o d i r e c i o - Ab r i r e s s e s e s p a ç o s , n a o p i n i ã o d e J o r dâ n i a sobre uma bacia
INICIATIVA i n c o r p o r a d a s à s p o l í t i c a s p ú b l i c a s ”, j u s t i f i c a . n a d a a e s s e s r e p r e s e n t a n t e s p a r a q u e e l es n ã o d a Sil va, a j u d a r i a a a l a v a n c a r o p o t e n c i a l e x i s - hidrográfica.
Para o cidadão c o m u m , a participação e m Para atingir esse ponto, é f unda ment a l f i q u e m p a s s i vo s n o s p r o c e s s o s d e decisão”, d i z . t e n t e d e n t r o d a s c o m u n i d a d e s . “ E u vej o q u a n - Têm poder para
elaborar o planode
espaç os de go ve r na nç a p o d e pa r ec er algo i n - identificar e envolver a s l i der anças p r e s e n - to potencial existe e a quantidade de gente que recursos hídricos,
t i mi da do r o u fora de alcance. Não é verdade. tes nes s a s comunidades. “ São as lideranças RELAÇÃO DE CONFIANÇA sabefazercoisasmuitolegais . M a s a s c o m u n i - arbitrar conflitos,
Às v e z e s , b a s t a s e l a n ç a r e v e r n o q u e d á . que vão mo vi me n t a r o processo e difundir o Segundo Lahóz, a falta de capacitação dades s ec ons idera m p eq uenas demais. Q ua n - estabelecer
mecanismos paraa
Foi o q u e f e z a b a i a n a J o r d â n i a P e r e i r a d a t r a b a l h o p e l o t e r r i t ó r i o . S e r i a m u i t o di f í c i l s e adeq uada acaba a l i me nt a n do u m a situação doaparecealguémquerealmenteescutaessas cobrança pelo uso
Sil va , 18 a n o s a t r á s . Ao l a d o d e o u t r o s m o r a - a gente tivesse de atingir as p es s oa s isolada- do tipo “ o ovo ou a galinha”: c omo as políticas p e s s o a s , i s s o m u d a s u a s vidas”, g a r a n t e . da água
d o r e s d o b a i r r o d o Vale d o Sul e m B a r u e r i (SP), ment e” , a v a l i a Tol edo. públicas ficam a q u é m dos anseios da s oc i e - Angariar a simpatia do corpo técnico dos
f u n d o u a Cooperati va U ni n d o Forças, c o m a d a d e c i vi l , e l a s e f r u s t r a e d e i x a d e p a r t i c i p a r , gover nos ajuda a reduzir o risco de que essas
finalidade de gerar r enda aproveitando m a - GRANDE ESCALA o q ue e mp o b r e c e a c ons t r uçã o da s políticas. iniciativas s ej a m a b a n d o n a d a s a cada t r oca
deira de paletes descartados por indústrias Quandobem-sucedida, apráticadagover- “É preciso ma i s estí mul os p a ra que os e s - de a d mi ni s t r a ç ã o . “ Q ua n d o você t r a z os s e r -
l o c a i s . “ E u vi a n o c o o p e r a t i v i s m o u m a f o r m a n a nç a territorial p ode ser t r a ns f or ma dora . É paços de go ve r na nç a s e j a m oc upados . Falta vidores concursados pa ra dent r o dos p r oj e-
d e a j u d a mú t ua”, r e l e m b r a . D u r a n t e o s c i n c o o exempl o do Consórcio Inter municipal das d e v o l v e r e s p e r a n ç a à s p ess oas”, c o m p l e t a . tos, a u m e n t a a c ha nc e de que t e n h a m c ont i -
p r i m ei r os a nos , as coisas e r a m feitas n a b as e B a c i a s d o s R i os P i r a c i c a b a , C a p i va r i e J u n d i a í “O ma i s i mp o r t a n t e é ter u m a boa pactuação. nuidade”, p o n t u a F e r n a n d a Tol edo.
do improviso, c onta ndo c om a boa vontade da ( C o n s ó r c i o PCJ) q u e , e m s e u s q u a s e 3 0 a n o s d e Isso exige i n f o r m a r e sensibilizar as p es s oa s Essa interlocução ent r e governo e p o p u -
c o m u n i d a d e . “A g e n t e i a p e d i n d o o q u e p r e - existência, influiu a t i va me nt e n a construção pa ra que elas p o s s a m ter a d i me n s ã o da i m - lação por m ei o da gover na nça ajudaria a q u a -
c i s a v a . A c o o p e r a t i v a f oi u m a m o b i l i z a ç ã o d o d o q u e vi r i a a s e r t o r n a r a P o l í t i c a N a c i o n a l d e p o r t â n c i a d o s p r oc essos”, o p i n a . lificar a p ró p r ia g e st ã o pública, r e d u z i n d o o
b a i r r o inteiro”, c o n t a . Recursos Hídricos. A relevânciadessas instâncias, n o entanto, espaço para voluntarismos . “ Para ha ver p o -
O p a s s o s e g u i n t e ve i o a p e n a s e m 2 0 0 5 . Foi g r a ç a s à a r t i c u l a ç ã o i n i c i a d a p o r u m s er á proporcional à s ua capacidade de p r o d u - líticas púb licas d u r a d o u r a s , p r e c i s a m o s q u e o
Jordânia s oub e q ue a e n t ã o p r i m e i r a - d a m a gr up o de engen hei r os e arquitetos piraci- z i r d e c i s õ e s c o m p a r t i l h a d a s e, n u m s e g u n d o p oder público t e n h a u m a cultura de planeja -
d e Ba rueri, Sô nia Dias Furlan, e s ta va s e l ec i o - c a b a n o s e m 1985 – c o m o P a í s r e c é m - s a í d o m o m e n t o , t r a ns f o r ma ç õ es reais. “ Par tici - m e n t o e a s o c i e d a d e ci vi l, u m a c u l t u r a d e m o -
n a n d o projetos sociais p ela cidade e n ã o t eve da Ditadura Militar – e m tor no da c h a ma da pação nã o é ap enas ser escutado e escutar, é n i t o r a m e n t o . As d u a s c o i s a s p a s s a m p o r u m
d ú v i d a s : f oi, p o r c o n t a p r ó p r i a , a t é a P r e f e i t u - “ R e d e n ç ã o Ec o l ó g i c a d a B ac i a d o Piracicaba”, d e c i d i r j u n t o . P a r t i c i p a r d e m a n d a es f o r ç o , t r a t o s o b r e o q u e f a z e r e o q u e cobrar”, r e s u m e
ra e deixou s eu endereço c om u m a secretária. q u e o g o v e r n o d o E s t a d o d e S ã o P a u l o vi r i a a t e m p o , é di f í c i l, c u s t o s o . P o r i s s o , a g e n t e s ó o coordenador da Casa Fl umi nens e . Pode ser
Era o c o meç o de u m a p arceria envol ve nd o a a p r o v a r , e m 1991, a P ol í t i c a E s t a d u a l d e R e - esseocaminhoparaosserviçospúblicos“pa -
Por meio da Lei nº9.433/1997: goo.gl/0q4Ou
Uni ndo Forças, o gover no muni c i p a l e a F u n - c u r s o s H í d r i c o s . A e x p e r i ê n c i a p a u l i s t a f oi drão Fifa” que exigíamos cinco a nos atrás.

20 PÁG IN A 2 2 J U N H O 201 8 PÁGINA22 JU NHO 2018 21


REPORTAGEM INVESTIMENTO SOCIAL PRIVADO

Olhar ampliado
P O R ANDREA V I ALLI FOTO ELEMENTS

Investimentos sociais de empresas


se voltam para o desenvolvimento
territorial, com o desafio de operar
pela lógica do bem comum – e não
só do privado
A o l o n g o d e 2017, f o r a m r e a l i z a d os e n - T oc a nt i ns , s e n t i u i s s o n a p e l e . U m d o s p r i n c i -
contros c o m u m universo de 22 e m presas pais problemas enfrentados pela Bunge, que

