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A existência de Deus

O argumento ontológico
“Uma coisa é que algo se encontre no entendimento e outra o
compreender que existe.” St.Anselmo, Proslogium cap. II

“O argumento ontológico […] é uma tentativa de mostrar que a


existência de Deus se segue necessariamente da definição de Deus
como o ser supremo. Porque esta conclusão pode ser retirada sem
recorrer à experiência, diz-se que é um argumento a priori.
De acordo com o argumento ontológico, Deus define-se como o ser
mais perfeito que é possível imaginar; ou na mais famosa formulação
do argumento, a de Santo Anselmo, Deus define-se como “aquele ser
maior do que o qual nada pode ser concebido”. A existência seria um
dos aspectos desta perfeição ou grandiosidade. Um ser perfeito não
seria perfeito se não existisse.
Consequentemente, da definição de Deus seguir-se-ia que Deus
existe necessariamente, tal como da definição de um triângulo se
segue que a soma dos seus ângulos internos será de 180 graus.”
Mas este argumento não e plausível na medida que :

Por exemplo, podemos muito facilmente imaginar uma ilha


perfeita, com uma praia perfeita, vida selvagem perfeita, etc.,
mas é óbvio que daqui não se segue que essa ilha existe algures.
Logo, porque o argumento ontológico parece justificar uma
conclusão tão absurda como esta, pode facilmente ver-se que se
trata de um mau argumento. Ou a estrutura do argumento não é
sólida, ou, pelo menos, um dos seus pressupostos tem de ser
falso; de outra maneira, não poderia dar lugar a consequências
tão obviamente absurdas.
Um defensor do argumento ontológico pode responder a esta
objecção dizendo que, apesar de ser claramente absurdo pensar
que podemos demonstrar a existência de uma ilha através da
sua definição, não é absurdo pensar que da definição de Deus
se segue que Deus existe necessariamente. Isto é assim porque
as ilhas perfeitas, tal como os carros perfeitos, dias perfeitos, ou
seja lá o que for, são apenas exemplos perfeitos de categorias
particulares de coisas. Mas Deus é um caso especial: Deus não
é apenas um exemplo perfeito de uma categoria, mas a mais
perfeita de todas as coisas.
A existência não é uma propriedade

