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AS QUATRO DIREÇÕES DO
CÉU
Alle Rechte vorbehalten, insbesondere das der Aufführung durch Berufs- und Laienbühnen, des
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der Aufführung ist rechtmäßig zu erwerben vom:
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de
Música.
1.
A MULHER J OVEM
Tu és Medusa, di z el e
e eu sou Per seu,
ol ha aqui , as est r el as,
ol ha os cabel os cach eados, como ser pent es -
Ei , di z Per seu,
ei , t ens cabel os ondul ados como ser pent es,
poder i as ser a Medusa -
Medusa?
E eu sou Per seu, aquel e com as est r el as,
aquel e que subi u at é as est r el as,
Per seu e Medusa, i sso t er i a de dar em al go.
E el a: t u achas?
Per seu e Medusa? Achas r eal ment e?
Mas são apenas cachos ondul ados.
E el a di z,
Se t u és Per seu
e eu sou Medusa,
ent ão t er ás de cor t ar mi nha cabeça,
ei,
quer es cor t ar mi nha cabeça,
por mi m podes f azê- l o,
el a est á sempr e doendo mesmo,
O HOMEM;
A MULHER J OVEM
E el a di z:
ah,
par a ser honest a eu j á t enho al guém,
mas,
di z el e, nós doi s
per t encemos um ao out r o,
Per seu e Medusa,
poder í amos
at uar j unt os,
não, di z el a, r eal ment e -
Curto Intervalo
Cami nhamos j unt os ao l ongo da mar gem,
at é o l ocal ,
onde f i ca a enor me r oda gi gant e,
e el e di sse ,
quer es andar ,
e eu di sse si m,
e daí el e per gunt ou: J á andast e al guma vez,
si m - i ss o i mpor t a?
Não.
Música
2.
A MULHER
Vei o uma mul her do l est e,
que t r ouxe consi go neve e gel o,
el a vei o com o t r em,
mas o t r em não pode segui r ,
por que havi a mui t a neve sobr e os t r i l hos,
e a mul her desceu
e f i cou na ci dade por vi nt e anos. Vamos ver
quando sai r á o pr óxi mo t r em, el a pensou,
ao descer do t r em,
El a podi a pr ever o f ut ur o,
menos o seu pr ópr i o.
Música
3.
A MULHER J OVEM
Doi s homens,
O menor começou,
e o out r o,
o mai s f or t e e mai s f ei o,
no começo nem devol ve os gol pes,
el e af ast a o out r o de seu cor po,
Curto intervalo.
Música.
4.
UM HOMEM FORTE
Vei o um homem do nor t e,
e a pr evi são
ai nda di sse r a:
hoj e não vai cai r nenhuma got a,
Chovi a,
as r uas est avam mol hadas,
e j á esc ur eci a,
e o homem di r i gi a r ápi do demai s,
e ent ão
der r apou numa cur va,
t oda a car ga cai u do cami nhão.
400 cai xas
escor r egam do cami nhão
e f i cam
caí das numa val a ao l ado da est r ada. Chuva.
Música.
5.
UM HOMEM
Um homem com duas l í nguas.
Curto intervalo.
Curto intervalo.
Cabel os azui s.
Curto intervalo.
Curto intervalo.
Curto intervalo.
Boa noi t e,
di z o homem com as duas l í nguas,
boa noi t e, mui t o bem- vi ndos,
aqui eu t enho bal ões,
Breve silêncio.
A MULHER J OVEM
UM HOM EM
Vei o um homem do sul ,
e a pr evi são
ai nda di sse r a:
a noi t e ser á cl ar a,
uma noi t e em que
poder á se ver bem as est r el as,
el e vei o a pé,
el e vei o de um bai r r o
da per i f er i a,
de manhã cedo
el e cami nhava pel a est r ada,
onde t r af egam cami nhões par a a ci dade,
a nebl i na pesava no ar
e combust í vel quei mado,
Música.
UMA MULHER
De manhã cedo:
Madame Oi seau ol ha- se no espel ho
e del i nei a seus ol hos
com l ápi s pr et o Kaj al .
Ao l ado del a
seu ami go,
com o qual el a vi ve
j á há mai s de 10 anos.