H
p a r t i c i pa nt e s d a ID Local, q u e r e s ul t o u e m t e m o p e r a ç õ e s d e l og í s t i c a n a s c i d a d e s p a -
á u m a t r a n s f o r m a çã o e m c ur s o n a c i a l P r i v a d o (ISP) a p o n t a m pa r a a t e n d ê n c i a u m c o n j u n t o d e pr i nc í pi os e di r e t r i z e s para o r a e n s e s d e Barcare na e Itaituba, é a e x p l o r a -
f ormacomoosinvestimentossociais d e i n t e n s i f i c a r a d i m e n s ã o t e r r it orial . c h a m a d o ISP Territorial (ISP-T). El e s a b r a n - ç ã o s e x u a l d e c r i a nç a s e a d o l e s c e n t e s . Q u a n -
das empresas estão s e ndo e x e cuta - O Benchmarking do Investimento Social Cor- g e m de s de estratégias de entrada e de saída d o a e m p r e s a s e de pa r o u c o m a q u e s t ã o , n ã o
dos. Se há m e n o s de duas décadas a porativo (Bisc), l e v a n t a m e n t o a n u a l r e a l i z a d o – o u s e j a , c o m o i niciar u m p r o c e s s o d e ISP-T, h a v i a u m a r e de d e e n f r e n t a m e n t o d o p r o b l e -
m a io ria d as e m pre s as n o Bras il m an - d e s d e 2 0 0 8 p e l a ONG C o m u n i t a s , m o s t r a q u e g e r a l m e n t e c o m e ç a n d o por u m d i a g n ó s t i c o m a e de assistência às vítima s n e s s a s loc a li -
tinha s e us investimentos sociais desvincula- 75% d a s o r g a n i z a ç õ e s r e a l i z a r a m pr oj e t os a m pl os oc i ot e r r i t or i a l , e c o m o c o n c l u i r o c i c l o d a d e s – n e m m e s m o a pe r c e pç ã o, por pa r t e
dos dos ne g óc i os , independentesdaspolíticas s o c i a i s c or p or a t i v os v o l t a d o s a o d e s e n v o l - de i nvesti me nt o s e m desamparar a localida - d a p o p ul a ç ã o, d e q u e o a b u s o era u m a v i o l a -
públ i cas e d e s c o n e c t a d o s d e a g e n d a s g l oba i s v i m e n t o territorial e m 2016 – e m 2011, e r a m d e – , d e s e n v o l v i m e n t o d e c a p a c i d a d e s l oc a i s , çãodedireitos. O trabalhotevedecomeçarda
d e d e s e n v o l v i m e n t o , hoj e e s s e ce ná r i o e s t á 45%. Já o Grupo d e I ns t i t ut os , F u n d a ç õ e s e monitoramento e mensuração de impactos. base, pois apenas u m a cam pa nha educativa
m u d a n d o . C o m o pa s s ar d o s a n o s , a cultura d e E m p r e s a s (Gife) a pur ou q u e 48% d o s i n s t i - D e a c o r d o c o m Lívia Pa g ot t o, pe s qui s a dor a v o l t a da a o s c ol a bor a dor es n ã o r es ol ver i a a
a ç õ e s f ila ntró picas f oi s e n d o s ubs t i t uí da por tutos e f un da ç õ es empresariais i n v e s t e m e m d a ID Local, o i n v e s t i m e n t o s oc i a l f oi t o r n a n - q u e s t ã o , e x p l i c a Claudia Calais, d i r e t o r a -
u m a pr e oc upa ç ã o c r e s c e n t e d a s c o m p a n h i a s d e s e n v o l v i m e n t o l oc a l , c o m u n i t á r i o o u d e d o - s e m a i s s of i s t i c a d o e e st r a t é g i c o por d o i s - e x e c u t i v a d a Funda ç ã o B u n g e .
embuscarnovossignificadosparaseusinves - b a s e , o q u e c o nf i g ur a a á re a c o m o a q ui n t a n a princi pais m o t i v o s : a i n t e nç ã o d a s e m p r e s a s A a ç ã o f o i di vi di da e m t r ê s f r e nt e s :
t i m e n t o s n o c a m p o s oc i a l – e i s s o i ncl ui e s - listadetemasprioritários, atrásdeeducação, d e a l i nha r s u a s a ç õ e s s oc i a i s a o s n e g ó c i o s e d e n t r o d a e m p r e s a , c o m s e ns i b i l i z a ç ã o
t r a té g ias d e a t ua çã o s oc i a l v i nc ul a da s a o c ore f o r m a ç ã o d e j o v e n s , cul tur a e a r t e s , e a p o i o a t a m b é m p e l a n e c e s s i d a d e d e a p r ox i ma ç ã o d o s c a m i n h o n e i r o s e a qua vi á r i os , q u e s ã o
businessdasempresase, a om e s m ot e m p o , ao o r g a n i z a ç õ e s d a s o c i e d a d e c i vi l . c o m a s pol í t i ca s públ icas. “ O ISP territorial o s p r of i s s i o n a i s q u e d i r i g e m e m b a r c a ç õ e s
t e r r i t ó r i oonde e s t ã o p r e s e n t e s . O ISP c o m f o c o e m território t a m b é m foi nãodeveriaser consideradoumti podeinves - n a s h i d r o v i a s q u e t r a n s p o r t a m c a rg a n a
O alinha ment o aos negócios s e reflete t e m a d e e s t u d o d o m a i s r e c e n t e cicl o da I n i - t i m e n t o s oc i a l , m a s s i m u m a a b o r d a g e m . Usa r e g i ã o. E s s e s a t o r e s f o r a m e s c o l h i d o s c o m o
na concentração dos inve stime nt os sociais cia t i va Empresarial D e s e n v o l v i m e n t o Local d a s c a pac i da de s e d o p r o t a g o n i s m o local”, e x - público-alvo e m razão do e nvol vi me nt o de
nas comunidades n o entorno dos e m pr e e n - e Grandes E m p r e e n d i m e n t o s (ID Local) d o pl ica .Outracarac teríst ica doI SP - T é s e r d e t e r - c a m i n h o n e i r o s c o m a pr os t i t ui ç ã o i n f a n t i l
di m e nt os , c o m o objetivo de promover o Centro d e E s t u d os e m Su s t e nt a bi l i da de da minadopelasvocaçõesdolugar, q u e s ã o s e m - e para e v i t a r q u e o m e s m o o c o r r e s s e e n t r e
d e s e n v o l v i m e n t o d o t erri tóri o, a l é m d e m i - Funda çã o Ge t uli o Vargas (FGVces), q u e t e m o pre ú ni c a s , e e s s e c o n t e x t o particular t or na a o s operadores das embarcações; m uda nças
t i g ar a s e x t e r n a l i d a d e s g e r a d a s p e l a s a t i - p r o p ó s it o d e a r t i c u la r o s e t or e m p r e s a r i a l pa r a es t ra t ég i a dif ícil d e s e r re pe t i da . Nã o h á u m a n o s c o n t r a t os c o m o s f or n e c e d o r e s , c o m
v i d a d e s e c o n ô m i c a s . E s s e m o v i m e n t o já r e f l e x ã o, tr oca d e e x p e r i ê nc i a s e c o ns t r uç ã o “ r e c e i t a d e b o l o ” p a r a o ISP-T. c l á us ul a s e x i g i n d o q u e m o n i t o r a s s e m a
a p a r e c e n a s e s t a t í s t i c a s : a s d u a s pr i n c i p a i s d e di r e t r iz es para o d e s e n v o l v i m e n t o l ocal , A Fu nda ç ã o B u n g e , q u e a t u a c o m p r o g r a - q u e s t ã o; e a p o i o à pol í t i c a públ i ca, c o m u m
pe s quisas nacionais sobre I nve s t i m e nt o S o - e s p e c i a l m e n t e e m r e g i õ e s c a r e n t e s d o Brasil. m a s d e d e s e n v o l v i m e n t o territorial n o Pará e f lux o d e trabalho de f inido c o m 8 0 e ntida de s

2 2 PÁGINA22 JU NHO 2018 PÁGINA22 JU NHO 2018 23


INVESTIMENTO SOCIAL PRIVADO

Quanto mais desenvolvido f o r ç a s o p e r a n t e s n o s t e r r i t ó r i o s . E m 2016,