Se aplicarmos o mesmo raciocínio ao argumento ontológico, veremos


Umocelibatário
que pode ser
erro que comete definido
é tratar como umde
a existência homem
Deus solteiro.
como seSer nãosolteiro
é a que
Mas propriedade
passasse de outra
dizer, essencial definidora
propriedade,
então, dos seres como de um celibatário.
a omnisciência
ficcionais, como ou Ora, se Claro
eu
a omnipotência.
os unicórnios?
dissesse
Mas
que podemos “os falar
Deus não celibatários
poderia ser existem”
acerca omnisciente
das não nem
propriedadesestaria aum
descrever
omnipotente
de semmais
unicórnio, uma
existir;
tal como
propriedade
logo,
ter ummesmo dos
corno enuma celibatários.
quatrosimples A existência
patas,definição
sem que de nãojáéestamos
os Deus
unicórnios o mesmo
tenham a tipo de coisa
pressupor
de existir
queDeus
que a propriedade
realmente. A resposta
existe. deéser solteiro:
esta:
Acrescentar uma para como
frase
a existência que uma
como “Os pessoa
umapossa
unicórnios
mais têmserum
propriedade
solteira
corno”
essencial tem
é de primeiro
defacto
um uma
ser de existir,
afirmação
perfeito apesar ode
hipotética.
é cometer oLogo,
erro conceito de celibatário
a inexistência
de tratar a existência ser
de como
o mesmo,
uma
unicórnios quer
propriedade,
não é existam
um vezcelibatários
emproblemade a para quer
trataracomo não.
a condição
perspectiva de possibilidade
que defende que a
existência não é uma
para que qualquer propriedade.”
coisa possa realmente ter uma propriedade qualquer.
ATEÍSMO
Suponha-se que estamos num dormitório de uma escola ou de uma
universidade. As coisas não são lá muito boas. O telhado pinga,
andam por lá ratazanas, a comida é quase intragável e alguns
estudantes morrem de facto à fome. Há uma porta fechada, atrás da
qual está o gerente, mas o gerente nunca aparece.
Começamos então a especular sobre como será o gerente. Será que
podemos inferir, a partir do dormitório, tal como o vemos, que o
gerente, primeiro, sabe exactamente em que condições se encontra o
dormitório,
A inferênciasegundo, que sePoderíamos
é disparatada. interessa muito pelo
inferir nosso
quase de bem-estar e, o
imediato que
terceiro, que sabia
gerente não possuicomo
recursos ilimitados
estavam para ou
as coisas, o arranjar?
que não se importava, ou
que nada podia fazer para as melhorar. Nem melhoria em nada as coisas
se, por acaso, encontrássemos um estudante que afirmasse ter ficado
íntimo do gerente e assegurasse que o gerente de facto sabia o que se
passava, se interessava e tinha recursos e a capacidade de fazer o que
quisesse. A inferência mais imediata que poderíamos fazer a partir disto
não é que o gerente é como o estudante diz ser, mas que o estudante
está a delirar.
Observações semelhantes aplicam-se à convicção de que este
mundo "é um vale de lágrimas", que funciona como uma espécie
de teste para o que ainda está para vir. Os estudantes do
dormitório podem pensar que o gerente está a testar como se
comportam eles, de modo a mudá-los no ano seguinte para um
dormitório melhor ou pior – na verdade, para um dormitório
perfeito ou infernal.
Se forçarmos as coisas, podemos pensar que isto até pode ser
verdade. Mas, segundo as informações de que dispõem, os
estudantes não têm a mínima razão para acreditar nisto. Tudo o
que sabem acerca do gerente é o que viram dele. E, se ele ou ela,
ou eles, não fornecem boas condições neste dormitório, por que
razão haveriam os estudantes de supor que o iria fazer noutro
sítio qualquer? Seria o mesmo que supor que, uma vez que está
calor neste dormitório, deve haver um dormitório algures onde
está um calor perfeito e outro onde está um frio perfeito. A
inferência é disparatada.
Os homens religiosos irão falar com entusiasmo do seu melhor texto e
das
Ora, suas
o quetradições.
todosnoirãoPorém, o que mede
«esquecer-se» choca
dizernão
é quesãoostanto
seusas suas
textos
Todos os dias mundo, seis mil raparigas muçulmanas, animistas e
palavras,
