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Secretaria de Planejamento da Presidéncia da RepUblica Fundagdo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica Diretoria de Divulgagao — Centro Editorial Boletim Geogrdfico 258/259 jul.idez. de 1978 — ano 36 1 — 0 ESPAGO DO GEOGRAFO 5 2 — CONTRIBUIGAO PARA A_IDENTIFICACAO DOS PRINCIPAIS PADROES DIFERENCIADORES DO USO DA TERRA COM LAVOU- RAS E REBANHOS NO SUDESTE DO BRASIL v7 3 — LOGICA E SISTEMATICA NA ANALISE E INTERPRETAGAO DE FOTOGRAFIAS AEREAS EM GEOLOGIA % 4 — CONSIDERAGOES A RESPEITO DA IMPORTANCIA DA GEOMOR- FOLOGIA NO MANEJO AMBIENTAL 60 5 — CONTRIBUICAO AO ESTUDO DA EROSAO DOS SOLOS AGRI- COLAS NO BRASIL 68 6 — EFEITOS TOPOGRAFICOS SOBRE ONDAS ESTACIONARIAS NO HEMISFERIO SUL 79 7 — ALELOPATIA E DEFESA EM PLANTAS 90 8 — BIBLIOGRAFIA 97 9 — NOTICIARIO 99 10 — LEGISLACAO 101 Boletim geografico / Fundacdo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica . — Rio de Janeiro : IBGE, 1943, abr. (A. 3, n. 1)- Trimestral. Mensal até 1951 ; Bimestral de 1952-1974, 0 3 primeiros fasciculos (1943, v. 1, n. 1-3) publicades sob o titulo “Bol do Conselho Nacional de Geografia™, Variagoes na denominacso do editor : Instituto Brasileiro de Geografia € Estatistica, Conselno Nacional de Geografia, Secgao Cultural, 1943-1954. — Instituto Brasileiro de Geogratia e Estatistica, Conseiho Nacional de Geogratia, Divisdo. Cultural, 1954-1967. — Fundacdo_ Instituto Brasileiro de Geografia ¢ Estatistioa, Instituto Brasileiro de Geografia, Diviséo Cultural 1967-1969. — Fundacao Institute Brasileiro de Geografia e ‘Estatistica, Instituto Brasileiro de Geogralia, Departamento de Documentacao e Divulgagéo Geografica e Carto- gratica, 1969-1973 » —- Fundacao Instituto Brasileiro de Geogratia e Estatistica, Bepartamento de Documentaco ¢ Divulgacao Geografica e Cartogrdfica, 1973- 1977. Fundacao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica, Diretoria de Divulgacso, Centro Editorial. Numeraego irregular : 0 V, 21 abrange 0 period de jan-jun. 1963 . — v. 22, jul, 1963-jun. 1964. — v. 23, jul-dez. 1964. ‘Apresenta indices anuais e indices acumulados. 1, Geografia — Periédicos. |. IBGE. IBGE. Biblioteca Central CDD 910.5 RJ — IBGE/78-19 CDU 91(05) sumario 0 ESPAGO DO GEGGRAFO H. ISNARD 5 CONTRIBUICAO PARA A IDENTIFICACAO DOS PRINCIPAIS PADROES DIFERENCIADORES DO USO DA TERRA COM LAVOURAS E REBANHOS NO SUDESTE DO BRASIL uy IEDA RIBEIRO LEO LUIZ ALBERTO DE C. DO NASCIMENTO TELMA SUELY A. DE C. SENRA W LOGICA E SISTEMATICA NA ANALISE E INTERPRETACAO DE FOTOGRAFIAS AEREAS EM GEOLOGIA PAULO CESAR SOARES ALBERTO PIO FIORI 35 CONSIDERACOES A RESPEITO DA IMPORTANCIA DA GEOMORFOLOGIA NO MANEJO AMBIENTAL ANTONIO JOSE TEIXEIRA GUERRA 60 CONTRIBUICAO AO ESTUDO DA EROSAO DOS SOLOS AGRICOLAS NO BRASIL. ANTONIO JOSE TEIXEIRA GUERRA WILSON DUQUE ESTRADA REGIS NEIDE OLIVEIRA DE ALMEIDA EFEITOS TOPOGRAFICOS SOBRE —_IRACILDE MOURA Fé LIMA 68 ONDAS ESTAGIONARIAS NO HEMISFERIO SUL RUBENS LEITE VIANELLO 1 ALELOPATIA E DEFESA EM PLANTAS ZELIA LOPES DA SILVA 90 Economia Regional — Textos escothidos — BIBLIOGRAFIA Otenee JACQUES SCHWARTZMAN 37 Fotos de satélites mostrare todo 0 vale do nora $40 Francisco 93 SUDAM e CNPq intensificam medidas de pre- servacdo da flora amazénica 99 Instrugées reguladoras de aerolevantamentos 100 LEGISLACAO Projeto de lei dispde sobre exploracao de jazi- das minerais 101 Bol. Geogr. | Rio de Janeiro | Ano 86 | n& 258/259 | p. 1-102 | juljdez. | 1978 Este é 0 ultimo numero do Boletim Geografico, cuja matéria passa, a partir de agora, a ser incorporada a Revista Brasileira de Geografia. O principa! objetivo desta integragdéo € o de oferecer um corpo unificadc de trabalhos de pesquisa, comunicagées, revisio bibliografica e comentarios, que déem ao leitor uma visao global do estagio dos conhecimentos e das tendéncias da ciéncia geo- grafica. O Boletim Geografico cumpriu um importante papel na lite- ratura especializada em nosso Pais, nao sd na divulgagao de assuntos especiais, como também de noticidrio, legislagao e mes- mo transcrigdes de trabalhos publicados em outras obras do género, nacionais e estrangeiras. A incorporagao do material cientifico do Boletim na RBG nao deve ser encarada como término de uma missao ou desapa- recimento de uma publicacao especializada, mas sim como seu revigoramento em outro periddico muito mais completo e com campo de aca muito mais ampliado. Embora considerando validas as afirmativas de outros estudiosos da ciéncia geografica a respeito do tema “a geografia precisa definir sua concepcao do espago a fim de afirmar a sua especificidade”, H, Isnard, da Universidade de Nice, Franca, aprofundou-se em novos conceitos sobre 0 assunto, concentrando sua analise em quatro aspectos principais do espaco geogratic génese, definigao, estrutura e relagdes. A matéria foi traduzida com autorizacao de Annales de Géographie, Mars-Avril, 1975 — LXXXIV année — Paris, Franca. O Espaco do Gedgrafo Como fizeram as diferentes disciplinas que compdem as ciéncias humanas, a geografia precisa definir sua concepcio do espago a fim de afirmar a sua espe- cificidade. Se existe um espaco social, um espaco mental, um espago econd- mico, 0 que é 0 espaco para o gedera- fo? Outros ja responderam antes de nés, Contentar-nos-emos em fornecer nestas paginas algumas reflexdes. 1. A GENESE DO ESPACO GEOGRAFICO Por definicao, a geografia trata do es- pago terrestre que é 0 préprio objeto de suas pesquisas. Desta evidéncia nin- guém duvida, mas tratase de que es- pago? Bol. Geogr, Rio de Janeiro, 36(258-259): 5-16, H. ISNARD da Universidade de Nice, Franca Se fossem espacos naturais, ou no pré- prio sentido da palavra, originais, seu estudo pertenceria, sem diwvida, somen- te a ecologia, que compete definir ¢ analisar os ecossistemas, nascidos da auto-organizagio de wma comunidade de seres vivos, dentro de um meio fi- sico. Mas os espacos naturais se*extin- guiram, com excegio de poucos exem- plos: em quase todos os lugares a agio humana atuou sobre os ecossistemas, acionando processos de tansformagio, ¢ até mesmo de degradagio, que rom- poram 0 equilibrio espontaneo, (0 se tata de opor o homem & natu- veza: 0 homem esta dentro da nature- za, onde introduziu a desordem para instaurar sua ordem, Onde quer que intervenha leva consigo as suas regras jul./dex., 1971 sem se deter face & resistencia e A rea- | ticas originais no curso de uma acio ao de forcas mal coniroladas. Mas, por fim, ele substitui os ecossis- temas por geosistemas numa ordem que revela stta presenca. A geografia nio é, pois, como se diz freqiientemente, 0 estudo das relagdes entre o homem ¢ o meio, £ o homem quem tem a iniciativa. Certamente nao se negara aqui a vali: dade de uma ecologia do homem, “con- siderado como um organismo vivo sub- misso a determinadas condicdes de existéncia que reage aos estimulos re- cebidos do meio natural” (Max Sor- re); nao se negara principalmente a influéncia do Clima, dos complexos patogénicos,., mas este é 0 campo das ciéncias biolégicas, nao da geografia. Para manter sua credibilidade, a geo- grafia deve limitarse ao seu préprio objeto, que é a organizaczo do espaco pelo homem. Este dominio nao pode ser contestado, pois cle a classifica entre as ciéncias humanas ao lado da antropologia, da sociologia e da economia; esta especi- ficidade The permite participar em qualquer atividade de organizacio re- gional. Por organizagio devese entender uma preparacio do espaco. Toda organiza- go supde uma miatéria-prima, wma fi nalidade ¢ meios de acio. O espaco é a matéria-prima, uma ma- téria-prima complexa, organizada como um todo pelas relagées necessariamente estabelecidas entre seus elementos cons- titutivos; uma matéria-prima fragil, porque qualquer coisa que atinja um de seus componentes acarreta a desor- dem dentro da totalidade; uma maté- ria-prima que perdeu suas caracteris- 6 humana milenar. © conhecimento do espago resultou primeiramente da pritica empirica: 03 camponeses avaliavam a fertilidade de suas tertas pela cor € vegetaciio: a ex. periéncia Ihes revelava, através de cer- tos indicios, quando iria chover ou ne- var. Dai em diante muitas disciplinas participam do estudo do espaco: a morfologia, a climatologia, a botinica, a pedologia, nas quais convém que 0 gedgrafo scja iniciado, porque delas ir depender 6 conhecimento das caracte- risticas do meio, sobre o qual a agio humana é exercida. Os animais ¢ as plantas tiram direta- mente de seu habitat aquilo que é ne- cessirio & sobrevivéncia. Da mesma forma o fizeram os homens que viviam do extrativismo, da caga e da pesca. A crescente complexidade das socieda- des exigiu uma atuagio mais profunda sobre o espago; com a agticultura nas- ceu a organizacio, que em seguida se estendeu, cada vez mais rapidamente, a quase totalidade da superticie terres- tre, a ponto de s6 deixar subsistir, iso- ladamente, algumas reservas naturais mais ou menos intactas. A grande aventura humana sobre a terta foi a de ter reformulado, em definitivo, 0 espaco a partir de modelos diferentes dos ecossistemas originais, substituindo a necessidade pela intencionalidade. A organizagio do espago obedece uma finalidade que fixa uma meta pa- ra a acdo humana: assegurar sua vida ca de seus descendentes, ¢ atender 3 crescentes necessidades, sempre diversi- ficadas. Exigiu-se que espaco, maté- ria-prima mais ou menos maledvel, se curvasse a todas as exigéncias, se pres- tasse aos cilculos ¢ as projetos mais audaciosos, saidos da imaginacgio hu- mana. A realidade objetiva do espaco natural se opde, assim, a realidade pro- jetiva do espaco geografico. ‘A organizagio do espago se inicia mo- destamente, sendo primeiramente o resultado empirico de experiéncias miiltiplas, malogradas, de repeticbes sucessivas, realizados através de gera- des, com perseveranca e obscrvacio, antes de se chegar a uma solucio que, obtida a duras penas, faz com que os homens a cla se prendam religiosamen- te, por medo de que a inovaciio incon- trolada conduza i desordem. Tal nos parece © processo que estruturou o vale do Nilo, ou ainda o que organizou as comunidades econdmicas dos grandes deltas do Sudeste da Asia, baseadas na | exploracio da abundancia hidrica, Mas a organizacio pode também re- sultar na execugio de um modelo con- cebido para atender a uma meta pre- viamente estabelecida, A planificacao do espaco no é uma politica das so- ciedades modernas: ela vem sendo rea- lizada ao longo da histéria, Basta | evocar aqui o empreendimento dos reis de Mérina, que lutaram delibera- damente durante mais de trés séculos | para transformar os pintanos repul vos da bacia de Tananarive em fértil planicie, onde as aguas, controladas por um sistema de diques e canais, as- | seguram a irrigacio para a exploracio de arrozais em lotes individuais pelas populacdes das aldeias, Trata-se da aplicacio, em Madagdscar, de um mo- delo asiatico de organizacio introduzi- do pelos imigrantes originarios da In- donésia. Entretanto, hoje, é evidente que a aczo humana, mais voluntatia e racio- nal, recusando-se a confiar em praticas empiricas, recorre, cada vez mais, a | planificacao que liga o desenvolvimen- io econdmico e a organizacio do es. | paco. A transformacio de uma materia-pri- | ma em produto elaborado supée a in- | tervengio de meios de acio que, du- rante muito tempo consistiram princi- palmente na mobilizagio da forca de Rol. Geogr., Rio de Janeiro, 36(258-259): 5-16, uabalho humana. O trabalho obriga- t6rio, instituido pelo poder real, for- neceu a abundante mio-de-obra neces- sdria as grandes obras de terraplenagem exigidas’ para a recuperacio das_pla- nicies de ‘Tananarive, Ainda hoje as gigantescas obras de remodelagio do territrio chinés so realizadas por imimeros trabalhadores, agrupados em cquipes. Evidentemente que, desde cedo, 0 ho- mem aprendeu a construir ferramentas € méquinas, que no apenas poupa- vam, mas que também decuplicavam suas forgas. O fato & por demais co- nhecido para que sej i tilo; lembraremos apenas a extraordi- nitria eficcicia do material hoje utiliza- do no nivelamento do solo, arrasamen- to de colinas, perfuragio de tineis, abertura de estradas, construgio de iméveis. Ja nao bastam os investimentos de tra- batho, pois daqui em diante a orga- nizacio planificada exige o investi- mento dé vultosos capitais. Estes capi- tais sio mais rapidamente aplicados 3 medida que as operages fundidrias proporcionem Tucros geralmente supe- riores 20s juros médios. © espaco tem sido sempre disputado entre 0s homens, sendo uma das ma- térias-primas muito solicitadas pela colonizacio. Nas grandes extensoes teve que se submeter a uma remodela- gem para atender as exigéncias de seus novos ocupantes: em um periodo de aproximadamente meio século todos 05 tragos de ocupacio indigena desa- parecem da planicie argeliana de Mi- tidja que, passando as mndios dos euro- peus € ocupada por dominios viticolas, aldeias, estradas, 4 semelhanga das pla- nicies do Midi, da Franga. Com o surgimento das sociedades mo- dernas a produgio e a utilizacio do espaco crescem, chegando até ao des- perdicio; o espago no é mais um bem jul.fdex,, 1978 7 a ser utilizado e sim uma mercadoria | que se presta a toda sorte de proveito- sas especulacées. Os tipos de organiza- Gao que ele recebe se diversificam para atender as novas necessidades, como podemos reconhecer ao compard-los com os recursos limitados de organiza- cdo com que as sociedades do passado se satisfizeram durante longo tempo. A _matéria-prima nio sendo inesgota- vel, é necessdrio ir além do espago agri- cola, mudar seu objetivo e reestrutu- ré-lo para adaptélo as novas necessida- des, que surgem incessantemente, As cidades se desenvolvem em detrimento de seu cinturfo verde, que vai dando lugar aos bairros, aos parques, aos es- tadios, as zonas industriais, as vias de grande circulagéo, e aos aerédromos. As autopistas abrem extensos e largos espagos através dos campos e das flo- restas, As guarnicées militares se insta- Jam em campos distantes, onde a vida moderna hesita em penetrar. Hoje 0 aproveitamento do espaco ru- ral’ duplica com o desenvolvimento desenfreado da economia do lazer. Os cidadaos constréem casas de campo nas aldeias ou em terrenos subtraidos as culturas; a estagées de esporte de in- verno acabam com as pastagens das encostas montanhosas; as construtoras estendem ao longo do litoral seus mu- ros de concreto: na Costa Brava com- pram, a qualquer preco, propriedades agricolas & beiramar, nas quais cons- tréem edificios de ma qualidade, alu- gados depois aos turistas a pregos exor- bitantes. O semandrio espanhol “Euro- peo” indaga o que aconteccré aos filhos dos camponeses, futuramente sem terras, e de onde virdo 0 trigo ¢ as frutas, 2. DEFINICAO DO ESPACGO GEOGRAFICO Estas breves indicagdes sobre a génese do espago geografico tiveram como tinico objetivo chegar a uma definicio. 