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Escola Secundária Dr.

Joaquim de Carvalho
DGEstE – DIREÇÃO DE SERVIÇOS DA REGIÃO CENTRO
Português 9.ºAno

Ficha de Avaliação

Grupo I - Domínio – Conhecimento -– Leitura 15% (100 pontos)

Lê o texto com atenção.


Palavras caras
Avança a causa de não usar poucas palavras quando se pode usar muitas. E para quê
usar curtas, se há compridas?
“Há”, por exemplo, pode-se substituir por “existe a possibilidade”. Ou “encontram-se à
nossa disposição”.
5 Ao telefone, diz-me alguém que está a “vislumbrar” os meus pagamentos. Inspirado,
vislumbro o meu telemóvel para descortinar melhor.
Vislumbrarei no meu aparelho transcomunicacional a operação a que o meu interlocutor
se reporta?
Num restaurante, pergunto se há maneira de eu ver a ementa online. Perdoem-me, não é
10 ver – é “ter acesso” a ela.
“Desconheço”, responde-me o empregado. Esta é a forma do velho “não sei”, cuja
variante insolente1 era “não faço ideia”.
Hoje pediram-me que “facultasse o meu nome”. Dantes, quando éramos todos selvagens,
dizia-se: “Como é que se chama?”
15 Hoje em dia, é preciso dizer que há muitas palavras compridas que são úteis e que não
podem ser convertidas em palavras pequenas sem perdas de significado. É que os defensores
das novas palavreiras dizem que é malcriado perguntar a alguém “como é que se chama?” ou
“qual é o seu nome?”. Daí que intercedam junto de nós de modo a vislumbrarmos uma forma de
lhes facultar o acesso ao nosso registo onomástico2.
20 Qualquer dia já não se pode dizer “gosto de ti”. Será preciso elucidar que “as minhas
disposições afetivas vão no sentido de avaliar positivamente os efeitos da nossa interação
pessoal”.
Caso se caia na asneira de chamar a atenção para o desperdício da nossa língua,
arriscamo-nos a ouvir como justificação: “Eu desfruto.”
Miguel Esteves Cardoso, “Palavras caras”, in Público (30-07-2020)

Vocabulário – 1 insolente: grosseira; 2 onomástico: relativo aos nomes próprios.

1. Seleciona, em cada item, a alínea verdadeira. (90 pontos)

1.1. O autor aborda uma questão particular do uso da língua, fazendo


(A) uma crítica carregada de humor e ironia.
(B) um relato dos erros com que habitualmente se depara.
(C) propostas de correção dos erros que encontra.
Grupo I
1.2. O título “Palavras caras” é adequado porque o autor reflete sobre
(A) a erudição que cada vez mais pessoas revelam na linguagem do quotidiano.
(B) a tendência crescente para complicar o discurso, aumentando o número e a extensão das
palavras.
(C) o crescente conhecimento do vocabulário da língua demonstrado pelos falantes.

1.3. O texto perspetiva três tempos, através dos conectores


(A) “hoje”, “dantes” e “qualquer dia”.
(B) “hoje em dia”, “daí” e “qualquer dia”.
(C) “hoje”, “Ao telefone” e “Num restaurante”.

1.4. A expressão “quando éramos todos selvagens” refere-se ao tempo em que


(A) a linguagem coloquial era menos rebuscada e mais direta.
(B) a maioria das pessoas usava a língua de forma erudita.
(C) os falantes não se preocupavam com princípios de cortesia.

1.5. a intenção do autor ao usar a expressão “novas palavreiras” é a de criticar o recurso a


(A) formas de discurso mais cuidadas.
(B) neologismos introduzidos na língua.
(C) palavreado desnecessário.

1.6. O autor expõe o seu ponto de vista sobre o uso de “palavras caras”
(A) citando-as de forma exagerada e cómica.
(B) demonstrando, pedagogicamente, o uso errado das mesmas.
(C) propondo alternativas ainda mais complexas para todos os exemplos citados.

1.7. O antecedente de “lhes” (l. 19) é


(A) muitas palavras compridas.
(B) palavras pequenas.
(C) os defensores das novas palavreiras.

1.8. A conjunção presente em “Caso se caia na asneira de chamar a atenção” tem um valor
(A) temporal.
(B) condicional.
(C) concessivo.

1.9. No final da crónica, o autor


(A) aconselha o leitor a lutar por um uso mais económico da nossa língua.
(B) sugere que é inútil combater a tendência atual para o desperdício da língua.
(C) afirma que contrariar o discurso palavroso é cometer um erro.

2. Seleciona a opção que melhor exprime o sentido global do texto. (10 pontos)
(A) A opção por um discurso em que as palavras se multiplicam e a sua extensão se alonga não
melhora a comunicação nem a torna mais significativa.
(B) A opção por vocábulos menos comuns e construções mais elaboradas constitui uma mais-valia na
comunicação.

Grupo II – Domínio – Conhecimento - Educação Literária - 25% (100 pontos)


Lê o texto.