sagrados antes os
o descrevem seus silêncios...«Deus é Fidelidade», dirão os judeus.
cristãs são excisadas;como o «Devastador»
de quinze (Isaías 13,6),
em quinze segundos, uma como um é
menina
«Deus
«Fogo é Amor», cantarão osaos
cristãos. «Deus é a Misericórdia»,
assimdevorador»
mutilada para (Epístola
sempre naHebreus 12,29),
sua intimidade. como
Há Aquele
quem capazesta
justifique
proclamarão
deprática
revelar um os muçulmanos.
«ódiodaprofundo» contra os discutimos
que discutem os seusneste
Signos
em nome religião. Enquanto metafísica
(Corão 40:34 sgs).
lugar retirado, Os hindus
a Terra continuaelogiarão os méritos
a girar como das suasdesnorteado.
um carrossel liberdades
espirituais, mas não
E o que dizem deixarão escapar
as autoridades umasobre
religiosas palavra sobre
estas os milhares
atrocidades? Nada,
deouescravos no seio
muito pouco. E, ou fora das
quando castas,
o fazem, sistemas de
geralmente só opressão
conseguem queagravar
vários dos seusem
os problemas textos
vezcorroboram.
de os resolver. Os Terei
budistas far-nos-ão
de recordar quedescobrir
milhões ade
sua grandemulheres
homens, compaixão para com
e crianças todos osem
morreram seres, mas religiosas?
guerras será que Isso é
evocarão as rivalidades
do conhecimento existentes
de todos, ou deviaentre
ser.os mosteiros e o
subdesenvolvimento social e económico da maioria dos seus países?
Por que razão, se Deus existe, não o vemos? E porque se mantém
A minha primeira
silencioso? dificuldade
Os religiosos diz respeito que
respondem-me à própria
Deus existência
se revelou de Deus.
a profetas
e«Se Deus criou
videntes. o mundo,
Judeus, cristãosquem criou Deus?»
e muçulmanos Será
falam nosDeus
seusaescritos
Causa
primeira?de
sagrados A Causa última das causas
uma “auto-revelação” das causas?
de Deus, Deusda
e os hindus seria o fim
shruti, dade
Voz
uma causa
eterna ouvidasem causas?
pelos Com
rshi, os efeito,
poetas de onde Ora,
inspirados. vem este
tudo Deus? Atédeagora,
isto data há
nenhumde
séculos, teólogo ou filósofo
milénios. Talvez conseguiu
estes textos dar-me uma resposta
não passassem válida.
de um meioA de
minha segunda
justificar dificuldade
uma coesão social que,
em nomepor ordem
de uma deVerdade
importância, é certamente
indiscutível
a primeira,
(dogma) ? Adiz respeito
mim, o que àme invisibilidade
preocupa não e inaudibilidade
é aquilo que sede passou
Deus. em
tempos imemoráveis, mas sim o que vivemos hoje. Por que razão Deus,
se existe, continua agora tão escondido e tão discreto?
Num país africano, mas isso podia ter acontecido em qualquer sítio do
mundo, uma mãe e os seus dois filhos são acordados a meio da noite.
O pai, recrutado para a guerra, não dá sinal de vida há meses. Será que
ele acaba por chegar? A vida irá por fim retomar o seu curso normal? O
rapaz poderá de agora em diante usufruir do orgulho de um pai? A
A porta abre-se.
rapariga Os soldados
poderá finalmente do campo
casar inimigo
com aquele irrompem
belo pelaa minúscula
rapaz que
barraca
contemplasoltando gritos
com tanta grosseiros e trocistas. Agarram no rapaz, sob os
ternura?
olhares angustiados da mãe e da rapariga. À frente deles, e excitados
pelos seus gritos, esquartejam-no com as facas. As pernas, o sexo, o
ventre, o rosto... Depois, à pressa, fabricam uma estaca e o que resta do
Mas ainda não acabou, oiçam o resto. Os soldados, possuídos e excitados,
corpo sanguinolento e retalhado é crucificado, ali mesmo sobre aquele
apoderam-se da rapariga. Raivosamente, arrancam-lhe a roupa. Com as
pedaço de madeira... Sentem-se mal?
mãos ainda sujas de sangue, mancham o corpo daquela que estava
reservada às carícias de um marido apaixonado. Um após o outro, durante
horas a fio, violam-na, rasgam-na, despedaçam-na. Depois algemam-na e
levam-na na esperança de a venderem como escrava a um bom pai de
família, que diariamente faz as suas orações. Se Deus existe, como
consegue assistir a tudo isto sem levantar um dedo? E, porém, o céu