8 © centro das preocupagées do geégra- fo é a anilise ¢ a definicio do espaco organizado pela acio humana. A “na- tureza” fornece a matéria-prima ma- ledvel, mais ou menos rica em possibi- lidades; mas sem a agéo humana sé haveria sobre a terra ccossistemas ne- cessariamente determinados pelas leis de organizagéo biolégica. Um espaco geogrifico é totalmente diferente de um ecossistema na medida em que é administrado pelas mios do homem, F uma matéria-prima claborada que j perdeu as caracteristicas de seu estado natural, sendo transmitida através das geracées que nela projetam suas pré- prias transformacées. A organizacdo de seu territério é um dos objetivos que toda organizacio so- cial se propée a atingir: ela é condu- zida pelos homens associados em seus esforcos de produgio. Toda a socieda- de participa da criacio de seu espaco. Nele emprega todos os meios de agio que seu estagio de civilizagio permite: a forca de trabalho de seus homens, a engenhosidade de suas técnicas, 0 apoio de suas crencas, de suas esperangas, de suas ambigées. Sociedade e 0 espaco geografico obedecem & mesma raciona- lidade, Esta é, sem dtivida, a razio pela qual, situados em condigées naturais idénticas, os homens organizam dife- rentes espacos: neles as civilizagdes tradicionais projetam suas preocupa- g&es sociais; as civilizagdes industriais, seus imperativos econdmicos. Exploran- do possibilidades que os indigenas desconheciam, a colonizagio conseguiu justapor esses dois tipos de espaco, inspirada em racionalidades diferen- tes; ou melhor, introduziu a dualidade no seio das comunidades. Nada ¢ mais significative que 0 exemplo da regizo de Betsimisaraka, em Madagascar: a administragio obrigou os montanheses a estabelecerem aldeias permanentes nos vales, & beira das estradas, perto das plantagdes de café; mas é nas co- linas densamente arborizadas que a etnia mantém suas paisagens especifi- cas, onde cada linhagem tem seu Tavy coletivo, suas habitagdes familiares es- palhadas pelas culturas de arroz, sobre queimadas, seu tuimulo ancestral e seu rebanho bovino comunitario. Dai re- sulta uma estrita dicotomia no desen- volvimento da vida social. O espaco geogrifico, criagio continua da sociedade, é um produto social que, de geracio em geracio, se reproduz ¢ se adapta. Comandando a a¢io ctiativa dos ho- mens, hd uma intencio coletiva a ser realizada: 0 espago organizado entrega a quem sabe observé-lo a chave-mestra de sua estrutura: descobrila é pene- tar na explicagio geogrifica, Como toda obra exprime a personali- dade de seu autor, 0 espago modelado a imagem da sociedade reflete suas caracteristicas especificas: ele é a pro- jecio dessa sociedade no solo. Desse modo, a sociedade € seu espaco consti- tuem um todo indissociavel, em wm sistema de interagdes, onde a sociedade se forma, criando o espaco. Aqui se faz necessiria a andlise de exemplos pre- cisos que nos serao emprestados pela Africa Ocidental. Os Toffinnu constituem uma etnia do Dahomey estabelecida em sociedade la- custre, no meio do lago Nokoué: habi- tam cabanas sobre estacas, utilizam cercados feitos de ramagens para atrair 0s peixes, canoas feitas de um sé tron. co escavado, velas ¢ pequenos remos livres para impulsioné-las. Distinguem- se dos agricultores que ocupam as mar- gens do lago, os Aguenu, por tudo aquilo que define a especificidade étnica. Ora, as tradicdes revelam que os ‘To- finnu so antigos agricultores que, fugindo dos cacadores de escravos, se refugiaram, em meados do século XVIII, no lago Nokoué. ‘Tiveram que criar e organizar uma nova cultura: 08 esforcos desenvolvidos em conjunto para viver e sobreviver, a elaboragio coletiva de técnicas de pesca, vocab Lirio, instrumentos, procedimentos, ri- tos, todo o savoir-faire. Em resumo, a criagdo do espaco reuniu os homens em um sistema sécio-cultural complexo de solidariedades, de onde nasceu a etnia Tofinnu. Basta lembrar agora, resumidamente, como os mesmos processos deram ori- gem & etnia Baga nos Riviéres du Sud, estes fugitivos que haviam escapado do norte durante os ataques dos Fulani, no século XVII, foram obrigados a in- ventar uma nova técnica de organiza- cio do espaco, de onde surgiu a rizi- cultura em polders. £, sem davida, esta estreita identidade entre 0 homem e seu espaco que expli- ca, em grande parte, 0 apego ao solo, ¢ até mesmo © patriotismo. Se sociedade ¢ espaco siio solidérios dentro de um mesmo sistema de auto- regulamento, é evidente que qualquer modificagio em um deles acarreta no outro uma modificacio destinada a restabelecer 0 equilibrio comprometi- do. Dos dois termos do conjunto, qual © mais susceptivel de evolugio? espaco pode sofrer mutagées bruscas, como os tremores de terra, as erupgdes vulcinicas, as inundagées, ou lentas, como as oscilacées climaticas: & provi vel que o Sahel africano sofra, hoje, uma aridez crescente, que promove a degradacio das atividades agropastoris de seus habitantes. Mas, na maioria das vezes, é a agio humana que pde em questo a ordem sobre a qual se fundamenta a simbiose da sociedade e de seu espago. As pri ticas que dependem de uma economi: destrutiva podem desencadear a degra- Bol. Geogr, Rio de Janeiro, 36(258-259)}: 5-16, jul.’des, 1978 9 dagio das forgas produtivas do meio: a ruina da civilizacio Maia pode ser atribuida, em grande parte, a0 esgota- mento dos solos submetidos ao siste- ma da Milpa, que nJo podia suportar uma densidade demogrifica muito ele- vada John Steinbeck, em As Vinhas da Ira, menciona esta evolucao regressiva, provocada no oeste dos Estados Unidos por uma exploragio imprudente que expés os solos a erosiio edlica, Toda tansformagio da sociedade no curso de sua historia conduz a uma cor respondente transformacio na organi- zagio do espaco; a revolucio na Euro- pa oriental nao somente destruiu as estruturas sdcio-econémicas como refez inteiramente a Geografia, Ao contra- rio, quando a colonizacio, para se im- plantar, anexa e organiza wma parte do espaco, a criagio de cidades, de plantacées, de centros de extragio mi- neira, de vias de comunicacio, provoca © enfraquecimento da sociedade indi- gena: O surgimento da classe assalaria- da, da moeda, do comércio, solapa o antigo sistema de valores. Desse modo, a sociedade ¢ 0 espaco evoluem segundo uma diacronia para- Iela. A cada geragio humana corres ponde uma geracao espacial: seria in- teressante reescrever a histéria, recons- tituindo a cadeia das transformagées da Geografia, Nela verfamos que uma organizagio do espaco desaparece len- tamente, enquanto outra vai tomando © seu lugar: esta é a razio pela qual, em dado momento da evolugio, um espaco geogragico pode apresentar uma composicao. poligénica. Como exemplo temos as paisagens d: baixa Provenga, com seus povoados si- tuados em lugares clevados, seus terra- 0s dispostos em degraus no flanco das Colinas, suas casas de amoreiras deli- mitando as propriedades. Paisagens se- mi-arruinadas, invadidas pela vegeta- 10 io selvagem ¢ corroidas pelo tempo. | Inertes. Anacrénicas em relagio 4 era das autopistas indiferentes ao meio ambiente. Anacrénicas ou em vias de ressurreicio, desde 0 inicio da era das casas de campo, que ai virio despertar a vida? O espago, como dissemos, é uma maté- ria-prima que a agio humana modela de acordo com suas necessidades. Di- ferencia-se das outras matérias-primas pelo fato de que, apés o uso, ele é recuperavel, dispondo-se a novas com- binacées. Mas crescimento exponen- cial da populagio podera tornd-lo uma matéria-prima cada vez mais rara, 0 que provavelmente conduziré a uma vida disputa entre os homens 3. A ESTRUTURA DO ESPAGO GEOGRAFICO Uma vex definido 0 espaco geogrilico, € necessitio que penetremos na intimi- dade da sua organizacio, e, antes de tudo, que precisemos suas relagdes com © espaco natural. Este apresenta um certo ntimero de caracteristicas que © homem utiliza segundo seus objetivos ¢ 0 estagio de suas técnicas para fixar sua ago sobre o meio. Gom alguns exemplos esclareceremos 0 assunto. A civilizacio mediterrdnea se desenvolveu no quadro geografico de um mar in. terior cercado de altas montanhas. As facilidades de navegacio de uma mar- gem a outra multiplicaram as trocas de toda natureza entre as cidades esta- belecidas em acrépoles, na costa mari- tima ou em suas proximidades, em po- sido defensiva, mas abertas para o exterior, essas cidades foram desenvol- vidas até a dimensio de capitais de impérios. No passado, protegidos em suas aldeias situadas em lugares ele- vados, os homens transformaram as encostas médias das montanhas em terragos de culturas, as planicies bai- xas em pastos de inverno ¢ os prados elevados em pastos de verdo, segundo a alterndncia das estagdes da chuva e da seca. Certamente é grande o con- traste entre os litorais urbanizados e as montanhas agropastoris. Mas tanto em uns Como noutros os seres humanos so socidveis, expansivos, habeis, pro- duto de uma civilizagio que soube ti- rar partido de seu espago. Mas o mundo mediterranco acomp nhou com dificuldade 0 curso da his- toria, cujo centro de gravidade se transferira para 0 noroeste da Europ a adaptacio exigia uma outra utiliza- gio do meio. Atraidos pelos grandes eixos de circulagio, os povoados inva- dem as planicies preparadas para cul- turas itrigadas, vinhedos, pomares, des- tinados aos mercados. As_iniciativas estrangeiras exploram suas riquezas minerais ¢ sua posigio de encruzilhada entre trés continentes: abrese, assim, a fase atual de industrializagio, que multiplica as implantacées petroliferas ¢ sidertirgicas 4s margens do Mediter- rineo, Especulando sobre a amenidade do clima ¢ a beleza das paisagens, 0 capi- talismo imobiliario enche 0 litoral de belas residéncias, de centros de diver- sio, de hotéis de luxo, de campings, para uma clientela de milhoes de tu- ristas gerados pela sociedade de con- sumo. No baixo Languedoc a grande planicie coberta de vinhedos e pontilhada de grandes mercados agricolas manteve-se, durante muito tempo, bem. diferente de sua fachada maritima que um rosé- rio de pintanos tornava insalubre ¢ deserta: mas os grandes investimentos recentemente ali aplicados criaram um Titoral acothedor para milhares de tu- ristas, Desse modo, muitos ciclos sucessivos de organizagao de um mesmo meio am- biente permitiram aos povos mediter- rineos viver ¢ sobreviver, adaptando- Bol. Geogr., Rio de Janeiro, 36(258-259): 5-16, jul.jdez., 1978 se & evolucio do mundo. Mas ultrapas- sando seu objetivo, essa acio sobre o meio corre, hoje, o risco de provocar sua ruina: a floresta desaparece, 0 solo tornase cstéril, a poluigdo ameaca o mar. Nada pode ilustrar melhor o papel que cabe a0 homem ¢ & natureza den- tro da produgio continua do espago geogrifico: a iniciativa de um se opée a passividade relativa do outro, que se presta aos seus projetos sucessivo, Um espago tornase uma regitio geo- grafica quando recebe uma organizacio especilica que o distingue de outro. Esta organizagio resulta da adaptagio inevitavel do meio ao estabelecimento de um povoamento, suas atividades de producto e seus meios de circulacio. Se 0 todo constitui uma organizacio com um fim determinado, uma certa coeréncia estrutural deve ligar seus componentes entre si, O que acontece no mundo real? Toda a sociedade, como ja se disse, participa da organizacio que atende As suas exigéncias, isto , se 0s compo- nentes do espaco dependem, necessa- riamente, uns dos outros para atingir seu objetivo; eles se sclecionam tam- bém com as caracteristicas da socieda- de, Tratase, portanto, de uma dupla coeréncia estrutural cuja complexidade deve ser analisada. Um espaco agricola é organizado para assegurar a vida dos homens que o exploram: a distribuigio da producio, 0 tragado das rodovias e a localizacao das habitacées sio projetadas de 1 neira a permitir o seu funcionamento. Mas nfo ha nada de rigido na organi- zacio, varios modelos podem atender a esta necessidade. A escolha compete sociedade. Esta se reflete na estrutura fundiari que pode constituir-se de terras frag- i mentadas em exploracdes desiguais, cujos limites, materializados por de- marcagdes ou cercas vivas, indicam uma propriedade privada ou, ao con- twario, terras reunidas em grandes do- minios coletivos cultivados por equ pes. Reflete-se, ainda, no tipo de habi- iagio, quer agrupando as aldeias, as populagées subordinadas a disciplinas comunitirias, quer espalhando-as para atender as suas tendéncias individua lista. O meio natural nao exerce nenhu- ma coagio: prevalece a influéncia da histéria c dos habitos étnicos. Na sava- na africana existem choupanas de for- mato cilindrico cobertas de palha em forma cOnica ao lado de choupanas de formato quadrangular de banco. Os Bambara retimem seus dominios fami liares sob o abrigo dos muros da aldeia; Os Mossi, assegurados pela so- lidez de sua estrutura social, dissemi- nam livremente stias Soukala. As cidades nascem para atender as ne- cessidades resultantes da crescente com- plexidade da organizagio social: sua paisagem traduz as preocupacies or ginais; a seguir, comanda o seu desen- volvimento. Ninguém contestara a importancia da topografia na geografia urbana. Mas é necessdrio apelar para as condicgdes sociais, para justificar as estruturas da cidade: notadamente sua divisio em bairros, segundo a raca, a cinia, a religido ou a situagio econd- mica dos habitantes. A dindmica resul- tante dessas diferenciagdes antagénicas tende a organizar a cidade em um todo espacialmente diversificado, hierarqui- zado em zonas. Os pobres trabalhado- res e “grupos marginais”, so expulsos para a periferia, amontoam-se em “su- burbios”, “favelas”, “barrios”, ao pas: so que o centro se organiza como de- tentor da riqueza, da decisio, do poder e da informac%o, superpopulado du- rante o dia e deserto a noite. Assim se apresentam as cidades da civilizacio industrial, cuja estrutura se fundamen- ta sobre uma acumulacao dialética de capitais e assalariados. As cidades sao produtoras do espaco geogralico; es- tendem seu poder sobre 0 espaco cir- cundante e 0 polarizam através de um conjunto de cidades secundarias. Entre estas se estabelece um sistema de fluxo que se projeta no solo em uma rede de vias de comunicagio. O espaco inte- grado nesta rede constitui um todo funcional, hierarquizado sob 0 coman- do da cidade principal; 0 espaco e as cidades so, portanto, inseparaveis neste contexto. Outra correlagio: as densidades hu- manas € as atividades que as susten- tam. Uma e outras variam no mesmo sentido: nas sociedades tradicionais as colheitas desfavoraveis