Nunca o Silvestre tinha tido uma pega com ninguém. Se às vezes guerreava, com palavras
azedas para cá e para lá, era apenas com os fundos da própria consciência. Viúvo, sem filhos,
dono de umas leiras herdadas, o que mais parecia inquietá-lo era a maneira de alijar bem
depressa os dinheiros das rendas. Semeava tão facilmente as economias que ninguém via naquilo

5
um sintoma de pena ou de justiça – mesmo da velha –, mas apenas um desejo urgente de
comodidade. Dar aliviava. Pregavam-lhe que o Paulino ia logo de casa dele derretê-lo em vinho,
que o Carmelo não comprava nada livros ou cadernos ao filho que andava na instrução primária.
Silvestre encolhia os ombros, não tinha nada com isso. As moedas rolavam-lhe para dentro da
algibeira e com o mesmo impulso fatal rolavam para fora, deixando-lhe, no sítio, a paz.
Ora um domingo, o Silvestre ensarilhou-se, sem querer, numa disputa colérica com o Ramos
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da Loja. Fora o caso que ao falar-lhe, no correr da conversa, em trabalhadores e salários, Silvestre
deixou cair que, no seu entender, dada a carestia da vida, o trabalho de um homem de enxada não
era de forma alguma bem pago. Mas disse-o sem um desejo de discórdia, facilmente,
abertamente, com a mesma fatalidade clara de quem inspira e expira. Todavia o Ramos, ferido de
espora1, atacou de cabeça baixa:
15
- Que autoridade tem você para falar? Quem lhe encomendou o sermão?
- Homem! – clamava o Silvestre, de mão pacífica no ar. – Calma aí, se faz favor. Falei por
falar.
- E a dar-lhe. Burro sou eu em ligar-lhe importância. Sabe lá você o que é a vida, sabe lá
nada. Não tem filhos em casa, não tem quebreiras de cabeça. Assim, também eu.
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- Faço o que posso – desabafou o outro.
- E eu a ligar-lhe. Realmente você é um pobre-diabo, Silvestre. Quem é parvo é quem o ouve.
Você é um bom, afinal. Anda no mundo por ver andar os outros. Quem é você, Silvestre amigo?
Um inócuo, no fim de contas. Um inócuo é o que você é.
Silvestre já se dispusera a ouvir tudo com resignação. Mas, à palavra «inócuo», estranha ao
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seu ouvido montanhês, tremeu. E à cautela, não o codilhassem2 por parvo, disse:
- Inoque será você.
Também o Ramos não via o fundo ao significado de «inócuo». Topara por acaso a palavra,
num diálogo aceso de folhetim3, e gostara logo dela, por aquele sabor redondo a moca grossa de
ferro, cravada de puas4. Dois homens que assistiam ao barulho partiram logo dali, com o vocábulo
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ainda quente da refrega5, a comunicá-lo à freguesia:
- Chamou-lhe tudo, o patife. Só porque o pobre entendia que a jorna 6 de um homem é fraca.
Que era um paz-de-alma. E um inoque.
- Que é isso de inoque?
- Coisa boa não é. Queria ele dizer na sua que Silvestre não trabalhava, que era um lombeiro,
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um vadio. Vergílio Ferreira, «A palavra mágica», Contos, Lisboa, Quetzal Editores, 2009, pp. 51-
52

Notas: 1 ferido de espora: fig. sentindo-se muito atacado. 2 codilhassem por parvo: tomassem por parvo. 3 folhetim: novela de rádio. 4 puas: pontas
aguçadas. 5 refrega: briga; discussão. 6 jorna: trabalho feito durante um dia.

Grupo II
1. Indica duas características sociais e duas psicológicas do Silvestre, segundo as ll. 1 a 6. (12 pontos)

2. Explica, por palavras tuas, o sentido da frase “As moedas rolavam-lhe para dentro da algibeira e
com o mesmo impulso fatal rolavam para fora, deixando-lhe, no sítio, a paz.” (20 pontos)

3. Explicita como se iniciou a «disputa colérica» entre o Silvestre e o Ramos. (20 pontos)

4. Identifica um recurso expressivo presente na referência ao som da palavra «inócuo», que agradara
ao Ramos. (ll. 27-29) (8 pontos)
4.1. Refere o seu valor expressivo. (10 pontos)

5. Mesmo após a descoberta do verdadeiro significado da palavra “inócuo”, esta continuou a ser
considerada um insulto. Numa resposta tripartida, justifica este facto. (30 pontos)

Grupo III - Domínio – Prática – Gramática 10% (100 pontos)

1. Identifica as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões sublinhadas: (25 pontos)


1.1. De imediato, o Paulino saía de casa dele.
1.2. As moedas davam-lhe preocupações.
1.3. A jorna de um homem é fraca.
1.4. - Homem, calma aí, se faz favor.
1.5. As pessoas consideravam o Silvestre um inócuo.

2. Substitui os nomes sublinhados por pronomes, fazendo as alterações necessárias. (15 pontos)
2.1. As pessoas consideravam o Silvestre um inócuo.
2.2. Nunca o Silvestre tinha tido uma pega com ninguém.
2.3. Também o Ramos não via o fundo ao significado.

3. Identifica a frase cujo verbo não tem um valor aspetual perfetivo. (10 pontos)
3.1. As pessoas classificaram o Silvestre como inócuo.
3.2. O Ramos acabara de ouvir a palavra na loja.
3.3. O Ramos usava a palavra pelo seu poder sonoro.

4. Transforma a frase seguinte de modo a ter um valor modal deôntico de obrigação. (10 pontos)
O trabalho de um homem de enxada não era bem pago.

5. Classifica as orações sublinhadas: (40 pontos)


5.1. Silvestre, se recebia dinheiro, dava-o de imediato.
5.2. Ramos começou uma querela, embora não tivesse qualquer razão.
5.3. Sempre que a palavra era repetida, ganhava um novo sentido.
5.4. A palavra inócuo era desconhecida, logo ninguém conhecia o seu significado.

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