Tu vai s
conhecer al guém –
el a di z, oh,
oh, di z el a,
l ongo si l ênci o,
hoj e al guém mor r er á -
hoj e al guém par t i r á par a sempr e.
9.
A MULHER J OVEM
O mai or , o gor do,
Curto intervalo.
9. 2.
A MULHER
Um sapo.
El e compr ar á um sapo de t i .
Um sapo. Podes i sso?
Um sapo?
9. 3.
A MULHER J OVEM
- cospe e sapat ei a e gol pei a ao seu r edor ,
Música.
10.
UMA MULHER
I sso é que é o f ut ur o?
O f ut ur o é assust ador .
Mas não posso d i zer i sso a el a.
Madame Oi seau
não gost ou del a,
j á a odi ou,
quando el a ent r ou pel a por t a,
j ovem, cabel os ondul ados,
vamos j ogar as car t as:
não, dei xe- me ver sua mão,
O f ut ur o é assu st ador .
Mas i sso n ão posso d i zer a el a.
Curto intervalo.
E não l ar ga a mão.
O que?
t ambém cr escem par a dent r o,
e t ua cabeça aos poucos f i ca chei a del es.
Música.
11.
CORO
Vei o um homem do oest e,
37, que t r ouxe a seca consi go,
os campos secar am,
o sol o r achou,
e i sso que f or a di t o,
que esse a no a col hei t a ser i a boa,
só de um ani mal
t i nha medo:
El e abr i u a l oj a,
a l oj a de bebi das,
e casou,
e t eve um f i l ho
e uma noi t e est ava na r ua com sua esposa
e seu f i l ho di ant e de sua l oj a
e ol hava um homem
que sabi a f azer bi chos co m bal ões,
que bi cho quer es,
per gunt ou ao seu f i l ho,
e per gunt a ao homem el e o que cust a,
e o meni no esc ol he um sapo,
por 4, 50
e o pai di z,
um sapo,
A MULHER J OVEM
O dout or di z
E agor a
el a t ent a ent ender ,
que o t empo j á pass ou,
el a se ol ha no espel ho,
mas não se vê nada,
nada al ém de cachos.
e el a di z:
por que não,
si m,
por que não.
Por que não.
13.
UM HOMEM FORTE
Dei xei t udo,
Fui at é a ci dade,
cami nhando,
e ent ão
compr ei com os vi et nami t as,
al i embai xo da pont e,
uma ar ma,
um r evol ver ,
e bal as,
enr ol adas
e com a ar ma
r oubei uma l oj a de bebi das
e o di r et or de um mat adour o.
CORO
O homem sem r ost o
vai at é a pr i mei r a l oj a
da r ua:
i st o é uma l oj a de bebi das.
El e di z:
i st o é um r evól ver ,
um r evól ver com sei s t i r os
e com cano cur t o.
Uma bal a
de um r evól ver de cano cur t o,
at i r ada de per t o,
f az um bur aco enor me,
a bal a ar r ebent a t udo.
O pei t o
ou a t est a
ou a boca
ou o pescoço -
por t ant o me dá t udo que t i ver es.
Música.
15.
A MULHER
Soment e o seu pr ópr i o f ut ur o
el a não vê,
Madame Oi seau,
e el a t ambém não o per gunt a às est r el as.
Par a i ss o, el a di z,
el a só pr eci sa ol har no espel ho,
no espel ho podes enxer gar t odo o f ut ur o,
e no espel ho el a vê
seu r ost o j á não mai s t ão j ovem.
Pausa.
el e se maqui a,
el e maqui a seu r ost o de br anco,
el e f az i ss o,
desde que el e
achou 400 cai xas
el a di z a el e,
ambos se maqui am,
el e maqui a seu r ost o de br anco
e el a del i nea um escur o t r aço
com Kaj al ,
não mui t o t empo mai s,
e vai s conhecer uma moça,
ou j á a conhecest e,
uma l oi r a, ou uma mor ena,
em t odo o caso como eu – com cachos.
Mas el a ser á mai s j ovem.
Mai s j ovem que eu.
Pode ser
que i sso t e pegue de j ei t o.
Mel hor que esqueças.
E agor a
el a compr eende,
que o t empo passou,
CORO
Sext a- f ei r a à noi t e,
Música.