provocam 0 au- mento da mortalidade € a emigrcaio dos jovens; em troca, uma epidemia mortifera provoca a deterioragio do aparelho de produgio. Nos paises de- senvolvidos as maiores densidades de- mogrificas coincidem com as regides altamente industrializadas ¢ urbaniza- das; as regides agricolas sio menos po- pulosas. Nao obstante, os fatos nfo sio assim vo simples: 0 gedgrafo é freqiiente- mente levado a constatar as distorgdes entre densidades ¢ atividades; impera- tivos sociais, tais como a obrigaciio de garantir a continuidade do culto fami- liar ou o prestigio proporcionado por numerosa descendéncia podem condu- zir 0s homens 4 superpopulagio. Foi © que ocorreu nas montanhas mediter- raneas: na grande Cabilia a acumula- gio de uma etnia, que se dedica a de- fesa de sua especificidade, conduziu a formagio de densidades superiores a 100 habitantes por km?, num meio montanhés hostil; a emigracio e a im- plantagio recente de atividades indus- Liais auraem recursos complementares, mas nJo atenuam a sobrecarga demo- grafica, As anllises precedentes permitem com- preender as caracteristicas da estrutura do espaco geografico; seus componen- tes devem, necessariamente, concorrer para o funcionamento do todo ¢ har- monizar-se com a sociedade que 0 pro- duz, Esta coeréncia é bem diferente da rigidez de um sistema auto-regulado. Exige apenas uma compatibilidade en- tre seus componentes que autorize um jogo livre, sem, todavia, provocar cri- ses disfuncionais, de onde resultaria a desestruturagio, ou seja, a destruigio do espaco geogrifico. Entretanto, essas_crises sobrevém. / organizagio espacial dos Maias desmo- ronow, como vimos, quando o cresci- mento da populagio, que nao era com- pensada por progtessos corresponden- tes das técnicas de producio, submeteu os solos a uma extenuante superexplo- racio. Ameacadora também é a crise dos centros urbanos nas sociedades in dustriais hipertrofiadas pelo excesso de populacio e circulacko; a obstrucio do espaco & to grande que eles nfo mais conseguem garantir as fungdes que os justificam, Com a perda do controle de seu crescimento, estas cidades f nalmente se anulam. Freqiientemente, a degradagao resulta da introducio de uma inovacio gera- dora de desordem: 0 equilibrio rom- pido entre os componentes faz com que a organizacio perca sua coeréncia € se desintegre, se a sociedade nio en- contrar uma solucio. Gonscientes des- ses riscos, as sociedades tradicionais se esforgam para manter seu equilibrio através de um sistema de crengas que sacralizam seu patriménio ancestral, € rejeitam novas idéias que possam questionar tais crengas, admitindo a possibilidade de integré-las através de uma reinterpretagio; estas sio as. so- ciedades bloqueadas. A colonizacio precisaria fazer, nesse caso, uma inva- sio brutal; fornece numerosos exem- plos da degradacio provocada nos es- pacos sociogeogralicos dos indigenas. © aumento das densidades, decorrente Bol. Geogr, Rio de Jancivo, 36(258-259): 5-16, da aplicacio de medidas de_higiene social, obrigou os camponeses a au- mentarem a sua producio alimentar pela diminuic&o da duracao do pousio e a valorizacio das terras marginais; a isto seguiuse uma deterioragio do solo, ameagando a estabilidade das co- munidades. A mesma agio destrutiva da economia monetaria, que introduz novas idéias, novos valores, novos pro- dutos, atrai para as cidades ou para as plantagées, a forga de trabalho jo- vem, provocando o retrocesso da ag cultura de subsisténcia, Na origem do subdesenvolvimento existe esta incoeréncia estrutural entre © capitalismo e as civilizagdes indige- nas, que nao encontra justificativas nem na histéria, nem na cultura; ela se expressa através de uma desestrutu- ragio do meio sécio-espacial. 4. RELAGGES DO ESPACO GEOGRAFICO Hoje sio raros os espacos geogrificos organizados em sistemas fechados. ‘To- dos se abrem para o exterior e tendem a se articular entre si; nessas inter-re- lagdes é que se deve procurar a expli- cacio de seu funcionamento. Toda a superficie terrestre esta repartida entre estadas definidos por frontciras. Nao parece que se tenha insistido suficien- temente no poder da fronteira dentro da organizacio do espaco. A fronteira é uma linha de equilibrio que a histéria tragou entre os estados depois de séculos de antagonismos; | retne, dentro de uma mesma unidade politica, muitos espagos naturais dota | dos de diferentes possibilidades. 4 Suica, por exemplo, resulta do agru- pamento de uma planicie e de trechos | montanhosos do Jura, a oeste, e dos | Alpes, a leste jnlodes., 1978 ie Sob a prove fronteiras, um pro- cesso de organizagio espacial estabelece um sistema de circulagio que facilita 0s fluxos de pessoas, de mercadorias € de capitais entre as regides; cada uma delas, dispondo de um mercado mais amplo, pode desenvolver e especializar sua producio, Esta se realiza através da complementaridade das trocas. Na Suica a regio do Jura explora suas aptiddes para a indiistria relojocira; a regizio dos Alpes, sua vocacio pastoril turistica; ambas aproveitam seus cursos fluviais para o tornecimento de figua e de energia elétrica as industrias concentradas nas grandes cidades da planicie central. Desse modo, realiza-se a integragio de espagos geogriticos articulados cntre si, dentro de um todo, criando-se a base territorial do estado. Esta ordem se instaura sobre a hierarquizagio dos espacos em que um deles concentra os poderes de decistio politica e econémi- ca, as informacées, os meios de acio, os drgios de cultura e de pesquisa. Este espaco dé impulso aos outros, subme- tides a uma dependéncia mais ou me- nos restrita. E a planicie suiga que re- tém a capital federal, as sedes sociais dos bancos ¢ a bolsa de valores inti insistir na centralizacgio geogr: fica da Franca. Essas_relagdes dissimétricas entre os componentes espaciais geram_ tensoes e contestagdes que podem ser agrava- das pelas divergéncias étnicas; 0 re- gionalismo nao tem outra origem. O Jura suico se pronuncia a favor de sua ascengao a cantio auténomo. A rept- blica tchecoslovaca havia_privilegiado o planalto de Boehéme; a Eslovaquia no hesitou em separar-se da ‘Tchecos- lovaquia no momento propicio. O no- vo regime teve que se empenhar vigo- rosamente para atenuar disparidades Quebec tende para o separatismo. Desse modo, no interior das fronteiras de um mesmo estado, 0 proceso endé- 4 geno de organizagio territorial resulta cspontaneamente na produgio dialéti- ca de um espago central dominante e de espacos periféricos dominados. Esta organizagio hierarquizada foi ex- portada pelo capitalismo em expansio para além ce suas fronteiras de origem. Ele introduziu nos paises anexados a seu dominio uma dicotomia entre os espacos abandonados as comunidades indigenas ¢ os espacos organizados para produzir as culturas de plantation ou para explorar e transformar matérias- ptimas, Estes iltimos, a0 monopoliza- rem as melhores terras e a forca de trabalho, sio responsdveis pela degra- dagio daqueles; acionaram, segundo a expresso de um economista, “o de- senvolvimento do subdesenvolvimen- to”; a estrutura geogrdfica da Repit- blica Sul-Africana se fundamenta na oposicao entre as regides industrializa- das ¢ urbanizadas, reservadas aos bran- cos, € 0s “territérios Bantos”, que sua superpopulacio submete a uma explo- ragio destrutiva Se fazem parte do mesmo conjunto geografico dos espacos indigenas, os espacos organizados pela colonizagio so, na realidade, integrados em um espaco econdmico exterior onde se en- contram os centros de decisdo. Depen- dem desses centros no tocante a inves- timentos de circuitos comerciais ¢ mercados onde sao fixados os valores de suas exportagdes. Sua extroversiio os wansforma em espacos alicnados que escapam & propriedade plena de seus habitantes. E 0 que ocorre com a bacia do Senegal, regio de cultivo de amen- doim, com a regio mineira do alto Catanga ou ainda com a zona aguca- reira da ilha de Reuniio. A América Latina postui vastos espacos alicnados em relagio ao capitalismo americano; como prova podemse citar as repibli- cas bananeiras, cujas plantagées, vias de comunicagio, portos, navios, so de propriedade da poderosa United Fruit. Essas disparidades espaciais constituem um obstaculo a integracio dos estados origindrios da descolonizacio. Poem em choque duas sociedades fundamen- tadas sobre sistemas de valor diferen- tes; uma ainda ligada as suas tradigoes, a outa jd engajada ma busca do lucro econdmico. Instigam as rivalidades étnicas internas. Como exemplo temos a oposigio entre o sul ¢ norte da Costa do Marfim ou da Nigéria, Desenvol- vem também entre esses estados rela- Bes desiguais: no oeste africano, por exemplo, 0s estados litoraneos da zona wopical timida herdaram da coloniza- do uma organizacio espacial que com: preende uma agricultura de exporta. Gio e uma infra-estrutura de_penetra- Gao. Eles controlam, desse modo, as re- lagGes exteriores dos estados continen- tais da zona tropical seca, que nfo tem outros recursos a nao ser o de Ihes ven- der sua forca de trabalho € suas pro- ducdes_agropastoris, A dissimetria. entre espagos alienados © espacos degradados ¢ uma das carac- teristicas da geografia do subdescnvol- viento. A hierarquizagio dos espacos geograti- cos é um conceito operacional em que pode se fundamentar uma anilise pros- pectiva dos processos de organizacio regional, Os estados jovens terdo que elaborar uma estratégia que remedie a tendén- cia espontanea do desenvolvimento de criar ¢ de acentuar as disparidades cinoespaciais; uma das cansas das difi- culdades atuais em Madagiscar reside ha crescente defasagem entre as pro- vineias centrais e as provincias peril ricas, de tal maneira que se tem o direito de questionar se uma organiza- Gio federal nao constituiria uma solu- Gao politica. A criacdo da comunidade econémica européia deve, necessariamente, ser Bol. Geogr., Rio de Janeiro, 36(258-259): 5-16. acompanhada do enfraquecimento, até mesmo do desaparecimento, do poder organizador das fronteiras. Conseqiien- temente, ¢ possivel prever uma nova orientagio dos espagos regionais como, por exemplo, a formagio, em toro da Alemanha renana, de um_ poderoso eixo industrial, superpovoado, supe- rurbanizado, incluindo a Inglaterra, a Bélgica, os Paises Baixos, o leste da Franga, a planicie do Pé. A esta Euro- pa lotaringiana se subordinaria uma uropa periférica, agricola, fracamente povoada, abrangendo a Escécia, a Ir Janda, 0 oeste da Franga, a Espanha ¢ a Itilia peninsular. Outras hipdteses podem, naturalmente, ser formuladas, mas, quaisquer que elas sejam, & provavel que, abandonada a si mesma, a dinamica da comunidadc conduziria ao desmembramento dos espacos nacionais e 4 sua integracio em novos conjuntos. | Das paginas precedentes é possivel que resulte um método, O espaco natural ¢ uma matéria-prima mas ou menos insubmissa e degrad- vel, cujas caracterfsticas convém covhe- cer. Provida de suas técnicas, a socie- dade 0 organiza em um espaco geo- grifico de acordo com suas necessida- des, sendo responsivel por sua criacio € sua evolucio. Se seu objeto é 0 estudo da génese, da estrutura, das interrelagdes dos espa- ¢0s organizados pela agio humana, ca. berd A Geografia procurar 0 essencial de suas explicacdes, no tanto nas re- | lagdes entre esses espacos € os espacos naturais nos quais se estabelecem, mas | antes nas suas relacées com as socie- | dades que se realizam ao produzi-los. | A geografia, ciéncia social, propée-se a reencontrar 0 homem na criagio do | espaco. jul dex, 197 1 RESUMO O Espago do Gedgrafo O espaco do gedgrafo tem caracteris- ticas especificas que o distinguem do espaco natural; é 0 resultado da pro- jecio da sociedade que o organizou; rellete sua finalidade, racionalidade ¢ histéria, Sociedade ¢ espaco constituem um todo indissocidvel em um sistema de interagdes onde a sociedade se cria, criando © espago. Assim definido, 0 espaco é um todo constituido de componentes entre os quais se estabelece, necessariamente, 16 uma coeréncia sem rigidez, Na maioria das vezes os espacos geogrdficos se abrem para o exterior e se articulam entre si segundo processos de organiza- cdo que Ihes permitem, sob a protecao de fronteiras politicas, a especializacio dentro da hierarquizagio. Essas rela- Ges dissimétricas entre os elementos espaciais geram tensdes de onde se ori- gina o regicnalismo. Esta organizagio hierarquizada foi ex- portada pelo capitalismo para além de seus limites, dividindo, desse modo, 0 mundo em paises centrais ¢ paises peri- féricos. A ctiagio de comunidades eco- nomicas pode ser acompanhada de um desmembramento de sua integracio em novas unidades. 0 uso da terra na Regiéa Sudeste, ao ser analisado em suas diferentes medalidades, revelou acentuada superioridade na drea relacionada a criacéo de bovinos, suinos, eqiinos e muares, sendo esse 0 trago que mais caracteriza a regiao. Mostra, assim, a preponderancia da criagaéo sobre’a agricultura. Embora esta area de atividade figure como fator importante no equilibrio das atividades econdmicas da Regiao, apresenta-se, porém, como elemento pouco significative ‘nos padroes diferenciadores entre lavoura e rebanhos. Contudo, ha que considerar que, mesmo havendo certo desnivel entre agropecuéria e agricultura, a Regiao Sudeste do Brasil, através da sua pujante atividade econémica, confere grande importancia e dinamismo aos estados por ela abrangidos. Contribuigado para a identificagao dos principais padrées diferenciadores do uso da terra com lavouras e rebanhos no sudeste do Brasil IEDA RIBEIRO LEO LUIZ ALBERTO DE C. DO NASCIMENTO TELMA SUELY A. DE C. SENRA Gedgrafos do IBGE* Este estudo procura contribuir para a| terra com lavouras e rebanhos, a fim identificagio dos principais padrées | de se poder definir os padrées espa- diferenciadores do uso da terra com | ciais a elas correspondentes, optou-se, Javouras ¢ rebanhos da Regifio Sudes- | entgo, pela técnica da andlise fatorial te, a qual corresponde atualmente a uma das principais areas do Brasil com lavouras alimentares e industriais e que detém a maior produgio de carne ¢ leite do Pais. que permite reunir os diferentes indi- cadores selecionados, como, também, torna possivel 0 emprego de dados ex- pressos em diferentes unidades de men- suragio. Como unidade de observac Para se chegar a identificacao conjunta | foram escolhidas as microrregiées ho- das principais estruturas do uso da | mogéneas e os dados utilizados foram * “Os autores agradecem a orientagio de Rivaldo P. Gusmio € 0s comentirios de Nelson de ©. Senra, Bol. Geogr., Rio de Janeiro, 36(258-259): 17-34, jul.jdez, 1978 7 extr 1970. idos do Censo Agropecuario de Para a selecio dos indicadores estabe- leceu-se os seguintes critérios: | — para as lavouras os produtos esco- Ihidos foram os que tiveram maior ex: pressio em drea colhida, quantidade produzida e valor da producio ¢ foram selecionados através da aplicagio do indice de quocientes sucessivos, 0 qual resultou na seguinte seqiiéncia de cul- tivos: café, cana-de-acicar, milho, ar- ror, algodao, banana, laranja, feijio, amendoim, mandioca, batata ¢ soja. — para os rebanhos a selecio foi feita através do ntimero de cabecas existen- tes em 1970, sendo que na Regio Su- deste ¢ 0 rebanho bovino que tem maior significagio em termo de cria- Gio, seguido pela criagio de suinos, | eqitinos e muares, enquanto os demai nao apresentaram importancia numé:- | rica, | As varidveis resultantes desta selecio foram as seguintes: 1. Percentagem da area total culti- | vada com café na drea total cultivada da microrregiio. 