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Os “primitivos habitantes” da antiga capitania de Porto Seguro na Viagem ao

Brasil, do príncipe de Wied


saberes, fazeres e memórias indígenas

Francisco Cancela | DCHT/UNEB (Campus XVIII)


Informações iniciais
 Objetivo da comunicação: revisitar a obra de Maximiliano de Wied-Neuwied na perspectiva de valorizar as
contribuições dos registros da expedição do príncipe naturalista para a história dos índios no Brasil, objetivo
principal do texto é reivindicar a memória indígena presente nos saberes e fazeres inscritos e compartilhados no
acervo produzido pelo viajante alemão durante sua estadia na antiga Capitania de Porto Seguro..
 Contexto do trabalho: cenário de comemorações dos 200 anos da “Viagem ao Brasil”, que pode suscitar novos,
amplos e diversificados interesses multidisciplinares por parte dos pesquisadores acadêmicos e também do
público geral.
A literatura de viagens no séc. XIX

 Um contexto de mudanças: a transferência da Corte, a abertura


dos porto e a metropolização da colônia;
 As expedições científicas e artísticas: um método científico de
observar, classificar e explicar a natureza, a cultura e a sociedade
que deu origem a antropologia, a zoologia, a biologia, etc;
 Dos relatos aos usos na história: a “redescoberta do Brasil” a
partir das narrativas e imagens de viagens foi a base dos primeiros
trabalhos dos historiadores do IHGB e da geração de 1930;
 Limites e possibilidades: concepções eurocêntricas da cultura, olhar
romântico e preconceituoso e perspectiva cientificista.
A "viagem ao Brasil"
 Um príncipe erudito: oitavo filho do conde de Wied, Maximiliano era leitor de relatos de viagem,
estudante da Universidade de Göettingen e amigo de Alexander Von Humboldt, tendo se convencido de
que as narrativas de viagens constituíam um recurso metodológico eficaz para o desenvolvimento de
pesquisas científicas;
 O objetivo da viagem: percorrer áreas desconhecidas e ricas em fauna e flora para “ampliar os domínios
da história natural e da geografia”
 Percurso da expedição: a expedição percorreu a costa oriental do Brasil, entre 1815 e 1817, do Rio de
Janeiro a Salvador, em busca da região “que até então não tinha sido absolutamente descrita”, possuía
“várias tribos dos primitivos habitantes” e tinha “larga cintura de florestas virgens”;
 A comitiva do príncipe: o caçador David Dreidoppel, o jardineiro Cristin Simonis, ornintólogo Georg
Freyreiss e o botânico Friedrich Sellow
Um príncipe em Porto Seguro

 Um local privilegiado para as investigações de Maximiliano:


o trecho do Rio Doce até o Rio Grande (atual Jequitinhonha)
ocupou 6 dos 11 capítulos do primeiro tomo da “Viagem ao
Brasil”
 O abrigo seguro dos selvagens: na Capitania de Porto Seguro
que o príncipe de Wied se dedicou mais ao estudo das
populações indígenas, especialmente quando viveu quase três
meses entre os Botocudos do Rio Grande de Belmonte;
 O legado da expedição: as anotações, gravuras e coleções do
príncipe constituem o mais completo e diversificado acervo da
história colonial de Porto Seguro
Os povos indígenas na “Viagem”
 A tentação em investigar “coisas estranhas e
novas” relacionadas aos “habitantes
originais” que continuavam “vivendo ainda
em estado natural” (WIED MAXIMILIAN,
1989, p. 8)
 Segundo P. Vanzolini (1996, p. 210), a
convivência de Maximiliano com os índios
“acendeu uma insopitável paixão
antropológica” que “matou nele o zoólogo”.
 Maximiliano transformou sua “Viagem ao
Brasil” numa interessante investigação
etnográfica: das etnias Puris, Botocudos,
Pataxós, Coroados, Guaitacás e referências
a Maconis, Malalis, Maxacalis, Camacãs e
outras tantas
O olhar sobre os índios
 Maximiliano enquadrou os índios no campo mais geral da história natural, sendo comum ao longo de seu
relato compará-los ou equipará-los aos animais.
 “As margens do belo rio são cobertas de espessas florestas, refúgio de grande número dos mais diversos animais. Aí se
encontram, comumente, a "anta" (Tapirus americanos), duas espécies de porco selvagem (Dicolyles, Cuvier), "pecari" ou
"caitetú" e o "porco de queixada branca" (Taitetu e Tagnicati de Azara) duas espécies de veado (o Guazupitu e o Guazubira,
de Azara), e mais de sete espécies de felinos, entre as quais a onça pintada (Yaguarété, Azara) e o tigre negro (Yaguarété
noir, Azara) são as maiores e as mais perigosas Contudo, o rude selvagem Botocudo, habitante aborígene dessas paragens,
é mais formidável que todas as feras e o terror dessas matas impenetráveis” (WIED MAXIMILIAN, 1989, p. 153).