81% d a s e m p r e s a s a f i r m a r a m a s s e g u r a r c a -
mei o da criação de arranjos produtivos, c o m
ho r t a s comunitár ias e venda dos produtos,
"O investimento social
o território estiver, melhor na i s de diálogo c o m as c omuni da des (eram
64% e m 2011); 6 9 % p a r t i c i p a m d a f o r m u l a -
a u me n t a n d o a renda dos moradores.
E s t r a t é g i a s e m e l h a n t e foi d e s e n h a d a p a r a não pode se confundir
para a companhia que nele com uma área denegócios
ção e/ou execução de políticas públicas locais S e r r a d o Sa l i t r e (MG), m u n i c í p i o d o T r i â n g u l o
( e r a m 55% e m 2011) e 6 9 % e s t ã o a r t i c u l a n d o Mineiro c o m e c o n o m i a b a s e a d a n a agricultura

atua, segundo executiva da empresa, senão


c om outras c omp a nhias para promover o d e - e que recebeu u m e mp r e en d i me nt o mi ner a l e
s e n v o l v i m e n t o d o t e r r i t ó r i o (59% e m 2011). i n d u s t r i a l d a G a l va n i e m 2016. O d i a g n ó s t i c o

perde credibilidade"
“Quando a empresa aproxima o investimen- a p ont ou p a r a u m a gr a n d e expectativa c o m a
a o longo d e trê s a nos, c o m criação d e u m t o social dos negócios, o e n t o r n o fica m a i s c hega da da e mp r es a ao município, p r eoc up a -
b a n c o d e d a d o s , a p lic a tivo p a r a d e n ú n c i a s e i mp or t a nt e. U ma das motivações é deixar ções c o m a falta d e p e rsp ec ti va s p a r a a j u v e n -
apoio às instituições p ara o ac ol hi ment o das u m l e g a d o o n d e e l a s estão”, a f i r m a a s o c i ó - t u d e ( esta ria m capacitados p a r a t raba l ha r n a 150 p r o j e t o s , q u e t i v e r a m s u a s m e t a s a l c a n -
c r i a n ç a s . As a ç õ e s c o n t a r a m c o m a p a r c e r i a l o g a A n n a P e l i a n o , c o o r d e n a d o r a d o Bisc. empresa?) e verificou-se t a m b é m u m p o t e n - ç a d a s e m 95%. E n ã o s e t r a t a a p e n a s d e o b j e t i -
d a C h i l d h o o d Brasil, q u e t e m u m p r o g r a m a Ela r e s s a l t a , c o n t u d o , q u e a p r e f e r ê n c i a p o r cia l t u r í s t i c o a i n d a p o u c o e x p l o r a d o n a r e g i ã o , vos corporati vos . “ E s t a mo s f a la ndo de m e t a s
voltado ao c o mb a t e da prostituição i nf a nt i l estratégias dedes envol vi m ent o territorial n ã o c om cachoeiras e cenários rurais. relacionadas ao fortaleci ment o do a mb i e nt e
n a s e s t r a d a s . “A e m p r e s a p o d e a j u d a r a exc l ui o i n v e s t i m e n t o s o c i a l n a s c a u s a s q u e a s O t rabal ho n a região teve c omo p ont o c e n - denegóciosnosmunicípios, me l h o r ia da ec o -
sensibilizar, m a s n ã o t e m o p o d e r de e mp r e s a s e s e u s braços sociais julga m i m p o r - tral, então, o aporte financeiro a projetos que n o m i a l oc a l , a v a n ç o n o s i n d i c a d o r e s d e g e s -
f i s c a l i z a ç ã o . O n o s s o p a p e l f oi f o r t a l e c e r e s s a t a nt es. Tanto é que, s egundo dados do l e va n - f o me n t a s s em o pr otagonismo dos jovens e o t ã o n a e d u c a ç ã o e n o p o d e r p ú b l i c o e m geral”,
rede”, a f i r m a C a l a i s . t a ment o, a educação a i nda é o setor q ue r ec e - t u r i s m o local, p o r m e i o d a r ea l i z a ç ã o d e u m a f i r m a . E m 2017, o s i n v e s t i m e n t o s s o c i a i s d a
No Tocantins, os desafios da Bunge e r a m be ma i s investimentos das companhias: dos e d i t a l , e xp l i c a Rica r do M a s t r o t i , d i r e t o r e x e c u - V o t o r a n t i m s o m a r a m c e r c a d e R $ 127 m i l h õ e s
outr os . No município de Pedro Afonso, o n de a R$ 2 , 4 b i l h õ e s d e s t i n a d o s a p r o j e t o s s o c i a i s n o t i vodo Instituto Lina Gal va ni .“ Oi nves ti ment o e m 144 muni c í p i os dos q ua t r o p a í ses.
e m p r e s a c o n s t r u i u u m a u s i n a d e a ç ú c a r , á lc ool B r a sil e m 2016, 41% f o r a m p a r a e d u c a ç ã o . s oc ia l evol ui u d e u m p a t a m a r e m q u e n ã o b a s t a Outro desafio pa ra o a ma dur ec i me nt o do
e p rod uç ã o d e ener gia elétrica, falta va q ualifi - “ Não houve u m a r up t ur a c o m as causas, o a s s i s t e n c i a l i s mo , é p r e c i s o p e n s a r e m s o l u - ISP-T é c o n s e g u i r s e p a r a r o p r o p ó s i t o d e g e r a r o
caçãodostrabalhadoreslocais, especialment e e s i m u m c a mi n h a r n a direção de estratégias ções sintonizadas c o m as de m a n d a s c o n t e m - b e m c o m u m , r e l a c i o na d o à a t u a ç ã o s oc i a l, d a s
j o v e n s – m a i s d e 6 0 % d o s j o v e n s a t é 25 a n o s c o m f oc o n o s t er r itó ri os”, d i z P e l i a n o . A l é m porâneas, como o estímulo ao emp r eendedo - d e m a n d a s i n e r e n t e s a o n e gó c i o, c o m o a b u s c a
t i n h a m, n o má xi mo, quatro a nos de estudo. A disso, as e mp r e s a s es t ã o m a i s e x p os t a s às r i s m o , a o s n e g ó c i os s oc ia is , à s a r t i c u l a ç õ e s q u e p o r c e r t i f i c a ç õ es s o c i o a m b i e n t a i s o u m e s m o
u s i n a c o m e ç o u a o p e r a r e m 2011 c o m 6 0 % d a d e ma n d a s da sociedade e hoje são cobradas t r a z e m a u t o n o m i a p a r a a s c omuni da des ”, d i z . o c u m p r i m e n t o de Termo d e Ajustamento de
m ã o de obra vinda de outros estados, m a s i n - e m múltiplos canais, c omo as mí di a s sociais Conduta. Há casos e m q ue a s emp r esas t r a ç a m
vestiu, p or m ei o da Fundação, e m u m p r o g r a - – então, é nat ura l que elas se a p r o xi me m de MÉTRICAS DEAVALIAÇÃO u m a e s t r a t é g i a d e d e s e n v o l v i m e n t o l ocal p a r a
m a d e qualificação e m p a rceria c o m a p r ef ei - t e m a s que são caros às comunidades. As e v i d ê n c i a s a p o n t a m q u e o ISP-T e s t á s e c u m p r i r a l g u n s r e q u i s i t o s e xi gi d os p o r c e r t i f i -
t ur a . E m dois a nos, r evert eu o q ua dr o e pass ou Ao d e s e n v o l v e r s u a s e s t r a t é g i a s d e a t u a ç ã o c o n s o l i d a n d o n o B r a s i l e, n ã o o b s t a n t e a m e - c a ç õ es c o m o ISO 1 4 0 0 0 e 9 0 0 0 , q u e n a s ú l t i m a s
a c o n t a r c o m 63% d e m ã o d e o b r a l oc a l . s oc ia l , o I n s t i t u t o L i na Ga l va n i , b r a ç o s oc i a l d a l hora n a qualidade dos projetos, os desafios revisõesaumentara mas exigênciasemr elação
O m e s m o ocorreu c o m os fornecedores: Ga l va ni , e m p r e s a d e m i n e r a ç ã o e p r o d u ç ã o d e a i n d a s ã o g r a n d e s . P a r a 73% d a s e m p r e s a s , a a m a p ea r as expectativas das c omuni dades do
q ua n d o a Bunge c hegou ao Tocantins, t i n h a fertilizantes, dep a r ou - s e c o m a necessidade de ma i o r dificuldade é m e n s u r a r os resultados e n t o r n o . T a m b é m é o c a s o d o s e l o f l o r e s t a l FSC,
m e n o s d e 1% d e f o r n e c e d o r e s l oc a i s . Dois a n o s s e ent r osa r c o m a realidade das c omuni da des dos projetos de desenvol viment o territorial, q u e t r a z c a d a ve z m a i s i mp l i c a ç õ e s s oc i a i s .
depois, a pós u m t r a ba l ho desenvolvido e m n o e nt or n o da s f áb r ica s dogr up o . Apósrealizar s e g u n d o o Bisc 2017. A l g u m a s o r g a n i z a ç õ e s “Todos esses atores forçam as e mp r e s a s
p a r c e r i a c o m o S e r vi ç o B r a si l e i r o d e Ap oi o à s u m d i a g n ó s t i c o n o p o v o a d o d e A n g i c o d o s Dias, t ê m investido p esa do e m mé t r icas de a valia - a a tenta r pa r a s eus t e ma s de materialidade,
Mi c r o e P e q u e n a s E m p r e s a s (Sebrae), 27% d o s n a c i da d e d e C a m p o A l e g r e d e L o u r d e s (BA), ç ã o. É o c a s o d o I n s t i t u t o V o t o r a n t i m, q u e a p o i a p or isso as estratégias sociais acabando e n -
fornecedores p a s s a r a m a ser da região, q ue o n d e a e m p r e s a t e m a t i vi d a d e s d e m i n e r a ç ã o , p r o j e t os n a s á r e a s d e e d uc a ç ã o, g e s t ã o p úb l ic a, c o n t r a n d o o s negócios”, d i z V i n i c i us P r e c i o s o ,
exp er imentou mu da nç a s n a dinâ mica ec onô - o Instituto levant ou a l g u m a s das principais n e g ó c i os i nc l us i vos e i n f â n c i a e a d ol es c ê nc i a , e s ó c i o d a c o n s u l t o r i a A ve s s o S u s t e n t a b i l i d a -
micalocal – ma i s postos det rabalho, a u me nt o d e m a n d a s dos cerca de 1 m i l mor a dores, que e n t r e 2010 e 2012 p a s s o u p o r u m a r e v i s ã o e s t r a - de, q u e já real izo u t r a b a l h o s d e d es e n v o l v i -
d a a r r e c a d a ç ã o e d i ve r s i f i c a ç ã o d o c o mé r c i o . incluíam preocupações c o m o acesso à á gua e tégica,comoobjeti vodeaproxi marosobjeti vos m e n t o territorial p a ra e m p r es a s c omo Su -
“Todo projeto de des envol vi ment o territorial coma mitigaçãodosimpactosdaativida demi - d o n e g ó c i o e a s d e m a n d a s s oc i a i s i d e n t i f i c a d a s z a n o e F i a t . Lí vi a P a g o t t o , d o FGVces, a l e r t a
c o meç a c o m a licença social p a r a op era r, m a s neradora, especialmente a poeira. n os territórios onde as emp r es as do gr up o Vo- p a r a a possível c a p t u r a do sen t i d o público do
c om o passar dos a nos mi gr a mos para a gera - Localizado n o Polígono da s Secas e c o m t o r a n t i m o p e r a m – n ã o s ó n o Brasil, m a s t a m - ISP- T p e l a l ó g i c a p r i v a d a . “ O i n v e s t i m e n t o
ç ã o d e va l o r c o m p a r t i l h a d o . A e m p r e s a g a n h a b a i x o IDH, o p o v o a d o t a m b é m s o f r i a c o m a b é m n o P e r u , n a C o l ô mb i a e n a A r g e n t i n a . social n ã o p o d e s e c o n f u n d i r c o m u m a á r ea
c o m i s s o: q u a n t o m a i s d e s e n v o l v i d o u m t e r - falta de mobilização dos mor a dor es n a busca “ Temos investido mui t o n o processo de de negócios da e mp r es a , senã o p er de c r edi -
r i t ó r i o , m e l h o r p a r a a c omp a nhi a ” , d i z Ca l a i s . p or me l h o r i a s p a r a a região. O I ns tituto m o n - mo n i t o r a me n t o das m e t a s e n a elaboração bilidade. E s s e é u m p o n t o a o q u a l a s e m p r e s a s
t o u u m a r e de de articulação social e n v o l ve n - de f e r r a me nta s e métricas que c a p t u r e m e s - p r e c i s a m e s t a r alertas”, c o n c l u i .
SINTONIA do os moradores, apoiando a comunidade s e s r es ul ta dos”, d i z A n a B o n i m a n i , g e r e n t e d e
O s n ú m e r o s d o Bisc 2017 r e f o r ç a m a a p r o - n a luta p or m e l h o r i a s e m educação, acesso a g e s t ã o d e p r o g r a m a s d o Instituto Votorantim. Para saber mais sobre ISPTerritorial aplicado à realidade de grandes metrópoles, acesse a
versão digital desta reportagem em pagina22.com.br.
ximação das emp r es a s c o m as principais cisternas e f oment o à ec onomi a de base, por Segund o ela, o i ns t i t ut o a c o m p a n h o u m a i s de