2. Percentagem da area total culti- vada com cana-de-acticar na area total cultivada da microrregiio. 3. Percentagem da area total cultiva- da com milho na drea total cultivada da microrregiao. 1. Percentagem da drea total cultiva- da com artoz na area total cullivada da microrregiio. 5. Percentagem da area total cultiva- da com algodio na area total cultivada | da microrregiio 6. Percentagem da area total cultiva- da com banana na drea total cultivada da microrregiio 18 7. Percentagem da area total cultiva- da com laranja na drea total cultivada da microrregiao. 8. Percentagem da’ area total culti- vada com feijao na area total cultivada da microrregiio. 9. Percentagem da drea total culti vada com amendoim na rea total cul- tivada da microrregiaio. 10. Percentagem da area total culti- vada com mandioca na area total cul- tivada da microrregiao. 11. Percentagem da Area total culti- vada com batata-inglesa na drea total cultivada da microrregiao. 12. Percentagem da area total cult vada com soja na dvea total cultivada da microrregiao. 13. Percentagem do numero total de bovinos sobre 0 total de unidade-gado da microrregiio. 14. Percentagem do nimero total de suinos sobre o total de unidades-gado da microrregiio. 15. Percentagem do niimero total de suinos sobre 0 total de unidade-gado da microrregizo. 16. Percentagem do niimero total de muares sobre 6 total de unidade-gado da microrregiio. Uma primeira analise das varidveis foi efetuada a partir da matriz de corre- laco, emprégando-se a andlise elemen- tar de ligacio que revelou a existéncia de wés principais padrées de intercor- relacio desses dezesseis indicadores que serfo, posteriormente, evidenciados na matriz fatorial (fig. 1). O primeiro conjunto de vari diferenciou 0 uso da terra da Regito CONJUNTO DE VARIAVEIS (Figura 1) Arron (4) i‘ —0,37 0,1 a mor ox A BE «OH Bat —0,80 ¥ Eqiiino (15) a 0,23 1 (10) Mandioca Laranja (7) ie —0,33 =042 ) 0,61 Milho Banana (6)¢———~ ->(8) Teijao —0,42 ¥ (2) Cana-de-agticar 5) Algodao, (12) Soja Café (1), 025) Amendoim, 0.34 ¢ Bol. Geogr., Rio de Jancivo, 36(258-259): 17-34, jul.jdez, 1978 19 Sudeste revelou ser a criagio de bovi- nos, suinos, eqitinos e muares o trago mais caracterizador da regido. Neste conjunto ainda aparecem alguns usos da terra, porém com correlacées fracas, demonstrando certa ligacio entre as lavouras de arroz, mandioca e batata- inglesa com os rebanhos, O segundo conjunto identificou_prin- cipalmente uma combinac&o de lavou- ras temporarias, milho-feijao, mostran- do a existéncia, na Regiiv Sudeste, de uma associagio de lavouras como uma das caracteristicas mais diferenciadoras dos usos da terra. Ainda neste conjun- to outras lavouras aparecem, porém com valores pouco expressivos. © iltimo grupamento de varidveis apresentou cortelacées pouco significa- tivas, nfo chegando a indicar, portan- to, uma ligagio forte entre os indica- dores participantes, mas pode-se consi- derar como uma tendéncia a uma com- binagio nos usos da terra com amen: doim, algodio, café € soja. Outro aspecto que pode ser ressaltado nessa andlise da matriz de correlagio é a predominancia de correlagées mui- to fracas, ou seja, menos de 0,40, 0 que demonstra certa diversificagio nos padrées diferenciadores do uso da ter- ra com lavouras e rebanhos no Sudeste do Brasil. Outra andlise dos indicadores selecio- nados foi efetuada através da matriz fatorial que identificou a existéncia de sete fatores com um valor total de explicagio de 75,98%, sendo que trés so os principais com 20,89%, 13,17% € 10,15% de explicagio, representando 44,21%, da variacio total. Esses trés fatores sio também mais significativos quanto aos padrées de uso da terra na Regio Sudeste. 20 FATOR | — COMBINACAO DE REBANHOS E LAVOURAS © fator I (fig. 2) contribuiu com 20,89% de explicacao, no conjunto da andtise, sendo responsavel pelo maior numero de combinacio de rebanhos e lavouras no uso da terra da Regio. A combinagio rebanhos ¢ lavouras ob- tida neste fator relaciona-se 4 conju- gacio de varidveis ligadas ao cultivo do arroz e banana e & criagdo de bovi- nos, suinos, eqiiinos e muares. fator compée-se de indicadores com valores positivos e negativos, o que Ihe confere cardter bipolar. O subsistema negative deu origem a uma combina- cao caracteristica e generalizada na re- gio em estudo, que constitui a com- Dinagio entre a ctiagio de bovinos (—0,99%) e a lavoura de arroz (—0,39%). O subsistema oposto for- mou, também, uma combinacio de la- vouras ¢ rebanhos, havendo ai, entre- tanto, maior diversilicagio dos tipos de rebanhos. Assim, figuram em ordem decrescente 0 rebanho suino com 0,89%, 0 rebanho eqitino com 081% eo rebanho muar com 0,74%. Quanto & lavoura, aparece na combinacio a cultura da banana com 0,48%. Ao se analisar 0 mapa da distribuigio deste componente procurou-se enfati- zar o papel dos niveis estruturais, divi- dindo-os em sistema negativo e sistema positivo. O primeiro nivel do sistema negativo esta colocado acima de — 2,60 e iden- tifica as seguintes microrregioes: Pas- toril de Nanuque, Alto Parnaiba, Pon- tal do Triangulo Mineiro, Uberaba, Planalto de Araxa, Bacia de Manhua- cu ¢ Mata de Cataguases, em territério mineiro; Itaperuna, Miracema, Canta- galo ¢ Vale do Paraiba do Sul, no Rio de Janeiro; Divisor Turvo-Grande, SUDESTE MICRORREGIOES HOMOGENEAS Alta Mojiana, Planalto de Franca, Alta Noroeste de Aragatuba, Serra de Bata- tais, Bauru, Alta Sorocabana de Pre- sidente Prudente e Vale do Paraiba Paulista, no Estado de Sido Paulo. Dentre as microrregies mencionadas sobressaem determinados grupos que formam areas econémicas bastante in- dividualizadas como: regido do vale do Paraiba, onde predomina a criagio de gado leiteiro, que ocupou os solos esgotados pela cultura do café, Em decorréncia dessa especializagio econd- mica, instalaram-se na area importan- Bol. Geogr., Rio de Janeiro, 36(258-259): 17-34, jul.jdex, 1978 Fig.2 * ATOR I - Combinocdo de Rebanhos e Lavouras | Acima de -2,60 “181 9 -2,60 -081 @ -1,80 -0,80 a 0,20 021 a 1,40 hal 8 3,00 Acima de 3,00 tes indistrias de laticinios e inimeras cooperativas leiteiras. O triangulo mi- neiro e algumas microrregides do oeste paulista formam outra dtea distinta onde se situam extensas invernadas para engorda do gado, O rebanho é proveniente da prépria area, da Regizo Centro-Oeste e do norte de Minas Ge- rais, Depois de gordo o gado é enca- minhado aos frigorificos localizados principalmente no oeste paulista, E comum nesta drea a alternancia de pastos com culturas de cereais ou a formacio de pastos apdés a colheita do arroz, Este nivel é 0 que melhor ex- 21 pressa a combinagio lavouras ¢ reba- nhos, permitindo atribuir maior dina- mismo ao fator. No segundo nivel da combinagio cul- | turas ¢ rebanhos, onde os valores po- sicionamse entre — 1,81 e — 2,60 fi- guram as s¢guintes microrregides: em Minas Gerais (Governador Valadares, Alto Sio Francisco, Furnas, Formiga, Mata de Muriaé, Planalto Mineiro, Alto Rio Grande, Juiz de Fora ¢ Alto io Mateus) ; no Rio de Janeiro a re- gido de Trés Rios e, finalmente, em Sio Paulo as regides de (Barretos, Mé- dio Sio José dos Dourados, Divisor $40 José dos Dourados-Tieté, Sio José do Rio Preto e Alta Paulista) . Neste nivel o mais expressivo grupa- mento observado compreende o sudes- te, sul e algumas microrregides da Zona da Mata de Minas Gerais que formam, no conjunto, a mais importante bacia leiteira da Regido Sudeste. Juntamente com a regio leiteira do vale do Pa- raiba abastece em laticinios os grandes centros urbanos do Rio de Janeiro e Sao Paulo. O terceiro nivel do sistema negativo da combinag%o lavouras e rebanhos (—0,81 a —1,80) abrange microrre- gides de Minas Gerais (Chapadio de Paracatu, Pastoril de Almenara, Médio Rio das Velhas, Uberlindia, Mata do Corda, Trés Marias, Calcirios de Sete Lagoas, Divinépolis ¢ Mogiana Minei- ra); do Espirito Santo (Cachoeiro do Itapemirim) ; do Rio de Janeiro (Acu- careira de Campos e Cordeiro) ¢ de So Paulo (Média Araraquarense, No- va Alta Paulista, Alta Noroeste de Penapolis, Araraquara, Encosta Oci- dental da Mantiqueira Paulista, Rio Claro, Alta Sorocabana de Assis, Serra de Botucatu ¢ Alto Paraiba). Identificamos neste nivel dois conjun- tos de mictorregides com estruturas diferentes. O primeiro conjunto mos- 22 trase mais compacto espacialmente e situase na faixa centro noroeste do Estado de Minas Gerais ¢ a microrre- gido de Uberlandia, Trata-se de uma drea cuja atividade econémica princi- pal é a cria e recria do gado bovino. segundo conjunto, de menor expres- sio espacial, corresponde, principal- mente a oeste dos estados, caracteri- zando-se pela criagio de bovino de lei- te, cuja produgio é absorvida pelas indistrias locais. Com valores situados entre — 0,80 a 0,20 posicionase o nivel médio da combinacao lavouras ¢ rebanhos que engloba as seguintes microrregides: em Minas Gerais (Alto Médio Sao Fran- cisco, Montes Claros, Teéfilo Otoni, Belo Horizonte, Mata de Ponte Nova, Vertente Ocidental do Caparaé, Cam- pos da Mantiqueira, Mata de Ub, Planalto de Pocos de Caldas ¢ Alta Mantiqueira) ; no Espirito Santo (Co- latina, Vitoria ¢ Litoral Sul Espirito- santense) ; no Rio de Janeiro (Vassou- ras ¢ Barra do Pirai) e em Sao Paulo (Alta Araraquarense de Fernandépo- lis, Alta Araraquarense de Votuporan- ga, Ribeirdo Preto, Depressio Perifé rica Setentrional, Estancias Hidromi- nerais Paulistas, Ourinhos e Braganca Paulista). As microrregides inseridas neste nivel apresentam uma distribui- Gao espacial dispersa, no chegando a apresentar um padro diferenciador de uso da terra com lavouras ou reba- nhos. No sistema positive o primeiro nivel da combinagio lavouras ¢ rebanhos, com valores acima de 3,00, estio ni- tidamente representados trés conjuntos de microrregides. O primeiro conjun- to, 0 mais importante em termos de ocorréncias, reuniu, na sua quase tota- lidade, microrregiées de So Paulo, onde a suinocultura tem um importan- te papel na economiz As maiores ocorréncias neste nivel es: tao localizadas ao longo do litoral sul do Estado do Rio de Janeiro, esten- dendo-se pelo Estado de Sao Paulo, No Fstado do Rio de Janeiro a cultura da banana se desenvolve nas encostas surpertimidas da Serra do Mar, princi- palmente em Angra dos Reis, consti- tuindo.se no principal produto agrico- la. Paralelamente figuram as lavouras de subsisténcia (mandioca, milho ¢ feijfio) sem nenhuma expressio eco- némica, excluindo em Parati a cultura da cana-deagticar para a fabricagio de aguardente. Em Sio Paulo, correspondendo a uma das dreas mais agricolas do estado, des- tacam-se as microrregides de Piracica- ba com lavouras de’ café e cana-de- aciicar; Sorocaba com vinha (Sio Ro- que) ¢ fruticultura, e ainda Campinas com culturas de tomate, algodao e ro- taco de milho-feijio-laranja. Em Minas Gerais a microrregiio Mi- neradora do Alto Jequitinhonha des- taca-se por sua criagio de gado para corte, observando-se uma pequena z0- na de engorda em Grio Mongol. Ai, também, notamos que a criaco de ga- do suino sobressai, abastecendo os mu- nicipios vizinhos’ (Montes Claros e Francisco Si). A agricultura é para subsisténcia (arroz, milho, feijio, man- dioca) , sendo 0 excedente vendido aos municipios vizinhos, j4 na microrre- gido mineradora de Diamantina, pra- tica-se uma pecudria extensiva de ren- dimentos muito baixos, Em se tratan- do de lavouras, algum valor pode ser atribuido ao milho, feijio, arroz ¢ mandioca. © segundo nivel do sistema positivo, situado entre 1,41 e 8,00, esta compos- to pelas microrregides mineiras do Alto Rio Pardo, Espinhaco Meridional € Mata de Vigosa; Cabo Frio, Bacia do Sfio Joao e Macacu e Serrana em ter ritério do Rio de Janciro; e, pelas de serra de Jaboticabal, Jari e Jundiai em io Paulo. © terceito nivel da com. Bol. Geogr., Rio de Janeiro, 36(258-259): 17-34, jul.