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ESTRUTURAS

CLÍNICAS
PERVERSÃO
Profesora. Ester Silva
Conteúdo Programático
 Perversão em Freud e Lacan.
 O diagnóstico diferencial. Aspectos clínicos da
perversão.
 Proposições freudianas acerca da perversão.
Perversão e traço perverso.
O fetichismo.
 Proposições lacanianas acerca da perversão.
Lógica fálica e dialética edipiana. Desejo,
angústia e gozo na perversão: Kant com Sade.
 Aspectos clínicos da perversão.
Uma visão geral sobre a
perversão
A sexualidade humana, em todas as suas múltiplas formas, variações
e expressões, se constitui como um infindável campo para a
investigação teórico-clínica. Teceremos, aqui, algumas considerações
acerca de um construto teórico-clínico – A perversão – extremamente
complexo, polêmico, e de difícil consenso entre as diversas teorias que
compõem a “pólis psicanalítica”.
Estrutura? Desvio de uma norma? Solução? Aberração? Afinal, como
definir a perversão sexual? Trata-se de algo abominável a ser
censurado e punido em quaisquer circunstâncias, ou deve-se levar em
consideração o direito à diferença como expressão legítima de uma
forma de organização psíquica?
Elisabeth Roudinesco (2007), em seu último livro, escreve que:
A perversão é um fenômeno sexual, político, social, físico, trans-
histórico, estrutural, presente em todas as sociedades humanas [e
questiona]: O que faríamos se não mais pudéssemos designar como
bodes expiatórios – ou seja, como perversos – aqueles que aceitam
traduzir por seus atos estranhos as tendências inconfessáveis que nos
habitam e que recalcamos? (p. 15)
 . Perversão: um Esboço Conceitual
 É frequente no discurso de pessoas leigas uma
associação entre perversão e perversidade. Não
obstante, a origem do termo deixa margens para essa
associação, pois deriva do verbo latino pervertere, que
remete à noção de "pôr de lado", ou "pôr-se à parte",
que para Aurélio (2001) é "ato ou efeito de perverter (-
se); corrupção, depravação, desvio da normalidade
de instinto ou de julgamento, e devido a distúrbio
psíquico."
 Esse conceito traz a perversão num sentido moral e
ético, o que nem sempre faz jus à seriedade e à
profundidade com que o assunto merece ser
compreendido e analisado. Dessa forma, a escolha da
palavra perversão para nomear um desvio sexual
denota um sentido pejorativo, impregnado de “pré-
conceitos”.
 É válido lembrar que, antes da psicanálise, a sexualidade
referia-se somente ao conjunto dos atos ligados à relação
sexual, e em especial à reprodução. Freud, de maneira
geral, trouxe uma nova concepção a esse termo, ao dizer
que todos os movimentos vitais tanto tendem à
conservação do indivíduo, como comportam um
quantum de satisfação erótica ou de negação dessa
forma de prazer. Há libido investida em todos os atos
psíquicos, de uma forma ou de outra.
 Dependendo da forma que essa libido é investida, pode
haver prejuízos ao indivíduo, quando este passa a não
mais ter o devido cuidado com a sua integridade física e
mental, por exemplo. Ele, por sua vez, pode até causar
prejuízos à sociedade se, além de si próprio, prejudicar
terceiros, ferindo a ordem vigente. O que era considerado
normal para a sociedade, dentro desse contexto, trouxe
também à tona aquilo que é anormal, o que perverte a
ordem vigente.
 Ao dar uma dimensão histórica à perversão, Essência
do pensamento freudiano -nos refletir sobre nossas
próprias moções pulsionais perversas.
 Muitos são os tabus e os códigos de conduta
presentes na sociedade ocidental que, até hoje,
ditam uma normatização utópica para o desejo. A
ideologia religiosa, por exemplo, sempre subjugou e
restringiu as possibilidades de uma vivência sexual
que levasse em consideração a visão psicanalítica
de uma pulsão sexual infantil diversificada,
anárquica, plural, parcial, bissexual e perversa,
subjacente a toda e qualquer constituição psíquica.
Do Código de Moisés aos dias atuais, o sexo sempre
foi relegado pelas religiões ancoradas na tradição
judaico-cristã a um estado inferior, passível de
condenações, restrições e punições divinas e
humanas.
