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Elementos clássicos: o
ambiente bucólico, o
nome “Lídia” e o papel
do fatum
Segunda parte – estrofes 3 e 4
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. O enlaçar e desenlaçar
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio. das mãos como recusa
Mais vale saber passar silenciosamente de qualquer
E sem desassossegos grandes. compromisso
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento de mais aos olhos, A morte como única
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria, certeza do percurso
E sempre iria ter ao mar. existencial
A recusa constante de
todo e qualquer
excesso (amores,
ódios, paixões,
invejas..)
Evitar todos os
desassossegos que
possam provocar dor
Terceira parte – estrofes 5 e 6
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
O estabelecer de um
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
“programa de vida”: a
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
vida deve ser vivida de
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
forma serena e calma;
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
deixemo-la passar à
No colo, e que o seu perfume suavize o momento –
nossa frente,
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
controlando as nossas
Pagãos inocentes da decadência.
emoções e
sentimentos
Valorização do carpe
diem: captemos o
“perfume” do
momento, evitemos o
conhecimento das
coisas
Quarta parte – estrofes 7 e 8
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
A aceitação pacífica da
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
morte é consequência
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
da demissão do eu
Nem fomos mais do que crianças.
perante a vida. Assim,
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
a morte não deve ser
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
motivo de sofrimento,
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim – à beira do rio,
pois ainda não foi
Pagã triste e com flores no regaço.
presenciada. A vida
passa, por isso não
devemos assumir
compromissos,
devemos fazer apenas
pela tranquilidade
Justificação para o
modelo de vivência
amorosa definido pelo
poeta
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Ritmo lento e pausado
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).
Aliteração dos sons «v» e «s»
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
com o arrastamento do «e» (sons
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado, nasais e fechados)
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. Pontuação e advérbios de modo
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente Palavras de conotação pessimista
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Enumeração
Nem invejas que dão movimento de mais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Gradação com assíndeto
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, Comparação
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o. Metáforas
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento – Perífrase
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Eufemismo
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos Hipálage
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio, Utilização expressiva do presente
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti. do indicativo e do gerúndio, e
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim – à beira-rio, depois do futuro do indicativo e do
Pagã triste e com flores no regaço.
presente do conjuntivo.
Simbologia presente no poema
• O rio sugere passagem; efemeridade (vv. 1 e 10);
• O Fado e os deuses pagãos controlam a vida dos
homens (vv. 7, 24 e 32);
• O enlaçar/desenlaçar das mãos traduz o desejo de
aproveitar o momento, de assumir compromissos,
contra a sua inutilidade (vv. 3, 4, 9 e 27);
• As flores no colo e o seu perfume sugerem o bem
efémero (vv. 21, 22);
• A perífrase se for sombra antes atua como um
eufemismo para «Se eu morrer antes de ti»(v. 25);
• O adjetivo sombrio é uma hipálage para o estado
de espírito do sujeito poético, esperando a morte.
Simbologia presente no poema
• O barqueiro sombrio é uma referência
mitológica a Caronte, figura que transportava
os mortos pelos rios infernais. A família do
defunto colocava-lhe na boca o óbolo, uma
moeda grega que simbolizava o seu
pagamento.
Conclusão
♦ Ricardo Reis e Caeiro
A influência de Alberto Caeiro em Reis sente-se no
paganismo de ambos. Além disso, se a natureza era residência,
visão em Caeiro, em Reis surge como refúgio, metáfora.
Reis vê a natureza Caeiro vê a natureza
com a Razão com os sentidos
12º A