{dez, 1978 binagio com valores em torno de 0,21 a 1,40 est formado pelas seguintes mi crotregiées: Sanfranciscana de Janud- ria, Pastoril de Pedra Azul, Bacia do Suacui, Siderirgica « Mata de Caatin- ga.cm Minas Gerais; Baixada Espirito- santense no Espirito Santo; Grande Rio no Rio de Janeiro e Tatui no Estado de Sio Paulo. Estes dois niveis foram grupados por- que definem wacos fundamentais bas- tante semelhantes. Trata-se de uma 4rea composta por microrregides que demonstram uma feicio espacial con- tinua ¢ homogénea, salientando-se aquelas localizadas ao norte do Estado de Minas Gerais. FATOR ||-— COMBINAGAO DE FRUTICULTURA E CULTURAS ALIMENTARES Este fator, com um poder de explica- gio de 13,17 na anilise, é responsavel pela combinagio fruticultura e cultu- ras alimentares obtida através da ani- lise fatorial ¢ que traduz a importancia da érea cultivada com as mencionadas culturas no uso da terra da Regio sudeste. © fator Il (fig. 8) € bipolar, uma vez que na sua estrutura figuram var com valores positives, determinadas pela rea cultivada com 0 milho (0,87) € pela area cultivada com 0 feijao (0,74) , ¢ variaveis com valores negati- vos formadas pela area cultivada com banana (~ 0,63) e pela area cultivada com laranja (— 0,50). © primeiro nivel do sistema negative da combinacio fruticultura e culturas alimentares, situado acima de — 3,00, retine as microrregides de Vit Espirito Santo; Bacia de Sio Joio e Macacu, Grande Rio, Cabo Frio e Baia de Iha Grande no Rio de Janeiro; ¢ 23 SUDESTE MICRORREGIOES HOMOGENEAS FATOR Ti - Fruticultura © Culturos Alimentares Acima de -3,00 121 a -3,00 0,4 a -1,20 -0.40 a 0,40 asi a 2,20 Acima de 2,20 ous/s, o1- REM, Serra de Jaboticabal, Campinas, Acu- careira dé Piracicaba, Baixada do Ri beira, Baixada Santista e Costa Norte Paulista em Sao Paulo. Sob expressiva combinacio banana e laranja encontram-se algumas regises do litoral paulista, fuminense ¢ capi- xaba, que tém a mais acentuada apt dao econdmica. A especulagav imobi- lidria, efetuada na baixada apés a se- gunda Grande Guerra, impeliu o cul- tivo da laranja, que ai se desenvolvia, para o interior da regiio, mais acen- tuadamente em Sio Paulo, conferindo 24 a este Estado a primazia na produgio do fruto. Entre — 1,21 a — 3,00 posiciona-se o segundo nivel da combinaciio fruticul- tura e culturas alimentares que apre- senta ocorréncias em: Minas Gerais na regifo de Uberlandia; no Espirito Santo na regio do litoral sul; no Rio de Janeiro na regiio agucareira de Canipos e em Sao Paulo nas regides de Ribeirao Preto, Nova Alta Paulista, Araraquara, Depressio Periférica Se- tentrional, Alta Paulista, Jai e Rio Claro. Neste nivel da combinagio, a0 contr: rio do nivel anterior, a laranja se po- | siciona como cultura de maior impor- tancia na concentracio da area culti- vada com fruticultura. | A evidéncia do grupamento de micror- regides inseridas neste nivel ¢ também expressa pela presenca do Instituto Agrondmico de Campinas, responsdvel pela viabilizagio de modernas técnicas de cultivo na sua regio e nas micror- regides vizinhas. © terceiro nivel da combinagio fruti cultura e culturas alimentares, locali- zado entre — 0,41 € — 1,20 engloba as microrregides de Governador Valada- res e Belo Horizonte em Minas Gerais; Baixada Espirito-santense no Espirito Santo; Serrana Fluminense, Vassouras e Barra do Pirai no Rio de Janeiro ¢ Alta Araraquarense de Fernandépo- lis, Alta Araraquarense de Votuporan- ga, Alta Noroeste de Aracatuba, Médio Sao José dos Dourados, Média Arara- | quarense, Alta Noroeste de Pendpolis, Bauru, Estancias Hidrominerais Pau- listas, Alta Sorocabana de Assis, Jun- diai, Vale do Paraiba Paulista e Gran. de Sio Paulo no estado paulista. Observa'se, nese padrdio de combina- Gio, ocorréncias de fraca expressio es- pacial, destacando-se, porém, aquelas unidades localizadas ao longo das fer- rovias Noroestes do Brasil ¢ Alta Ara- raquarense. Estas microrregiées esho- am o avango dos laranjais da area onde 0 cultivo assume maior importin- cia, como foi constatado na andlise do nivel anterior. O nivel médio da combinacio fruticul- tora e culturas alimentares situado numa faixa de — 0,04 a 0,40 engloba uma area de transicio composta_pelas seguintes microrregides: Pastoril de | Almenara, Teéfilo Ot6ni, Pontal do Triéngulo Mineiro, Uberaba e Mata de Cataguases em Minas Gerais; Alto Bol. Geogr. Rio de Janeiro, 36(258-259): 17-34, jul.(dez., 1978 Siio Mateus, Colatina e Cachoeiro do Itapemirim no Espirito Santo; Itape- runa, Miracema, Cantagalo, Trés Rios, Cordeiro e Vale do Paraiba Fluminen- se no Rio de Janeiro, As maiores ocorréncias encontram-se no Estado de Sao Paulo, como as regides do Divisor ‘Turvo Grande, Barretos, Alta Mojiana, Planalto de Franca, Divisor Sio José dos Dourados-Tieté, $0 José do Rio Preto, Serra de Batatais, Encosta Oci- dental da Mantiqueira Paulista, Ouri- nhos, Tatui e Sorocaba. As unidades de observagio, de relative significado neste nivel de representa- Go e que expressam a transi¢io de culturas de frutas para culturas ali- mentares, sio aquelas mineiras e pau- listas localizadas ao longo dos vales do Rio Grande ¢ Paraiba do Sul flu- minense, Na estrutura positiva da combinagio fruticultura e culturas alimentares, 0 primeiro ¢ o segundo niveis enqua- dram-se entre 0s valores 0,41 ¢ 2,20 ¢ mais de 2,20. Estes componentes ex- pressam ocorréncias espacialmente dis- tribuidas por quase todo o Estado de Minas Gerais e algumas microrregies de Sio Paulo (Campos de Itapetinga, Paranapiacaba, Alto Paraiba, Apiai, Serra de Botucatu e Braganga Paulis: ta) e do Espirito Santo (Colonial Ser- rana Espirito-santense ¢ Vertente Ori- ental do Caparad). As ocorréncias de maior importincia neste nivel de combinacao encontram- se na porgio norte, noroeste € leste de Minas Gerais, onde as culturas alimen- tares assumem vital importancia, A dimensio indicada pela combinacio, no momento analisada, revela o card. ter econémico da regiZio, onde predo- minam as lavouras de subsisténcia, caja maior caracteristica 6 a combina- Gio tradicional milho-feijao. 25 FATOR I!l — COMBINACAO DE LAVOURAS INDUSTRIAIS Retine 10,15% da variacio total da andlise e possui somente correlages positivas. O fator III (figura 4) com- poese de varidveis representadas pela area cultivada com a cultura do amen- doim, com um valor de 0,79, pela rea cultivada do algodo, com 0,60 ¢ final- mente pela area cultivada com a cule tura do café, com 0,56. Podesse definir este componente como sendo a dimen- So indicativa de expressiva combina- Gao encontrada entre as principais la- youras industriais da Regitio Sudeste. © primeiro nivel da combinagio la- vouras industriais (acima de 1,20) é 0 que determina maior dinamismo a0 fator, uma vez que nele esto alocadas as culturas do café, algodo ¢ amen- doim que dimensionam a importincia do fator. Este componente de explica- ko envolve somente microregiées pau- listas como: Alta Araraquara de Fer- nandépolis, Alta Araraquara de Votu- poranga, Alta Noroeste de Aracatuba, Médio Sio José dos Dourados, Média Araraquarense, Nova Alta Paulista, Alta Noroeste de Perndpolis, Bauru, Alta Paulista, Alta Sorocabana de Pr sidente Pradente e Alta Sorocabana de Assis. Ao se analisar a distribui¢io espacial desse nivel vé-se que as microrregides se posicionam ao longo dos altos tri- Thos das ferrovias Araraquarense, Noro- este do Brasil, Paulista ¢ Sorocabana. Esta parte do estado, cujo desenvolvi- mento econdmico acompanhou 0 avan- ¢o dos trilhos das mencionadas ferro- vias, se estruturou economicamente na cultura do café, dedicando-se & cultura do algod%io apés 0 declinio dos cafe- zais, A cultura'do amendoim difundiu- se posteriormente, ocupando «reas de solos esgotados pelas culturas do café e do algodao. & uma lavoura de ciclo ripido, possibilitando duas — safras 26 anuais, Juntamente com 0 algodio, 0 amendoim alimenta imimeras indis- trias de dleos comestiveis localizadas O segundo nivel da combinagio Iavou- ras industriais, com valores dos entre 0,61 ¢ 1,20 denota uma distribui- Cho espacial dispersa pelos Estados de Minas Gerais, Espirito Santo e Sao Paulo, expresso pelas_microrregides: Sanfranciscana de Januiria, Serra Ge ral de Minas, Vertente Ocidental do Caparaé, Baixada Espirito-santense, Vertente Oriental de Caparaé, Cacho- ciro do [tapemirim, Divisor Turvo Grande, Alta Mojiana, Planalto de Franca, Divisor Sao José dos Doura- dos-Tieté, Depressio Periférica Seten- tional, Encosta Ocidental da Manti- queira Paulista, Estancias Hidromine- rais Paulistas, Ourinhos e Serra de Bo- tucatu, ‘Trata-se de uma dimensao cuja carac- terfstica principal é a dispersio espa. cial como se apresenta na regio, exce- tuandose aquelas microrregiées do norte de Minas Gerais, onde a prima- zia na combinacko de lavouras indus- triais esta marcada pela cultura do algodao, e norte do Espirito Santo on- de a cultura do café ocupa a primeira posigio nesta combinacio. O terceiro ¢ ultimo nivel da combina- cdo lavouras industriais aferido neste fator, com valores em torno de 0,01 a 0,60, possui na sua composigio as microrregides de: Uberlindia, Furnas, Mojiana Mineira e Planalto Mineiro em Minas Gerais; Alto Siio Mateus no Espirito Santo e ocorréncias mais nu- merosas no Estado de Sio Paulo assi- naladas pelas areas de: Barretos, Sio José do Rio Preto, Serra de Jabotica- bal, Ribeirao Preto, Serra de Batatais, Araraquara, Jai e Tatui. A lavoura de primeira importancia nesta combi- nagio é conferida 4 cultura do café. SUDESTE MICRORREGIGES HOMOGENEAS IV — CONCLUSAO A aplicagio da técnica da anilise fa- torial neste estudo revelou a existén- cia de estruturas de combinagio de lavouras e criagio de gado, formadoras de diferentes padrées de uso da terra na Regitio Sudeste. A estrutura mais caracteristica e que melhor define 0 setor agricola (fator 1) é constituida de lavouras ¢ reba- nhos, sendo a criacio de gado bovino a atividade econémica que confere ior importancia e dinamismo a re- Bol. Geogr, Rio de Janeiro, 36(258-259): 17-34, Fig. 4 . Assim, emergem dreas bem defi- | FATOR II - Combinacéo de Lavouras. Industriais 0.01 a 0,60 Oe a 1,20 Acima de 1,20 | nidas e grupamentos bastante homo- géneos, como a regiio do Vale do Pa- raiba e Sul de Minas Gerais dedicada a criagao de gado leiteiro, bem como © oeste de Sio Paulo, zona da mata € tidngulo mineiros, formadores de uma regio de criacio de gado para corte. Uma outra estrutura, também de grande importancia (fator II), carac- terizou grupos de areas onde as com- binagdes foram fruticultura e culturas alimentares. Os subsistemas que se constituiram superpdem-se aqueles ob- servados no primeiro fator e definem jul.jdez, 1978 areas homogéneas, porém que abran-) ¢ diversificagio do setor agricola, bem gem toda a Regio Sudeste. A estrutura que reflete a combinacgio de lavouras industriais (fator IIIf) de- finiu dreas bastante individualizadas, onde figuram o centro oeste paulista e algumas microrregibes isoladas de Minas Gerais ¢ Espirito Santo. Assim, pode-se afirmar que a andlise permitiu detectar a coexisténcia de di- ferentes atividades numa mesma rea, refletindo, dessa forma, a dinamizagio 28 como a caracterizagio de areas mais tradicionais em diferentes pontos da Regido Sudeste, Observa-se, portanto, que todo o centro, norte e oeste do Estado de So Paulo, o sul e algumas microrregides dos Estados de Minas Gerais e Espirito Santo superpdem-se, demonstrando que as estruturas de producio agricola sio formadas por policultura e criacdo, atribuindo aque- las dreas caracteristicas de dinamismo agricola mais atuante que nas demais unidades observadas. a9al 925epuny — SegL 1s24g Op oatisjeIsy ougNLy =3INOI el Lot a8 v7 abe o'92, 80 20 ze 20 v0 70 699 ¥'59 tH wropuawy v0 vO e'0 TIE oor s'eo vb 80 bz oo oo 00 929 ves eee pyereg V6 zh oe Bul Ow OL sez, 962 862 Ve ot 89 gor Lee cw bueueg ou 0% VE ot a8 vg gob 09 eg 60 v0 £0 Vee vee vL8 efuese) OL ol el 8°86 £6 ve6 oe esl ce sa a oa gL eb gL obey ob ol VE 262 ve vor se ie ve oo oo oo gg 89 vg ye) a oL ve ov ob as Spy soy vl £0 so 60 Bey wes 80S seande-ap-PUe), 68 v9 Vs e'se 682 o'sz et gz 70s vy eg as val vt Bel 2O0/pURI 8 zOL vs ost Z6L 89 vos Bee O8L oo 00 00 eer OIE est ogpobty. ee By OF £06 sea 908 oo oo o'bL a ca ae 9 eL v9 ef aL og gg 962 eee o'ez, Vee Bee Ve v0 Lo 0 ee vl Ve opfiey v'82 ve Vez see. vie ate gal cst ver aL aL ez BSz 622 8°62 tony we OL Vg ove s'ey eee eel Lor ww s0 v0 LO Loe gee ele Our oe et | (ee ~ ‘SOLNGOUd J1S30-OULNID ans ALSI0HON HON ‘usaans OL6E ‘sivuojsvu syD10} so a4gos jisvLg Op sogBaLo4V0U sou sMjorLS0 sompoug sindisutd sop s0jve 9 apypyuonb ‘voip vp jonjuariad ovsvjoy T VIaaVvL Bl g 8 = 3 & TABELA 2 Posi¢ao relativa dos rebanhos sobre os totais do Brasil, 1970 Bovino | Bufelino Asinino Muar Suino Ovino Caprino — (6) } Bo we | 0) | ea |e | (%) Sudeste 34,2 18,2 26.2 40 374 18,4 15 32 Norte rea 58,2 as 26 47 29 05 06 Nordeste 176 a0 27,3 92.0 427 22.5 26.2 87,9 ‘Sul 241 55 28.8 18 12,6 48.3 69.1 68 Centro-Oeste 22.0 43 154 ral 63 a0 12 16 FONTE: Anuério Estatistico do Brasil, 1975 — Fundagao IBGE COMUNALIDADE ‘TABELA 3 oases ee ee ee 65,84 ce ot Se 78,09 oa eee eee eee) : ee ee eee eer 81,18 ee 68,89 12. Soja........ eee - 61,84 05. Batata-inglesa ..... eee eee eee sees eceees 98,08 oe 81,03 14. Eqiiinos ............- 84,53 07. Cana-de-agucar ....... oe one cee ee eee 76,65 08. Feijfo ............ 2 80,29 16. Suinos ............- 69,85, 30 TABELA 4 Factor Loadings VARIAVEIS 01. Percentagem de érea total cultivada de arroznaérea total cultivada da MAH... —0.39 O14 0.34 02, Percentagem da area total cultvada de algotio na area total cultveda da MH ee 00) 0,02 0.80 03. Percentagem da érea total cultivada de amendoim na érea total cultivada da MRK ee : 007 0.13 0.79 04, Percentagom da érea total cultivada do banana na érea total cultivada da MAH : eee = 043 0.63 0.24 05, Percentagem da éea total cultivada de batota-inglesa na érea total cultivada da MAH vee - — 0.04 0.10 0.09 08, Percentagem da dea total cultivada de café na érea total cultivade da MAH... —O,11 0.07 0.56 07. Percentagem ds érea total cultivada de cana-de-agdoar na dtea total cultiva dana MR = : - 0.08 0.16 0.10 08. Parcentagemn da drea total cultivada de feijéona dea total cultvada da MRK. 0,10 074 0.23 09. Percentagem da érea total cultivada de laranja na é1ea to cultivada de la ranja na érea total cultivada da MAM. 0.00 0.50 0.16 10. Percentagem da érea total cultivada de mandioca na drea total cultivada Ho MBH ce cssecsveee See 0,03 0,04 —0,04 11, Percentagem da érea total cultivada de milho na éroa total cultivads da MAH 7 en ~0,03 087 118 412. Percentagem da érea total cultivada de soja na dreo total cultvads da MAH... — —0,08 0.00 —0.00 18, Percentagem do nimero total de bovinos sobre o total de unidade-gado da MAH = —0,99 0.03 007 14. Percantagem do nimero total de equinos sobre o total de unidado-gadodaMRH © 0,87 0.19 0.01 15. Percentagem do ndmero total de muares sobre o total de unidade-gado da MAH = 0,74 0.23 0,05 16. Percentagem do ndmero total de suinos sobre o total de unidade-gada da MAH, 0.89 000 —0.09 PERCENTUAL DE EXPLICACAO 20,89 1317 10,15 ——————————————————————————————————— Bol. Geogr, Rio de Janeiro, 36(258-259): 17-34, jul./dez,, 1978 31 Factor Scores NOMERD_ DE Fator Fator Fator IDENTIFICAGAO MICRORREGIOES H 1 i 187 Sanfranciscane de Janstia 1.9817 0,043 458 Serra Geral da Minas 1490 12388 159 Alto Rio Pardo 1giz0 1/5018 160 Chapado de Peracetw 46mB 111370 1681 Alto Métio $80 Francisco 198 10418 182 Momtas Clos Zao 0.7133 183 Mineradora-do Alto Jequitinhonha Za0es = 0.4532 14 Pastoril de Patra Azul 11626 1.3033 185 Pastoril do Almenara ozs = 3.0361 188 ‘Medio fio das Velhas 10608 = 0.0844 187 Minerva de Diamantine 2.0891 0.2720 188 Te6filo Oténi 03053 14773 469 ——Pastoril de Nenuque 0.8828 170 Ubettndia 19723 YN Ato Paraiba 7.8066 172 Mata da Corde 6.4028 173 Tis Maras 25176 174 Bacia do Suseut 2.9083 175 Governador Valadres ~0.3363 178 = Mantana 2.4989 177 Ponta do Trdngulo Mineiro 0.0360 178 Uberaba a.1192 179° Planalto de Araxé 231799 480 Alto Sio Francisco a5773 181 Caldros de Soto Lagoas 13671 182 elo Horizonte 0278 183 Sierngca 1.2288 184 Mata da Coatings 216534 185 Bacia do Menhuapu 44734 183 Divino 0940 187 Espinharo Meradionl 3.2822 188 Mota de Ponte Nove 23018 189° Vartent cident do Capras 013247 190 Fumas orm 191 Fomiga 1.4404 192 Mata de Vigosa 3.7808 193 Mata do Murias 1.2350 198 Mojiena Minera 01985 195 Campos ds Mantquera 233168 198 Mata de Ubé ‘eta 187 Planato do Pogos de Caldas 3.476 198 Plenalio Mineiro 10088 199 Alto io Grande 1.7782 200 ui de Fora 14596 201 Mata de Cetaueses 0.2603 202 Alta Mantqueira 2/6428 208 Ato Séo Mateus 01728 204 Colatna 0.0222 205 ——_‘BaivadaEsptito-santenso ~0.8089 