24 PÁG IN A 2 2 J U N H O 201 8 PÁGINA22 JU NHO 2018 25


REPORTAGEM GRANDES EMPREENDIMENTOS

Usina Hidrelétrica de Belo Monte,


emVitória do Xingu - PA

Necessário,
mas nãosuficiente
Projetos de infraestrutura naAmazônia
deixam aprendizados: o licenciamento
ambiental não basta, é preciso haver
também um planejamento territorial integrado
P O R DIEGO VIANA F O T O ROBERTO STUCKERT FILHO / FOTOS PÚBLICAS

E
m 2 0 0 0 , a R e vo l t a d a Á g u a o p ô s a p o - dor et or no dosacionistas, e m p r e g a m o c o n h e -
p u l a ç ã o d e C o c h a b a m b a , n a B ol í vi a , c i me nt o de gestores profissionais, envol vem
à multinacional Bechtel, vencedora i n s t i t u i ç õ e s d e vu l t o , c o m o m u l t i n a c i o n a i s e s a s e i n s t a l e e f u n c i o n e e m u m a r egiã o. N o c a s o
do leilão de privatização do s u p r i - gover nos nacionais. Muitas vezes, os projetos d e C o c h a b a mb a , a p ó s a l i c e nç a o f i c i a l c o n c e d i d a
m e n t o d e á g u a . A c id a d e s e s u b le vo u acabam nã o levando e m conta o pont o de vis- p e l o Esta do, a lic ença s ocia l d a p o p u l a ç ã o n ã o
contra o a u me n t o dos preços e os cortes de t a d o s m o r a d o r e s l oc a i s e n e m p e c u l i a r i d a d e s foi o b t i da . E m o u t r o s cas os , mo b i l i z a ç õ es locais
forneci ment o, realizados c o m truculência. do território i mpacta do, c om resultados q ue o b r i g a r a m c o r p or a ç õ es e g o ve r n o s a s e n t a r à seguida da t ra nsf or ma çã o de cidades pacatas
Ao f i m , a c o n c e s s ã o f oi c a n c e l a d a e a e m p r e s a p o d e m s e r d e s a s t r o s o s . Ma i s q u e i s s o, é d e s - mesacomacomunidadeenegociarascondições e m c ent r os de logística c o m i n t e n s a a ti vi da -
s e r et ir ou. O episódio revel a c o mo é delicada perdiçada a oportunidade de se construir c on- dei mplementação, r elataa economis ta Ana Le- d e e c o n ô m i c a . Ao l a d o d i s s o t u d o , v ê m t a m -
arelaçãoentreasdemandasdeumterritórioe j u n t a m e n t e u m p l a nej a men t o territorial, c o m tícia Silva, m e s t r e e m d e s e n v o l v i m e n t o t e r r i - bémasmedidasparacompensarosimpactos,
o r i t m o d o s g r a n d e s i n v e s t i m e n t o s d e capital. ar ranj os de gover na nç a capazes de r euni r t o - t or i a l p e l a Uni ver s i da de Fe d er a l d o ABC. “ Nã o atravésdeinstrumentoscomoolicenciamen -
A i mp l a nt a ç ã o d e iniciativas de exploração dos os envolvidos e m t or n o de u m a discussão é como se as pessoas simplesmente se r ec u - t o a m b i e n t a l . As e m p r e s a s e x e c u t o r a s d e v e m
ec onô mi c a e m g r a n d e escala p õ e e m relação sobre o model o de desenvolvimento para d e - s a s s e m a r e c eb e r o e m p r e e n d i m e n t o . Elas q u e - c ump r i r itens c omo o replantio de árvores, a
t e mp o s de atuação diferentes, c o n h e c i me n - t e r m i n a d a região – p or m a i s q ue os i nteresses r e m f a z e r p a r t e d o p r o c e s s o decisório”, exp l i c a. construção de hospitais e escolas e outras.
tos n e m s e mp r e compatíveis e prioridades d e cada g r u p o s ej a m conflitantes e n t r e si. “Essas obras t eria m o potencial de trazer
que p o d e m ser divergentes . P a r a t r a t a r d a r el aç ã o e n t r e g r a n d e e m - AMAZÔNIA, CANTEIRO DE OBRAS des envol vi ment o regional, c onsiderando os
Seja a e x p l o r a ç ã o d e r e c u r s o s h í d r i c o s o u p r e e n d i m e n t o e p o p u l a ç ã o local, o c o ns ul t or Quando u m investimento de infraestru- i n ves t i ment os vultosos e m territórios h i s t o -
mi n e r a i s, seja projeto d e hidrelé trica, seja canadense Ian T ho ms on c u nho u a expressão t u r a , m i n e r a ç ã o o u c o mp lex o logístico c he ga r i c a me n t e c o m carê ncias. Ma s p a r a q u e isso
e s t r u t u r a r o d o v i á r i a o u l o gí s t i c a , e m p r e e n d i - “ licençasocialparaoperar” . Oc onc eitoserefere a u m a região, o p r i m ei r o i mp a c t o é u m fluxo aconteça, o i nves t i ment o precisa fazer p a r t e
me n t o s de grande escala f unc i ona m n o ritmo aoassentimentoinformalparaqueumaempre - assoberbante de trabalhadores e maquinário, de algo ma i or : u m p l a nej a ment o territorial