UM HOMEM FORTE
Um homem sem r ost o.
Curto intervalo.
Pausa.
I st o é uma mei a.
Sobr e o r ost o
o homem usa uma máscar a -
el e usa uma mei a t r anspar ent e
de nyl on.
El e di z:
i st o é um r evól ver ,
um r evól ver com sei s t i r os
e com cano cur t o.
Uma bal a
de um r evól ver com cano cur t o
di spar ada de per t o
f az um bur aco enor me,
I magi na,
que a bal a t e acer t e no pescoço .
18.
O HOM EM
E ent ão o homem começa -
o homem no t er no br anco
com as duas l í nguas -
uma l í ngua ver mel ha, a out r a azul -
intervalo. Então:
O HOM
EM
E ao f azê- l o o homem com as duas l í nguas
f az uma car a -
uma car a,
como se est i vess e ol hando par a l onge.
E de um bal ão
o homem f az mui t os bal ões pequenos,
que el e ent ão mui t o mansament e -
mui t o del i cadament e -
com gr andes ol hos,
que ol ham nout r a di r eção –
dei xa f l ut uar par a l onge no vent o. . .
e sempr e as duas l í nguas!
Ass i m!
invisível -
O HOM
EM
O chi ado dos bal ões,
o homem suado,
a l í ngua azul ,
a l í ngua ver mel ha,
o ol har l ongí nquo.
I ss o demor a.
E ent ão:
Pr ont o.
Curto intervalo.
Fi nal ment e o bi cho est á pr ont o.
Curto intervalo.
E ent ão
( com
o ni nguém o quer compr ar -
o homem com as duas l í nguas di z par a a
gar çonet e com os mui t os cachos:
Aqui - par a t i .
A MULHER J OVEM
Que boni t o. Obr i gada.
19.
CORO
e o meni no esc ol he um sapo,
por 4, 50,
e o pai di z,
um sapo,
t ens cer t eza:
não pr ef er es uma cegonha,
poi s bem, embor a el e odi asse s apos –
e ent ão,
j á são quase oi t o, di sse o homem,
vou f echar a l oj a
e depoi s vou par a casa,
ent ão chegou um homem na sua l oj a,
que não t i nha r ost o.
O homem di sse ao dono da l oj a de bebi das:
Uma bal a
de um r evól ver
de cano cur t o,
di spar ada de per t o,
f az um bur aco enor me,
a bal a ar r ebent a t udo.
O pei t o
ou a t est a
ou a boca
ou o pescoço -
por t ant o me dá t udo que t i ver es.
Música.
20.
A MULHER
Si m, hoj e mor r er á um homem
com um bar r i l
ou com uma gar r af a,
di z Madame Oi seau
e ant es di sso e l e ai nda compr ar á um sapo de t i ,
21.
CORO
E o out r o,
37, do oest e,
o dono da l oj a de bebi das,
que t r ouxer a sei s semanas de seca
e a quem nada nesse mundo dava medo,
di z ao gor do,
ao f or t e,
ao gi gant e:
e agor a
el e compr eende,
que o t empo passou,
eu odei o sapos,
di z o dono da l oj a de bebi das,
você é f ei o,
e você é covar de,
e sua l í ngua
pr eenche t odo seu cor po,
seu cor po est á chei o
de sua l í ngua,
A MULHER
Lá embai xo, na pont e
A MULHER J OVEM
O gor do é o gor do –
o f or t e, o gi gant e
ent r a,
bebe al go,
e uma noi t e el e di z:
vem, vamos f azer al go j unt os,
e ent ão os doi s saem,
o gor do e a mul her com os c achos
seguem pel a mar gem do r i o
e el e compr a
duas ent r adas
par a a nova r oda gi gant e,
e quando el es est ão l á em ci ma,
el a l he di z,
que bom que est amos aqui em ci ma,
só é uma pena que ess a coi sa gi r a,
el a t e l eva par a ci ma,
mas t ambém t e l eva de vol t a par a bai xo.
E o gor do pensa,
se el e deve
bei j ar a moça agor a,
e el a di z,
vai agor a,
me bei j a,
f oi por i ss o que me t r ouxest e aqui par a ci ma,
o t empo cor r e,
e ser i a uma pena,
se não o f i zer mos agor a,
agor a,
enquant o ai nda est amos aqui em ci ma.