 No século XIX a ciência médico-psiquiátrica
abarcou o saber sobre o sexo contribuindo, assim,
para uma concepção normopata da sexualidade
humana ligando, muitas vezes, loucura e
sexualidade. Em consonância com a justiça,
reprimia-se e punia-se o “sexo doente”. A
sexualidade foi criminalizada em nome da moral e
dos bons costumes da “sociedade honesta”. A
família deveria ser, a todo custo, preservada dos
ataques de lascívia dos “loucos sexuais”. O ato
sexual no lar tinha seus limites, devendo-se extirpar
os desvios e respeitar a “natureza sexual” e a
“sexualidade sadia”. O submundo da sexualidade
devia ser exercido fora do lar, podendo existir o
sadio e o desvio, mas de formas separadas: eles não
caberiam sob o mesmo teto. A sexualidade não
tinha, portanto, “direito de escolha”, sendo
entendida como feita para a reprodução e para a
manutenção da família. Tudo aquilo que se
desviasse dessa norma era considerado antinatural.
 À ciência interessava detectar os “perversos” e as “aberrações
sexuais” exatamente para mantê-los à margem, para melhor
conservar a integridade e a saúde dos indivíduos “normais”.
 Krafft-Ebing (1886) e Havelock Ellis (1898) se destacaram entre os
maiores cientistas do pensamento médico-positivista sobre as
perversões no início do século XIX. Krafft-Ebing foi o primeiro a
classificar clinicamente as psicopatias sexuais descrevendo o que
chamou de “excitação da vida sexual por estímulos inadequados”
(p. 31). Para ele, os desvios sexuais poderiam ser tratados e a
normalidade atingida desde que reforçada pela força de vontade e
pelo tratamento moral. Havelock Ellis (1898) questionou as posições
de Krafft-Ebing dizendo que os fenômenos “normais” e a maioria das
perversões sexuais são apenas exagerações dos instintos e das
emoções que se encontram em estado de gérmen nos “seres
humanos normais”. “Enquanto ignoramos os limites da sexualidade
normal, não somos capazes de fixar regras razoáveis para
a sexualidade”(p. 22)
Embora o sentido que a psicanálise freudiana tenha dado ao termo
perversão guarde diferenças em relação ao seu emprego pelo saber
médico do século
 Embora o sentido que a psicanálise freudiana tenha
dado ao termo perversão guarde diferenças em
relação ao seu emprego pelo saber médico do
século XIX , não podemos negar as semelhanças
quanto à apreensão do significado desse termo
nessas duas tradições de pensamento. As
classificações diversas formas de perversão sexual
foram cuidadosamente examinadas por Freud e
adotadas na elaboração dos “Três ensaios sobre a
teoria da sexualidade” de 1905.
 Para uma melhor compreensão do pensamento
freudiano relativo à perversão, achamos pertinente
uma breve digressão das posições de Freud no que
concerne à sexualidade. Para tanto, partimos da
teoria da sedução em direção à revolução
provocada pelo descobrimentodo “efeito
arrebatador de Édipo-Rei” (1897).
Édipo-Rei

 O ponto inovador da obra freudiana foi considerar não apenas que


a sexualidade está presente desde a infância, mas, também, que
esta sexualidade infantil será o esboço da sexualidade no adulto.
Entretanto, este não era o pensamento de Freud no início de sua
produção teórica. Ele não defendeu, a priori, a existência de uma
sexualidade infantil. Propunha uma cena de sedução na qual a
criança era invadida pela sexualidade do adulto, não sendo capaz
de construir uma representação sexual para tal cena. Contudo, a
teoria da sedução não resistiu por muito tempo ao trabalho
intelectual de Freud. Na “Carta 69”, de 1897, ele ressalta alguns dos
fatores que contribuíram para que chegasse à seguinte conclusão:
“não acredito mais em minha neurótica”
 A perversão é uma organização estrutural da
psique que enquadra aspectos particulares de
violência e situa o indivíduo na ordem do prazer
arcaico e regressivo. A problemática central é a de
negação da diferença de sexos que origina uma angústia
de castração. A fixação é exclusiva do modo de obtenção
do prazer característico deste modo de funcionamento
arcaico. O perverso para ultrapassar o seu conflito
intrapsíquico fixado a nível pré-genital, utiliza mecanismos de
defesa como a clivagem e a negação (clivagem do eu).
Termo introduzido por Sigmund Freud em 1927 para designar
um fenômeno próprio do fetichismo, da psicose e também
da perversão em geral, e que se traduz pela coexistência,
no cerne do eu, de duas atitudes contraditórias, uma que
consiste em recusar a realidade (renegação), outra, em
aceitá-la ).
 Neste sentido o indivíduo pode optar pelo prazer auto-erótico, no
qual mediante o tipo de violência, pode prevalecer o sadismo ou o
masoquismo. Há também uma intersubjectividade dos afectos e
uma grande vulnerabilidade narcísica.
 Uma das primeiras aparições sobre o quadro de perversão na
literatura especializada surge em 1806 com o psiquiatra Philippe
Pinel sob o conceito de mania sem delírio. Este nome designava
uma síndrome detectada pelos médicos medievais sob o rótulo
de loucura moral. Neste diagnóstico estavam inscritos atos
impulsivos e repetidos de destruição e mentiras patogênicas com a
preservação da razão.