208 Colonial Su Esprit satense 1.2815 207 Vitiia ~2.8655 208 ——_Verteto Oriental do Copurab 4.2720 203 Catkosto do itapeniim 00274 210 Litoral Sul Espirito santense 20537 21 taperuna 02273 82 Factor Scores NUMERO. DE Fator Fator Fator IDENTIFICAGAD NCRORRIESIOES 1 W i 22 Mirecoma 213 Apucareira de Campos 24 Cantagelo 215 Trés Rios 216 Cordeiro 0.1298 ay Vale do Paraiba Fluminense 1.0377 218 Serrana Fluminense 219 fassouras @ Baca do Piral 220 Bacias do Sio Jodo e Macacu 1,9086 2a Grande Rio ~5.9811 3.3895 22 Cabo Frio 35233-73964 223 Bata da tha Gronde 3.3437 0.3869 225 Alta Araraquarense de Fernanddpolis, 1.2737 2.2078 2.9781 228 Alte Araraguarense de Votuporenge —i.1970 1.6098 23257 207 Divisor Turvo/Gtande ~38231 0.7216 0.3202 208 Barretos 2172 1.0215 4.2704 228 Alta Mojiana ~41850 = ~22913 1.4541 230 Planalto de Fronca 3.3605 0.0895 0.0895, 2 Alta Noroeste de Aracatuba 44315 = —2.8531 2.2317 232 Média Sao José dos Oouredas 3.0521 ~2.2005 22947 233 Divisor Séo José dos Dourados/Tieté ~27990 | OAM 08117 234 So José do Rio Preto 23677-01267 0.4884 235 Métia Ararequarense 1.8541 —1.8038 0.6031 236 Serra do Jaboticabal 24370 3.7688 = 0.3511 237 Ribeitio Preto 0.3568 = 3.0213 «= 0.7883 238 Sera de Batatais ~34297 0.1825 0,295 233 Nova Alta Paulista 2.1528 —34636 5.3978 240 ‘ita Noroeste de Pendpolis 22683 = 2.1908 zag at Bauru 35888 = 1.8046 1.0238 242 Araraquara 08607 = 30288 = — 1:1037 203 Depressio Perférica Setentional 00159 = 34990 0.7051 244 Encosta Ocidental da Mantiqueira Paulista 013302 1.0075 25 Alta Paulista 33983 41239 248 Jai 2.6176 27 Rio Claro —2,2830 248 Campinas —4'9025 24g Estincias Hidrominerais Paulistes —10247 0.8868 250 Ala Soracabana de Presidente Prudente 83778 5.ast2 251 Alta Sorocabana de Assis 1.0755 0.5064 252 Ourinhos 05017 0.6783, 253 Serra de Botucatu 0,0961 770 254 Acucaraita de Piraciceba 4.6205 = 1.6312 255 Tatu 0.2036, 0.7405 256 ‘Sorocaba 0.2034 Oreo 287 SJundiai 12639 0.4034 258 Braganga Poulista 2.9327 1.0857 259 Vale do Paraiba Peulista 0.4271 260 Campos da Htapetinga 3.5156 0.7173 261 Paranapiacaba 3.8095 262 Grande Sé0 Paulo 0.2233 1.1003 263 “Alto Paraiba 25188 = 0.7083 264 sApiat 5.1369 27954 265 Baixada do Riboira 18187 0.6374 286 Baixada Santiste —2.3887 0.5645 287 Costa Norte Paulista 18508 = 0.2736 Bol. Geogr., Rio de Janeiro, 36(258-259): 17-34, jul.jdez., 1978 33 BIBLIOGRAFIA COLE, J. P. Andlise Fatorial ¢ Andlise de Agrupamento no Brasil ¢ no Peru. Geografia Quantitativa, Rio de Janeiro: Fundacio IBGE, 1972, pp. 69-89. FUNDAGAO IBGE Divisio do Brasil em Microrregiées Homogéneas. Rio de Janeiro: Departamento de Documentacio ¢ Divulgacio Gcografica € Cartogriifica, 1968. GUSMAO, Rivaldo Pinto de. Estudo da Organizagio Agraria da Regio Sul através de uma Anilise Fatorial. Revista Brasileira de Geografia, ano 36, n.° 1 (janeiro-marco, 1974), pp. 33-51. KELLER, Elza de $._ Tipos de agricultura no Parana, uma Andlise Fatorial. Revista Brasileira de Geografia, ano 82, n° 4 (outubro-dezembro, 1970), pp. 41-86. MAGALHAES, José Cézar de. Regitio Sudeste. Novas Paisagens do Brasil, Rio de Janciro: Fundagio IBGE, 1968, pp. 30-248 MESQUITA, Olindina V. ¢ Silva, Solange ‘I. Regiées Agricolas do Estado do Parand: uma definicio estatistica. Revista Brasileira de Geografia, ano 32, n.° 1 (janeiro-marco, 1970), pp. 3-42. PEDROSA, Atmindo A. c PORCARO, Rosa Maria. © Uso da Analise Fatorial na caracterizacio geral da area de influéncia de Presidente Prudente. Revista Brasileira de Geografia, ano 35, n.° 4 (outubro-dezembro, 1973) , pp. 113-186 Tendo por objetivo a obtencao de informages concretas nos diversos campos das ciéncias da Terra, especialmente em geologia, 0 estudo e interpretacao de fotografias aéreas vém sendo objeto de andlise, inclusive no tocante a sua interpretacdo. © estudo que informa o presente trabalho desce a detalhadas consideracées sobre o tema, mostrando que o poder de resolu¢do da imagem fotografica fica dependente, para seu intérprete, do conhecimento prévio de imagens de dreas e feigées similares, apresentando de forma sistematica e codificada subsidios para_a teoria da fotointerpretacdo, voltada para as ciéncias da Terra. Transcrito de Noticia Geomorfolégica, Campinas, SP, 16 (32): 71-104, dez., 1976, com autorizagao do editor. Légica e sistemdtica na andlise e interpretagdo de fotografias aéreas em geologia I — INTRODUGAO © estudo de fotografias aéreas para obtenciio de informagées nos diversos campos das ciéncias da Terra tem sido, de modo geral, assistematico e compa- rative. O poder de resolucio da ima- gem fotografica fica dependente, para seu intérprete, do conhecimento prévio de imagens de areas ¢ feigdes similares. Constitui o chamado método das cha- ves, que se vem utilizando ha mais de trés décadas; embora muito tenha con- tribuido para _o conhecimento geold- gico e geografico, este método € auto- | 1972. PAULO CESAR SOARES ALBERTO PIO FIORI limitativo, pois nfo apresenta as gras do jogo” berta2. “pe: do processo de desco- ‘As tentativas mais produtivas de defi- nir um contetido e uma légica comu- nicivel na fotointerpretacio surgiram das pesquisas de M. Guy (1966) , tendo desenvolvido 0 método Légico de foto- interpretacio. No Brasil este método foi divulgado, essencialmente, através de cursos apresentados por M. Guy e J. P. Riverau, cujos principais tépicos Yoram publicados por Riveran em 1 O método das chaves encontra-se, por exemplo, devidamente desenvolvido nas obras de Lucder (1959) , Miller (1961), Ray (1963) Ricci e Petri (1963) e Verbara (1971) , dentre outras. Bol. Geogr., Rio de Janeiro, 36(258-259): 35-59, jul.jdez, 1978 35 Como resultado da preocupagio de sis tematizar um conjunto de conheci mentos de contetido e as “regras do jogo” que permitam a anilise légica da imagem fotogratica, procuramos de- linir uma orientagio no desenvolvi- mento da pesquisa da imagem fotogré- fica. Neste trabalho, em oposigio ao método das chaves, procuramos apre- sentar de forma sistematica, codificada € légica, subsidios para a teoria da fo- tointerpretacio voltada para as cién- cias da Terta. Obviamente, esta parte comunicavel da fotointerpretacio ne- cessita ser praticada para que se de- | senvolvam habitos mentais, aptiddes para a identificagao e anélise dos ele- mentos da imagem. © processo de fotointerpretacio envol- ve, inicialmente, a identificagio dos elementos da imagem com os objetos © a analise das relagdes entre as ima- gens ¢, finalmente, a descoberta ou | avaliacdo do significado ¢ funcio dos objetos e suas relagdes. trés Pode-se conceituar, assim, processos: estes — fotoleitura: reconhecimento e¢ iden- tificagio dos elementos das imagens com 0s objetos correspondentes e sua reparticio; — fotoanilise: estudo das relagées entre as imagens, associac&io e ordenaciio das partes de imagens; — fotointerpretagio: estudo da ima- gem fotografica visando & descoberta e avaliacdo, por métodos indutivos, de- dutivos © comparativos do significado, fungio e relagio dos objetos correspon. dentes as imagens. A fotoleitura exige o conhecimento das técnicas @ processos de obtencio da fotografia tais como: a cimara, a geo- metria da imagem, as propricdades da visio estereoscépica, as emulsdes de impressiio e as formas de energia cap- 36 taveis, Constitui um requisito para o bom desempenho na atilise ¢ inter- pretagio das fotos. Il — FOTOANALISE O processo de fotoandlise envolve, ini- cialmente, a fotoleitura. Para a anilise de fotogralias aéreas, alguns conceitos devem ser estabelecidos e constituem os elementos fundamentais na caracteri- zacio da imagem. A partir destes ele- mentos pode-se compor associacées, de- finir formas, zonas de reparti¢do dos elementos e seus limites. A anillise de acrofotos aplicada as geo- ciéncias interessa, fundamentalmente, os elementos naturais da paisagem. O relevo e a drenagem constituem os ob- jetos principais da avaliagio da ima- gem fotografica para a obtengio de informagdes geoldgicas. A vegetacio, quando no modificada pela agio do homem, reflete também, tal como re- levo e drenagem, as condicdes geoldgi- cas, e climiticas constituindo critério auxiliar na andlise e interpretacao. Textura e Estrutura na imagem Fotografica A menor superficie continua e homo- génca, distinguivel na imagem foto- grifica passivel de repeticio, é deno- minada elemento de textura ou ele- mento textural, Uma das propriedades do elemento textural é a de repeticio, com forma e dimensao definidas (Ri- verau, 1972). Um elemento textural pode ser a imagem de uma drvore, ou de parte da drvore, dependendo da escala; ou a imagem de uma parte da linha de drenagem ou de parte do relevo. Uma mudanga de ditecio ou de forma na linha de drenagem ou na superficie do relevo constitui wma mudanga de elemento da textura. Por textura en- tende-se o padrio de arranjo dos ele- mentos texturais e representa a imagem de conjunto dada pela disposigao das menores feigdes que conservam sua identidade na escala da fotografia. Na aniilise das fotografias podemos se- parar diferentes graus de densidade de textura, ou seja, zonas com maior ou menor niimero de elementos texturais por unidade de rea; densidade de tex tura é 0 inverso da distancia média entre clementos texturais. Na figura 1 temos texturas de drenagem com den- sidades diferentes na margem esquerda tem-se maior densidade de textura As variagdes na textura do relevo e da drenagem constituem a propriedade fundamental na andlise da imagem, pois permitem separar feigdes com sig- nificado diferente ou associar feigdes com 0 mesmo significado, dado por condigées naturais. Por outro lado, po- demos ter texturas sem significado geo- légico, mas com significado florestal, Figural - Bol. Geogr., Rio de Janciro, 36(258-259): 35-59, juul.)dez., 1978 sociolégico etc, Estes conceitos podem ser ilustrados com uma imagem retira- da da linguagem escrit a, b, c, d, constituem “elementos tex- turais”, cada —constitui uma “textura” com significado inteligivel em nossa lingua- gem. acda— constitui uma “textura” sen significado inteligivel em nossa lingua- gem. Outro conceito importante é 0 de es- trutura. O arranjo dos elementos tex- turais pode apresentar-se com uma dis- posicio ordenada ou aleatéria; a lei que exprime ou que define 0 padrio de organizacio no espaco dos elemen- tos texturais denomina-se estrutura, O termo estrutura pode referirse a lei de organizacio como & disposigéo or- denada; assim, ao arranjo radial dos elementos de textura denominaremos estrutura radial. Se identificamos o ele- mento de textura como elemento de drenagem € a estrutura como radial, Elementos texturais de drenagem Figura 2 — A densidade ¢ ordem de estruturasio. Em A tem-se uma forma de 1°) textura de drenagem, com 2°) baixa deasidade, 38) disposigéo arolar, 4.°) fracamento es- truturada @ 5°) de I? ordem, Em B temse uma forma de 1°) texlura de drenagem, com 20) donsidade média do textura, 3°) disposicéo anelar e zadial, 4°) forlemente estru- turade 0 5.) de 2° ordem (pois oxistem dois padrées’ superpostos). estamos diante de uma forma radial de drenagem; a forma exprime a dis- posicio espacial de elementos texturais com propriedades comuns. A forma pode ser caracterizada por cinco propriedades: 1) propriedade dos elementos tex- turais; 2.) densidade de textura; 8.8) estrutura; 4.4) grau de estruturagio (ou inten- sidade) ; 58) a ordem de estruturacio (ou grandeza) . © gran de estruturacto refere-se & re- gularidade de organizacao dos elemen- tos texturais; assim, dizemos que uma forma é francamente estruturada quan- do a lei de ordenacio € mal definida, pouco regular ou pouco precisa, ¢ for- temente estruturada, em caso de dis- posicio regularmente ordenada, A ordem de estruturac&o qualifica a complexidade da organizagio dos ele- 38 mentos ou a superposicio de padres de organizagio. ‘Tem-se uma estrutura de 1* ordem quando apenas uma lei define 0 padro de ordenacio, como no caso de disposicio em linha reta de clementos texturais. Na figura 2 ilustramos formas de tex- tura de drenagem com diferentes pro- priedades. Podese dizer que, quanto maior é 0 grau ea ordem de estruturacio dos elementos texturais em uma forma, menor a possibilidade de ser casual. Exemplificando: uma forma de drena- gem com as propriedades da figura 2B nao existe por acaso; deve ser o resul- tado de fatores geoldgicos condiciona- dos por uma estrutura similar. 2. Zonas Homblogas e Limites As zonas de reparti¢io dos elementos texturais ¢ sua organizagio definem zonas homélogas, formadas pela repe- ticdo dos mesmos elementos texturais € a mesma estrutura, Figura 9 — Textura de relevo (elemento textural identificado: crista), Em A temos ume forma de 1°) textura de relevo, 2.°) com donsidade média de textura, 3.9) disposi- ga0 relllinea’ Cacia) © irregular, 4.°} fortemente estruturada (acima) e néo estruturada (abaixo) ¢ 5.9) de 1 ordem. Hin B temos uma forma do tro), de ‘com densidade baixa e alta’ (no Na figura 8A podemos separar duas zonas homélogas de relevo: uma, for- mada por clementos texturais retilineos de relevo fortemente estruturado, e ou- tra, constituida por elementos textu- rais curvos, irregulares, no estrutura- dos. Na figura 3B distinguem-se tam- bém duas zonas homdlogas de relev uma central, com densidade de textura, e outra externa, com alta densidade. Podemos considerar zonas homélogas apenas de estrutura, onde diferentes elementos texturais esto ordenados segundo uma mesma lei As zonas da imagem com propriedades texturais c/ou estruturais diferentes so separadas por limites. Quando um textura de. relevo, fortemonte. estruturada 3°). eliptioa, 4. 18 ordem. limite coincide com uma forma linear estruturada temos um limite definido pela propriedade desta forma. Consi- dera-se limite progressive quando as propriedades de uma zona homéloga substituidas progressivamente pelas propriedades de outra. Podemos con- siderar, ainda, um limite envoltério, quando separamos um conjunto de propriedades texturais ¢/ou estraturais diferentes sem que estas propriedades cubram toda a zona limitada (fig. 4). Na figura 8A podemos tracar um limi- te envoltério separando a zona homd- loga de forma estruturada da nao es- truturada. O mesmo procedimento po- de ser tomado quanto a figura 3B. Nesta, porém, o limite pode coincidir Figura 4 — Limites definido (A), progressive (B) ¢ enveltério (C), soparando zonaz homélegas con diferentes texturas de relevo. Bol. Geogr., Rio de Janéivo, 36(258-259): 35-59, jul.jdez., 1978 39 com a forma linear estruturada dada pela ocorréncia mais externa dos ele- mentos de textura do relevo da zona de alta densidade, constituindo um li- mite definido. Todas estas propriedades fundamentais da imagem dependem da escala de ob- servacio; seus valores s%o_ relatives dentro do mesmo nivel de investigacio, variando com o grau de resolugio da andlise e com a qualidade da imagem. 