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O argumento ontológico
“Uma coisa é que algo se encontre no entendimento e outra o
compreender que existe.” St.Anselmo, Proslogium cap. II
Evolução
A existência de um Relojoeiro Divino não é a única explicação possível de
como os animais e as plantas estão tão bem adaptadas às suas funções. Em
particular, a teoria da evolução pela selecção natural, defendida por Charles
Darwin (1809-1882) no seu livro A Origem das Espécies (1859), oferece-nos
uma explicação alternativa, largamente aceite, deste fenómeno. Darwin
mostrou como, pelo processo de sobrevivência do mais apto, os animais e as
plantas melhor adaptadas ao seu meio ambiente sobrevivem e transmitem os
seus genes aos seus descendentes. Este processo explica como as
maravilhosas adaptações ao meio ambiente que encontramos no reino animal
e vegetal podem ter ocorrido, sem precisar de introduzir a noção de Deus.
Limites da conclusão
Um exame mais minucioso do argumento mostra que tem várias
limitações.
Em primeiro lugar, o argumento não consegue, de forma alguma,
sustentar o monoteísmo – a ideia de que só existe um deus. Mesmo
que aceite que o mundo e tudo o que o que ele contém mostra
claramente sinais de ter sido concebido, não há razão para acreditar
que foi tudo concebido por um só deus. Em segundo lugar, o
argumento não apoia necessariamente a perspectiva de que aquele
ou aqueles que projectaram o mundo são todos-poderosos.
É plausível argumentar que o universo tem vários «defeitos de concepção»: por
exemplo, o olho humano tem uma tendência para a miopia e para criar cataratas
com a idade – o que dificilmente pode ser considerado a obra de um criador
todo-poderoso que desejasse criar o melhor mundo possível. Por último, sobre o
carácter omnisciente e bom do Arquitecto [Designer], muitas pessoas acham que
o mal existente no mundo contraria esta conclusão. O mal vai desde a crueldade
humana, o assassínio e a tortura, ao sofrimento causado pelos desastres naturais
e pela doença. Se, como o argumento do desígnio sugere, devemos olhar à nossa
volta para ver os sinais da obra de Deus, muitas pessoas acham difícil aceitar que
o que vêem seja o resultado de um criador benevolente.
O Princípio Antrópico
Apesar dos argumentos poderosos contra o Argumento do Desígnio,
alguns pensadores actuais tentaram defender uma variante dele
conhecida como o Princípio Antrópico [Anthropic Principle].
Segundo este princípio, é tão pequena a possibilidade do mundo
criar as condições para a sobrevivência e o desenvolvimento dos
Há uma grande objecção ao argumento do Princípio Antrópico. Imagine
seres humanos que devemos concluir que o mundo é a obra de um
que comprou um bilhete da lotaria. Há, presumivelmente, milhões de
arquitecto divino [divine architect]. Segundo esta concepção, o
bilhetes, mas só um será vencedor. Estatisticamente, é muito
facto dos seres humanos terem evoluído e sobrevivido fornece-nos
improvável que você vença. Mas pode ganhar a lotaria. Se isso
a prova da existência de Deus. Deus deve ter controlado as
acontecer, tal facto apenas demonstra a sua boa sorte […] O erro
condições físicas no nosso universo e afinou-as [fine-tuned] para
que os defensores do Princípio Antrópico fazem é assumir que,
permitir que este tipo de vida evoluísse. Esta concepção é
quando acontece algo que não é usual, então deve haver uma
suportada pela investigação científica que nos indica o campo
explicação mais plausível do que a natural. […] Não é surpreendente
limitado de condições iniciais adequadas para que se pudesse
que estejamos num universo em que as condições são certas para
desenvolver vida neste universo.
surgirem seres da nossa espécie, visto que não haveria hipóteses de
surgirmos noutras condições.
Bibliografia
-Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia [Philosophy: The
Basics (1992)], trad.port. Desidério Murcho e António Franco
Alexandre, Lisboa, Gradiva, 1997, pp.40-43.
-Anselmo, Proslogium cap. II
-Simon Blackburn, Pense, trad.port., Lisboa, Gradiva, 2001, pp.177-
178; Think. A Compelling Introduction to Philosopophy, Oxford,
Oxford University Press, 1999, pp.170-171
-Shafique Keshavjee, Le Roi, Le Sage et le Bouffon. Le Grand
Tournoi des Religions, Paris, Seuil, 1998, pp.32-36/49-50; trad.port.,
Lisboa, Temas e Debates, 1999, pp.31-35
-Descartes, Les Méditations, Méditation cinquième, in Oeuvres
Philosophiques, ed. Alquié, Paris, Garnier, 1967, pp.473-474.
-S.Tomás, Summa Teologiae, Prima Pars, q.3
-Simon Blackburn, Think, Oxford University Press, 1999, pp.159-162;
trad. port., Lisboa, Gradiva, 2001, pp.167-170
-São Tomás de Aquino, Suma Teológica, Primeira Parte, q.2, a.3
-Nigel Warburton, Philsophy. The Basics, London, Rotledge, 19993,
pp.12-17; trad.port. da segunda edição, Lisboa, Gradiva, 1998,
pp.32-37
A vida sem Deus seria eternamente
aborrecida… Ninguém poderia estar
preparado para estar só no Mundo…
Completamente Só!