mantém-se silencioso. Abominavelmente silencioso. «A única desculpa de
Deus é que não existe».
Argumento ontológico
“Ao estar habituado, em todas as […] coisas, a fazer a distinção entre a
existência e a essência …”
É inacreditável conceber Deus (isto é, um ser soberanamente perfeito)
ao qual lhe falte a existência (isto é, ao qual falte alguma perfeição) do
que conceber uma montanha que não tenha nenhum vale.
Mas mesmo que eu não possa conceber Deus sem existência, […], todavia, do facto
de eu conceber uma montanha com um vale, não se segue que haja alguma
montanha no mundo, da mesma forma que, também, do facto de poder conceber
Deus com existência, parece não se seguir, por isso, que exista: pois o meu
pensamento não impõe nenhuma necessidade às coisas;
e como só se refere a mim imaginar um cavalo alado, ainda que não exista nenhum que tenha
asas, do mesmo modo poderia atribuir a existência a Deus sem que nenhum Deus existisse.
Há aqui um sofisma oculto sob a aparência desta objecção: pois do facto de não
poder conceber uma montanha sem vale, não se segue que haja no mundo nenhuma
montanha nem nenhum vale, mas, sim, que a montanha e o vale, quer eles sejam,
quer não, não se podem separar de forma alguma um do outro; ora, do facto que eu
não poder conceber Deus sem existência, segue-se que a existência é inseparável
dele […];
não que o meu pensamento possa fazer que isso seja assim e que ela imponha às coisas
alguma necessidade; mas, pelo contrário, porque a necessidade da própria coisa, a saber,
a existência de Deus, determina o meu pensamento a concebê-lo desta forma. Pois não
está na minha liberdade conceber um Deus sem existência (isto é, um ser soberanamente
perfeito sem uma perfeição soberana), como faz parte da minha liberdade imaginar um
Argumentos cosmológicos
“Não podemos saber o que Deus é, mas, antes, o que Ele não é”
S.Tomás, Summa Teologiae, Prima Pars, q.3
O que existir tem de ter uma causa ou uma razão da sua existência, uma vez
que é absolutamente impossível para qualquer coisa produzir-se a si própria,
ou ser a causa da sua própria existência.
O que foi, então, que determinou que algo existisse, e não o nada, concedendo ser
a uma possibilidade particular, em detrimento das outras? Causas externas,
estamos a supor que não as há. Acaso é uma palavra sem significado. Terá sido
nada? Mas isso nunca poderá produzir coisa alguma. Temos, portanto, de recorrer
a um Ser necessariamente existente, que tem em si mesmo a razão da sua
existência; e que não podemos supor não existir sem exprimirmos uma
contradição. Consequentemente, há um tal Ser – isto é, uma Divindade.
. Remontando, portanto, dos efeitos às causas, temos de continuar a percorrer uma sucessão
infinita, ou temos finalmente de recorrer a uma causa última qualquer, que exista
necessariamente. Ora que a primeira suposição é absurda pode demonstrar-se assim: na cadeia
ou sucessão infinita de causas e efeitos, a existência de cada efeito é determinada pelo poder e
eficácia da causa imediatamente precedente; mas a totalidade da cadeia ou sucessão eterna,
tomada no seu todo, não é determinada ou causada por coisa alguma. Todavia, é evidente que
exige uma causa ou uma razão, tanto quanto qualquer objecto particular que comece a existir
no tempo. É ainda razoável perguntar por que razão esta sucessão particular de causas existiu
desde sempre, e não qualquer outra sucessão, ou nenhuma
Diz-se que Russell terá comentado que o argumento da primeira
causa era mau, mas excepcionalmente, terrivelmente mau, uma
vez que a conclusão não só não se segue das premissas, como
na realidade as contradiz. A sua ideia era que o argumento parte
da premissa «tudo tem uma causa [prévia e distinta]», mas acaba
na conclusão de que tem de haver algo que não tem uma causa
prévia e distinta, mas «que tem em si a razão da sua própria
existência». Logo, a conclusão nega o que as premissas afirmam.