3. Analise da Forma da Rede de Drenagem A rede de drenagem tragada de forma sistematica e uniforme pode fornecer informagées de grande importincia, especialmente quanto & estrutura geo- légica da area; variagées no estilo es- trutural_¢, mais grosseiramente nas facies litolégicas, podem ser obtidas com rapidez sobre mapas de drenagem detalhado e apresentado em escala, 2 a 4 vezes menor que a escala em que a drenagem foi originalmente tragada. As propriedades mais importantes a serem analisadas sio descritas, resumi- damente, a seguir: 1.° — densidade de texiura de drena- gem (fig. 5A); 2.9 — sinuosidade dos elementos textu- rais de drenagem; podemos classificar visualmente em dominantemente cur- vos; dominantemente retilineos; e cur- vos € retilineos (mistos) (fig. 5B). Os elementos retilineos sao considerados lineages de drenagem, enquanto a dis- posicio em linha reta das lineacées de drenagem constitui um alinhamento de drenagem. 3.9 — angularidade: refere-se ao Angulo de confluéncia dos elementos de dre- nagem. Podemos classificar zonas ho- mélogas de drenagem em fungio desta propricdade: baixa (Angulos aguclos 40 — < 60°); média (Angulos retos > 60° < 120°); alta (> 120°) (fig. 5C). 4. — tropia: & a propriedade dos ele- mentos de drenagem de se desenvolve- rem segundo uma direcdo preferencial. Quanto a esta propriedade, podemos considerar a estrutura da drenagem tendo em vista a presenca de uma ou mais diregdes de linhas de drenagem francamente dominantes (tig. 5D). — unidirecional — bidirecional — tridirecional ~ multidirecional (isotropa) : estrutu- rada ou nio estruturada. 5.° — assimetria: A assimetria da rede de drenagem é caracterizada pela pre- senca de elementos com tamanho ou estrutura sistematicamente diferentes, de um lado e de outro, do elemento maior. A assimetria fraca é caracteri- zada apenas por diferenga no tamanho dos elementos ¢ a forte é caracterizada por tamanho e forma (fig. 5E) . 6.° — lineagdes de drenagem: sio ele- mentos de drenagem fortemente estru- turados, retilineos ou em arco. Na rede de drenagem podem aparecer formas anémalas diferentes do arranjo geral dos clementos de drenagem; ca- da forma andmala deve ser considera- da ¢ ter seu significado investigado. Na figura 5F apresentamos exemplos de formas andmalas com significado geo- légico. Analisada segundo estas propricdades, com facilidade podemos descrever € definir diferentes zonas homdlogas de drenagem e caracterizar a interpreta- cho. 7 41 ‘webpuorp 9p efor mp sepppoudorg — § vmnbry ex 7 sry 3 vxive WNOIDaHIGILINW [yidaw SOLSIN | VION aLuOs TWNOIOTHIONL JWNooauIaIe WoW we VW _ 9s = Wov"s TWNOID3HIGINA VINLAWISSV -3 vidoul-G | 3avaluvineNv-9 | 3avaisonnis-@ 30VGISN30 -V sfdex., 19% , jul x SWTWWONY SYWHOS > 4 Bol. Geogr., Rio de Janeiro, 36(258-259): 4. Analise da Forma do Relevo Os elementos fundamentais na anilise do relevo para interpretacio geolégica sio as rupturas de declive. As pequenas rupturas de declive definem os elemen- tos texturais do relevo, caracterizados pelas menores variagdes bruscas, iden- tificaveis na foto, da superficie do ter- reno. A disposigio regular, definida no espaco, das rupturas de declive constitui estrutura do relevo considera- da como quebras negativas ou quebras positivas ou ainda lineagdes ¢ alinha- mentos de relevo. Uma quebra, nega- tiva ou positiva, esté contida em um plano ou em uma superficie regular, que define a forma de estruturacio. As principais propriedades de textura € estrutura do relevo sio caracterizadas a seguir (fig. 6) : 14 — Densidade de textura de velevo: constitui uma avaliagio da quantida- de de microfeigdes do relevo por uni- dade de drea; a auséncia destas micro- Teicdes ou elementos texturais de re- levo dé uma densidade de textura de relevo nula. A presenca de microrrele- vo fino na superficie produz alta den- sidade de textura de relevo na imagem. A densidade de textura constitui um parametro de elevada resolucio na de- finigio de zonas homélogas de relevo. 28 — Quebra positive: € uma forma saliente no relevo originada pela dis posicdo estruturada de rupturas de de- clive convexas para cima, Constituem as cristas do relevo, podendo ser abrup- tas (agudas) ou suaves. De modo ge- ral, constituem limites definidos entre distintas zonas homédlogas de relevo. 3.4 — Quebra negativa: constitui uma forma rebaixada no relevo, formada pela disposicio estruturada das ruptu- ras de declive com a concavidade vol- 42 tada para cima. Como as quebras po sitivas, constituem limites definicos entre diferentes zonas homélogas de relevo. 42 — Assimetria do relevo: Considera- se relevo assimétrico quando as que- bras negativas € positivas separam zo- nas de declividade maior e menor, ou com propriedades de relevo diferentes, alternadamente, Podemos, pelo exame da imagem, definir diferentes graus de assimetria ¢ simetria: — fortemente assimétrico: quando uma zona homéloga horizontal a sub-hori- zontal se opde a uma zona homéloga fortemente inclinada; — moderadamente assimétrico: quan- do duas zonas homélogas com declives elevados e visivelmente diferentes pela densidade de textura de relevo estao justapostas; — fracamente assimétrico: quando as. zonas homélogas justapostas apresen- tam declives aproximadamente iguais, mas se diferenciam pela densidade de textura de relevo; — simétrico: quando as zonas homdlo- gas com declives similares ¢ divergen- tes apresentam as mesmas propriedades de textura de relevo. 5.4 — Lineagdes de relevo sto pequenas feigdes lineares, pouco salientes no re- levo, fortemente estruturadas, retili- neas ou curvas; dependendo do grau de resolucio da imagem, aparecem co- mo uma forma linear fortemente es truturada dos elementos de relevo. 6.4 — Alinhamentos de relevo: consti- tuem uma feic&o bastante saliente no relevo, com disposicio retilinea ou Ic- vemente curva, e forte estruturaga0 dos elementos de relevo; de modo geral, apresentam conjunto de lineagdes pa- ralelas, Constitui uma crista simétrica ou levemente assimétrica. Figura 6 — Representaga esquemética de formas de relevo desenvolvidas em diferentes padroes de estrutura geolégica e materiais divorsos textura de rolove alta (a) © baixa (b): quebras positivas (Ci Assimetria do relevo: simétrico (A), frazamente assimétrico (B), mod fadamente assimétrico (C), forlemente aséimétrico (D); Tipo de encosta: or Cavorelilineo-convexa (E), céncava (PF), eéncaveconvexa (G) @ convex ( 7.8 — Forma das encostas: constitui uma propriedade de relevo bastante util, embora de dificil caracterizacio. ‘As formas das encostas sio classifica- das pelo tipo dominante de perfil apre- sentado na zona homéloga _ (Ligs. 6E — A): perfil céncavo perfil convexo perfil céncavo-convexo perfil céncavo-retilineo-convexo As diferentes propriedades da textura ¢ estrutura do relevo, examinadas de forma combinada, permitem definir e caracterizar diferentes zonas homdlo- gas, refletindo propriedades distintas das rochas. Bol. Geogr., Rio de Janeiro, 36(258-259): 35-59, jul.|dez, 1978 13 ‘donsidade de > e nogativas | uw FOTOINTERPRETAGAO Caracterizadas as diversas formas de arranjo do relevo e da drenagem, po- demos avaliar 0 seu significado e, desta forma, 2 partir das propriedades da imagem, estabelecer as propricdades do objeto. O passo seguinte no proces- so de fotointerpretagio é definir o sig- nificado geoldgico, ou seja, a funcio | do objeto. | A fotointerpretacio deve atingir os re: sultados pretendidos, partindo da ava- liagio das propriedades mais simples | evidentes. A funcio principal da foto- interpretacio nao é substituir o levan- tamento de campo; o mapa de fotoin- terpretagio jamais seré um mapa geo- légico. E um documento-ba i tas informagées geolégicas interpreta- das, mas fundamentalmente com zonas limitadas constituidas por rochas com propriedades similares, denominadas zonas fotolitolégicas; as caracteristicas petrogritficas destas rochas sé serdo de- finidas no campo, porém algumas ca- ractetisticas fisicas e quimicas podem ser estabelecidas pela interpretacao das imagens. Na pritica, a identificagio dos clemen- tos, a andlise das formas e sua inter- prctago podem scr processos desenvol- vidos quase simultaneamente, pois a anilise é feita acompanhada de uma busca de significado da forma; para niveis complexos de interpreta- ho vai-se tornando necessirio 0 acie mulo de informagdes de andlise, A imagem vai sendo decifrada, compon- do-se estruturas com significado, cuja mensagem é interpretada e traduzida em termos geoldgicos. ma Para facilitar a interpretacio inicial dispdese de um conjunto de relacdes genéricas entre propriedades da ima- gem e€ propriedades do objeto, ja co- nhecidas ¢ definidas com um grau elevado de confianga e que podem ser facilmente reinterpretdaas na area de trabalho, Estas relagdes derivam dos fatores que controlam as propriedades | da imagem. 1. Fatores que Controlam a | Textura e Estrutura da Imagem: Dentre os diversos fatores que contro- lam as propriedades de textura ¢ es- tutura das formas, consideraremos apenas os relacionados com as formas de relevo ¢ drenagem. O estabeleci- mento destes fatores © seus efeitos de- pende do conhecimento que se tem das propriedades dos materiais ¢ da dinamica atuante no processo morfo- | genético, Isto significa que quanto | 44 maior 0 conhecimento geologic € geo- morfolégico do fotointérprete maior seré a quantidade de informacées ob- tidas através da foto. A — Fatores Morfogenéticos Na fotointerpretagio devemos ter em conta aqueles fatores com atuacio marcante nos processos de elaboracao das formas de relevo drenagem e in- dependentes do substrato geoldgico. Esse tema pode ser amplamcnte estu- dado em vasta bibliografia sobre sis- temas geomorfoldgicos (v. Christofo- letti, 1973; Howard, 1965; Schumm ¢ Lichty, 1965). Devemos considerar os fatores clima, tecténica, nivel base, des- carga de gua ¢ sedimento. Além des- tes, outro fator deve ser considerado; © tempo, representando a perspectiva histérica da evolucio do sistema, Por outro lado, quando examinamos 0 pro- cesso geomorfoldégico sem uma perspec- tiva temporal, apenas come sistema em equilibrio dinamico, 0 tempo passa a ser uma variavel irrelevante. Dentro da perspectiva de evolugio ciclica, 0 tempo é uma varidvel independente; formas diferentes, dentro de um con- junto de outros fatores modificadores iguais, resultam do tempo durante o qual © processo agiu naquele ciclo; isto porque, com o tempo, ha redugio da energia erosiva ou perda de energia do sistema se nao houver realimen- taciio do sistema por outros fatores. A morfologia da rede de drenagem e das vertentes, considerada num con- texto de tempo geoldgico, a ponto de permitir variagdes cfclicas, € uma va- ridvel dependente. ‘Todos os demais fatores sendo iguais e constantes, as for- mas de drenagem e de relevo apresen- tarse-io diferentes quando resultantes de situagdes historicamente diferentes. Como conseqiiéncia, encontramos em uma mesma drea formas de drenagem e relevo em aparente contradi¢io com estado atual do sistema, constituindo | remanescentes de estados prévios do sistema Neste mesmo contexto de tempo geo- logico, a vegetacio é uma variavel de- pendente. Depende do clima, da ito- logia ¢ também do relevo e da drena- gem, Porém, dentro de um sistema em. equilibrio ou estavel, a vegetagio e a drenagem podem-se constituir em va- riaveis independentes. O substrato geo- légico, as litologias e as estruturas, apresentam-se também como variaveis independentes: 2 medida que o pro- cesso erosivo se desenvolve, diferentes litologias e estruturas séo expostas a este process. O fator clima condiciona o desenvolvimento das formas de rele- | vo e drenagem através da variagio no desenvolvimento da cobertura vegetal, na producio da carga detritica e na energia de transporte, As formas de relevo evoluem diferentemente sob condigdes climaticas diferentes, atuan- do durante um intervalo de tempo suficiente para o ajustamento do sis- tema. As oscilagdes climaticas ocorridas no Quaternirio permitiram o desen- volvimento de formas de relevo que permanecem na paisagem atual como formas herdadas ou estados_prévios. | Muitas veres dificultam a interpretagio | por definirem zonas homélogas, com propriedades muito diferentes, para as mesmas propriedades do substrato, Ainda outro fator com influéncia efe- tiva na evolucdo do relevo € a tectd- nica recente. O soerguimento pode ser generalizado ou local, lento ou rapido, modificando 0 gradiente da rede de drenagem ou estabelecendo niveis de base locais. O soerguimento aumenta a energia potencial do sistema, enquan- to a subsidéncia reduz. A histéria geo- logica da Terra é caracterizada por movimentagao ciclica: fases com um minimo de areas submetidas a proces- sos de soerguimento e um mdximo de reas subsidentes foram sucedidas por Bol. Geogr., Rio de Janeiro, 36(258-259): 35-59, jul.