26 PÁGINA22 JUN HO 2018 PÁGINA22 JU NHO 2018 27


GRANDES EMPREENDIMENTOS

q ue ajude a p e n s a r de ma n e i r a i nt egra da quais


são as op or t uni da des e c omo aproveitá -las,
pois justa mente n ã o seguiu u m p la neja mento
t er r i t or i a l e s t r u t u r a n t e q u e e m b a s a s s e o d e -
os t r abalhos fossem monitoradospasso apasso.
As r e c o r r e n t e s e p r e vi s í ve i s d i f i c u l d a d e s
Embora os problemas deBelo
preparar e capacitar todos para essa c hega -
da, e criar espaços efetivos de g o ver na nç a
s e n vo l vi m e n t o d u r a d o u r o d a s voc a ç õ es locais. encontradas nos projetos de infraestrutura
n a Amazônia ins p ir a r am a International Monte tragam lições, não é
territorial, o n de p os sa ha ver u m a discussão
contínua sobre o model o de desenvolvimento
UM PLANO PARA OXINGU
P a r a l i d a r c o m e s s a p r o b l e má t i c a , o e x e m -
F i n a n c e C o r p o r a t i o n (IFC), b r a ç o c o r p o r a t i v o
d o B a n c o M u n d i a l ) e o FGVces a c o n s t r u í r e m certo que serão aproveitadas
em próximas intervenções
q u e a q u e l e t e r r i t ó r i o quer”, d i z D a n i e l a G o m e s plo m a i s concreto de projeto de governança é o coletivamente, c o m o envol vi ment o de ma i s
Pinto, c oor dena dora do P r ogr a ma de D e s e n - Plano de Desenvolvimento Regional Sus t ent á - d e 190 i n s t i t u i ç õ e s , u m c o n j u n t o d e Diretrizes
v o l v i m e n t o Loc al d o C e n t r o d e E s t u d o s e m vel d o X i n g u (PDRSX). A l é m d o s R$ 3,2 b i l h õ e s para Grandes Obras n a A m a z ô n i a . L a n ç a d o
S u s t e n t a b i l i d a d e d a FGV E a e s p (FGVces). “ P l a - de c omp ensação a mb i ental acoplada ao licen- e m 2017, o d o c u m e n t o c o n t é m s e t e e i x o s
neja ment o regional ainda é u m desafio para o c i a m e n t o d e Belo M o n t e , R$ 5 0 0 m i l h õ e s f o r a m temáticos, q ue c or r es p onde m aos principais a terra, as hidrelétricas nã o estarão defi ni-
B ras i l , m u i t a s t e n t a t i v a s n ã o s a í r a m d o p a p e l a l o c a d o s p a r a a g e s t ã o d o PDRSX, c u j a c r i a ç ã o j á desafios de e mp r e e n d i m e n t o s des s e vulto n a t i va me nt e canceladas. Então dizem: se n ã o
ou na uf r a ga r a m, e é preciso aperfeiçoar os c o n s t a v a d o e d i t a l d o l ei l ã o d a u s i n a , e m 2 0 0 9 . região, c omo p l a nej a ment o e o r d e n a m e n t o vã o faz er a us i na , p or q ue n ã o d e m a r c a m logo
i nst r ument os existentes, tais como a Agenda A b r a n g e n d o 11 m u n i c í p i o s d a Regi ã o d e I n t e - t e r r it o r ia l, d e s l o ca m e n t o s co m p u ls ó r io s , n o s s a terra?”, q u e s t i o n a D a n i c l e y d e A g u i a r .
d e D e s e n v o l v i m e n t o Ter r i t or i a l (ADT) e o P l a - g r a ç ã o d o Xi ngu, o p l a n o foi d o t a d o e m 2011 d e capacidades institucionais, populações F o r m a l m e n t e , a R e gi ã o d e I n t e g r a ç ã o d o
n o d e D e s e n v o l v i m e n t o R eg i o n a l S u s t e n t á v e l u m c o m i t ê g e s t o r c o m 3 0 m e m b r o s , 15o r i u n d o s t r a d i c i o n a i s e p o v o s i n d í g e n a s , e o u t r o s (saiba Ta p a jó s d i s p õ e d e f e r r a m e n t a s p a r a g e r i r o
(PDRS), e s p e c i a l m e n t e n o c a s o d e r e g i õ e s q u e d a s t r ê s e s f e r a s d o g o v e r n o e 15 d e o r g a n i z a - ma i s e m diretrizes-grandesobras.gvces.com.br e d e s e n v o l v i m e n t o l oca l . F o r m a d a p o r s e i s m u -
r ec eb em gr a ndes obras”. çõesdasociedadecivil, incluindo r ep r es ent a n - e m p22on.com.br/desenvolvimento -local). n i c í p i os (Aveiro, I t a i t u b a , J a c a r e a c a n g a , N o v o
O p r i n c i p a l foco d e g r a n d e s i n t e r ve n ç õ e s t e s d e e n t i d a d e s p a t r o n a i s , s i n d i c ai s , r u r a i s , P r o g r e s s o , R u r ó p o l i s e Trairão), p o s s u i u m
h o j e n o Brasil é a r egi ã o a ma z ô n i c a . A f l o r e s - u r b a n a s , i n d í g e n a s etc . O c o m i t ê é a p o i a d o TAPAJÓS, A BOLA DAVEZ C o n s ó r c i o I n t e r m u n i c i p a l c r i a d o e m 2013 e
t a é ob j et o d e i n ú m e r o s p r oj et os , s o b r e t u d o e m p or c â ma r a s técnicas organizadas p or t ema s . E m b o r a os p r ob l e m a s de Belo M ont e d e i - u m a A g e n d a d e D e s e n v o l v i m e n t o Ter r i t or i a l ,
g e r a ç ã o hi dr el é t r i c a , m i n e r a ç ã o e logística. A O p l a n o d o X i n g u r e t o m a a i n i c i a t i va p i o - x e m u m legado de aprendizados, nã o é certo d e 2014 – q u e n u n c a s a i u d o p a p e l . E m 2015, o s
profusão de emp r eendi ment os pensados para n e i r a d o p l a n o “BR 163 Sustentável”, l i g a d o a o q u e e s s a s l i ç õ es s e r ã o a p r o v e i t a d a s e m p r ó - p r o f e s s o r e s E l i a n a M a c h a d o (IFPA) e S e r gi o
a A ma z ô n i a , s o m a n d o - s e a o a va n ç o d a f r o n - a s f a l t a m e n t o d a r o d o vi a q u e l i ga Cui a b á a S a n - xi ma s intervenções, c omo as previstas n a r e - M o r a e s (UFPA) e s t u d a r a m a á r e a e c o n c l u í -
t e i r a agrícola e à u r b a n i z a ç ão , é m o t i v o d e f o r t e t a r é m . A i n i c i a t i va s u r g i u e m 2 0 0 3 , a p a r t i r d e g i ã o d o Ri o T a p a j ó s . r a m que os i ns t r ument os administrativos nã o
a p r e e n s ã o e n t r e a mb i e n t a l i s t a s . “ H á d e z e n a s u m e v e n t o e m S i n o p (MT) c o m p a r t i c i p a ç ã o “ O Ta p a j ó s é a b o l a d a vez”, d i z o e m p r e e n - c u m p r e m s e u papel: e mb o r a municípios c o m o
deb a r ragens planejadas t a n t o p a r a a Calha N or - d o s m i n i s t r o s M a r i n a Silva (Meio A mb i e n t e ) e dedor social Ca et a no Sc a nna vi n o, e m S a n - I t a i t u b a p o s s u a m u m P l a n o Di r e t or , o c r e s c i -
t e q u a n t o a C a l h a Sul. M a s a Bacia A ma z ô n i c a Ciro G o m e s ( I n t e g r a ç ã o Na c i onal ). L a n ç a d o e m t a r é m . A vasta e complexa região do Oeste ment o da área urbana é desordenado.
t r a z s e d i m e n t o s d o s A n d e s e d o Cer r a do, q u e 2 0 0 6 , d e ve r i a s e r d o t a d o d e u m c o m i t ê g e s t o r d o P a r á , e n t r e o s r i o s Ta p a j ó s e J a m a n x i m , é Apesar da atuação de diversas or ga ni z a -
f e r t i l i z a m a f l or es t a . A s e l va t e m a t u a n o r e g i - e c o n t i n h a a i d e n t i f i c a ç ã o d e d i ve r s a s z o n a s n a a t r a v e s s a d a p e l a r o d o v i a BR 163 e p e l a T r a n - ç õ e s d a s o c i e d a d e ci vi l , a p o p u l a ç ã o t e m p o u -
m e d e c h u v a s d o c o n t i n e n t e . Se e s s e s i s t e m a áreadeinfluênciadarodoviaaseremtransfor - s a m a z ô n i c a (BR 230). É c e n á r i o d e d i s p u t a s co acesso às infor mações das e mp r es a s que
e n t r a r e m colapso, é difícil p r e ve r o q u e p o d e m a d a s e m á r e a s d e p r o t e ç ã o . Já e m 2 0 0 8 , p o - envol vendo garimpeiros, pecuaristas, m a - o p e r a m as estações de t r ansb or do e outros
acontecer”, di z o a t i vi s t a Da ni c l ey d e Aguiar, r é m, ent i da despar ticipantesdo Consórciopelo de i r ei r os e í n di os M u n d u r u k u . A ferrovia F e r - e mp r e e n d i me n t os n a área. Fazendeiros – i n -
es p ec i a l i s t a e m A m a z ô n i a d o G r e e n p e a c e . D e s e n v o l v i m e n t o S o c i o a mb i e n t a l d a BR-163 rogrão, d e s t i na d a a o e s c o a m e n t o da soja do c l us i ve g r i l e i r o s – q u e d e s e j a m e x p a n d i r a s
As i n t e r ve n ç õ e s t a m b é m t r a z e m i m e n s o s ( Condes s a ) a f i r m a v a m q u e o p l a n o n ã o t i n h a Centro-Oeste, está planejada para atravessar lavouras e m det r i me nt o da floresta t ê m a c es -
p r o b l e m a s s o c i oa mb i e n t a i s . Ci da des c o m o A l - s a í d o d o p a p e l . Hoje, é c o n s i d e r a d o e x t i n t o . a r e g i ã o a u m c u s t o d e R $ 12,7 b i l h õ e s . s o di r et o a o p o d e r púb lic o local, a o c o n trá r i o
tamira, n o Pará, f or a m inundadas nos últimos U m d o s m o t i v o s d o f r a c a s s o n a BR-163 f oi E m 2016, o l o c a l f oi m a n c h e t e n a c i o - d e o u t r o s a t or es sociais. Sob retud o, c o m o a s
a n o s p o r t r a b a l h a d o r e s – a g r a n d e ma i o r i a h o - a falta de f i na nc i a ment o e execução. Nesse nal quando o Iba ma negou o licenciamen- iniciativas sã o mu i t a s e desc onexa s , es t á a u -
mens , s e ms u a s f a mí l i a s - e m busca deemp r ego s e n t i d o , o PDRSX é u m a v a n ç o i n s t i t u c i o n a l . t o d a u s i n a S ã o L ui z d o T a p a j ó s , c uj o p r o j e t o sente u m a estrutura de governança que p u -
n a s o b r a s d a r egi ã o, s o b r e t u d o a u s i n a d e Belo Mas n ã o chega a ser suficiente p a r a s up r i mi r f oi , p o r t a n t o , s u s p e n s o . Foi u m a v i t ó r i a d o s des s e c oor dena r a s d i n â m i c a s locais.
Monte. O intenso e fugaz movi ment o mi gr a t ó - os mui t os p r ob l ema s da região de instalação Munduruku, que teriam parte de suas terras Os c o n f l i t o s q u e c e r c a m g r a n d e s o b r a s n a
rio, n o e n t a n t o , g e r a l m e n t e l e va a o m a i o r c o n - de Belo M ont e. “ A l t a mi r a s of r ec o m vi ol ê nc i a , i n u n d a d a . M a s a s u s p e n s ã o t r a z p o u c o a l í vi o Ama zô nia estão vinculados à integração ec o -
s u m o d e álcool, a a t i vi da des d e p r o s t i t u i ç ã o e a p e r s i s t e m o s r e g i s t r o s d e vi o l a ç õ e s d e d i r e i - à r e g i ã o . S ã o Lui z é s ó p a r t e d e u m c o n t e x t o n ô mi c a da r egião n o me r c a d o global. C a m i -
u m a q u e c i m e n t o d a e c o n o m i a local q u e é p a s - tos huma nos , tanto de populações indígenas q ue envol ve 42 b a r ra gens , a ferrovia, o a s f a l - n h o da soja esc oada p a r a a Chi na, ár ea c o m
sageiro e enganoso. Sob em os preços dos i m ó - q ua nt o de ribeirinhos, e o s a n e a m e n t o básico t a m e n t o c o m p l e t o d a BR 163 ( f a l t a m c e r c a d e g r a n d e p o t e nc ia l hidrelé tric o e rico p o te nc ia l
veis, m o r a d o r e s a b r e m c o mé r c i os n a e s p e r a n ç a a i n d a s e g u e u m caos”, e n u m e r a G o m e s P i n t o . 100 k m ) , u m c o n j u n t o c o m m a i s d e 2 0 e s t a - miner a dor , é t a m b é m u m dos ecossistemas
d e ve n d e r p a r a o s r e c é m - c h e g a d o s , j o ve n s s e U m d o s f oc os d e a t e n ç ã o p a r a m e l h o r a r o d e - ç õ e s d e t r a n s b o r d o d e c a r g a s (ETC, q u e s ã o m a i s c ompl exos, delicados e biodi versos do
q u a l i f i c am e m c u r s o s t é c ni c os . M a s q u a n d o o s s e mp e n h o das compensações é a melhoria dos c omo p eq uenos portos) e mineração. p l a net a . Conciliar os dois p ot enciais é u m
in ve s t im e n t os at in ge m o p on t o d e m at u r a çã o, a m e c a n i s m o s d e m o n i t o r a m e n t o , di z a p e s q u i - Mesmo os Munduruku nã o se s e nt e m s e - e n o r m e desafio. E m t e m p o s de m u d a n ç a cli -
ofertadeempregodiminuibrutalmente. Éoq ue sadora. M es mo quando as condicionantes são gur osc omap eq uena vitór ia . Osíndiosreivin- má t i c a e b usca p or f ont es renová veis, p e r s i s -
s e c h a m a d e b o o m- c o l a p s o , u m a euf or i a e c o - c u mp r i d a s , e s s e c u m p r i m e n t o p o d e s e r f a l h o . d i c a m a de ma r c a ç ã o da t e r r a Sa wré Muyb u. te a pergunta: que for ma de desenvolvimento
nômica que nã o se sustenta ao longo do tempo, P a r a e vi t a r e s s e p r o b l e ma , s e r i a n e c e s s á r i o q u e “Eles s a b e m que, e n q u a n t o n ã o d e m a r c a r e m q uer emos p a r a o território amazônico?

