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Joaquim de Carvalho
DGEstE – DIREÇÃO DE SERVIÇOS DA REGIÃO CENTRO
Português 9.ºAno
Ficha de Avaliação
1.6. O autor expõe o seu ponto de vista sobre o uso de “palavras caras”
(A) citando-as de forma exagerada e cómica.
(B) demonstrando, pedagogicamente, o uso errado das mesmas.
(C) propondo alternativas ainda mais complexas para todos os exemplos citados.
1.8. A conjunção presente em “Caso se caia na asneira de chamar a atenção” tem um valor
(A) temporal.
(B) condicional.
(C) concessivo.
2. Seleciona a opção que melhor exprime o sentido global do texto. (10 pontos)
(A) A opção por um discurso em que as palavras se multiplicam e a sua extensão se alonga não
melhora a comunicação nem a torna mais significativa.
(B) A opção por vocábulos menos comuns e construções mais elaboradas constitui uma mais-valia na
comunicação.
Nunca o Silvestre tinha tido uma pega com ninguém. Se às vezes guerreava, com palavras
azedas para cá e para lá, era apenas com os fundos da própria consciência. Viúvo, sem filhos,
dono de umas leiras herdadas, o que mais parecia inquietá-lo era a maneira de alijar bem
depressa os dinheiros das rendas. Semeava tão facilmente as economias que ninguém via naquilo
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um sintoma de pena ou de justiça – mesmo da velha –, mas apenas um desejo urgente de
comodidade. Dar aliviava. Pregavam-lhe que o Paulino ia logo de casa dele derretê-lo em vinho,
que o Carmelo não comprava nada livros ou cadernos ao filho que andava na instrução primária.
Silvestre encolhia os ombros, não tinha nada com isso. As moedas rolavam-lhe para dentro da
algibeira e com o mesmo impulso fatal rolavam para fora, deixando-lhe, no sítio, a paz.
Ora um domingo, o Silvestre ensarilhou-se, sem querer, numa disputa colérica com o Ramos
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da Loja. Fora o caso que ao falar-lhe, no correr da conversa, em trabalhadores e salários, Silvestre
deixou cair que, no seu entender, dada a carestia da vida, o trabalho de um homem de enxada não
era de forma alguma bem pago. Mas disse-o sem um desejo de discórdia, facilmente,
abertamente, com a mesma fatalidade clara de quem inspira e expira. Todavia o Ramos, ferido de
espora1, atacou de cabeça baixa:
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- Que autoridade tem você para falar? Quem lhe encomendou o sermão?
- Homem! – clamava o Silvestre, de mão pacífica no ar. – Calma aí, se faz favor. Falei por
falar.
- E a dar-lhe. Burro sou eu em ligar-lhe importância. Sabe lá você o que é a vida, sabe lá
nada. Não tem filhos em casa, não tem quebreiras de cabeça. Assim, também eu.
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- Faço o que posso – desabafou o outro.
- E eu a ligar-lhe. Realmente você é um pobre-diabo, Silvestre. Quem é parvo é quem o ouve.
Você é um bom, afinal. Anda no mundo por ver andar os outros. Quem é você, Silvestre amigo?
Um inócuo, no fim de contas. Um inócuo é o que você é.
Silvestre já se dispusera a ouvir tudo com resignação. Mas, à palavra «inócuo», estranha ao
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seu ouvido montanhês, tremeu. E à cautela, não o codilhassem2 por parvo, disse:
- Inoque será você.
Também o Ramos não via o fundo ao significado de «inócuo». Topara por acaso a palavra,
num diálogo aceso de folhetim3, e gostara logo dela, por aquele sabor redondo a moca grossa de
ferro, cravada de puas4. Dois homens que assistiam ao barulho partiram logo dali, com o vocábulo
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ainda quente da refrega5, a comunicá-lo à freguesia:
- Chamou-lhe tudo, o patife. Só porque o pobre entendia que a jorna 6 de um homem é fraca.
Que era um paz-de-alma. E um inoque.
- Que é isso de inoque?
- Coisa boa não é. Queria ele dizer na sua que Silvestre não trabalhava, que era um lombeiro,
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um vadio. Vergílio Ferreira, «A palavra mágica», Contos, Lisboa, Quetzal Editores, 2009, pp. 51-
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Notas: 1 ferido de espora: fig. sentindo-se muito atacado. 2 codilhassem por parvo: tomassem por parvo. 3 folhetim: novela de rádio. 4 puas: pontas
aguçadas. 5 refrega: briga; discussão. 6 jorna: trabalho feito durante um dia.
Grupo II
1. Indica duas características sociais e duas psicológicas do Silvestre, segundo as ll. 1 a 6. (12 pontos)
2. Explica, por palavras tuas, o sentido da frase “As moedas rolavam-lhe para dentro da algibeira e
com o mesmo impulso fatal rolavam para fora, deixando-lhe, no sítio, a paz.” (20 pontos)
3. Explicita como se iniciou a «disputa colérica» entre o Silvestre e o Ramos. (20 pontos)
4. Identifica um recurso expressivo presente na referência ao som da palavra «inócuo», que agradara
ao Ramos. (ll. 27-29) (8 pontos)
4.1. Refere o seu valor expressivo. (10 pontos)
5. Mesmo após a descoberta do verdadeiro significado da palavra “inócuo”, esta continuou a ser
considerada um insulto. Numa resposta tripartida, justifica este facto. (30 pontos)
2. Substitui os nomes sublinhados por pronomes, fazendo as alterações necessárias. (15 pontos)
2.1. As pessoas consideravam o Silvestre um inócuo.
2.2. Nunca o Silvestre tinha tido uma pega com ninguém.
2.3. Também o Ramos não via o fundo ao significado.
3. Identifica a frase cujo verbo não tem um valor aspetual perfetivo. (10 pontos)
3.1. As pessoas classificaram o Silvestre como inócuo.
3.2. O Ramos acabara de ouvir a palavra na loja.
3.3. O Ramos usava a palavra pelo seu poder sonoro.
4. Transforma a frase seguinte de modo a ter um valor modal deôntico de obrigação. (10 pontos)
O trabalho de um homem de enxada não era bem pago.