24.
O HOM
EM GORDO
Curto intervalo.
e com a r oupa
chei a de est r el as
enl ouquece.
O HOM EM
Di ga,
di z el e,
não me r econheces,
j á est i ve aqui ant eont em –
Ant eont em?
di z el a?
Si m, ant eont em -
Curto intervalo.
Não -
A MULHER J OVEM
Ent ão é cer t o que eu não ol hei par a t i .
O HOM
EM
Si m, si m -
aqui na por t a, eu acabar a de ent r ar -
Ela o observa.
Não me r econheces -
Curto intervalo.
Tu pensas,
que nós t al vez pudéssemos
f azer al go j unt os, t u e eu?
Eu não sei -
Eu, eu t ent o const r ui r al go,
ent endes,
est ou t r abal hando ni sso .
Oh, el a r i ,
si m, boa i dei a.
Boa i dei a.
A MULHER
Curto intervalo.
UM HOMEM FORTE
A bal a
o acer t a no pescoço,
bem aqui -
e ar r ebent a
a t r aquei a,
r espi r ação acel er ada,
e a ar t ér i a aor t a,
sangue por t udo,
el e se t oca no pesc oço
Ele sangra.
e agor a
el e compr eende,
que o t empo passou.
Muito sangue.
28.
CORO
Em um di a chuvoso
Curto intervalo.
Na manhã segui nt e,
Curto intervalo.
O homem começa
a car r egar as c ai xas enchar cadas pel a chuva
par a sua casa.
Par a o t r aj et o de i da e vol t a
da val aat é sua casa
el e pr eci sa apr oxi madament e uma hor a e mei a.
De i ní ci o el e car r ega quat r o cai xas a c ada t r echo,
mai s t ar de, ci nco,
ent ão, j á com mai s t r ei no, são set e.
29.
UM HOMEM FORTE
O gor do per gunt a:
A MULHER J OVEM
Um bi cho, per gunt a a moça com os cachos,
UM HOMEM FORTE
si m, al guém me di sse,
que el e odei a sapos,
el e odei a sapos,
eu amo sapos,
A MULHER J OVEM
Tu t ambém f odes que nem um sapo,
UM HOMEM FORTE
poi s é, ent ão: qual é o bi cho que não
supor t as:
A MULHER J OVEM
e el a f al a sem pensar mui t o:
ser pent es. A ser pent e.
O HOMEM FORTE
El e r i . Logo essa . Logo
Por quê?
A MULHER J OVEM
Por que a cobr a sempr e f i ca ass i m
como el a é,
mesmo quando el a cr esce,
t ambém quando el a
cr esce par a f or a de sua pel e,
el a sai de sua pel e,
que boni t o,
i magi na i sso ,
mas ent ão t udo
é como ant es.
A pel e vel ha f i ca par a t r ás,
a pel e é nova,
mas di ant e del a est á o mesmo t r aj et o.
Música.
30.
A MULHER J OVEM
El e f al ava e f al ava,
O HOMEM
Tu és Medusa, di z el e,
e eu sou Per seu,
ol ha aqui , as est r el as,
ol ha só, os c achos, como ser pent es
Ei , di z Per seu,
ei , t u t ens cach os como ser pent es,
t u poder i as ser a Medusa -
A MULHER J OVEM
Medusa?
O HOM EM
E eu sou Per seu, aquel e com as est r el as,
Per seu e Medusa, i sso p oder i a se t or nar al go.
A MULHER J OVEM
I magi nas i sso?
Per seu e Medusa? Tu pensas i sso mesmo?
Mas aqui l o são soment e cachos.
e el a di z,
se t u és Per seu
e eu sou Medusa,
ent ão t ens de cor t ar mi nha cabeça,
ei,
quer es cor t ar mi nha cabeça,
por mi m podes f azê- l o,
el a est á sempr e doendo mesmo,
O HOM EM
gost ar i a t ant o de t e bei j ar ,
gost ar i a t ant o de t e bei j ar ,
di z el e
A MULHER J OVEM
e el a di z:
ah,
par a ser honest a:
eu j á t enho al guém,
O HOM
EM
mas,
di z el e, nós doi s,
nós t emos de f i car j unt os,
A MULHER J OVEM
não???, di z el a, r eal ment e -
Curto intervalo.