|dez., fases com um maximo de dreas em soerguimento. Desde o fim do Terci rio os continentes sofrem o efeito de uma fase de soerguimento generaliza- do episddico, alimentando o sistema geomorfolégico em energia potencial. Em muitos locais este soerguimento é diferencial, produzindo formas de re- levo e de drenagem diferentes sobre areas com mesmas propriedades litold- gicas e estruturais, ou ainda reduzindo o gradiente da drenagem, elevando 0 suprimento detritico ¢ criando exten- sas planicies aluviais. Destas rapidas consideragées sobre fa- tores morfogenéticos queremos apenas alertar que existem diversas varidveis no sistema geomorfoldgico, cujos efei- tos podem ser no mesmo sentido ou em sentidos opostos. Que em uma pe- quena drea o clima médio é 0 mesmo, 0 tempo registrado na foto é 0 mesmo, a tecténica recente é diferencial e a geologia é diferencial; que além disto, podemos ter registros histéricos da pz sagem desenvolvidos em estados prévios do sistema, onde tais varidveis podem ter sido diferentes, indicando que o sistema néo foi totalmente ajustado as novas varidveis. Algumas regras podem ser estabeleci- das para avaliar o sentido de desen- volvimento de um sistema consideran- do isoladamente uma variavel, ou seja, tomando as demais como constantes: a) quanto maior a amplitude altimé- trica em uma drea com a mesma densi- dade de drenagem maior a declividade das vertentes ou encosta: b) quanto maior a declividade da vertente maior é a energia disponivel para remocio de material ¢ redugio da declividade; ©) reduciio da declividade é maior onde © proceso nfo é limitado pela meteorizagio; ou a maior suscetibili- 1978 45 dade a0 intemperismo desloca o sis- tema no sentido do rebaixamento da declividade; d) outros fatores sendo iguais, a maior declividade e maior amplitude altimétrica so 0 resultado do controle exercido pela maior resisténcia do ma- terial aos processos de remocio; ©) outros fatores sendo iguais, quan- to maior a densidade de drenagem menor é a capacidade de retengio da dgua e a permeabilidade do substrato. B — Fatores Litolégicos Estes fatores dependem das proprie- dades ffsicas e quimicas dos macigos rochosos, € sio os seguintes: 1° — Resisténcia & erosdo: A resistén- cia de um macigo depende, inicial- mente, do grau de alterabilidade da rocha ou sua maior ou menor resis- téncia ao intemperismo quimico; em segundo lugar, do grau de consolida- go, ou maior ou menor facilidade de desagregacio ou resistencia a destrui- Gao fisica do macigo. Rochas com dife- rentes composigées quimicas apresen- tarfo resisténcia diferencial aos proces- sos erosivos e texturas de relevo dife- rentes: — Macicos rochosos cobertos por espesso manto de intemperismo apresentario as mesmas propriedades de rochas facilmente desagregaveis. Assim, 0s macigos rochosos com maior alterabilidade apresentar3o maior ero- dibilidade. Outros fatores sendo iguais, existe relacdo directa entre a resistencia 4 cros%o ou a erodibilidade do macico rochoso € a presenca de formas mais ou menos rebaixadas; a dindmica in- temperismo (fornecimento de mate- rial erodivel) e remocio serd diferente numa drea com o mesmo nivel base (mesma energia potencial de erosio) , em fungio das diferencas de alterabi- lidade do material. O melhor critério 46 analitico para interpretar os diferentes graus de erodibilidade resulta do exa- me das formas de encosta ou vertentes. A evolugio das encostas é um proceso bastante complexo. Nao ¢ nossa inten- Gao discuti-lo; uma discussio ampla, atualizada e facilmente compreensivel do tema pode ser encontrada em Christofoletti (1974: 25-51). O desenvolvimento dos diferentes ti- pos de vertentes pode ser explicado a partir do balanco entre a intensidade de intemperismo ou eluviagio (produ- Gao de material crodivel) e a capacida- de de transporte ou remogio. Grossei- ramente, podemos considerar a capa- cidade de transporte em uma area como fungio da energia potencial de remogio ou, ainda, da diferenca do nivel em relaco ao nivel base local. Desta forma, as dreas mais rebaixadas do relevo nao devem ter esta caracte- ristica por estarem mais préximas dos vales maiores; ao contrario, os vales maiores estio ai situados porque os processos erosivos encontraram menor resistencia, rebaixando mais rapida- mente o relevo. Considerando para uma mesma 4rea, © mesmo potencial erosive durante o ciclo geomorfolégico em que se desen- volve o relevo presente, podese rela- cionar as formas de encosta céncavas, cOncavo-convexas, convexas ¢ concave retilineo-convexas pelas diferentes re- sisténcias oferecidas pelo macigo rocho- so aos processos denudacionais. Ou, de outra forma, pelo balanco entre velo- cidade de intemperismo ou cluviacio (indice de alterabilidade) ¢ velocida- de de remogio. Desta forma, podemos caracterizar zonas fotolitolégicas pelas diferentes resisténcias ao intemperis- mo-crosdo, relativas umas as outras, em fungio das formas de encostas domi- nantes. a) Néo resistentes (nR) — velocida- de de intemperismo maior que a de remogio. Neste caso dominam. solos espessos, encostas rebaixadas devido ao volume elevado de material disponivel para remocio. A maior parte das en- costas sio convexas € evoluem por ras- | tejamento de solo € erosio por escoa- mento difuso; | b) Pouco resistentes (pR) — yeloci- dade de intemperismo aproxidamente igual & velocidade de remogo; a parte mais clevada da encosta é convexa ¢ evolui por rastejamento de solo e cro- sio por escoamento difuso © a parte inferior sofre erosio por escoamento concentrado, apresentando forma cén- cava; ©) Resistentes (R) — velocidade de intemperismo menor que a velocidade de remocio. Em todo o perfil da en- costa a Capacidade de erosio e remo- cio é maior que 0 volume de material intemperizado, havendo erosio por es- coamento concentrado ¢ dando forma cdncava & encosta; a) Muito resistentes (mR) — veloci- dade de intemperismo muito menor que a capacidade de erosio. O perfil | céncavo da encosta alonga-se devido A velocidade lenta de erosio do material rochoso nas partes mais clevadas, pas- sando a evoluir por queda de blocos e avalanchas; desenvolve-se uma seco retilinea do perfil; 0 topo da encosta, nao chegando a ser atingido pela cro- sio concentrada, desenvolve perfil con- exo. Esta dindmica de formagio de encos- 1a, apresentada sucintamente, permite a interpretacao das diferentes resistén- cias oferecidas pelas rochas ao intem- perismo, Isto porque, em uma drea em que o nivel base € 0 mesmo, a energia potencial de crosio também é a mesma (ou menor onde a topografia ¢ mais baixa), de maneira que as diferencas de forma de encosta mostram uma boa correlagio com a resisténcia diferencial a0 intemperismo. Por outro lado, nas condigdes climaticas tropicais, onde o intemperismo quimico é dominante, as diferentes formas de encostas repre- sentardo diferentes composigées quimi- cas das rochas. A resisténcia 4 erosio pode ser uma propriedade anisotrépica dos mate- iais; neste caso podem-se desenvolver formas salientes ou rebaixadas forte mente estruturadas. As quebras posit was sio interpretadas como o resultado da maior resisténcia do material 4 ero- so, em um plano estrutural ow super- ficie regular do material. E inversa- mente interpretam-se as quebras nega- tivas, As quebras negativas podem constituir excelentes limites entre zo- nas fotolitolégicas. As rochas relativamente mais resisten- tes ao intemperismo tendem a apresen- tar maior densidade de relevo, por manterem maior irregularidade na su- perficie, Onde a cobertura superficial ou 08 solos sio mais espessos, a den- sidade de textura de relevo é menor. 2.9 — Permeabilidade: Permeabilidade € uma propriedade dos materiais, ca- racterizavel pela maior ou menor faci- lidade com que um f{lufdo percola um meio poroso, A permeabilidade pode ser 0 resultado da comunicacio entre os espacos intergranulares das rochas ou materiais inconsolidados ou ainda entre os espacos produzidos por fratu- ramento. Em: rochas clasticas e mate- riais inconsolidados varia com 0 tama- nho dos gros ¢ com sua sclecio; em organoquimicas depende da solubili- dade e impurezas ¢ em rochas igneas varia com a intensidade de fratura- mento. Para uma drea com © mesmo indice pluviométrico, a permeabilidade € in- versamente proporcional a densidade de drenagem, pois densidades maiores significam menor potencial de infiltra- Bol. Geogr., Rio de Janeiro, 36(258-259): 35-59, jul.{dez., 1978 - 47 gio © vice-versa, Onde os macicos ro- chosos sio cobertos por espessos man- tos de material inconsolidado & den- sidade de drenagem refletira mais a espessura e permeabilidade desses ma- teriais. A. permeabilidade ¢ a propriedade mais facilmente interpretada ¢ wtil em dreas de rochas sedimentares, Podemos qualificar esta proptiedade tendo em vista as densidades relativas dentre as zonas homélogas: baixa (mD), média (D) e alta (pD) ete. 3.0 — Plasticidade ¢ ruptibilidade: En- tende-se por plasticidade a capacidade de um material ser deformado sem ruptura. £ 0 inverso da ruptibilidade. Rochas com diferentes plasticidades apresentarao diferentes comportamen- tos em relacdo aos esforcos geolégicos de compressio € tensao. As rochas ten- dem a apresentar fraturamento_ siste- mitico independente dos processos ou ciclos tecténicos que sofreram. Tal fra- turamento € 0 efeito de movimentos regulares da crosta continental, como as marés continentais e a deriva dos continentes ou ainda efeito de varia- Ses no eixo de rotacio da terra (v. Badgley, 1970) . Rochas penecontempo- raneas, com diferentes graus de rupti- bilidade, apresentardo menor ou maior grau de’ fraturamento. Zonas de fraturamento, por serem mais facilmente atacadas pelos _processos metedricos ¢ erosivos, constituem zonas de desenvolvimento preferencial de li- nhas de drenagem retilineas; aos ele- mentos de drenagem fortemente estru- turados, retilineos ou em arco, deno- mina-se lineagdes de drenagem. Inter- preta-se como tracos de fratura quando estabelecidos sobre faixas de concen- tragio de fraturamento, Zonas homdlo- gas com maior densidade de tracos de fratura refletem rochas com menor grau de plasticidade. Na drea de tra- batho, durante a andlise, podemos qua- 48 ‘ lificar zonas homélogas de diferentes densidades de tracos de fratura, embo- ra com limites arbitrarios. Verifica- mos ser possivel utilizar os seguintes limites: mF — mais de 50% dos ele- mentos de drenagem sio tragos de fra- tura; F — entre 10 ¢ 50% sio tracos de fratura; pF — menos de 10% sio tracos de fratura; nf — no apresen- tam tragos de fratura. As lincagées de drenagem sio interpr tadas como tragos de fratura quando retilineas e bi — a multidirecionais, pois os esforcos aplicados sobre as ro- chas fraturam-nas em duas ou mais di- recdes, 4.9 — Solubilidade: A solubilidade é uma propriedade que expressa a susce- tibilidade de um material de ser dissol- vido. As rochas sedimentares quimicas, tais como calcdrios ¢ sal-gema, apresen- tam, relativamente 3s demais rochas, alta solubilidade sob a ago das aguas metedricas. Sobre estas rochas desen- volvem-se formas especiais de relevo, dependendo das condigdes climéticas, como dolinas, funis, chaminés, e de drenagem, como vales ocultos, que po- dem ser identificados com facilidade no exame estercoscépico da imagem. Tem-se menor densidade de drenagem sobre rochas mais soltiveis, pois desen- volvem-se escoamento em subsuper- ficie. 5.9 — Tropia — As estruturas de aca- mamento, bandeamento, xistosidade e gnaissificacio conferem a rocha pro- priedades anisotropas (Wernick e Si- nelli (1970)), condicionando o desen- volvimento orientado das formas de relevo e de drenagem. Quando os pla- nos de anisotropia nao cortados pela superficie topogriifica, as formas de relevo e de drenagem desenvolvem- se como se as rochas fossem isétropas. As propriedades que definem a aniso- tropia sio os alinhamentos de relevo, lineagdes de relevo ¢ lineagdes de dre- nagem, Nas andlises das imagens podemos de- finir zonas homélogas ou fotolitolégi- cas com diferentes graus de orientacio das formas, refletindo diferentes tipos de propricdades anisotrépicas ou graus de anisotropia na fase exposta das To- chas. Assim sendo, as rochas que ex- primem de modo mais evidente suas propriedades anisotrépicas sio aque- las fortemente dobradas. Considerando os seguintes graus de orientacio: a) Muito orientadas (mO): sio ca- racterizadas pela presenga de alinha- mentos de relevo, lineagoes de relevo e de drenagem, Os alinhamentos de relevo representam corpos litoldgicos tabulares espessos; b) Moderadamente orientadas (O): so caracterizadas pela presenca de li neacées de relevo e de drenagem. As lineagdes de relevo, em arco ou retilf- neas, sio interpretadas como tracos de acamamento e constituem a expressio da_exposicio de pequenas camadas mais resistentes ao intemperismo ou a interseccio das camadas com a super- ficie. As formas de relevo sao alonga- das na mesma direcio; ©) Pouco orientadas (pO): apresen- tam apenas lineag&es de drenagem cor- respondentes a tracos de foliacdo. As lineagdes de drenagem sio interpreta- das como tragos de foliacio quando em forma de arco ou retilineas mantém regularidade na orientacio; quando nio acompanhadas de tacos de acama- mento relletem a direcio de proprie- dades anisotropas do tipo xistosidade, bandeamento ¢ gnaissificagio em ro- chas pouco heterogéneas. As formas de relevo apresentam pequeno alonga- mento na mesma direcao das Tineacoes; d) Nao orientadas (nO): nfo apre- sentam nenhuma das trés proprieda- des. As formas de relevo tendem a ser isométricas. Fundamentados nas relagées entre as propriedades litolégicas e as proprieda- des de textura e estrutura da imagem, caja consisténcia pode ser avaliada para cada area de trabalho, podemos interpretar o significado litolégico das diferentes zonas homélogas ou zonas fotolitolégicas. C — Fatores Deformacionais Os diversos fatores resultantes de de- formagGes sofridas pelas rochas contro- lam 0 relevo e drenagem, afetando as propriedades da imagem de formas di- ferentes, Tais deformacdes podem ser grosseiramente classificadas em meca- nicas, térmicas e quimicas. Dentre estas deformagdes destacaremos as originadas por tectonismo (falhamentos e dobra- mentos) . Os elementos estruturais de mais sim- ples interpretacio so os mergulhos das estruturas e as fraturas; falhamen- tos e dobramentos sio representados por estruturas de modo mais com- plexo. 2 1.0 — Atitudes de camadas — as cama- das sio estruturas que se originaram geralmente em posicZo horizontal ou quase horizontal. Quando submetidas a deformagées tém sua posigio original modificada, Interessa ao gedlogo defi- nir a diregio da camada e o valor e sentido do mergulho. Com_ técnicas fotogramétricas simples e formas favo- raveis, 0 valor do mergulho pode ser Embora nao desejamos, neste trabalho, levar em conta a nomenclatura geomorfoldgica descrita das formas de relevo relacionadas com a tipologia estrutural, devemos lembrar que sua utilizecto é ttil ¢ facilita a fotointerpretacio. A nomenclatura morfoestrutural encontra-se conceitttada nos trabalhos de Thornbury (1969), Penteado (1974) e Christofoletti (1975. a, 1975 b e 1975 ¢), todas de acesso facil ao leitor brasileiro. Bol. Geogr., Rio de Janeiro, 36(258-259): 35-59, jul.jdez., 1978 49 medido, utilizandose a resolucio do problema de trés pontos cotados. Através da propriedade de assimetria do relevo e da drenagem podemos fazer uma avaliagio rapida destes clemen- tos da estrutura geoldgica, pelo menos definindo classes de valor,de mergulho (fig. 7). Em camadas sub-horizontais (mergu- thos menores de 3°) desenvolve-se re- levo fortemente assimétrico, com mer- gulko acompanhando 0 declive da zona homéloga sub-horizontal (7-i) ; a rede de drenagem apresenta forma bidire- cional, com angularidade média, cle- mentos curyos e retilineos (fig. 7J). Em camadas suavemente inclinadas (8° — 10°) 0 relevo, regra geral, € moderadamente assimétrico (fig. 7G) ; o mergulho das camadas controla o declive do relevo e da drenagem; a drenagem € unidirecional com angul: vidade baixa ou bidirecional assimé- tica (fig. 7H); 0 mergulho é no sen- tido do’ escoamento nos elementos subparalelos ou de baixa angularidade. Em camadas medianamente inclinadas (10° 30°) desenvolve-se_ relevo moderadamente assimétrico (fig. 7E) € drenagem assimétrica, com mergulho acompanhando 0

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