 Maximiliano reproduziu também a postura etnocêntrica que silenciava, inferiorizava e estereotipava a


cultura, os saberes e a organização social indígena
 Nos caracteres morais, os povos indígenas do Brasil assemelham-se tanto quanto na sua constituição física. Domina as suas
faculdades intelectuais a sensualidade mais grosseira, o que não impede que sejam às vezes capazes de julgamento sensato
e até de uma agudeza de espírito. Os que são levados entre os brancos observam atentamente tudo quanto vêm,
procurando imitar o que lhes parece visível, por meio de gestos tão cômicos, que a ninguém pode escapar o significado de
suas pantomimas. Aprendem mesmo, facilmente, certas habilidades artísticas, como a dança e a música. Mas, como não são
guiados por nenhum princípio moral, nem tampouco sujeitos a quaisquer freios sociais, deixam-se levar inteiramente pelos
seus sentidos e pelos seus instintos, tais como a onça nas matas.
O reverso da memória
 Embora desprezado e invisibilizado, o
patrimônio epistemológico dos povos
indígenas não foi ignorado
 Os conhecimento pragmático que os índios
possuíam da natureza transformou-os em
guias fundamentais da empresa naturalista,
auxiliando a expedição a percorrer os
caminhos, a sobreviver nas matas e a
suportar as intempéries tropicais
 Para compor sua coleção de amostras da
fauna e da flora, Maximiliano dependeu
diretamente do conhecimento tradicional
dos índios, que auxiliou na identificação,
obtenção e classificação das espécies
naturais
Saberes etnobotânico
 Plantas manufatureiras: essas eram espécies
utilizadas como matéria prima na construção de
habitações, no fabrico de armas, na feitura de
embarcações ou na produção de utensílios.
 Plantas tintoriais: espécies tinham um valor mais
simbólico que pragmático, tendo suas propriedades
relacionadas aos ritos, cerimônias, guerras, etc.
 Plantas alimentícias: as espécies que os índios
usavam para suprir a demanda de fibras,
vitaminas, sais minerais e até mesmo água
 Plantas medicinais: espécies com propriedades
curativas, apresentando seus usos e atribuições
 “Nas cabanas, nosso pessoal ainda trabalhava na terminação das coberturas. As duas
habitações maiores, em que eu morava em companhia do "ouvidor", dos dois capitães navais
e do moleiro alemão Kramer, tinham paredes de barro e as coberturas estavam prontas. Estas
são usualmente feitas de folhas de "uricana", palmeira de caule pequeno e flexível: as belas
e grandes folhas penadas (folia abrupte pinnata) implantam-se por meio de peciolos
delgados; faz-se um feixe com várias delas; os peciolos, muito compridos, são depois
enrolados num sarrafo de madeira de coqueiro, e amarrados, debaixo, cola um "cipó
verdadeiro" (Bauhinic), bastante grande para prender os feixes uns nos outros. As ripas, com
as palmas assim amarradas, são superpostas de maneira que dois terços da largura fiquem
cobertos. Em seguida, cobre-se a cumieira com outras folhas, sobretudo com os compridos
leques do coqueiro, afim de torná-la absolutamente à prova de água. Essa cobertura, que aí
sabem fazer muito bem, é leve e sólida; deve, entretanto, permitir-se que a fumaça a
atravesse de quando em vez, porque, doutro modo, os insetos destruiriam as folhas secas
dentro de um ano” (WIED MAXIMILIAN, 1989, p. 195)
Considerações finais
 Os relatos de viajantes podem ser lidos na perspectiva da decolonialidade,
buscando encontrar nos registros a presença e participação dos índios: organização
social, disputas territoriais, etc.

 Encampar a guerra da memória possibilita romper a exclusão e o silenciamento do


protagonismo indígena.

 Retomada do patrimônio epistemológico dos povos indígenas

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