O HOM
EM
j á andast e al guma vez?
A MULHER J OVEM
Si m, i sso f az di f er ença?
O HOMEM
Não.
Curto intervalo.
El e f i ca cada vez mel hor ,
e t udo f i ca cada vez mai s f áci l ,
as i dei as vêm por si só,
t udo com o ar ,
ol ha só, mamãe,
ol ha só,
o homem t em cabel os azui s,
o homem pi nt ou uma segunda l í ngua
no seu r ost o,
el e se par ece
com um cachor r o
r esf ol egando,
ol ha só,
quant o cust a i sso?
31.
A MULHER
Oh, di z Madame Oi seau,
A MULHER J OVEM
El e sapat ei a e gol pei a e cospe,
E ent ão o pequeno,
o mai s f r aco,
acer t a o out r o,
o gor do, o mai s f or t e,
quase que por acaso,
em mei o a um vol t ei o,
um r odopi o,
como numa espi r al ,
o pequeno acer t a o mai or ,
el e acer t a o nar i z -
O r uí do.
o r uí do na cabeça,
quando o nar i z quebr a. Cr ac.
A dor ,
a dor di spar a par a a cabeça,
o gi gant e vê est r el as
e ent ão el e enl ouquece,
e el e gol pei a,
cego de r ai va,
el e vê soment e o r ost o
na sua f r ent e,
br anco, com duas l í nguas,
uma ver mel ha,
a out r a azul ,
agor a o pequeno acer t a
com quase t odos os gol pes,
O HOMEM
O homem abr e uma das cai xas,
e desses, vi nt e
ou t r i nt a peças por di a,
em vi nt e di as
i ss o dar i a -
E t udo f ei t o de ar .
Tudo de ar .
34.
O HOMEM FORTE
E ent ão o f or t e,
o gor do,
o gi gant e
sonhou uma noi t e com sua mor t e,
el e sonhou
com t ot al esc ur i dão,
l á, onde el e est ava no sonho,
el e não podi a ver nada
nem com os ol hos ar r egal ados,
nada,
i sto é, al guém di ss e,
a pi r âmi de humana,
est á vendo,
a pi r âmi de humana,
A pirâmide humana.
35.
A MULHER
Todos vendem al go.
Todos nós
t ent amos vender al go.
Ou vendemos mer cador i a,
ou saber ou f or ça ou t empo.
Mas nem t odos t em al go par a vender .
E daí , o que vai ser ent ão?
Se al guém não t i ver nada par a vender ,
vai f i car di f í ci l , porq ue daí
el e não t em
nenhum val or .
Como se deve vi ver ent ão –
por t ant o t em- se de,
se não se t i ver nada par a vender ,
nem mer cador i a, nem saber , nem f or ça,
nada,
t er á que se t ent ar
f azer al go do nada,
que se poss a vender .
E quando não se t em nada,
par a vender ,
sobr am soment e as coi sas
as quai s s upomos
que el as se r i am de gr aça:
Achados.
Esper anças,
ment i r as
ou vi ol ênci a.
36.
CORO
Vei o um homem do nor t e que t r ouxe uma
e o empr ego
não é um empr ego qual quer ,
e, de f at o,
set e e vi nt e,
al i est ão el es par ados di ant e del e,
pai , mãe, cr i ança e mai s uma cr i ança
e hoj e o pai
est á especi al ment e gener oso,
e ent ão gar ot ão,
quer es um bi cho desses,
qual dos bi chos vai s quer er ,
quai s bi chos você pode,
eu posso [ f azer ] t odos os bi chos,
e ent ão, qual dos bi chos quer es –
eu – eu gost ar i a de um gat o -
um gat o – eu odei o gat os, mas vá l á,
por que, papai ,
não sei , f oi sempr e assi m,
você t ambém pode [ f azer ] um gat o,
e o homem model a um gat o,
Curto intervalo.