28 PÁGINA22 JU N HO 2014 PÁGINA22 JU NHO 2018 29


REPORTAGEM NA PRÁTICA

Como ir além b a m no t e mp o dos m a n -


d a t o s e l e t i vo s , c o m o n a
maioria das cidades
de governa nça p a ra a definição de u m pla no
de i nvesti ment os, c o m base n a metodologia
desenvol vida pel o Ins t it ut o Lina Galvani e m

do discurso
brasileiras. O p oder parc eria c o m a A genda Pública. “ U m i m p o r -
de convencimento t a n t e aprendizado t e m sido o a l i n ha me n t o de
f oi d e s e n v o l v i d o p o r e x p e c t a t i v a s p a r a e v i t a r f r u s t r a ç õ e s futuras”,
meio de rotinas que a p o n t a C o o r e m a n . A l i ç ã o ve i o à t o n a n o m u -
Embora a governança territorial incluíram reuniões
duas vezes por s e m a -
nicípio c o m o a t r a s o n o r ep a s s e dos r ec urs os
d o BNDES à m o d e r n i z a ç ã o d a e s c o l a , o q u e
não tenha uma “receita de bolo”, n a c o m a Prefeitura e
capacitação de a g e n -
gerou i nsa tisfaçã oec ob rançap orpar t edac o -
m u n i d a d e . R i s c o s d e s s e t i p o , d i z e l e, d e v e m
alguns elementos são determinantes t es públicos. Al é m
disso, c o mo f o r ma
s er a l i n h a d o s des de o início.
Outro e l e m e n t o básico é a c o nstr uç ã o d e
para garantir suaefetividade de tornar a estraté -
gia m a i s a trat i va à
c onfia nça. “ S e m ela, o p roc esso es ta r á a m e a -
çadoporconflitosepelafaltadedisposiçãoem
Presente
em 13
agenda municipal, s u p e r a r obstáculos”, a va l i a M a r g a r e t h F l o r es , países da
América
POR SÉRGIO ADEODA TO F O T O ELEMENTS o c a m i n h o f oi m e s - d i r e t o r a e x e c u t i v a d a Red E América . E m s u a Latina, a
clar investimentos a nálise, os espaços de diálogo n ã o p o d e m s er redeagrupa
de curto, mé di o e ma nej a dos por i nt er esses particulares, m a s 70 organi-
Com zações
alar de governa nça t er r i t o- logo e n t r e os mú ltipl os i n t e - longo prazos. “Mas d e ve m fortalecer o respeito às diferenças, empre-

