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CIÊNCIA E AS
OUTRAS COISAS
GOLDMAN, MÁRCIO. IN: QUEIROZ, RUBEN CAIXETA DE; NOBRE, RENARDE FREIRE
(ORG.). LÉVI-STRAUSS: LEITURAS BRASILEIRAS. BELO HORIZONTE: EDITORA
UFMG, 2008.
Lévi-Strauss: tem a fama de ser um autor racionalista e pouco dado às
emoções.
Ambição mais profunda de sua obra: tentativa de reconciliação do sensível
com o inteligível, do racional com o emocional.
Obra de Lévi-Strauss: presente uma certa ideia de que é o ser humano, quer
dizer, uma “antropologia” no sentido restrito do termo.
L-S: ceticismo às ciências humanas e sociais (conforme idade)
L-S: dificuldade de considerar seu trabalho ciência.
Constrói grande sistema filosófico recusando a qualificação de filósofo.
Hipótese: existe certa unidade em sua obra
Porém unidade dinâmica.
L-S: quanto mais ininteligível na aparência, mais interessante e mais promissor
para a análise científica.
4ª amante: linguística
Durante a II Guerra Mundial: NY: Jakobson
Contato com obra de Robert Lowie:1933: Primitive Society
Estuda outras sociedades: diversos costumes na aparência bizarros, sem
sentido.
Mostrar que existe aí um sentido e que sentido é esse seria tarefa do
antropólogo.
Implementa revelação: aulas USP: 1935: Sociologia
Aulas de Comte e o positivismo, Durkheim e a escola francesa: porém
não gostava das aulas.
Nas férias: viagens pelo interior do Brasil, enfim, encontrar os índios.
2 grandes expedições.
1941: EUA: conhece F. Boas
Começa a se dedicar efetivamente à antropologia, a ensinar antropologia,
descobrindo que afinal de contas: suas intuições eram “clássicas”.
Artigo 1945: “A análise estrutural em linguística e antropologia”:
Busca fazer a transposição do método fonológico para a antropologia.
irmã
Circulação: base do sistema de parentesco;
Só se torna realmente visível no modelo analítico que dá inteligibilidade à
realidade, não se confundindo, contudo, com ela.
“sociedade humana”: sistema de comunicação onde circulam, fundamentalmente,
palavras, bens e pessoas.
3 estruturas de troca fundadoras da sociedade humana: troca de bens, palavras e
pessoas.
Cada circuito desses é um sistema de comunicação cuja função é integrar, ou
melhor, constituir a sociedade, rompendo os laços puramente naturais ou
biológicos e superpondo a isso o universo da cultura.
Dizer que a reciprocidade garante a integração social supõe: a existência de uma
sociedade;
É preciso fazer com que a própria reciprocidade dependa de algo mais
fundamental: “inconsciente” (estrutural), “pensamento simbólico”, “função
simbólica”.
O que significa supor a existência de algo propriamente humano, antropológico,
no sentido estrito do termo, que exige a comunicação.
Algo que faz com que a troca seja “possível e necessária”.
Verdadeiro objeto “último” de uma antropologia propriamente dita seriam as
estruturas de reciprocidade: inconsciente, uma reciprocidade que não seria
exatamente “social”, mas propriamente “simbólica”.
L-S: delimitará a natureza humana como um conjunto de regras operatórias que
faz com que a sociedade exista e que, ao mesmo tempo, exige a sociedade para
funcionar.
Realização humana: não obedece ao esquema evolucionista: só se totaliza no fim
da história.
Cabe ao antropólogo, em última instância: fazer é reconstruir essa natureza virtual
e total a partir de suas manifestações reais e parciais.
L-S: sentido do estudo das outras sociedades é permitir a descoberta do que torna
a sociedade em geral possível, e a reconstrução da natureza humana.
Resposta que depende do estudo etnográfico das sociedades mais diferentes da
nossa e do esforço etnológico para dar sentido à sua aparente ininteligibilidade
primeira.
1955: best-seller: Tristes Trópicos
É de si mesmo que é preciso tomar distância, os outros já são
suficientemente distantes.
Antropologia: 3 etapas:
Etnografia [viagem] → etnologia [1ª síntese] → antropologia [grande
teoria]
Antropólogo: filosofia no começo: deve duvidar de tudo, de todas as
aparentes certezas.
Dúvida: deve estar na origem da etnografia: o motor de uma viagem a
lugares.
Inconsciente: garante a existência da sociedade.
Condição de possibilidade da própria antropologia.
Antropologia: comunicação: inconsciente
Inconsciente: função simbólica que torna possível e necessária a
comunicação com outrem.
Antropologia: extensão da vida cotidiana.
Antropólogo: provocar “artificialmente” a comunicação em situações em
que ela aparentemente não se dá.
Antropologia “ginástica” intelectual: tentativa de observar, sistematizar e
explicar não tanto a realidade “em si mesma”, mas o que aparece com essa
ginástica, essa ossatura do espírito.
Antropólogo: astrônomo das ciências sociais: dirige seu olhar para um lugar
distante.
Aquele que se vê como sujeito, pode se encarar como objeto.
Etnografia: troca de perspectivas.
L-S: essas sociedades (talvez não mais simples ou autênticas): são mais
“distantes”
Distância: a responsável pela ilusão que nos faz crer que sejam mais simples
e mais autênticas.
“moda estruturalista”: 1958: Antropologia estrutural
L-S: função de qualquer ciência: oferecer uma imagem ou um modelo
inteligível do mundo.
Método: estruturalismo: ligações lógicas entre as diversas partes desse
fenômeno: o que o torna inteligível.
Antropologia: as estruturas só podem ser reveladas ou descobertas mediante
verdadeiras experiências realizadas sobre os distintos casos empíricos
representados pela diversidade das sociedades humanas.
Estruturalismo: método: procedimento destinado a conferir inteligibilidade
aos fenômenos, mantendo seu nível próprio de complexidade.
1955: “A estrutura dos mitos”: método estrutural: para conferir aos mitos
a inteligibilidade que parece faltar.
A possibilidade de análise estrutural dos mitos depende de uma
demonstração primeira de existência de uma unidade última do
pensamento humano.
O totemismo hoje + O pensamento selvagem: 1962
Totemismo: todo um sistema coerente que pode ser analisado em sua
racionalidade própria.
Subjacente ao sistema, há uma estrutura: um conjunto ordenado de
relações.
L-S: sistema simbólico: relação lógica global entre as séries, mas não de
relações termo a termo entre cada elemento das séries.
[Ninguém “acredita” que é filho de jacaré]
Pensamento selvagem “é simplesmente um lugar de encontro, o
efeito de um esforço de compreensão do eu pondo-me no lugar
deles, deles postos por mim no meu lugar”.
Pensamento selvagem: plano da sensibilidade
Pensamento domesticado: plano de conceitos abstratos.
Não entender os mitos: somos nós os ignorantes.
L-S: passagem da ideia de “redução” para a ideia de
“estruturação” propriamente dita.
“estruturação”: explicitar o que já está dado de forma implícita.