 Foi na edição de Psychopathia Sexualis, feita pelo médico Krafft
Ebing em 1886, que o termo perversão sexual surge nos
diagnósticos médicos. Ebing faz uma longa classificação das
perversões sexuais incluindo termos até hoje utilizados como o
sadismo, o masoquismo, o fetichismo e a "sexualidade antipática"
(referência ao que chamamos hoje de homossexualidade).
 Escrita na segunda metade do século XIX, a Psychopathia
Sexualis de Richard Krafft-Ebing participa de um movimento
histórico-cultural que institui o olhar e a autoridade médica como
referências necessárias para se deliberar quanto à legitimidade
dos diferentes comportamentos sexuais humanos. Suas
incidências se estendem mesmo sobre o campo legal e jurídico.
Obra que sintetiza e aprofunda os estudos da sexologia de seu
tempo, Psychopathia Sexualis introduz uma delimitação do
campo das perversões sexuais, uma nomenclatura - que inclui
termos que seriam posteriormente consagrados como sadismo,
masoquismo e fetichismo, e um rigor classificatório que a tornarão
uma referência incontornável para todos os estudos posteriores
nesse campo, incluindo a obra freudiana.
O diagnóstico diferencial. Aspectos
clínicos da perversão.
 Um diagnóstico é um ato médico mobilizado por dois objetivos.
Primeiramente, um objetivo de observação destinado a determinar a
natureza de uma afecção ou uma doença, a partir de uma semiologia
(estudo dos sintomas e dos sinais das doenças e transtornos mentais). Em
seguida, um objetivo de classificação, que permite localizar um estado
patológico no quadro de uma nosografia (classificação das doenças). O
diagnóstico médico é, então, sempre colocado numa dupla perspectiva:
 a) em referência a um diagnóstico etiológico;( pesquisa a causa e/ou
origem das coisas)
 b) em referência a um diagnóstico diferencial.
 Além disso, o diagnóstico médico se propõe não só a estabelecer o
prognóstico vital ou funcional da doença, mas ainda a escolher o
tratamento mais apropriado. Para isto, o médico dispõe de um sistema
de investigação multivariado. Ele põe em curso, primeiramente, uma
(investigação anamnéstica destinada a recolher os fatos comemorativos
da doença pelo viés de uma entrevista. Apóia-se, em seguida, em uma
investigação armada, destinada a reunir informações, procedendo ao
exame direto do doente, com a ajuda dos mediadores técnicos,
instrumentais, biológicos, etc.
 Uma determinação assim, do diagnóstico, no campo da
clínica psicanalítica, torna-se, de antemão, impossível,
pela razão da própria estrutura do sujeito. A única
técnica de investigação de que o analista dispõe é a sua
escuta. Tanto quanto caduca a noção de investigação
armada, permanece essencialmente verbal o material
clínico fornecido pelo paciente. Será, então, de imediato
na dimensão do dizer e do dito que se delimitará o
campo de investigação clínica. Ora, como sabemos,
esse espaço de palavra está saturado de "mentira" e tem
o imaginário como parasita. De fato, é o lugar onde vem
se exprimir o desdobramento fantasmático; é também
aquele em que o sujeito dá testemunho de sua própria
cegueira, já que não sabe realmente o que diz através
do que enuncia, do ponto de vista da verdade do seu
desejo, do ponto de vista, então, daquilo que subtende o
sintoma em seu transvestimento.
 Por esta razão, o estabelecimento do diagnóstico se subtrai
aos dados empíricos objetivamente controláveis. Sua
avaliação é essencialmente subjetiva, na medida em que
só se sustenta a partir do discurso do paciente, e toma
apoio na subjetividade do analista que ouve. Existindo aí
uma diferença radical para com o diagnóstico médico,
não existem, entretanto, pontos de balizamento estáveis
nesse campo intersubjetivo? Não estamos num campo de
interações puramente empáticas ou de influências
sugestivas. A psicanálise se definiu, precisamente em sua
especificidade, tão logo Freud conseguiu arrancar suas
intervenções próprias do domínio da sugestão. Cabe, pois
pensar que uma certa topografia_das afecções
psicopatologicas pode, no entanto, se definir. Essa
topografia advém principalmente de um certo modo de
balizamento que deve levar em conta as propriedades
mais fundamentais do seu objeto: a causalidade psíquica
e, mais particularmente, o caráter imprevisível dos efeitos
do inconsciente.
O ato psicanalítico não pode se apoiar
prontamente na identificação diagnostica
como tal. Uma interpretação psicanalítica não
pode se constituir, em sua aplicação, como
pura e simples consequência lógica de um
diagnóstico.