A rejeição de Russell é um pouco fraca. Pois o objectivo do


argumento, da perspectiva teológica, é mostrar que, apesar de
as coisas materiais ou físicas terem uma causa prévia distinta,
este mesmo facto nos leva a postular que há algo diferente que
não tem uma causa prévia distinta
As cinco vias da demonstração da
existência de Deus
“Que Deus existe, pode-se provar por cinco vias.
1ª Via: o argumento a partir do movimento
Neste mundo, alguns seres são movidos [modificados].
Tudo o que se move é movido por outrem.
O movimento é a passagem da potência a acto.
Quem é motor está em acto (ex.: o fogo, quente em acto, altera a
lenha que só potencialmente está quente).
O mesmo ser não pode ser simultaneamente em acto e em potência
sob o mesmo ponto de vista (ex.: o que está quente não pode ser
simultaneamente em potência quente).
É impossível que algo seja simultaneamente, sob a mesma
perspectiva, motor e movido.
Se há algo que é motor, sendo, numa outra perspectiva, movido,
então tem que ser movido por outrem.
Se não existir um primeiro motor deixam de existir motores
intermédios.
Logo, há um primeiro motor – o Motor Imóvel – a que se chama Deus
2ª Via: o argumento a partir da causa
No mundo sensível há coisas que são causadas (criadas) por outras
coisas.
Nenhuma coisa é causa eficiente de si própria.
Se assim fosse estaríamos perante uma situação absurda: se uma
coisa fosse causa eficiente dela mesma teria de ser anterior a si.
Também não pode haver uma sucessão infinita de causas, pois tem
de haver uma primeira causa das intermédias.
Se assim não fosse, deixariam de haver causas e, como tal, efeitos.
Ora, o mundo prova que há causas intermédias e efeitos.
Logo, deve haver uma primeira causa a que se chama Deus
3ª Via: o argumento do ser necessário
Na natureza, vemos coisas que podem ser ou não ser (existir ou não existir).
Esse tipo de seres contingentes não pode existir sempre e, num certo momento, não
existiu ou não existirá.
Se tudo o que existe poderia não ser, então poderíamos supor não haver nada.
Se, num dado momento, nada existisse então seria impossível algo existir.
E, assim, agora, não existiria nada, o que é evidentemente absurdo.
Logo, nem todos os seres são contingentes, devendo haver um ser cuja existência
seja necessária.
Tudo o que é necessário, ou extrai de outrem a sua necessidade ou não.
Logo, é forçoso admitir a existência de um ser por si próprio necessário, sendo causa
da necessidade de outros. Ora, a este ser necessário, chama-se Deus.
5ª Via: o argumento do desígnio inteligente
Múltiplos seres da natureza, privados de conhecimento, agem
4ª Via: o argumento da perfeição
intencionalmente.
Existem coisas mais perfeitas do que outras
Essa intencionalidade não é casual, pois esses seres agem, sempre
Para as poder avaliar preciso de um modelo de perfeição (qualidade
ou frequentemente da mesma maneira.
no seu grau supremo)
O que é privado de conhecimento não pode ser intencional, a não ser
Esse modelo de perfeição é o mais alto grau de ser, pois como diz o
dirigido por outrem (ex.: a flecha lançada pelo arqueiro).
Filósofo o maior grau de verdade coincide com o maior grau de
As leis da física e a ordem natural mostram a presença de uma
ser.
inteligência.
Esse ser enquanto modelo de perfeição é o que se chama Deus
Logo, há um ser inteligente da ordem natural e é a esse ser que
chamamos Deus.
O ARGUMENTO DO DESÍGNIO
Um dos argumentos a favor da existência de Deus usado com mais
frequência é o Argumento do Desígnio, por vezes também conhecido
como Argumento Teleológico (da palavra grega “telos”, que significa
finalidade). Este argumento afirma que, se observarmos a natureza, não
podemos deixar de notar como tudo é apropriado à função que
desempenha: tudo mostra sinais de ter sido concebido. Isto
demonstraria a existência de um Criador. Se, por exemplo, examinarmos
o olho humano, verificaremos que toda as suas ínfimas partes se
adaptam entre si e que cada parte está judiciosamente adaptada àquilo
para que aparentemente foi feita: ver.
Os defensores do argumento do desígnio, tais como William Paley
(1743-1805), defendem que a complexidade e a eficiência de objectos
naturais como o olho são indícios de que tiveram de ser concebidos por
Deus. De que outra forma poderiam ter chegado a ser como são? Tal como,
ao observar um relógio, podemos ver que foi concebido por um relojoeiro,
também ao observar o olho, argumentam eles, podemos ver que foi
concebido por uma espécie de Relojoeiro Divino. É como se Deus tivesse
deixado uma marca em todos os objectos que fez.
Fraca analogia
Uma objecção ao argumento apresentado defende que este se baseia
numa analogia fraca: presume sem discussão a existência de uma
semelhança significativa entre os objectos naturais e os que
sabemos terem sido concebidos.
Os argumentos por analogia baseiam-se no facto de existir uma forte
semelhança entre as duas coisas comparadas. Se a semelhança for
fraca, as conclusões que podem ser retiradas com base na
comparação serão igualmente fracas. Mas, apesar de existir alguma
semelhança entre um relógio e um olho – ambos são intrincados e
cumprem as suas funções específicas –, essa semelhança é apenas
vaga e quaisquer conclusões baseadas nessa analogia resultarão
igualmente vagas.