F
capacidade
deproduzir r i a l é f á c i l . Di f í c i l é a p l i c á - r es s es de i ns t â nc i a s políticas, s omos ainda tímidos s e m a exclusão de vozes, n a c ons t r uçã o do sariais com
1,2 -la n a prática, c om sinergia ec onô mi c a s e sociais. e m cobrar resultados des envol vi m e nt o local. o objetivo
milhão de de desen-
de esforços e r es p ons ab i- “ Estamos longe de c ons e - do p oder público c o m “ Grupos ma i s vulneráveis e n f r e n t a m volver
toneladas
l id a d e s , p a r a o a lc a n ce guir u m sistema t r a ns p ar ent e a m e s m a veemê ncia grandes barreiras de conhecimento e i n - modelos
por ano
de rocha g a n h o s c o l e t i vo s q u e f a ç a m a d i - c om indicadores de d e s e mp e n h o c om que s omos cobra- f o r m a ç ã o p a r a p a r t i c i p a r e s e expressar”, de gover-
fosfática, nança
d ef e r e n ç a n o c o n t e x t o d o d e s e n v o l - das ações que p o s s a m ser a c o m - dos”, d i z C o o r e m a n . a f i r ma a executiva . C o m a finalida de de
oempreen- territorial
dimento
v i m e n t o local. Não h á u m a receita p a nha da s, cobradas e compensadas De acordo c o m o e x e - ma t e r i a l i z a r os acordos e p la nos , a di r et ora e trocar
reduzirá d e b o l o, m a s a l g u n s e l e m e n t o s p o - n o c a s o d e falhas”, r e c o n h e c e L i e ve n c u t i vo , a p ó s o c o m e ç o d a s r ec omen da a criação de u m a arquitetura de experi-
a depen- ências.
d e m ser det er mi na nt es para que C o o r e m a n , p r e s i d e n t e d a G a l va n i . A obras, o projeto contribuiu gestão e monitora mento de resultados que No Brasil,
dência de
impor-
dê certo, enq ua nt o outros f a z e m a mi ner a dor a e fabricante de fertilizantes para que os recursos dos i mp o s - seja flexível e d i n â m i c a , f ora d a s i n s t â n c i a s são 10
taçõesde ma s s a desandar n a construção de e s t á i n ve s t i n d o R$ 2,6 b ilhõ es n a c o n s tru ç ã o d e tos pagos ao município f o s s em b e m de gover no, e d ef i na c o m clareza as r e s p o n - empresas
fertili- u m a agenda c o m u m de melhoria um complexo industrial e m S e r r a d o S a l i t r e (MG), investidos. “É preciso ser proativo p orq ue sabilidades, as funções e os aportes que cada
zantes
e criará
da s condições de vida e redução de considerada a maior obra de infraestrutura e m execu- e s t á e m jogo a s us t ent ab i lida de d o p r ó p ri o u m colocará n o processo.
1,2 mil impactos, envol vendo a chegada de ção n o Estado. Coma a q ui s i ç ã odos di r ei t os mi n e r á r i os negócio”, a d v e r t e o e x e c u t i v o . El e l e m b r a A questão, n o enta nt o, é complexa . O s o -
empregos emp r eendimentos que interferem h á duas décadas, b e m antes das operações n a área, a q u e o s a n t i g o s m o d e l o s já n ã o c o n d i z e m c i ó l ogo A r i l s o n F a va r e t o , d a U n i v e r s i d a d e F e -
no ápice
das nos territórios. É u m a no va e c o m - emp r es a se aproximou da comunidade e da prefeitura c o m o cenário de ma i or acesso à i nf or maçã o d e r a l d o ABC, e s c r e v e q u e “ a a b o r d a g e m t e r -
operações plexa fronteira do conheci mento, p a r a iniciar a c ons tr ução conjunta de u m a a genda de d a “ n o v a a l d e i a global”, e m q u e a s p e s s o a s ritorialimplicaumatra nsfor mação estrutural
de e m que os avanços mui t a s vezes se futuro, identificando d e m a n d a s prioritárias à c o m - estão ma i s conectadas e exercem pressões n a vi s ã o d a r e l a ç ã o e n t r e u m E s t a d o o f e r t a d o r
mineração
e daplanta dão à base do aprendizado c om e r - p ens a ç ã o dos i mp a c t os negativos e mel hor i a da s c o n - cada vez ma i o r e s s ob r e a s e mp r e s a s , c o m - d e políticas e u m a soc ieda de beneficiária d a s
química ros e acertos. E do r ec onhec i ment o dições de s a ú de e educação. pelidas a p ens a r no longo prazo e a conquis- me s ma s , para u m model o onde a oferta e a
sobre o que falta pa ra chegar a b ons Umdesafiofoialinharavisãodelongocoma agen- t a r licença social p a r a operar. d e m a n d a l ocaliza m-se e m espaços de c or r es -
resultados n a construção do di á - da da gestão municipal, habituada a planos que cai- E m S e r r a d o S a l i t r e , f oi c r i a d o u m c o m i t ê ponsabilidade, autonomia e cogestão” .

30 PÁGINA22 JU NHO 2018 PÁGINA22 JU NHO 2018 31


NA PRÁTICA

E m s eus a rt igos científicos, o es p ec ia l is -


O conceito marca,
por exemplo, a t a c o s t u ma reforçar q ue n ã o é possível ob t er
Política Nacional de m e c a n i s m o s de go ve r na n ç a efetivos s e m
Resíduos Sólidos,

Todo mundo se
i n s t r u m e n t o s de r esponsabil ização claros .
aprovada em 2010
com a divisão de To do m u n d o s e e n t e n d e n a m e s a m a s , s e o
responsabilidades

