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Gil Vicente,

Auto da Feira
Texto analisado
Ida de Roma à feira
Roma Eu venho à feira direita Vender-vos-ei nesta feira
comprar paz, verdade e fé. mentiras vinta três mil,
Diabo A verdade pera quê? todas de nova maneira,
Cousa que não aproveita, cada uma tão subtil,
e aborrece, pera que é? que não vivais em canseira:
Não trazeis bons fundamentos mentiras pera senhores,
pera o que haveis mister; mentiras pera senhoras,
e a segundo são os tempos, mentiras pera os amores,
Assim hão de ser os tentos mentiras, que a todas horas
pera saberdes viver. vos nasçam delas favores.
Gil Vicente, Auto da Feira,
E pois agora à verdade
Porto, Porto Editora, 2014 [pp. 35-37]
chamam Maria Peçonha,
e parvoíce à vergonha,
e aviso à ruindade,
aviso
peitai a quem vo-la ponha, aviso: prudência
peitai
a ruindade digo eu:
peitai: recompensai; pagai
e aconselho-vos mui bem,
porque quem bondade tem
nunca o mundo será seu,
e mil canseiras lhe vem.
Roma Eu venho à feira direita Roma dirige-se à feira
comprar paz, verdade e fé. para comprar
Diabo A verdade pera quê?
bens espirituais
Cousa que não aproveita,
e aborrece, pera que é?
Não trazeis bons fundamentos
pera o que haveis mister; Qual é o ASSUNTO
e a segundo são os tempos, do excerto?
Assim hão de ser os tentos
pera saberdes viver.
E pois agora à verdade
chamam Maria Peçonha,
e parvoíce à vergonha,
Roma dirige-se à feira
e aviso à ruindade, O Diabo desvaloriza
para comprar
peitai a quem vo-la ponha,
os bens em causa, bens espirituais;
a ruindade digo eu:
e aconselho-vos mui bem, realçando a sua o Diabo desvaloriza
porque quem bondade tem falta de interesse os bens em causa,
nunca o mundo será seu, e de utilidade realçando a sua falta
e mil canseiras lhe vem de interesse e de
Vender-vos-ei nesta feira utilidade.
mentiras vinta três mil,
todas de nova maneira,
cada uma tão subtil,
que não vivais em canseira:
mentiras pera senhores,
mentiras pera senhoras,
mentiras pera os amores,
mentiras, que a todas horas
vos nasçam delas favores.
De que forma é
Roma concretizada a
Personagem alegórica,
REPRESENTAÇÃO
que representa
A Igreja Católica ALEGÓRICA
Apostólica Romana neste excerto?
e, por extensão,
todos os seus Roma Eu venho à feira direita
representantes comprar paz, verdade e fé.
• Diabo: personagem
Diabo A verdade pera quê?
Cousa que não aproveita, que representa o mal
e aborrece, pera que é? • Roma: personagem
Não trazeis bons fundamentos que representa a
Diabo
pera o que haveis mister; Igreja Católica
Personagem
e a segundo são os tempos, Apostólica Romana
alegórica, que
Assim hão de ser os tentos
representa o mal e, por extensão, todos
pera saberdes viver.
os seus
representantes
(padres, frades,
bispos, freiras, etc.)
Roma Eu venho à feira direita
comprar paz, verdade e fé.
Diabo A verdade pera quê?
Cousa que não aproveita, De que forma é
e aborrece, pera que é? Crítica ao
concretizada a
Não trazeis bons fundamentos comportamento da
pera o que haveis mister; Igreja (falta de
REPRESENTAÇÃO
e a segundo são os tempos, valores) SATÍRICA
Assim hão de ser os tentos neste excerto?
pera saberdes viver.
E pois agora à verdade
chamam Maria Peçonha,
e parvoíce à vergonha, Crítica ao Crítica à corrupção
e aviso à ruindade, comportamento da e dissolução de
peitai a quem vo-la ponha, sociedade em geral costumes da Igreja e
a ruindade digo eu: (mentira, falta de
da sociedade em geral
e aconselho-vos mui bem, vergonha, ruindade)
porque quem bondade tem (maldade, mentira)
nunca o mundo será seu,
e mil canseiras lhe vem
Vender-vos-ei nesta feira
mentiras vinta três mil, Crítica ao
todas de nova maneira, comportamento da
cada uma tão subtil, Igreja e da sociedade
que não vivais em canseira: em geral (mentira)
mentiras pera senhores,
mentiras pera senhoras,
mentiras pera os amores,
mentiras, que a todas horas
vos nasçam delas favores.
Roma Eu venho à feira direita
comprar paz, verdade e fé.
Diabo A verdade pera quê?
De que forma é
Cousa que não aproveita,
e aborrece, pera que é? representada a
Não trazeis bons fundamentos DIMENSÃO
pera o que haveis mister; RELIGIOSA neste
e a segundo são os tempos, excerto?
Assim hão de ser os tentos
pera saberdes viver.
E pois agora à verdade Reflexão sobre
chamam Maria Peçonha, as noções de
e parvoíce à vergonha,
e aviso à ruindade, Reflexão sobre - bem/mal
peitai a quem vo-la ponha, as noções de - vício/virtude
a ruindade digo eu: bem (virtude) / mal
e aconselho-vos mui bem, (vício)
porque quem bondade tem
nunca o mundo será seu, Subversão de valores
e mil canseiras lhe vem
Vender-vos-ei nesta feira
mentiras vinta três mil,
todas de nova maneira,
cada uma tão subtil,
que não vivais em canseira:
Roma Eu venho à feira direita
comprar paz, verdade e fé.
Diabo A verdade pera quê?
Cousa que não aproveita,
Interrogações e aborrece, pera que é? Como se caracteriza
retóricas […] a LINGUAGEM?
E pois agora à verdade
chamam Maria Peçonha,
e parvoíce à vergonha,
e aviso à ruindade,
peitai a quem vo-la ponha, Linguagem expressiva,
a ruindade digo eu: que reflete a dimensão
Antítese
e aconselho-vos mui bem, religiosa e satírica
porque quem bondade tem do auto:
nunca o mundo será seu, • Interrogações
e mil canseiras lhe vem
retóricas
Vender-vos-ei nesta feira • Antítese
Hipérbole mentiras vinta três mil, • Hipérbole
todas de nova maneira, • Anáfora, integrada
cada uma tão subtil,
em construções
que não vivais em canseira:
Anáfora mentiras pera senhores, paralelísticas
(integrada em mentiras pera senhoras,
construção mentiras pera os amores,
paralelística) mentiras, que a todas horas
vos nasçam delas favores.
Tópicos de análise
O excerto apresentado ilustra algumas das características gerais do Auto da Feira:

• as personagens que nele intervêm são alegóricas: o Diabo simboliza o mal;


Roma representa a Igreja Católica Apostólica Romana e, por extensão, todos
os seus representantes (padres, frades, bispos, freiras, etc.);

• nas falas das personagens é evidente a dimensão satírica da peça, criticando-


se, neste caso, a corrupção e a dissolução dos costumes da Igreja e da
sociedade em geral; é também evidente a dimensão religiosa, já que se
abordam as dicotomias bem/mal, vício/virtude;

• a dimensão satírica e religiosa é realçada por recursos expressivos como a


alegoria, a interrogação retórica (vv. 3-5), a antítese (“bondade”/”ruindade”)
e a anáfora, inserida em construções paralelísticas (vv. 26-29).

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