 Na clínica analítica, o ato diagnóstico é
necessariamente, de partida, um ato
deliberadamente posto em suspenso e relegado
a um devir. É quase impossível determina uma
segurança, uma avaliação diagnostica sem o
apoio de um certo tempo de análise. Mas é
preciso, no entanto, circunscrever, o mais rápido
possível, uma posição diagnostica para decidir
quanto à orientação da cura.
 O segundo aprendizado vem do próprio fato dessa
potencialidade. Por tratar-se de uma avaliação
diagnostica relegada ao devir de uma confirmação,
essa potencialidade suspende, ao menos por um tempo,
a entrada em ação de uma intervenção com valor
diretamente terapêutico. O terceiro aprendizado, que
resulta dos dois precedentes, insiste no tempo necessário
à observação, anterior a qualquer decisão ou proposta
de tratamento. É o tempo dedicado ao que
habitualmente chamamos "entrevista preliminar" ou
ainda, para retomar a expressão freudiana: "tratamento
de experiência". Por pouco que seja um tempo de
observação, esse tempo preliminar permanece inscrito,
desde o seu começo, no dispositivo analítico:
 "Essa experiência preliminar já constitui, no entanto, o
início de uma análise e deve-se conformar às regras
que a regem; a única diferença pode ser a de o
psicanalista deixar falar sobretudo o paciente, sem
comentar sua fala além do absolutamente necessário
para o prosseguimento do seu relato."
 Desde o início, Freud sublinha a importância do
dispositiva do discurso livre, logo nas entrevistas
preliminares. De fato, aí está o ponto fundamental que
subtende o problema da avaliação dignóstica, que se
deve circunscrever na ordem do "dizer" do paciente, e
não ao nível dos conteúdos na ordem do seu "dito". Daí
resulta uma mobilização imperativa da escuta. Este
único instrumento de discriminação diagnostica deve
ter prioridade sobre o saber nosográfico e as
racionalizações causalistas.
Como o perverso reage a analise?
 É comum escutarmos, nos meios psicanalíticos, que o perverso
raramente procura uma análise ou qualquer tipo de psicoterapia pois
se sentem muito bem com a forma que são e que vivem. Isto faz
sentido se considerarmos a prática da perversão como capaz de
assegurar o gozo. Normalmente , as pessoas buscam por análise
quando se sentem angustiadas. O perverso , em muitos casos , curte
mesmo é angustiar o outro. O fato de os sintomas serem sentidos
como prazerosos acabaria sendo um fator complicador no
tratamento psicanalítico das perversões. Esta seria a dificuldade
maior para a clínica da perversão. Mas, e aqueles que nos
procuram? Rejeitá-los, a priori, caracterizaria “a perversão do outro
lado do divã” constituída de múltiplas faces e manifestada através,
por exemplo, da imposição de uma teoria como defesa contra a
escuta.

Não existe uma forma única de travessia
edípica e tampouco um modelo único de
produção de alteridades. Não podemos
correr o risco de transformar o sujeito em um
“sujeito teórico”. Sobre os “perversos
inanalisáveis” que procuram análise, mais
importante do que provar se a teoria se
aplica a esses casos é saber se é possível ao
analista escutá-los. É fundamental saber se o
analista se dispõe a transformar seus motivos
em demanda de análise. Não é que o
perverso não seja analisável. Talvez seja a
teoria que sustenta, para o analista, a
constituição do sujeito perverso, que não
contempla a análise dessa manifestação da
sexualidade.
 A escuta do perverso sempre nos confronta às questões éticas. As
formas de manifestações perversas parecem nos colocar diante de
posturas aéticas, o que, contratransferencialmente, nos declina da
escuta psicanalítica, o que pode afastar o perverso da clínica. A
disposição para a escuta do perverso implica reconhecer sua forma
possível de sobrevivência psíquica. Entretanto, devemos estar
atentos a uma linha tênue que separa o acolhimento e a escuta da
benevolência e condescendência em relação àquilo que se escuta
de um paciente perverso. “A clínica da perversão pode muitas
vezes exigir do analista que experimente a máxima exigência ética
da psicanálise, que pressupõe a neutralidade e a abstinência. Caso
contrário, o paciente pode buscar imobilizar o analista, conduzindo-
o ao lugar de espectador do cenário de suas relações objetais
perversas.
 As reações contra-transferenciais requerem do analista
uma habilidade especial, pois ele tanto pode ser
seduzido pelo cenário perverso retratado pelo paciente,
como pode ser incapaz de identificar-se minimamente
com ele. Trata-se, na prática, de um difícil desafio
lançado ao analista, pois a clínica da perversão impõe a
ele o confronto com sua própria sexualidade infantil.
Basta-nos lembrar de que sob uma superfície “neurótico-
normal” conservamos os traços da criança “perverso-
polimorfa”.

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