entende na mesa,
a r ra nj o n ã o for f or ma lizado, n ã o f unc i ona .
entre empresas, E m geral, é o d i l e ma do conceito de “ r e s p o n -
governo e
população na s a b i l i d a d e c o mp a r t i l h a d a ” , m u i t o e m v o g a n a
questão do lixo c o n s t r u ç ã o d e políticas públicas, m a s q u e
exige instâncias for mais de cobrança de m e -
mas agovernança
Foi criada
t a s e r es ul ta dos p a r a os acordos, p a r a q ue n ã o
fiquem n o discurso e n a s boas intenções.
não funciona sem
aAssociação
Ortópolis Barroso
(do grego orto
“É preciso garantir o envol vi ment o i gua -
l i t á r i o n o s e s p a ç o s d e diálogo”, o b s e r v a T a t i a - responsabilidades
=correto; polis
=cidade) para a
gestão dasações,
n a Nogueira, coordenadora de responsabili -
da d e social da LafargeHolcim, mu l t i na c i o na l claras e
formalizadas
fabricante de c imento e outros materiais de
que incluíram
oficinas de construção. Além do ma i s , de ve - s e respeitar
planejamento a s d i f e r e n t e s r e a l i d a d e s l oc a is : u m m o d e l o
estratégico
que deu certo na Amazônia pode, por e x e m -
participativo,
mapeamento plo, f r a cassar n o interior do Nordeste. SOS M a t a A t l â n t i c a , a o l e m b r a r q u e a o c u p a -
de problemas E m B a r r o s o (MG), o n d e s e l o c a l i z a u m a d e ç ã o d e s o r d e n a d a d o s ol o, q u e d i f i c u l t a i n v e s -
e propostasde
s u a s p r i n c i p a i s o p e r a ç õ e s n o Brasil, a e m p r e - t i me nt os n a rede de coleta pa ra t ra t a me nt o, é
soluções, com
o objetivo de s a d e s e n v o l v e u a p a r t i r d e 2 0 0 3 u m projeto u m ponto-chave. “ Enquanto a governança da
revitalizar acidade c o m a ç õ e s n o h o r i z o n t e d e 10 a n o s . A p ó s o á gua e d o solo c o nt i n ua r u m a ut opia, o risco
período, que a b ra ngeu mobilização c o m u n i - h í d r i c o e s t a r á s e m p r e p r es ent e” , a f i r m a .
tária, capacitação e f ortal eciment o de o r g a - Na Amazônia, o d e s a f i o d a g o v e r n a n ç a t e r -
Após consumir n i z a ç õ e s s o c i a i s e p r o d u t i v a s , f oi c r i a d o e m r i t o r i a l e n vo l v e e s p e c i a l m e n t e a s p o p u l a ç õ e s
R$ 8,8 bilhões, o 2015 o C o m i t ê d e A ç ã o P a r t i c i p a t i v a r e u n i n d o t r a d i c i o n a i s . “A r e s p o n s a b i l i d a d e p e l o d e s e n -
projeto está hoje v o l v i m e n t o l oc a l é d e t o d o s e n ã o s o m e n t e d a
15 l i d e r a n ç a s e l e i t a s p e l a c o m u n i d a d e p a r a
na terceira fase,
que deve terminar fazer o barco a ndar c om base no aprendizado empresa”, d e s t a c a A l e x a n d r e Di Ci er o, g e r e n -
até 2019. A quarta da f as e inicial, t r a ç a n d o a es t ra té gi a de d e - te de sustentabilidade da Suzano, emp r esa de
etapa está emfase c e l u l os e e p a p e l q u e d e s d e 2014 m a n t é m á r e a s
s envol vi ment o territorial.
de planejamentoe
captação. A mancha “No model o participativo oc upa mos de plantio de eucalipto e instalações i n d u s -
de poluição do Rio c a d e i r a s , m a s n ã o s o m o s d o n o d o espaço”, t r i a i s n a r e g i ã o d e I m p e r a t r i z (MA), c o m i n -
Tietê ocupa 130km v e s t i m e n t o t o t a l d e R$ 2 , 6 b i l h õ e s O m o d e l o
i l us t ra a c oor d e na d or a . Ela c onc or da q u e é
de extensão
preciso definir responsabilidades e repet e o a s s i s t e n c i a l i s t a i m p l a n t a d o n a d é c a d a d e 1990
e n s i n a m e n t o do provérbio : “ Cã o de m u i t o s n o e n t o r n o d e s u a s u n i d a d e s d o Sul d a B a h i a
donos m o r r e de fome”. foi a g o r a t r o c a d o p o r u m a e s t r a t é g i a c o n j u n -
Além de apoiar O problema é inerente à gestão de proje- t a e participativa e m q ue o des envol vi ment o
a produçãoleiteira
t o s e m b l e m á t i c o s , c o m o a despoluição d o territorial é c omp a r t i l ha do p or e mp r es a , p o -
comtecnologia
de silagem, a Ri o Ti et ê , e m S ã o P a u l o , q u e s e a r r a s t a p o r 25 d e r público e p op ula ç õ es locais.
empresa dásuporte a n o s e a i nda es t á longe d o final. Falta a i n t e - Se n o p a s sa do a relação er a de d e p e n -
à atividade das
gração ent r e as instâncias federais, estaduais dência, hoje está lastreada n o mod el o b a -
quebradeiras
de coco babaçu, e municipais cont ra a principal causa do p r o - s e a d o n o s c o n s e l h o s c o m u n i t á r i o s . El es
fonte de óleos e blema: o l a nç a me nt o do esgoto doméstico def i n e m os i nves t i ment os prioritários e m
outros produtos.
n o r i o . “A g o v e r n a n ç a t e r r i t o r i a l é o p r i n c i - p a r c e r i a c o m a i n d ú s t r i a , c uj o p a p e l é l e -
Aos índios Krikati
são fornecidos p a l e n t r a v e d o projeto”, a n a l i s a M a l u R i b e i r o , var tecnologia e t r e i n a me n t o p a r a m e l h o -
assistência técnica coordenadora da Rede das Águas da Fundação r i a s d a produção local e d a q u a l i d a d e d e
para a roça e
vida. “ O ma i o r desafio é fortalecer a o r g a -
insumos àprodução
de artesanato Acesse a íntegra emgoo.gl/zvRo2s. Leia mais sobre Arilson nização social, p or q ue n a d a é realizado s e m
Favareto emEntrevista à pág.6
c o n s u l t a à s c o mu n i d a d e s ” , d i z o e x e c u t i v o .

32 PÁG IN A 2 2 J U N H O 201 8
BRUNO GOMES
a r t igo Sócio-fundador da HUMANA – Serviços em Sustentabilidade e secretário técnico do Grupo
de Diálogo Latino-Americano: Mineração, Democracia e Desenvolvimento Sustentável

Goverftaftça territorial e g e s t ã o ifttegrada


Experiências internacionais ilustram como conciliar investimentos e crescimento econômico
com uma agenda ambientalmente responsável de inclusão e combate à desigualdade

o lançamento da Agenda dustriais e de Mineração, entre outros.

D 2030 aos compromissos as-


sumidos naCOP21, passando
por centenas de reuniões e
convenções, as nações são desafiadas a
conciliar produção de energia e alimen-
Uma governança territorial mais in-
tegrada apresenta uma série de obstácu-
los institucionais. É preciso buscar novas
soluções, modelos, recortes territoriais
e pactos sociais. Nesse sentido, o gover-
tos, extração de minérios e construção no colombiano regulamentou uma nova
de infraestrutura com a necessidade de figura administrativa reconhecendo
se preservar condições socioambientais territórios indígenas como unidades ad-
essenciais para o futuro do planeta. ministrativas autônomas, tornando-os
Enfrentar esse imenso desafio re- praticamente “municípios”. A regula-
quer um arranjo de governança no qual mentação prevê “Planos de Vida”, como
Estado, setor produtivo e sociedade civil instrumentos de ordenamento territo-
possam estabelecer acordos dialoga- rial e planejamento , abrindo caminhos
dos. Exige, ainda, que se tome em conta para formas de governança territorial
de forma cumulativa o impacto dos di- que garantam o direito das populações
versos projetos e empreendimentos. geociência, serviços para a promoção de tradicionais em definir os rumos de seu
Nesse contexto, têm surgido algu- investimentoseamploarcabouçoregula- desenvolvimento.
mas iniciativas internacionais inspirado- tório,alémdepossuirsólida estratégiade O Brasil também vem percorrendo
ras. O Fórum Econômico Mundial lançou engajamento de comunidades em todo seus próprios caminhos. Um exemplo é
recentemente uma publicação sobre o o processo de planejamento territorial. o ProgramaTerritórios Sustentáveis ,
planejamento na escala da paisagem, ou A estratégia baseia-seemacessoàinfor- que propõe a comunidades Quilombo-
Landscape-Scale Planning , no qual de- mação, consulta, participação, conside- las da Amazônia um planejamento ter-
fende o planejamento territorial integra- ração e aprimoramento contínuo. O sis- ritorial integrado vinculado à criação
do e busca soluções para melhor gestão tema permite estabelecer vastos planos de mecanismos financeiros comunitá-
de riscos socioambientais, com mais se- deusoeocupaçãoterritorial, conciliando rios. Com isso, busca não só uma par-
gurança para o empreendimento e para estratégias governamentais, interesses ticipação de cada um dos atores, mas
as comunidades. econômicos efunção social doterritório. também mais eficiência e viabilidade na
Por meio de um amplo engajamen- Mais uma linha de trabalho vem sen- implementação dosplanos.
to das partes interessadas, aliado à in- do desenvolvida por uma tradicional Essas experiências ilustram uma
tervenção de especialistas, o processo região mineradora do Norte da França prática da governança territorial ba-
de Landscape-Scale Planning parte de (Hauts-de-France), em parceria com a seada na gestão integrada, conciliando
dados sobre biodiversidade, serviços Fundação de Amparo à Pesquisa do Es- investimentos e crescimento econô-
ecossistêmicos, infraestrutura atual e tado de Minas Gerais (Fapemig). mico com um desenvolvimento de fato
desenvolvimento potencial para definir O projeto Riquezas Compartilhadas inclusivo e centrado na redução das de-
áreas essenciais para conservação da promove o diagnóstico das múltiplas sigualdades.
biodiversidade e prestação de serviços formas de riquezas presentes nos ter- Mais do que nunca, antecipando a
ecossistêmicos, áreas para um desen- ritórios, além da identificação eanálise chegadadeumnovociclodecrescimento
volvimento futuro (ocupação ou explo- dos meios decompartilhamento dessas econômico e consequentemente de uma
ração de recursos), áreas de uso com- riquezas entre as populações dos terri- grande pressão sobre os territórios, é
plementar eáreas depossíveis conflitos. tórios estudados. A abordagem estabe- preciso que órgãos governamentais e
Outro exemplo vem do governo de lece alguns componentes doterritório, empresas olhem para essas experiên-
Victoria, estado da Austrália, através do como: Riqueza Humana e Social; Luga- cias, entendam aexigência do momento e
Earth Resources Regulation, serviço vin- res de Enriquecimento Cultural; Equipa- atualizem suas estratégias. Disso depen-
culado ao Departamento de Desenvol- mentos e Economia do Conhecimento; derá o sucesso de uma agenda nacional
vimento Econômico que reúne dadosde Riqueza Social e Econômica; Áreas In- de desenvolvimento para todos.
World Economic Forum, Blueprints for a greener footprint: Sustainable Development and Landscape Scale, 2016.goo.gl/naR73N riquezascompartilhadas.com.br
goo.gl/HinSJJ territoriossustentaveis.org.br

34 PÁGINA22JU NHO 2018

Das könnte Ihnen auch gefallen