Evolução
A existência de um Relojoeiro Divino não é a única explicação possível de
como os animais e as plantas estão tão bem adaptadas às suas funções. Em
particular, a teoria da evolução pela selecção natural, defendida por Charles
Darwin (1809-1882) no seu livro A Origem das Espécies (1859), oferece-nos
uma explicação alternativa, largamente aceite, deste fenómeno. Darwin
mostrou como, pelo processo de sobrevivência do mais apto, os animais e as
plantas melhor adaptadas ao seu meio ambiente sobrevivem e transmitem os
seus genes aos seus descendentes. Este processo explica como as
maravilhosas adaptações ao meio ambiente que encontramos no reino animal
e vegetal podem ter ocorrido, sem precisar de introduzir a noção de Deus.
Limites da conclusão
Um exame mais minucioso do argumento mostra que tem várias
limitações.
Em primeiro lugar, o argumento não consegue, de forma alguma,
sustentar o monoteísmo – a ideia de que só existe um deus. Mesmo
que aceite que o mundo e tudo o que o que ele contém mostra
claramente sinais de ter sido concebido, não há razão para acreditar
que foi tudo concebido por um só deus. Em segundo lugar, o
argumento não apoia necessariamente a perspectiva de que aquele
ou aqueles que projectaram o mundo são todos-poderosos.
É plausível argumentar que o universo tem vários «defeitos de concepção»: por
exemplo, o olho humano tem uma tendência para a miopia e para criar cataratas
com a idade – o que dificilmente pode ser considerado a obra de um criador
todo-poderoso que desejasse criar o melhor mundo possível. Por último, sobre o
carácter omnisciente e bom do Arquitecto [Designer], muitas pessoas acham que
o mal existente no mundo contraria esta conclusão. O mal vai desde a crueldade
humana, o assassínio e a tortura, ao sofrimento causado pelos desastres naturais
e pela doença. Se, como o argumento do desígnio sugere, devemos olhar à nossa
volta para ver os sinais da obra de Deus, muitas pessoas acham difícil aceitar que
o que vêem seja o resultado de um criador benevolente.
O Princípio Antrópico
Apesar dos argumentos poderosos contra o Argumento do Desígnio,
alguns pensadores actuais tentaram defender uma variante dele
conhecida como o Princípio Antrópico [Anthropic Principle].
Segundo este princípio, é tão pequena a possibilidade do mundo
criar as condições para a sobrevivência e o desenvolvimento dos
Há uma grande objecção ao argumento do Princípio Antrópico. Imagine
seres humanos que devemos concluir que o mundo é a obra de um
que comprou um bilhete da lotaria. Há, presumivelmente, milhões de
arquitecto divino [divine architect]. Segundo esta concepção, o
bilhetes, mas só um será vencedor. Estatisticamente, é muito
facto dos seres humanos terem evoluído e sobrevivido fornece-nos
improvável que você vença. Mas pode ganhar a lotaria. Se isso
a prova da existência de Deus. Deus deve ter controlado as
acontecer, tal facto apenas demonstra a sua boa sorte […] O erro
condições físicas no nosso universo e afinou-as [fine-tuned] para
que os defensores do Princípio Antrópico fazem é assumir que,
permitir que este tipo de vida evoluísse. Esta concepção é
quando acontece algo que não é usual, então deve haver uma
suportada pela investigação científica que nos indica o campo
explicação mais plausível do que a natural. […] Não é surpreendente
limitado de condições iniciais adequadas para que se pudesse
que estejamos num universo em que as condições são certas para
desenvolver vida neste universo.
surgirem seres da nossa espécie, visto que não haveria hipóteses de
surgirmos noutras condições.
Bibliografia
-Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia [Philosophy: The
Basics (1992)], trad.port. Desidério Murcho e António Franco
Alexandre, Lisboa, Gradiva, 1997, pp.40-43.
-Anselmo, Proslogium cap. II
-Simon Blackburn, Pense, trad.port., Lisboa, Gradiva, 2001, pp.177-
178; Think. A Compelling Introduction to Philosopophy, Oxford,
Oxford University Press, 1999, pp.170-171
-Shafique Keshavjee, Le Roi, Le Sage et le Bouffon. Le Grand
Tournoi des Religions, Paris, Seuil, 1998, pp.32-36/49-50; trad.port.,
Lisboa, Temas e Debates, 1999, pp.31-35
-Descartes, Les Méditations, Méditation cinquième, in Oeuvres
Philosophiques, ed. Alquié, Paris, Garnier, 1967, pp.473-474.
-S.Tomás, Summa Teologiae, Prima Pars, q.3
-Simon Blackburn, Think, Oxford University Press, 1999, pp.159-162;
trad. port., Lisboa, Gradiva, 2001, pp.167-170
-São Tomás de Aquino, Suma Teológica, Primeira Parte, q.2, a.3
-Nigel Warburton, Philsophy. The Basics, London, Rotledge, 19993,
pp.12-17; trad.port. da segunda edição, Lisboa, Gradiva, 1998,
pp.32-37
A vida sem Deus seria eternamente
aborrecida… Ninguém poderia estar
preparado para estar só no Mundo…
Completamente Só!

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