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F. H. Jacobi (1743-1819) foi um filósofo alemão responsável por revelar a M.
Mendelssohn (1729-1786) que o escritor G. E. Lessing (1729-1781), antes de morrer,
lhe confidenciou que se converteu, secretamente, ao panteísmo de Espinosa. Essa
revelação origina uma troca de correspondência entre Jacobi e Mendelssohn que foi
publicada sob o título Sobre a doutrina de Espinosa em cartas ao sr. M. Mendelssohn,
em 1785. Esse período, portanto, revela uma primeira etapa da recepção da obra de
Espinosa que será conhecida como Pantheismusstreit ou Querela do Panteísmo.
712 Anais da XII SEVFALE, Belo Horizonte, UFMG, 2015
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O resgate do elo entre homem e natureza foi uma das preocupações
do movimento romântico. Essa relação, segundo Friedrich Schlegel
(1994), foi responsável por fundar uma nova mitologia, sendo a expressão
poética a forma de conhecimento da realidade mais profunda. Essas
questões surgiram com grande força na Alemanha e se propagaram em
outros romantismos. No livro Conceitos de crítica (1963), René Wellek
afirma que na literatura alemã há uma unidade fundamental:
É a tentativa de criar uma nova arte diferente da do século
XVII. Esta nova perspectiva dá ênfase à totalidade das
forças do homem, não somente à razão e sentimento,
mas à intuição, ‘intuição intelectual’, a imaginação. É um
ressurgimento do neoplatonismo, um panteísmo (quaisquer
que sejam suas concessões à ortodoxia), um monismo que
chegou a uma identificação de Deus e do mundo, da alma
e do corpo, do sujeito e do objeto (WELLEK, 1963, p. 149,
grifos nossos).
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Primeiro grupo romântico que surgiu na Alemanha, em 1799. Chamado de Jenaer
Romantik ou Romantismo de Jena, participaram desse grupo Novalis, os irmãos August
Schlegel e Friedrich Schlegel, Schelling, entre outros. Os membros de Jena tinham como
principais interesses o estudo da história e da crítica literárias e a reflexão filosófica.
O grupo encerrou-se em 1801.
Conversa sobre a poesia, de Friedrich Schlegel:, p. 709-717 713
Essa nova mitologia deveria surgir do mais íntimo do espírito, deveria ser,
segundo Schlegel, “uma expressão hieroglífica da natureza circundante”
(SCHLEGEL, 1994, p.54). Goethe, (e vale ressaltar: influenciou Friedrich
Schlegel – apesar das diferenças entre eles) –, tentou criar novos mitos
na sua literatura, ilustrando poeticamente a relação Deus e mundo.
O que torna a poesia a responsável por conservar o ideal das coisas,
seja do homem ou da natureza – é o mais íntimo mistério da arte e da
ciência. Como afirma o personagem Lothario, do livro Conversa sobre
poesia (1994), “Todos os jogos sagrados da arte são apenas simulacros
distantes do jogo infinito do mundo, da eterna obra de arte que se forma
a si mesma” (SCHLEGEL, 1994, p. 58). Por isso o maior desejo dos
escritores românticos é tentar unir arte e natureza, fazendo do poema
a criação de um todo cósmico e sendo o poeta o responsável por criar
seu próprio painel e sua própria linguagem – “A linguagem luta para se
tornar natureza” (WELLEK, 1963, p. 193).
Conversa encontra-se nos dois últimos cadernos da Revista
Ateneu de 1800. Tem sua forma inspirada no diálogo platônico – modelo
que, de acordo com Schlegel, produz a síntese entre o poético e o
filosófico –, e tematiza as preocupações do escritor alemão no período, ou
seja, a poesia romântica (STIRNIMANNN apud SCHLEGEL, 1994, p.
25). O livro apresenta uma paródia do grupo de Jena: Antonio é o próprio
autor; Ludoviko é Schelling; Lothario, Novalis e outros personagens
que representam nomes importantes desse primeiro momento.
Tem-se sido sempre estimulante falar de poesia com poetas
e pessoas de inclinação poética. De muitas conversações
deste gênero jamais me esqueci, enquanto de outras já
não sei ao certo o que pertence à fantasia e o que pertence
à lembrança; muita coisa efetivamente ocorreu, e o resto
terei inventado. Como na conversa que se segue, que deve
apresentar em oposição pontos de vista completamente
diferentes, cada qual podendo apontar o espírito infinito da
poesia sob uma nova luz [...] O interesse desta variedade
de abordagens fez-me decidir por partilhar o que havia
observado numa roda de amigos, e inicialmente pensado
apenas em referência a estes, com todos os que, pelo
sentimento e disposição, iniciaram a si mesmos nos
sagrados mistérios da natureza e da poesia, graças à sua
interna abundância de vida (SCHLEGEL, 1994, p. 31).
714 Anais da XII SEVFALE, Belo Horizonte, UFMG, 2015
Referências
BORNHEIM, Gerd. Filosofia do Romantismo. In: GUINSBURG, J
(Org.). O Romantismo. São Paulo: Perspectiva, 2008.
GOETHE, Johann Wolfgang. Os sofrimentos do jovem Werther. Trad.
Marcelo Backers. Porto Alegre: L&PM, 2008.
HEINE, Heinrich. Contribuição à história da religião e filosofia na
Alemanha. Trad. Márcio Suzuki. São Paulo: Iluminuras, 1991.
ROUSSEAU, J. J. Os devaneios do caminhante solitário. Tradução,
introdução e notas de Fúlvia Maria Luiza Moretto. Brasília: Editora da
Universidade de Brasília, 1986.
SCHLEGEL, Friedrich. Conversa sobre a poesia e outros fragmentos.
Tradução, prefácio e notas Victor-Pierre Stirnimann. São Paulo:
Iluminuras, 1994.
WELLEK, René. Conceitos de crítica. Trad. Oscar Mendes. São Paulo:
Editora Cultrix, 1963.