Agor a eu sei ,
por que eu odei o gat os,
por que, papai ,
por que gat os f azem de cont a que são l i mpos, mas
em ver dade
el es apenas l ambem t oda a suj ei r a,
el es pensam que são l i mpos,
mas no ent ant o el es apenas c omer am sua
pr ópr i a suj ei r a,
e daí el es a vomi t am de novo,
vomi t am sua pr ópr i a suj ei r a,
e el es par ecem f al sos, t odos,
mas vá l á, est á bem -
e t u,
pequena, qual bi cho t u vai s quer er ,
e segundo
as cegonhas não conseguem deci di r ,
onde quer em vi ver ,
el as voam par a l á e par a cá,
e nunca s e agr adam de nada,
e t er cei r o
el as enf i am seu compr i do bi co
no r abo,
a cr i ança chor a,
i sso f oi uma pi ada, f oi uma pi ada,
sabes qual é meu bi cho pr ef er i do,
si m, papai ,
sabes qual ,
si m, papai , é o por co,
o por co, exat ament e, o por co,
mesmo quando ni nguém gost a mui t o del e,
não, papai ,
o por co é mui t o mai s s ensí vel
do que a mai or i a pensa.
el e t em a pel a maci a,
ass i m como a gent e,
el e pode chor ar ,
e el e pode mor r er de medo
como nós,
i magi na i ss o, cegonhas não podem i ss o,
e gat os t ambém não.
37.
A MULHER J OVEM
E ent ão o pequeno,
o mai s f r aco,
acer t a o out r o,
o mai s gor do, o mai s f or t e,
quase que por acaso,
em mei o a um vol t ei o, um r odopi o,
como numa espi r al ,
o pequeno acer t a o mai or ,
el e acer t a o nar i z -
O r uí do.
o r uí do na cabeça,
quando o sept o [ do nar i z] quebr a. Cr ac.
A dor ,
a dor di spar a par a a cabeça,
Música.
38.
A MULHER
Vei o uma mul her do l est e
e ent ão o homem
cai u mor t o,
a chave par a o mat adour o
ai nda na mão,
mor r eu de medo.
40.
A MULHER
Ness a noi t e
Eu posso, di z o homem
poss o, com um úni co movi ment o da mão -
aqui o homem f az o movi ment o com a mão -
eu posso com um úni co movi ment o da mão,
com um úni co movi ment o da mão,
o homem r epet e mai s uma vez o movi ment o da
mão, f azer desapar ecer est a mul her -
Dedos conjurados.
Mas
quando o homem com o sor r i so,
quando el e f az o movi ment o da mão
pel a segunda vez, a f i m de
f azer sur gi r novament e a mul her que
l embr a uma pat i nador a no gel o -
não acont ece nada.
Nada.
Curto intervalo.
A MULHER J OVEM
El a não o ama,
mas el a t r ansa c om el e,
at é segui dament e,
em t odo o l ugar , at r ás na cozi nha
e sobr e o bal cão,
quando ni nguém mai s est á no bar ,
e no pát i o
ao l ado das l at as de l i xo,
quando el a t em uma f ol ga,
e uma vez at é
na r oda gi gant e,
i sso f oi engr açado,
e t eve de ser r ápi do,
em pé.
42.
O HOM EM
Eu est ava par ado na bei r a da est r ada,
como sempr e,
quando não est ou vagando pel os bar es,
est ou par ado na bei r a da est r ada,
ai nda er a mei o- di a,
uma f est a popul ar ,
em al gum l ugar , ni nguém compr ava nada:
ent ão vi um pássar o r el at i vament e gr ande, um corvo ,
comeu veneno,
el a não aguent ar á mui t o mai s,
t al vez ai nda al guns mi nut os.
Curto intervalo.
A MULHER J OVEM
Ness a noi t e
a mul her com os cacho s
sonha com sua mor t e.
El a sonha
com um homem num t er no escur o,
com cabel os f i nos, pent eados par a t r ás,
Curto intervalo.
Curto intervalo.
E na mão
o homem com os cabel os f i nos s egur a
uma espada – ou uma ser r a mui t o compr i da. El e t em
uma ser r a.
Curto intervalo.
Boa noi t e, di z o homem,
mui t o bem- vi ndos,
com est a ser r a -
o homem apont a par a a compr i da ser r a -
com est a ser r a -
Com est a ser r a vou agor a
decepar a cabeça da Medusa.
O homem com a ser r a di z,
meu nome è Per seu,
nat ur al ment e Per seu é soment e um nome ar t í st i co,
e com est a ser r a,
com est a ser r a
acabei de decepar a cabeça da Medusa.
Quem ol har a cabeça da Medusa, vi r a pedr a.
Agor a eu vou
por um br eve i nst ant e,
suss ur a o homem com o saco na mão,
agor a eu vou
por um br eve i nst ant e,
t i r ar a cabeça da Medusa.
Silêncio.
Curto intervalo.
E agor a, di z o homem,
após t al vez
t er em se passa do i nf i ndávei s vi nt e segundos,
vou col ocar a cabeça da Medusa
de vol t a no sac o.
Est á acabado.
E el a sonha,
como o homem
enf i a sua cabeça de vol t a no saco,
um saco gr osse i r o, mar r om ci nzent o,
el a ai nda pode ver a l uz,
que ent r a pel a aber t ur a do saco,
mas ent ão o homem amar r a o saco.
44.
O HOM EM
Que t al f azer mos al guma coi sa,
O HOMEM FORTE
O gor do bebe e di z:
O HOM EM
Esse s -
per gunt a o out r o, o mai s magr o, o mai s f r aco
O HOMEM FORTE
Si m, exat ament e esses,
100 peças por cai xa,
ah si m,
si m, l á f or a na per i f er i a,
ah,
si m, 400 cai xas,
t odo o car r egament o
esco r r egou da car r ocer i a,
e daí ?
Ent ão eu par ei , desci ,
f oi uma sext a- f ei r a,
e eu est ava f or a,
poi s não aguent ava
mai s f i car dent r o,
l á f or a na per i f er i a, nebl i na,
a pé, mui t o cedo de manhã,
quase ai nda de noi t e,
quando achei numa val a
ao l ado da est r ada
na cur va f echada,
uma car ga de cai xas,
e o gor do di z:
i sso não é possí vel .
Si m, mas f oi ass i m.
E ent ão?
Ent ão eu r emovi as cai xas.
Removeu?
A pé, si m.
Todas as cai xas.
Si m.
Car r eguei 400 cai xas.
Si m. O di a mai s i mpor t ant e na mi nha vi da.
HOMEM FORTE
O gor do di z:
A chuva.
O mot or e os l i mpador es de par abr i sa e o r ádi o
cont i nuam l i gados.
CURTO INTERVALO.
Tu di r i gi as a 130
e a pl aca i ndi cava 60.
E ent ão:
Ele ri.
O HOMEM
Como não se pode vi ver assi m,
O HOMEM FORTE
- nunca a t er i as encont r ado!
E ent ão o gor do r i
e daí el e di z,
most r a, most r a uma vez,
most r a agor a o que t u podes,
i sso não é possí vel ,
aí cer t ament e t ambém
t er i a al go par a mi m,
ou par a t i ,
el e se r ef er e à mul her ,
que t al
um cachor r o ou um gat o
ou um besour o
ou um sapo,
e ni ss o el e agar r a a mul her
pel os cachos
e l he dá um bei j o.
46.
A MULHER
El a t em
uma s ensação,
um pr essent i ment o,
que al go vai dar er r ado.
El a dei t a as car t as
sobr e a mesa di ant e de si ,
e l evant a os ol hos:
Di ant e del a,
o gor do,
el e quer saber
o que deve f azer ,
par a que uma mul her o ame,
uma mul her com mui t os c achos.
El a di z:
est ou vendo aqui
400 cai xas e um cami nhão na bei r a da est r ada,
um vi et nami t a
embai xo da pont e
e uma l oj a de bebi das,
e um mat adour o.
E uma mul her com cachos.
Estr el as.
E um homem com uma l í ngua azul .
El e é a t ua queda.
El a di z:
Hoj e eu não sai r i a.
Por que,
di z Madame Oi seau,
t u não
E ent ão o pequeno,
o mai s f r aco,
aquel e com o r ost o br anco acer t a o
out r o,
o mai s gor do, o mai s f or t e,
quase por acaso,
em mei o a um vol t ei o,
um r odopi o,
como numa espi r al ,
o pequeno acer t a
o mai or ,
el e acer t a o nar i z -
O r uí do.
o r uí do na cabeça,
quando o sept o [ do nar i z] quebr a. Cr ac.
A dor ,
o gor do vê est r el as,
aqui -
A MULHER
Madame Oi seau
pode pr ever o f ut ur o.
El a l ê o f ut ur o
na mão,
ou el a dei t a car t as
na sua f r ent e sobr e a mesa,
ou el a vê o f ut ur o
em uma bol a
de cri st al ,
el a di z:
vai chover ,
e i sso o di a t odo.
E el a di z:
Oh.
Oh, oh,
hoj e al guém mor r er á,
hoj e
O HOMEM / CORO
El e pi sot ei a e gol pei a e cospe,
E ent ão o pequeno,
o mai s f r aco,
aquel e com o r ost o br anco at i nge
o out r o,
o mai s gor do, o mai s f or t e,
quase por acaso,
em mei o a uma vol t a em r edor de si
mesmo,
um r odopi o,
como numa espi r al ,
o pequeno acer t a
o mai or ,
el e acer t a o nar i z -
Cr ac. ???
a dor ,
o gor do vê est r el as,
e ent ão el e enl ouquece,
e el e gol pei a,
quase cego de r ai va,
el e vê soment e o r ost o na sua f r ent e,
br anco, com duas l í nguas,
o pequeno acer t a agor a
com quase cada gol pe,
e daí mui t a coi sa se quebr a,
a bandej a chei a de cer vej a,
mesas vi r am, copos,
gar r af as,
um espel ho se despedaça,
gri ta ri a.
e o gor do
acer t a gol pes na mai or i a no vazi o,
e o r evól ver
cai do cós da cal ça, por det r ás,
o gor do nem o not a,
el e gol pei a o ar
cego de r ai va
e dor e sangue,
aquel e com o r ost o br anco
se esqui va, é mai s r ápi do,
acer t a o gor do de novo, e mai s uma vez,
e ni sso
el e chega mui t o per t o do gor do,
e o gor do acer t a o pequeno,
aqui -
e o pequeno,
o mai s f r aco,
o homem com as duas l í nguas
ouve um r uí do em seu cor po,
al go se r ompe em seu cor po,
o ar l he f al t a,
e el e cai par a t r ás,
sobr e as co st as,
pr ocur a al go par a se agar r ar na queda,
ar r ast a uma mesa consi go,
e no mei o di sso
o pequeno,
el e est á dei t ado de cost as
e sent e ao mesmo t empo
cal or e f ri o,
el e sempr e di z,
e
o que est ás f azendo,
o que est ás f azendo,
e agor a
el e compr eende,
que o t empo passou,
o ar l he f al t a,
e el e não pode
mai s ver di r ei t o,
não é mai s possí vel ,
os r ost os desapar ecem,
r et or nam,
desapar ecem de novo,
Madame Oi seau,
o gi gant e
e a mul her
com os cachos,
Tu di r i gi as a 130 e
e na pl aca const ava 60.
E ent ão
a car ga despenca do veí cul o.
Os ol hos
per manecem aber t os,
el e busca por ar
e não consegue,
o que vi r á agor a,
el e pensa,
nenhum ar ,
nenhum ar ,
o cor ação
di spar a
e quase f i ca par ado,
E, às vezes,
o páss ar o voa par a ci ma
e pousa sobr e um gal ho
ou sobr e o t et o de um car r o,
E ent ão
j á não há cont i nuação -
Música.
50.
O HOMEM FORTE
Vei o um homem do nor t e,
e a pr evi são
ai nda di sse r a:
hoj e não vai cai r nenhuma got a,
el e bal eou
o pr opr i et ár i o de uma l oj a de bebi das, e
assal t ou o di r et or de um mat adour o,
que mor r eu de sust o.
O homem er a gr ande, f or t e,
ou gor do, um gi gant e,
el e se apai xonou por uma mul her
com mui t os cachos,
que não o am ava,
mas soment e dor mi a com el e
ou f odi a, como el a chamava i ss o,
e um di a um homem
com uma l í ngua pi nt ada na car a
l he quebr ou o nar i z dur ant e uma l ut a,
e o gor do f i cou
al i par ado,
como que pet r i f i cado,
sem poder sai r dal i .
51.
A MULHER J OVEM
Vei o uma mul her do Oest e,
A MULHER
Vei o uma mul her do l est e,
FI M